Na verdade é de salientar, que apenas no curto espaço de nove anos, de 1487 a 1496, produziram várias obras, na sua grande maioria de caracter religioso, o que se compreende facilmente pelo espectro da expulsão que sobre eles pairava, e todas elas com grande qualidade tipográfica.
É este fascínio que quero compartilhar convosco...
Ainda no domínio da cultura literária, destacaram-se Eliezar Toledano, Samuel Gacon, Samuel d'Ortas e Abraão d'Ortas, nomes ligados aos primórdios da Imprensa em Portugal. A Samuel Gacon se deve a edição do primeiro incunábulo português, uma impressão do Pentateuco, feita na sua oficina em Faro, em 1487. A oficina de Eliezer Toledano funcionou em Lisboa, produzindo, entre 1489 e 1492, pelo menos oito obras conhecidas em hebraico. Do mesmo modo, em Leiria, a oficina familiar de Samuel d'Ortas e seus filhos também executava trabalhos de impressão. Foi daquele prelo que saiu a primeira edição do Almanach Perpetuum de Zacuto, em 1496.
No campo artístico ficou a dever-se aos judeus o aperfeiçoamento da iluminura. Algumas escolas de copistas instaladas em Lisboa e nas principais cidades formaram grandes artistas que ilustraram algumas das obras de temática judaica e outros manuscritos importantes da época.
Entre os copistas mais importantes encontramos Samuel de Medina, Eleazar Gagosh e Samuel Musa Filho.”
Esta edição da exegese de Nahmanides é um dos primeiros comentários impressos para a Tora. O texto bíblico não é incluído com o comentário, o leitor teria de fazer referência a outro livro para o texto da Bíblia.
Moses ben Nahman [ Nahmanides ], de Gerona, 1194-1270
Lisboa, Eliezer b. Jacob Toledano,16 Julho 1489
Conhecido como Nahmanides, Moisés ben Nahman nasceu em Espanha e morreu na Terra Santa.
Uma das grandes mentes da erudição judaica durante a Idade Média, foi autor de mais de 30 obras. Este volume, um comentário sobre o Pentateuco, é considerado a sua obra-prima. A primeira edição foi impressa em Roma cerca de 1480. Esta segunda edição foi o primeiro livro impresso em Lisboa.
Conhece-se um exemplar na British Library e outro na Biblioteca de UCLA (este está quase completo, o que é raro para um incunábulo hebraico). Na Biblioteca da UCLA, este é o livro impresso mais antigo na colecção de estudos judaicos.
Página inicial do «Livro dos Números» – Ba- Midbar – o quarto livro
dos cinco livros de Moisés
Híjar, Eliezer ibn Alantansi, por Solomon b. Maimon Zalmati, 19 Julho - 17 Agosto 1490
A cidade de Híjar, em Aragão foi, foi depois de Guadalajara, o segundo maior centro de impressão hebraico em Espanha. Esta folha de pergaminho único é um fragmento da primeira edição espanhola do «Comentário a Onkelos de Targum e da Rashi», que acompanham o texto bíblico não anotado (as vogais foram adicionadas, mais tarde à mão, nesta cópia). O último livro datado da tipografia de Híjar, publicada menos de dois anos antes da expulsão, também é o último livro Hebraico datado conhecido como impresso em Espanha.
ELIEZER TOLEDANO impressor, cuja a primeira obra impressa - «Comentário ao Pentateuco», tem a data, no colófon de 16 de Julho de 1489, e mostra como local de impressão Lisboa.
Eliezer como o seu homónimo, era também médico e usava na impressão dos seus livros a cercadura, letras iniciais e tipos de impressão encontrados nas obras da tipografia de Hijar. Torna-se, portanto óbvio, poder assumir-se a identidade destas duas impressoras, especialmente porque a actividade de Hijar, de ELIEZER B. ABRAHAM IBN ALANTANSI, terminou aproximadamente na altura em que se iniciou o trabalho em Lisboa.
A distância entre Lisboa e Hijar é de aproximadamente 400 milhas, com Toledo a meio-caminho; não é surpreendente que o recém-chegado tomasse um nome diferente do que ele tinha no seu local de partida.
Este facto pode ser tido em paralelo com muitos exemplos do Judaísmo Europeu durante a Idade Média até ao final do século XVIII, mas não se pode tomar como facto consumado, enquanto não vierem mais factos à luz das investigações.
Deixo aqui imagens do segundo livro impresso, em Lisboa, por Eliezer Toledano.
Trata-se de um livro de oração:
Lisboa: Eliezer Toledano, 25 Novembro1489.
Escrito em 1340, o «Comentário da Abudarham sobre a liturgia completa da Sinagoga», incluindo as regras de intercalação, foi o segundo livro impresso em Lisboa.
Espero que tenham apreciado esta digressão pelos primórdios da impressão em Portugal, e pelas edições hebraicas, tanto como eu gostei de as divulgar.
Para os mais curiosos, e entusiastas sobre a impressão hebraica, deixo aqui dois “links” que me parecem interessantes.
Jewish Publishing:
http://www.nawpublishing.com/expansionpages/ephemera/jewish_publishing.htm
Alphabet, The Hebrew:
http://www.jewishencyclopedia.com/view.jsp?artid=1308&letter=A&search=alphabet
Saudações bibliófilas.
4 comentários:
Rui.
Excelente complemento de los artículos anteriores, que viene a darnos una mejor idea de los orígenes de la imprenta en Portugal.
Saludos bibliófilos y gracias por el trabajo de investigación.
Marco
¡Te agradezco mucho tu comentario!
El artículo es el resultado de una modesta investigación que, a pesar de estar seguro que contiene muchos errores, intenté ser la más completa posible, para traer un aporte por la divulgación de un período de la imprenta un poco mal conocido y con cuestiones no bien clarificadas (…yo creo que lo mismo ocurre en otros países)
Tu comentario consiguió hacerme entender que mi modesto trabajo, pero hecho con grande placer, por lo menos interesó a alguien
Saludos bibliófilos
Amigo Rui: acabo de leer este nuevo artículo tan interesante como los anteriores. (¿Disculpa, estoy en la playa, y no llevo el PC conmigo!). La belleza de las impresiones de Toledano es extrema. Nos das una visión completísima del nacimiento de la imprenta en Portugal (tan unida a la de España) y también del papel importantísimo que en ello representó la cultura hebrea y los judíos establecidos en la península ibérica.
¡Saludos bibliófilos!
Amigo Diego
Gracias por tu comentario.
Intenté simplemente compartir lo poco que conozco sobre un tema, muy querido y atractivo para mí, y llamar la atención sobre las impresiones hebreas, que lo creo están un poco olvidadas, (hay siempre el problema de la escrita, que pocos conocen… como yo) pero son muy perfectas en su composición.
¡No tienes que pedir disculpa, disfruta la playa y vacaciones en buena compañía!
Saludos bibliófilos
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