Retrato de Camilo Castelo-Branco.
CDV, albumina, fotógrafo Horácio Aranha.
Colecção Ângela Camila Castelo-Branco e António Faria
Camilo Castelo Branco é um
escritor que está actualmente um pouco arredado dos círculos “intelectuais” do país, mas que tem
grande procura entre os bibliófilos tanto pela sua bibliografia activa como pela
passiva.
Jaime Nogueira Pinto – A forma das coisas: O saneamento de
Camilo
In Sol – edição
de 24/06/2011
De facto Camilo Castelo Branco é uma fonte inesgotável de pesquisa e
as suas obras espelham bem o séc. XIX no nosso país – onde as cidades do Porto
e de Lisboa assim como o Minho e Trás-os-Montes estão muito bem retratados.
Se o podemos considerar pobre em personagens e na descrição das paisagens, no que toca ao
estilo esse é inconfundível.
Alberto Pimentel
Senão vejamos o que Alberto
Pimentel, grande amigo de Camilo e, como tal, com vasta bibliografia
passiva sobre ele, nos diz no PIMENTEL, Alberto ― O Torturado de Seide (Camilo Castelo Branco). Lisboa, Livraria de
Manoel dos Santos, 1922.
PIMENTEL, Alberto ― O
Torturado de Seide (Camilo Castelo Branco).
Lisboa, Livraria de Manoel dos Santos, 1922.
“Este ilustre seiscentista
[Agostinho Fortes] preconizou a obra genuinamente portuguesa de Camilo na
conversação que tivemos, não só como iniciador do romance de costumes
nacionais, mas também como o mais terso remodelador da língua pátria em obras
que foram muitas e muito lidas. […]
Oiço às vezes censurar Camilo,
porque as suas personagens são sempre as mesmas.
Mas na sociedade portuguesa de
há meio seculo não havia outras, não havia mais nem melhores. Eram o
«brasileiro», o morgado, o barão, o negociante e o padre. Do «brasileiro» fez dezenas
de caricaturas, todas elas felizes. E havia razões poderosas para lhe dar a
preferência, porque o brasileiro era o detentor do ouro que produz escândalos e
tragédias, do ouro que compra as consciências e as mulheres.
O que admira é que Camilo
pudesse accionar tantos romances com tão poucas personagens.” (1)
“Acusam Camilo de não ter
pintado a paisagem. Pois. Algumas vezes a descreveu em poucas palavras, o que
representa uma alta qualidade de condensação. […]
A alma de uma nação, seja a
nação grane ou pequena, é sempre uma paisagem difícil de reproduzir.
E Camilo soube reproduzir a alma
portuguesa em quase duzentos livros, melhor que todos os outros nossos
romancistas, melhor que os melhores, acima de todos, sem excepção absolutamente
nenhuma.” (2)
Ainda que não seja uma das obras maiores do escritor, apresenta-nos
uma das suas características fundamentais: a caricatura e crítica dos preconceitos da sociedade de então.
Agulha em Palheiro é
um dos bem tecidos romances de Camilo Castelo Branco, em que estão narradas, à
maneira de libelo contra os preconceitos sociais, as peripécias de um jovem
que, por ser filho de um sapateiro, tudo faz para dobrar o orgulho de rico
fidalgo que não deseja vê-lo unido à sua filha.
CONSIDERAÇÕES ACERCA DA MORAL NA FICÇÃO CAMILIANA
Tatiana de Fátima Alves Moysés.
“O gosto dominante também é
questionado em Agulha em palheiros, na medida em que nele o autor tece comentários
sobre o vínculo entre moral e publicidade. No episódio em que a protagonista
decide escrever para seu namorado, o narrador encontra a oportunidade de expor
o que, de fato, entende por desmoralização:
Ao afirmar que a desmoralização é o escândalo,
o narrador corrobora a hipótese de que, nos enredos camilianos, em geral, a aparência
e a essência são faces opostas de um mesmo personagem. Pouco importa que
Paulina, quando opta por comunicar-se com o namorado, a fim de determinar os
próximos passos de sua relação, tenha prescindido do recato e passividade
exigidos às mulheres no século XIX. Nesse contexto, basta somente que ela
esconda sua essência determinada e aparente uma postura submissa; assim, não
exporá a si nem sua família à opinião pública, ávida por recriminar e punir
aqueles que rompem as regras estabelecidas. Tal dicotomia culmina em uma
dissonância entre os discursos proferidos pelos personagens e seus actos.” (3)
Bibliographias
Serve também para esclarecer um ponto, de que ainda hoje troquei
impressões com um bom amigo – o Gonçalo Rodrigues
de Bibliographias – também ele um grande camilianista e com um bom
acervo de bibliografia activa e passiva camiliana, de que os livros de Camilo Castelo Branco,
quando em encadernação de época, só excepcionalmente têm capas de brochura e
estão sempre mais ou menos aparados.
Claro que em encadernações recentes podemos e devemos ter uma maior exigência…
BRANCO, Camilo Castelo – AGULHA
EM PALHEIRO // POR // CAMILLO CASTELLO BRANCO // - // SEGUNDA EDIÇÃO,
REVISTA PELO AUTHOR // (Vinheta editorial) // PORTO // EM CASA DA VIUVA MORÉ –
EDITORA // 1865 In-8° de 262 págs. Encadernado.
Compreende ante-rosto com os dizeres AGULHA EM PALHEIRO e verso com
lista bibliográfica da livraria; frontispício textualmente descrito supra e
verso com subscrição tipográfica Typographia de Sebastito José Pereira, // Rua
do Almada, 641; página 5ª com dedicatória a António Feliciano de Castilho e
verso em branco; página 7 com DUAS PALAVRAS datadas no final da mesma Porto,
Janeiro de 1865. O romance propriamente dito decorre da página 9 à página 262
ao longo de XXI capítulos, e uma CONCLUSÃO.
Primeira edição publicada em Portugal, preferível à primeira
(Brasileira), que saiu muito incorrecta, por não ter sido revista pelo autor. MUITO RARA. SEM CAPA DE BROCHURA.
Encadernação meia inglesa em pele vermelha, com cantos, e com dizeres
dourados na lombada. Miolo muito bem conservado e fresco. Boa e sólida
encadernação. Ocasionais picos de acidez.
HENRIQUE MARQUES, 94;
MANUEL DOS SANTOS, 59; JOSÉ DOS SANTOS (1939), 8; CONDE DA FOLGOSA, 1109;
CAMILIANA (SOARES & MENDONÇA, 1968), 746; ALMEIDA MARQUES, 319.
E com este escrito camilianista me despeço com votos de um
bom fim-de-semana.
Saudações bibliófilas.
Notas:
(1) Camilo janota. págs. 62-63.
(2) Uma Carta de Camilo. págs. 102-103.
in:
PIMENTEL, Alberto ― O Torturado
de Seide (Camilo Castelo Branco). Lisboa, Livraria de Manoel dos Santos, 1922.
In-8º de 221, [3] págs.
Primeira edição de um dos livros
principais da bibliografia passiva camiliana, reunindo em volume uma série de
artigos escritos por Alberto Pimentel – uns inéditos, outros antes publicados
(e, nalguns casos, revistos para este propósito). Além das histórias e das
curiosidades sobre a vida de Camilo aqui reproduzidas pelo amigo, o livro
interessa também, acessoriamente, ao estudo do Porto do séc. XIX, descrevendo,
em vários passos, aspectos da cidade e da sociedade da época e contando alguns
episódios mais castiços; - A Freira de S. Bento…e de Camilo; - O filho mais
velho de Camilo; - Camilo janota; - Ainda as «Cem cartas»; - Camilo morto-vivo;
- Uma Carta de Camilo; - O incendiário; - Serão Camiliano; - Voltando ao «Amor
de Perdição»; - Horas alegres numa casa triste; - Camilo tripeiro; - Camilo
minhoto; - Camilo incoercível; - O seu centenário.
Exemplar bem encadernado com
lombada em pele gravada a ouro, conservando a capa original.
Este livro pode ser lido (ou consultado) em:
(3) RECORTE – revista eletrônica ISSN
1807-8591 – Mestrado em Letras: Linguagem, Cultura e Discurso / UNINCOR | V. 11
- N.º 1 (janeiro-junho - 2014) – CONSIDERAÇÕES ACERCA DA MORAL NA FICÇÃO CAMILIANA – Tatiana de
Fátima Alves Moysés.
file:///C:/Users/Rui/Downloads/Dialnet-ConsideracoesAcercaDaMoralNaFiccaoCamiliana-4791938.pdf
(acedido em 06/05/2017)
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