7. ARQUIMEDES DE INSIDENTIBUS Aquæ Liber primus [-
secundus].
Venetiis: Apud Curtium Troianum, 1565
A Eclética – Livraria Alfarrabista vai
realizar mais um dos seus leilões de livros. Trata-se do Leilão de Biblioteca Particular – Parte V.
A Exposição decorrerá a partir de 1 de Novembro nos dias úteis das
11h00 às 13h00 e das 15h00 às 19h00 (no dia de leilão até às 17h30).
O Leilão decorrerá no dia 9 de
Novembro com início às 19h00 na Sala de Leilões | Tv. André Valente, 26 |
Lisboa.
Trata-se basicamente de um leilão
de livro antigo e onde vamos encontrar algumas raridades que o próprio
organizador Nuno Gonçalves destaca:
2. ALCALÁ (Pedro
de) — ARTE para ligeramente saber la
lengua rauiga emendada y añadida y segundamente imprimida. [VOCABULISTA arauigo en letra
castellana]. Granada: Juan Varela de Salamanca, 1505. 2 partes em 1 v.;
a-f8, a-z8, A-K8, L6; [48], [270] ff.; 200 mm. € 15000,00 — 20000,00
Bom exemplar, encadernação
inteira de chagrin moderno; dourado por folhas; alguma acidez; ocasionais notas
manuscritas.
¶ PRIMEIRA GRAMÁTICA ÁRABE
IMPRESSA. PRIMEIRA edição da segunda parte, segunda edição da primeira parte.
Obra extremamente rara foi impressa 13 anos depois da tomada de Granada, último
enclave árabe em Espanha, tendo desempenhado um papel importante na conversão e
evangelização dos mouros que permaneceram na Península. Depois da capitulação
dos mouros de Granada em 1492, Hernando de Talavera, confessor de Fernando e
Isabel, foi nomeado o primeiro arcebispo da cidade e encarregue da
evangelização do povo. Homem tolerante, o arcebispo e os seus companheiros
começam a aprender árabe tendo ganho o respeito do povo árabe através do seu
bom testemunho. É então chamado à cidade Pedro de Alcalá para ajudar o arcebispo
nesta tarefa e que resultou na primeira gramática árabe alguma vez publicada.
Os dois volumes foram impressos por Juan Varela de Salamanca que viajou de
Sevilha, onde estava instalado, para Granada a pedido do arcebispo. O
frontispício da primeira parte está adornada com as armas de Hernando de
Talavera, tendo no verso uma grande gravura em madeira representando o autor a
entregar a obra ao arcebispo, encontrando-se estas duas gravuras reproduzidas
também no 'Vocabulista...'.
Encontram-se também impressos vários caracteres
árabes e um alfabeto. Os primeiros seis fólios do caderno f da primeira parte
foram impressos a preto e a vermelho. No verso da última folha da primeira
parte encontra-se uma gravura, também em madeira, representando o Rei David.
O último
fólio da segunda parte apresenta a marca do impressor e as armas de Espanha no
verso. Raríssimo e valioso. bib: Norton, 349 [segunda parte] e 352 [primeira
parte]; Salvá, 2190 e 2191; Palau, 5697
17. CALADO (Manuel) — O VALEROSO
Lucideno, e Triumpho da Liberdade. Em Lisboa: por Paulo Craesbecck,
1648. []8, A-Z, Aa-Ff6, Gg4; [8], 356 pp.; 295 mm. € 5000,00 — 8000,00
Encadernação inteira de pele da
época restaurada em caixa; restauros marginais; restauro no último fólio
afectando ligeiramente o texto; carimbos a óleo da Quinta das Lágrimas.
¶ PRIMEIRA EDIÇÃO descrito por
Borba de Moraes como um dos melhores livros sobre a guerra com os Holandeses e
considerado por Boxer como absolutamente indispensável sobre o tema. Escrito
pelo Fr. Manuel Calado, natural de Vila Viçosa, a obra é um relato vivo dos
acontecimentos na guerra contra os Holandeses. Como personagem do próprio drama
da guerra, Fr. Calado chegou a organizar guerrilhas populares, o texto
assemelha-se bastante a um relato de um correspondente de guerra no local.
Escrito entre Setembro de 1645 e Julho de 1646, o livro pretendia recolher
apoio popular e oficial aos Pernambucanos e serviu de fonte para dois outros
importantes trabalhos sobre o tema, o 'Castrioto Lusitano' de Fr. Rafael de
Jesus e a 'História da guerra de Pernambuco' de Diogo Lopes de Santiago.
O
texto foi impresso pela primeira vez em 1648, mas em 1655 foi listado nos
livros proibidos e apreendido apenas recebendo novas licenças em 1668. Então o
impressor aproveitou o que mantinha impresso, tendo-lhe apenas acrescentado um
novo frontispício e as novas licenças. Segundo Borba de Moraes, de todos os
livros impressos em Portugal sobre o Brasil no século XVII, este é o mais
dificil de encontrar. Raríssimo e valioso. bib: Inocêncio, v.5, 384 e v.16,
146; Sabin, 9868; Pinto de Matos, p. 96; Palha, 4250; Boxer, C.R., The Dutch in
Brazil, Oxford, 1957, pp. 298-299.
32. CATALDO SÍCULO ou CATALDO PARÍSIO — EPISTOLE et Orationes.
Lisboa: Valentim Fernandes, 1500, 21 de Fevereiro. a-h6, i8; [56] ff.; 300 mm. €
8000,00 — 12000,00
Bonito exemplar, desencadernado
em caixa inteira de pele, reproduzindo o título do primeiro fólio do incunábulo
a seco na pasta anterior; pequenos furos de traça ao longo do volume não
afectando a legibilidade; anotações marginais e sublinhados da época; fol. c5
com pequena perda de suporte afectando o texto; fol. d4 com rasgão a meio sem
perda de suporte; fol. i8 facsimilado.
¶ PRIMEIRA EDIÇÃO deste precioso
e importante incunábulo português. "Este precioso incunábulo é,
certamente, um dos livros mais raros da nossa Bibliotheca" [D. Manuel, v.
2, p. 51]; "una raritá bibliografica e costituiscono uno dei più preziozi
cimeli della tipografia portoguese del secolo XV" [Guido Battelli, p. 4] A
biografia de Cataldo não é de fácil elaboração. Segundo Costa Ramalho [cf.
Epistolæ..., Univ. Coimbra, 1988] o humanista é natural de Sciacca na Sicilia,
tendo nascido por volta do ano de 1455. Graduou-se em Direito em Ferrara em
Fevereiro de 1484 e chegou a Portugal no ano de 1485 ou 1486, a convite de D.
João II. Foi entre nós que "o seu contributo para a introdução do
humanismo e para a actualização do nosso País com a cultura literária da Europa
mais adiantada, a partir da fonte que era então a Itália, o seu papel na
europeização cultural dos portugueses foi de grande significado" [Ramalho,
p. 11]. Chegou a Portugal por convite de D. João II com a tarefa de educar o
filho D. Jorge. Não restringindo a sua actuação a esse discípulo, ensinou,
directamente ou por correspondência, variadíssimos nobres da corte, entre eles
D. Manuel enquanto Duque de Beja [cf. Bibliografia Geral, p. XLVII]. Tal o seu
trabalho como formador que Carolina Michaelis de Vasconcelos lhe dá o título de
"præceptor Portugaliæ" [cf. Notas Vicentinas, p. 28]. Neste ano de
1500, Valentim Fernandes fez sair mais duas obras do autor, 'Poemata' e
'Visiones' [cf. Bibliografia Geral n. 27 e 28], mas é este seu Epistolæ a maior
e mais interessante. A obra contém várias cartas tanto a D. João II como a D.
Manuel I, bem como às principais figuras da nobreza, "cheias de curiosos informes
sobre a vida portuguesa naquele período do Renascimento" [Bibliografia
Geral, p. XLVII]. E é também neste livro que se publica uma celebrada carta do
Conde de Alcoutim a Valentim Fernandes. Sobre o valor do epistolário de Cataldo
escreve Guido Battelli: "Se in giorno qualcuno penserá a ripubblicare
l'epistolario di lui, quanta luce sulle relazioni culturali dell'Italia col
Portogallo! Egli é in corrispondenza con tutti gli uomini più colti del suo
tempo; e noi possiamo facilmente immaginarci che gioia e che festa ognuna delle
lettere da lui ricevute dall'Italia acranno destato a Corte" [p. 11]. Saiu
uma segunda parte das cartas de Cataldo, também por Valentim Fernandes por
volta do ano de 1513. RARÍSSIMO, valioso e muito importante. bib: Hain, 4678; Haebler,
136; D. Manuel, 274 [com frontispício e último fólio facsimilado] e v. 2pp.
51-52; Bibliografia Geral, v. 1, 26 e pp. XLV-LI; Biblios, v. 5, c.14;
BATTELLI, Guido, Cataldo Siculo, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1930;
SICULO; Cataldo Parisio, Epistolæ et Orationes, Edição fac-similada, introdução
de Américo da Costa Ramalho, Coimbra, Universidade, 1988.
43. [COLONNA (Francesco)] — HYPNEROTOMACHIA
Poliphili, ubi humana omnia non nisi somnium esse docet atque obiter plurima
scitu sanequam digna commemorat. Veneza: Alde Manuce, 1499, Dezembro.
[]4, a-y8, z10, A-E8, F4; [234] ff.: il.; 290 mm. € 50000,00 — 80000,00
EXTRAORDINÁRIO EXEMPLAR,
encadernação inteira de marroquim vermelho, dourado por folhas, ex-libris de
Charles Filippi; sem qualquer defeito de maior.
¶ PRIMEIRA EDIÇÃO de um dos mais
belos e curiosos livros publicados na renascença, conhecido também como
"Canto de Polifilo", está ilustrado com 172 gravuras, 11 delas de
página inteira de vários artistas. Porventura o mais enigmático livro alguma
vez publicado, a Hypnerotomachia Poliphili é ao mesmo tempo um romance em prosa
de quatrocentos, uma viagem alegórica e espiritual ao universo da beleza
feminina, da natureza e dos jardins, uma aventura amorosa, um elogio aos
prazeres amorosos. O livro começa com Polifilo, que passou uma noite
intranquila por causa da sua amada Polia, transportado em sonho para uma
floresta onde se perde. Acorda do primeiro sonho para um segundo, sonhado no
primeiro, em que é levado por várias nifas até à sua raínha onde lhe é pedido
que declare o seu amor por Polia, sendo depois encaminhado para três portões.
Escolhendo o terceiro encontra a sua amada com quem é levado para se unirem. No
caminho atravessam cinco procissões celebrando a união dos amantes e daí, para
uma ilha. A narrativa é interrompida e uma segunda voz aparece, descrevendo os
acontecimentos pelo olhar de Polia. Depois de Polifilo reiniciar a sua
descrição, Polia rejeita-o, aparecendo depois Cupido e Vénus que convencem
Polia a receber Polifilio e o seu amor é celebrado finalmente. Quando Polifilio
está prestes a receber Polia nos braços, Polia desaparece e Poliphilo acorda.
Desconhecendo-se o verdadeiro autor da obra, é consensual que o seu nome está
escondido nas primeiras letras de cada capítulo que juntas formam a frase
"Poliam frater Franciscus Columna peramauit" (Frei Francesco Colonna
amou Polia intensamente). A obra foi impressa por Aldus Manatius, também
conhecido como Aldus, o Velho para se destinguir do seu neto, e é reconhecida
como uma das mais importantes obras saídas dos seus prelos pela novidade da
arte tipográfica empregue. Ao contrário do que era costume na época, a obra é
impressa em caracteres romanos de uma enorme legibilidade. É de realçar também
o arranjo tipográfico de vários títulos arranjados em forma de brasão ou
cálice, únicos no seu tempo. Ainda que não se saiba ao certo quem foram os
autores das 172 gravuras impressas no texto, actualmente é reconhecido como seu
autor Benedetto Bordone (1460-1531) como o seu autor. As ilustrações
representam personagens hebraicos e orientais, tendo como temas a beleza
feminina, o desejo, a arquitectura, a ourivesari e os costumes. Particularmente
célebre é a gravura de página inteira constante no fólio m6. Obra raríssima, de
extraordinária importância para a cultura e história da tipografia universal.
bib: Hain, 5501; Sotheby's, Bibliotéque Carlo de Poortere, 4
45. CONSTITUYÇÕES da jurisdiçam ecclesiastica da Villa de Tomar, e dos
mays lugares que pleno iure pertençem aa ordem de nosso senhor Jesu Christo.
[Lisboa]: [Germão Galharde], [depois de 12 de Janeiro de 1555]. +6, A-E6, F3;
[6], XXXII, [1] ff.; 295 mm. € 2000,00 — 3000,00
Encadernação inteira de pele
moderna decorada a seco nas pastas com pequenos defeitos e perdas; alguma
acidez.
¶ RARÍSSIMA edição das
constituições de Tomar. José dos Santos, no momento da realização do catálogo
da biblioteca de Azevedo-Samodães afirmava apenas conhecer dois exemplares, não
sendo descrita na biblioteca de D. Manuel. Estas constituições de Tomar,
editadas sem nome de impressor, lugar ou data, foram as primeiras e as únicas a
serem publicadas, sendo a sua compilação devida a Cristóvão Teixeira, prelado
de Tomar. Segundo o prólogo da obra, até então eram usadas as constituições do
Funchal, que haviam sido adoptadas pelo seu bispo de então D. Diogo Pinheiro,
quando era ao mesmo tempo bispo de Tomar. Anselmo atribui a impressão da obra a
Germão Galharde identificando o seu trabalho pelos tipos usados e
características da portada. bib: Anselmo, 656; Samodães, 868; Pinto Matos, p.
185; Inocêncio, v.9.
65.
GODINHO (Manuel) – COLLECÇÃO dos Costumes
Servis da Cidade de Lisboa. Lisboa: s.n., 1806 frontispício, 20
gravs., folha de subscritores (no fascículo 2); 255x340 mm. Brochado, com as
capas de brochura de cada um dos 4 fascículos publicados. € 1.800 — 2.500
92. MANUSCRITO - ILUMINURA MEDIEVAL — [CALENDÁRIO & REGRA DE S.
BENTO]. 1273 [?]. Manuscrito sobre pergaminho, 82 ff., calendário; 47 ff.,
Regra S. Bento em Latim; 50 ff., Regra de S. Bento português; 290 mm. Com falta
dos primeiros fólios, correspondendo às calendas de Janeiro; primeiro fólio do
manuscrito com perda de suporte, afectando o texto; pequenos defeitos menores
em poucos fólios. € 20000,00 — 30000,00
¶ LINDÍSSIMO Manuscrito
tardo-medieval, composto numa primeira parte com o calendário religioso, uma
segunda parte com a Regra de S. Bento, esta iniciada com uma bonita iluminura
e, finalmente, a Regra de S.Bento em português. No final das duas primeiras
partes que compõem o manuscrito podemos ler, a vermelho: "Frat petrus
salamantinº monachº vallis paradisi scripsit [et] perfecit kalendariu[m] [et]
utam regulam ad honore[m] fillij dei [et] bte virginis marie [et] [ilegível] ad
utilitate[m] monastij Sti iohis de tharauca. [...] Era m.ccc.xi". Portanto,
o manuscrito será de 1273 e, segundo esta inscrição, foi executado pelo Frei
Pedro de Salamanca para o convento de S. João de Tarouca em Viseu. Documento de
grande valor e raridade.
101. MANUSCRITO — ARQUIVO DO PAÇO DE GOMINHÃES. € 2500,00 — 3000,00
¶ Arquivo proveniente do Paço de
Gominhães, em Caldas de Vizela, paço senhorial que remonta ao século XIII e
hoje património de interesse público. A construção do Paço senhorial remonta ao
reinado de D. Sancho I, conforme é descrito numa inquirição de 1280 tendo uma
rica história desde esse momento até ao presente. O Paço de Gominhães,
inicialmente ligado à família dos Carvalhos do Poço, Lamego, é, ao longo dos
séculos, lugar de encontro das mais nobres famílias portuguesas daquela região
do país. "A meio do terreiro, no Paço de Gominhães, está plantado um
robusto carvalho, nome deta Família, representante dos Carvalhos do Poço. O
vento, ao fazer dansar os ramos, falta também nos Cirnes, de Gominhães, casa
hoje sua, a vir pela bisavó, e nos Viscondes de Peso da Régua, a varonia
actual. Diz dos Condes de Vila Pouca, dos da Feira e dos Arcos, dos de Avintes.
Murmura mais nomes: os Pereiras, de Bertiandos, os Ferreira d'Eça de
Cavaleiros, os de Ribalonga e Espinhosa, os do Arco, em Vila Real. Sussurra os
Rebelos da Beira, os Menezes do Morgadio de Paredes a figurarem nos seus
apelidos. As rajadas traz mais casas: as dos Soares de Albergaria, dos
Silveiras, dos Lemos da Trofa. E vínculos: o de Celeirós, o de Ramalde, o da
Pena e o da Torre de Azevedo. Não pára de cantar do vento: são os de Minotes,
os Silvas de Alcobaça, os Guedes, os Leites de Tagilde. Os Lancastres de
varonia real, (D. João II) os dos Marquês de Vila Real da Praia Grande, os
Viscondes de Asseca. Encontra também os Condes de Castro, os de S. Martinho. E
todos os outros, entre a ramagem, emaranhados" [Moraes, pp. 316-317]. O
arquivos é constituído por 37 pergaminhos que remontam a 1405, e outros
documentos do século XVIII, na sua maioria relativos a propriedades e heranças
pertencentes ao morgado. Pergaminhos, alguns de legibilidade muito difícil pelo
seu estado de conservação, mas a grande maioria com boa legibilidade.
Importante e valioso.
O Paço de Gominhães está situado na Freguesia de Caldas de Vizela
(São João), vulgarmente conhecida por Quinta
do Paço, encontramos esta maravilha de Vizela. É um edifício isolado, numa
situação perfeitamente rural, mas próximo da cidade.
99. ANTÓNIO PRIOR DO CRATO (D.) – CARTA
AUTÓGRAFA dirigida a D. Diogo Botelho. [1581(?) ou 1589 (?)], 15 de
Setembro, assinada, 4 ff. em bifólios de papel, 6 pp. de texto; 320 mm. € 1.500 — 2.000
Caixa em veludo vermelho com
títulos a ouro na pasta anterior; carta em perfeito estado de conservação
apenas com pequeno restauro para reforço das margens, sem afectar qualquer linha
de texto; letra bastante legível e sem manchas; lacre em belíssimo estado de
conservação; papel protegido com folha de pergaminho antigo que não lhe
pertence.
MAGNÍFICO DOCUMENTO. CARTA
ESCRITA POR D. ANTÓNIO PRIOR DO CRATO A D. DIOGO Botelho, provavelmente no ano
de 1589, logo após a tentativa falhada de desembarque das tropas inglesas em
Lisboa, comandadas por Francis Drake. D. António havia já tentado o apoio da
Raínha Isabel I sem sucesso, refugiando-se na corte francesa para o apoio
necessário à resistência na Ilha Terceira. Fracassado este, D: Isabel manda
chamar D. António a Inglaterra e aí se procurou organizar uma ofensiva, apenas
retardada pela tentativa de conquista das ilhas britânicas por Filipe II e a
sua Invencível Armada. Enfim em 1589 é encarregue Francis Drake, famoso
corsário, da ofensiva que fracassou estrondosamente, regressando ao porto de
Plymouth junto com D. António. A carta começa por relatar um encontro entre D.
António e alguém não identificado a quem D. António expressa o desejo de se
encontrar com a Raínha para cumprir com o “devido oficio de fazer reverência”,
de manifestar de forma clara que os portugueses não eram a causa de um
insucesso — “apos iso [do oficio de reverência] para lhe desfazer com razões de
que se elaa notase a mera enformação que tinha de averem procedido mal a nação
portuguesa et se esa a causa do mao sucesso et de lhes porem nome de traidores”
—, e de pedir alguma ajuda financeira. Mas se o pedido de audiência não pudesse
ser satisfeito por algum impedimento da soberana, suplica D. António por esmola
nos seguintes termos: “lhe pidia me fizese esmola de com q podesse desempenhar
meus criados et mandalos et se ma quisese também fazer de ma dar algum
entretenimento p.a poder esperar milhor tempo et com ese crédito ir buscar
algum remedio me faria mui grande [..]”. Estes dois assuntos da carta — o
insucesso dos portugueses e a súplica por ajuda financeira — fazem crer como
mais provável datação 1589, podendo o insucesso referir-se à incursão da armada
inglesa nesse ano a Lisboa e a situação financeira e de desobrigação dos
criados de D. António uma consequência desse facto. Outros sinais existem que
podem ajudar a corroborar esta possibilidade, nomeadamente junto ao sinete
lacrado, vem uma indicação manuscrita em língua francesa, com letra do século
seguinte, que afirma “Lettre originale que le Roy Don Anthoine a escrit au
Seigr. Dom Dieguo Bouttellio”. D. Diogo Botelho esteve com D. António até à sua
morte em 1595 em Paris. No entanto, também é verdade que já antes D. António
havia estado em Inglaterra para tentar um primeiro apoio da coroa Inglesa em
vez de França. Em 1581, por influência de D. Diogo, D. António tentou que a
raínha Isabel I lhe prestasse auxílio na guerra contra D. Filipe II. Segundo a
cronologia indicada por Veríssimo Serrão, que terá regressado a França a 30 de
Setembro de 1581, mês que é o mesmo desta missiva. É também referido que D.
Manuel, filho de D. António, partiu “com tenção de se valler do Conde de
Essex”. O Conde de Essex chegou a estar na expedição comandada por Francis
Drake desobedecendo a Isabel, mas foi mandado regressar pela soberana. É
verdade que o Conde manteve influência junto da raínha até 1599, mas parece
pouco provável que D. António tentasse obter daí qualquer apoio tão próximo do
fracasso de 1589. Mantemos por isso a ressalva quanto à data da missiva que só
uma crítica mais apurada, impossível neste contexto, pode dissipar.
Além de D. Manuel e do Conde de
Essex, são referidos outros nomes na carta, em particular Francisco António,
Francisco Gomes - “de ser preso Francisco Gomes me pesa eu procurarei de mandar
as provisões que disseis” —, Manuel Fernandes, tesoureiro mor de D. António; Fr.
José Teixeira, que havia estado preso em Lisboa depois da campanha da Terceira,
tendo conseguido fugir em 1583 para França. Carta bastante interessante, e com
algumas notas que podem ser interessantes para o estudo daquele período da
história portuguesa. Ӭ SERRÃO, Joaquim Veríssimo, História de Portugal, v. 4,
p23 e seguintes.
117. NORONHA (D. Leonor de) – CORONICA Geral de Marco Antonio Locio
Sabelico des ho começo do mundo at nosso tempo. Tresladada de latim em lingoage
Portugues por Dona Lianor filha do Marques de Vila real Don fernando [...].
Coimbra: João Alvarez e João de Barreira, 1550-1553. 2 v.: ¶4, A-X8, Y6, Z7;
[8], ccclxiii pp.; *4, A-Z8, a-d8, e7; [8], ccccxliii pp.; 285 mm. € 1.500 —
2.000
Encadernações modernas inteiras de pele grená, decoradas a ouro nas
pastas e lombadas; guardas em papel de ceda; roda decorativa a ouro nas seixas;
corte superior dourado por folhas, restantes cortes carminados; carimbo de
posse “T. Norton”; frontispício do primeiro volume restaurado com pequena perda
de suporte, aparado; manchas de acidez e humidade com maior intensidade no
primeiro volume; segundo volume um pouco aparado por vezes afectando notas
marginais.
RARÍSSIMA EDIÇÃO QINHENTISTA PORTUGUESA COM A TRADUÇÃO DA ENEIDA DE
MARCO António Sabelico realizada por D. Leonor de Noronha, filha de D.
Fernando, marquês de Vila Real e natural de Évora no ano de 1488. Segundo
António Caetano de Sousa (História Genealógica, v. 5, p. 204) foi discípula de
André de Resende, facto de que alguns autores duvidam, mas seguramente
discípula de Cataldo sobre quem o próprio humanista dizia ter sido uma das suas
mais brilhantes alunas. No final da primeira Eneida, vem um capítulo sobre Job
que alguns autores intitulam “Tratado da historia de Job”, um original de D.
Leonor de Noronha de que Inocêncio chegou a duvidar a sua existência. Obra
raríssima e valiosa. Ӭ Inocêncio, v. 5, p. 179; Samodães, 2223; Anselmo, 271 e
294; Pinto de Matos, 423.
140. SCHEDEL, Hartmann — [LIBER
Chronicarum]. Registrum huius operis libri cronicarum cu[m] figuris et ymagibus
ab initio mu[n]di. Nuremberg:
Anthon Koberger, 1493, 12 de Julho. 325 [de 326] ff.; frontispício xilogravado;
[19] ff. de índice; CCXCIX de texto, ff. CCLVIIII-CCLXI em branco excepto
títulos; mapa da Alemanha no fol. CCXCIX(vo) e fol. seguinte; [5] ff. finais;
com falta de ff. final branco. € 18000,00 — 25000,00
Encadernação inteira de
pergaminho do século XVII, decorada com motivos florais nas pastas; corte das
folhas pintado; assinatura de posse (John Mimo?) numa folha branca final datada
de 1663; folhas de guarda recentes; excelentes restauros junto ao festo,
ocasionalmente chegando próximo da mancha tipográfica. Bom exemplar.
¶ PRIMEIRA EDIÇÃO de um dos mais importantes livros alguma vez
impressos, também conhecido por 'Crónica de Nuremberg' ou 'Liber Cronicarum'.
Impressa em Nuremberg por Anton Koberger em 1493, a Crónica de Nuremberg
apresenta a primeira descrição histórico-geográfica do mundo acompanhada de
mais de 1800 gravuras em madeira. O texto é uma história universal do mundo
cristão desde o princípio dos tempos até cerca de 1490, escrito em latim pelo
médico e humanista Hartmann Schedel sob o patrocínio dos mercadores Sebald
Schreyder e Sebastian Kammermeister. Escrito a partir de fontes medievais e
renascentistas, a Crónica trata também de aspectos geográficos e históricos
sobre algumas cidades e países europeus. Está dividida em 11 partes e está
ilustrada com imagens bíblicas, acontecimentos hsitóricos e vistas de várias
cidades da Europa e do Médio Oriente, entre as quais Jerusalém e a sua
destruição e Bizâncio. Quase simultaneamente Georg Alt traduziu o original
latino para alemão, tendo sido impressa a respectiva edição em vernáculo entre
os meses de Janeiro e Dezembro de 1493, tendo-se completado a 23 de Dezembro de
1493. A impressão da obra ficou a cargo de Anton Koberger, proprietário da
maior imprensa alemã do s. XV, trabalho que desenvolveu entre Maio de 1492 e
Outubro de 1493. Descendente de uma antiga família de conhecidos artesãos,
Koberger terminou a impressão do seu primeiro livro a 24 de Novembro de 1472.
Imprimiu durante o s. XV cerca de 200 trabalhos e praticamente até ao final do
século foi o mais importante impressor da época. Entre os mais notáveis
trabalhos destaca-se uma Bíblia, publicada em 1483 ilustrada com 109 vinhetas,
trabalho que abriu um caminho importante para a técnica empregue para a
impressão da Crónica de Nuremberg, obra que influenciou decisivamente a gravura
em madeira, especialmente o trabalho de Dürer que havia trabalhado com Michael
Wolgemut, um dos gravadores da Crónica, de 1486 a 1489. Quer a edição latina,
quer a alemã estão ilustradas com mais de 1800 gravuras em madeira com
trabalhos de Michael Wolgemut e Wilhelm Pleydenwurff, um mapa do mundo
mostrando o Golfo da Guiné descoberto pelos portugueses em 1470 e um mapa da
Europa Central e Nórdica por Hieronymous Münzer. Alguns exemplares foram
coloridos na época por artistas alemães. Trata-se, sem sombra para dúvidas, de
um dos mais belos exemplos da tipografia de 400 e um dos grandes legados
culturais deixados à humanidade. bib: Hain, 14508; Harley, J.B. & Woodward,
David ed., History of Carthography, v.3, p.2, pp.1193-1194; sobre o impressor
veja-se Wallau, Heinrich. "Anthony Koberger." The Catholic
Encyclopedia. Vol. 8. New York: Robert Appleton Company, 1910. 4 Out. 2016
144.
SOUSA (João de) – CADERNO de Todos os Barcos do Tejo, tanto de carga e
transporte como d’pesca . S.l.: s.n., 1785 frontispício, 20 gravs.; 160x210
mm. Brochado; boas margens. € 1.000 — 1.500
Proponho, como sempre, uma boa
consulta e leitura atenta deste interessante e importante catálogo.
Nunca se sabe o que poderemos
encontrar – talvez um dos muitos exemplares que procuramos há tanto tempo!
Edmond Rudaux, illustrateur (1902)
Para coleccionadores na temática
do livro antigo tem exemplares que poderão satisfazer as exigências de muitos
de vós, daí a consulta, sempre importante do catálogo, até para podermos
comparar com os nossos próprios exemplares, pois o descritivo é bem elucidativo
e esclarecedor.
Saudações bibliófilas e boa sorte.
3 comentários:
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Hugues de Latude
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