"Se não te agradar o estylo,e o methodo, que sigo, terás paciência, porque não posso saber o teu génio, mas se lendo encontrares alguns erros, (como pode suceder, que encontres) ficar-tehey em grande obrigação se delles me advertires, para que emendando-os fique o teu gosto mais satisfeito"
Bento Morganti - Nummismologia. Lisboa, 1737. no Prólogo «A Quem Ler»

sábado, 4 de junho de 2011

Livraria Castro e Silva – Catalogo nº 128 / Rare Books Catalog





Catálogo n.º 128

Como já nos habituou, a Livraria Castro e Silva, localizada na Rua do Loreto, 14 em Lisboa, publicou mais um dos seus catálogos – o Catalogo nº 128 / Rare Books Catalog – onde o livro antigo tem sempre um lugar preponderante.

Ainda que, na minha opinião, seja um catálogo um pouco menos apelativo do que os anteriores, pois não surgem obras de grande raridade, podemos mesmo assim encontrar um leque de oferta cativante e onde nos aparecem algumas obras, de que destaco alguns manuscritos, de inegável interesse tanto bibliófilo como histórico.

Se é verdade que um livro “não vale só pelo seu preço” – ou seja, só o que á caro é que é bom – não posso deixar de concordar de que o que é raro é, e será, sempre raro, mas, por vezes, surgem nestes catálogos obras muito pouco frequentes, que pelo escasso número de exemplares no mercado, se convertem em verdadeiras raridades com o decorrer do tempo, pelo que a sua compra representa uma boa aquisição para qualquer bibliófilo.

Mas acima de tudo – e o mais importante – é a definição coleccionista de cada um de nós, ou melhor dizendo, o que procuramos para enriquecer o nosso acervo pessoal e que temas nos interessam, pois que só desta maneira se pode definir aquilo que tem ou não lugar nas nossas bibliotecas pessoais.



Olivier de SERRES – Le Théâtre d'agriculture ou Mesnage des champs… Paris, Abraham Saugrain, 1617. 1 vol. (170 x 240 mm)

Edition parue du vivant de l'auteur, la dernière à laquelle il prit part (celle de 1619 est jugée "trop médiocre" par Thiébaud pour avoir été donnée sous son aval).



A soixante ans, après avoir exploité méthodiquement son domaine du Pradel, Olivier de Serres fait paraître un petit ouvrage sur la culture des vers à soie. C'est ainsi qu'Henri IV l'appelle auprès de lui pour mettre en place l'une des grandes entreprises économiques du règne consistant à planter d'immenses quantités de mûriers. Devenu conseiller royal à 60 ans, Serres réunit alors dans son Théâtre d'agriculture les fruits de son expérience, et y prodigue un vaste enseignement inconnu jusqu'alors. "La prose de Serres, dans le sillage de Montaigne et de Saint-François de Sales, est claire et belle. Le titre du Théâtre d'Agriculture, compsé de deux groupes de mots usuels unis de façon heureuse et inattendue, dénote une haute maitrise de la langue." (Pierre Bérès dans En Français dans le texte).



Divisé en 8 parties, l'ouvrage traite de la culture de la terre, de la vigne, du blé, du bétail et de la volaille, du jardin potager et fruitier, et enfin de l'usage des aliments et des recettes pour les agrémenter. Cette édition est, avec la première (1600), une des plus estimées (Vicaire). Elle est illustrée d'un magnifique titre-frontispice, de 15 gravures sur bois (jardins et parterres), de 8 vignettes de chapitre et d'une grande planche dépliante, que les nombreuses éditions successives, plus d'une vingtaine, ne reprennent toutes pas.

En français dans le texte, 79 ; Thiébaud, 841 ; Vicaire, p.789 ; Bitting, p.430, " the masterful summary of agricultural knowledge at that time " ; Oberlé, 612, " véritable monument digne de l'homme qui fut proclamé le patriarche de l'agriculture française".

De la bibliothèque du Château de la Roche-Guyon (cachet sur la page de titre) et La Rochefoucauld (armes sur les plats) ; Vente Sotheby's Monaco, 1982.
© Librairie Walden



Jean de LA FONTAINE – Contes et nouvelles en vers. Paris, Billaine, 1669. 1 vol. (95 x 168 mm) de 6 ff. et 249 pp., maroquin rouge, dos à nerfs orné de fleurons dorés, plats à la Du Seuil, dentelle intérieure (Reliure fin XIXème).

Rare édition, partagée entre Barbin, Billaine et Denys Thierry. Elle contient trois nouvelles pièces qui avaient seulement parues, en 1667, dans le Recueil contenant plusieurs Discours... Il s'agit de L'Hermite, Mazet de Lamporechio, de Frères de Catalogne. A ces contes, s'ajoute le fragment de la Coupe enchantée. On y trouve enfin la Dissertation sur la Joconde de Boileau. L'exemplaire contient bien, page 119, les deux vers "obscènes" qui furent ajoutés à La Servante justifiée et qui manquent très souvent. Lorsqu'il publia le premier tome de ses Contes, La Fontaine prévoyait qu'on lui reprocherait leur esprit licencieux ; «la nature du Conte le voulait ainsi » se défendait-il et, se référant à ses maîtres, il affirmait que vouloir « réduire Boccace à la même pudeur que Virgile» n'aurait pas de sens puisqu'en «matière de vers et de prose, l'extrême pudeur et la bienséance sont deux choses bien différentes.»

Bel exemplaire, grand de marges, ayant appartenu à Aristide Briand qui l'a acquis en 1913 (ex-libris manuscrit daté, répété en fin au dernier feuillet). Il est alors Président du Conseil, d'abord sous la présidence de Fallières, puis sous celle de Poincaré : il occupera cette fonction onze fois - un record - et sera vingt fois ministre ; il recevra en 1926 le Prix Nobel de la paix (avec Gustav Stresemann) en 1926 après les accords de Locarno.

Rochambeau p. 507, 14; Tchemerzine, VI, 372.
© Librairie Walden

Claro que aparecem livros, que pelo seu tipo de impressão/impressor/editor, ilustrações/ilustrador, encadernação/encadernador ou tiragem – em papéis especiais e em número limitado – às quais não conseguimos resistir, mas estes são excepções (infelizmente para nós mais frequentes do que gostaríamos!), todos nós traçamos um determinado conceito de procura para a formação da nossa biblioteca, para o que somos capazes de percorrer catálogos infindáveis, buscas na internet, visitas a livreiros-antiquários e até mesmo contactos com outros coleccionadores, para conseguirmos obter a tão “desejada e procurada edição” de um determinado livro.

Este é o objectivo de qualquer bibliófilo, mas como apaixonados, que somos, pelo “livro-objecto” é sempre muito difícil não se cair na tentação!

Deixo estes “considerandos” para a vossa apreciação, embora não tão inoportunos quanto isso, e sugiro alguns dos títulos deste catálogo que me atraíram a atenção.



16. CARTA-DIPLOMA ILUMINADO. CIRURGIÃO. SEC. XVIII. Carta com uma bela cercadura iluminada e encimada pelas armas reais, passada pela Rainha D. Maria I a João Pereira, natural da Freguesia de S. Romão de Carnaxide, e morador na Vila de Azeitão, comarca de Setúbal, para usar da Arte de Cirurgia, visto ter sido examinado pelos Deputados da Junta do Proto-Medicato, na presença do Comissário Francisco Gonçalves e pelos examinadores Francisco Ferreira e Manuel de Campos Abreu, que deram por aprovado debaixo de juramento que tinham recebido para exercitar a dita Arte, e passada nesta Corte e Cidade de Lisboa aos 26 de Setembro de 1787. In fólio (34x43 cm) de pergaminho fino. Texto pró-forma impresso; manuscrito e subscrito nos espaços correspondentes; com cercadura iluminada manualmente em policromia de motivos florais. Pendente uma fita vermelho salmão, com selo branco com as armas reais. Averbações no verso da carta. Documento e assinaturas conforme outros exemplares da época (vide e confrontar: Pedro Vitorino e Alberto Saavedra in Catálogo da Exposição Retrospectiva de Medicina, no 1º centenário da Régia Escola de Medicina do Porto 1925; pags 12 e segs. e estampas extra-texto; figura 5).



17. CARTA-DIPLOMA JURÍDICO DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA. SEC. XVII. Carta bilingue (latim e português) com cercadura e letra “I” em capital gótica decorativa. Impressa a duas cores sobre fólio (29x45 cm) de pergaminho grosso e flexível. Texto pró-forma impresso; manuscrito e subscrito nos espaços correspondentes; averbações no verso da carta; documento e assinaturas em ambos os textos. Em falta o pendente de fita e o selo da universidade. Texto com caligrafia actualizada: “In nomine Dei amem Manoel Cortereal de Abranches do Conselho de sua Majestade, Reitor desta Universidade de Coimbra, etc. Faço saber, que Manuel de Magalhães Vilela, natural de Amarante Arcebispado de Braga, tem cursado nesta Universidade em direito Canónico, e Civil, oito cursos de oito meses cada um, dos quais seis lhe foram necessários para se fazer Bacharel, como mostrará por sua carta; e dois mais ouvindo as lições de sua obrigação, conforme aos Estatutos desta Universidade, como me constou por certidão dos livros, que foi rota ao assinar desta: e no fim do oitavo ano fez sua Formatura [Doctorum Nemine Discrepante] por lição de ponto XXIV. horas aos 28 de Julho de M.D. LXVI. [1666]. No qual auto o examinaram os Doutores seus Mestres [João de Azevedo e António de Gouveia e Souza] e (acabado o exame) votaram por pontos sobre a penitencia. E depois por A. A. E R. R. para ver se aprovariam, e regulados os votos, não foi penitenciado, e foi por todos [aprobatus]. E porque com os ditos cursos, e autos feitos, conforme à lei do Reino, e Estatutos desta Universidade, pode usar de suas letras livremente em qualquer parte, lhe mandei passar a presente por mim assinada, e selada com o selo desta Universidade. Dada em Coimbra ao [14] de Agosto de 1666”.



26. CASTRO SARMENTO, Jacob de. MATERIA MEDICA. Physico-Historica-Mechanica. PARTE I. Aque se ajuntam, Os principaes remedios do prezente Estado da Materia Medica; como sangria, Sanguesugas Ventozas Sarjadas, Emeticos, Purgntes, Vesicatorios, Diureticos, Sudorificos, Ptyalismicos Opiados, Quina Quina,e, em especial, as minhas Agoas de Inglaterra. Ediçam nova, corrigida, e repurgada, a que se acrescentam por continuaçam desta Obra, para fazel Completa, OS REYNOS VEGETAVEL, E ANIMAL. PARTE II. Por J. De Castro Sarmento, M. D. Do Real Collegio dos Medicos de Londres, e Socio da Sociedade Real. Impresso em LONDRES: Em Caza de Guilherme Strahan. MDCCLVIII. (1758) In 4.º de 24,5x18,5 cm. Com [iv], (de 9 a 14), 580, [xxii] pags. Encadernação da época inteira de pele. Ilustrado com a gravura desdobrável do autor. Inocêncio III, 247. “JACOB CASTRO SARMENTO, chamado antes HENRIQUE DE CASTRO SARMENTO, natural da cidade de Bragança na provincia de Traz-os-montes, e filho de Francisco de Castro Almeida e de Violante de Mesquita. N. em 1691. Sendo já Mestre em Artes pela Universidade de Evora, e Bacharel formado em Medicina pela de Coimbra, onde tomou o grau em 1717; sahiu de Portugal quatro annos depois, não tanto ao quo parece com o designio de aperfeiçoar-se nas sciencias medicas, quanto levado da necessidade de fugir aos rigores da Inquisição, como sectario do hebraismo, de que fez depois profissão publica em Londres, para onde se retirou, mudando o nome de Henrique no de Jacob, e tornando-se um dos rabbis mais conspicuos da synagoga d'aquella cidade. Ahi passou o resto da sua vida, entregue ao estudo e pratica da medicina e sciencias accessorias, e adquiriu tamanho credito, que mereceu ser nomeado Membro do Collegio Real dos Medicos, e Socio da Sociedade Real da mesma cidade em 1730. Foi também incorporado pela Universidade de Aberdeen na Escocia entre os doutores do seu gremio, no anno de 1736, mediante um honrosissimo diploma, que póde vêr-se transcripto textualmente na Bibl. de Barbosa no artigo que lhe diz respeito. M. em 1760, com 70 annos d'edade. Este insigne portuguez, sendo um dos que mais aproveitaram na tracto das nações extranhas, foi também dos que mais concorreram para naturalisar em Portugal os principios e o gosto da moderna philosophia. As suas obras são ainda respeitadas, embora se achem muito àquem dos progressos da sciencia nos tempos posteriores. Para a sua biographia vej. os Annaes da Sociedade Litter. Portuense, n.° 1, de 1837, onde vem uma memoria escripta por D. Francisco de S. Luis, reproduzida depois mais amplamente na Gazeta Medica do Porto (1849-1850) n.os 190 a 194. O seu retrato de bella gravura anda na sua obra Theorica verdadeira das marés, abaixo mencionada.”





38. ERÓTICA. DESENHOS ANÓNIMOS DE CENAS ERÓTICAS. S/L. S/d. (início século XX). De 22x18 cm. Contém 5 aguarelas originais acondicionadas dentro de estojo próprio imitando uma encadernação com lombada em pele.





59. PAIVA E MORAES PONA, Joseph de Barros. MANEJO REAL, ESCOLA MODERNADA CAVALLARIA DE BRIDA Em que se propõem os documentos mais sólidos, para os Cavalleiros conseguirem esta scientifica faculdade : NOVO METHODO PARA DESEMBARAÇAR OS POTROS, unir os Cavallos, vencer os resabiados, e reduzillos a huma total obediência : EXTRAHIDOS E RECOMPILADOS DOS MAIS selectos Authores Estrangeiros, que tem escrito na Europa sobre a estimável arte da Cavallaria : OFFERECIDO AO ILLUSTRISSIMO, E EXCELLENTISSIMO SENHOR HENRIQUE JOSEPH DE CARVALHO E MELLO. POR SEU AUTHOR JOSEPH DE BARROS PAIVA E MORAES PONA, Cavalleiro professo na Ordem de Christo, e Monteiro mór da Comarca de Villa Real, natural da Cidade de Bragança. LISBOA Na Officina Patriarcal de Francisco Luiz Ameno MDCCLXII (1762) Com as licenças necessárias. In 8º de 19,5x14 cm. com [xxxii], 296 pags. Ilustrado com 16 estampas em extra-texto e 6 xilogravuras no texto. Encadernação da época inteira de pele com nervos, ferros a ouro e rótulo vermelho na lombada. Magnifico exemplar, muito limpo e com excelente sonoridade do papel. Impressão sobre papel de linho muito alvo e de grande qualidade. Obra clássica da sua temática muito rara, especialmente quando apresenta as 16 gravuras (os exemplares normalmente só têm 15 gravuras) Inocêncio, JOSÉ DE BARROS PAIVA E MORAES PONA, Cavalleiro da Ordem de Christo, Monteiro-mór na comarca de Villa-real. Foi natural de Bragança: ignoro porém as datas do seu nascimento e obito, etc. este autor, foi natural de Bragança, Cavaleiro da Ordem de Cristo e Monteiro Mor, na comarca de Vila Real. Muito raro e procurado.

Resta-me desejar uma boa leitura e consulta deste catálogo, pois sempre se aprende mais qualquer coisa e, se calhar, lá “vamos cair” numa das nossas muitas “tentações”!

Saudações bibliófilas.


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