O Palácio Nacional de Mafra localiza-se no concelho de Mafra, a cerca de 25 quilómetros de Lisboa. Trata-se de um palácio e mosteiro monumental em estilo barroco. Foi classificado como Monumento Nacional em 1910 e uma das Sete Maravilhas de Portugal a 7 de Julho de 2007.
Há quem defenda que a obra se construiu por causa de uma promessa feita relativa a uma doença de que o rei padecia ou pelo facto da rainha D. Maria Ana de Áustria lhe ter dado descendência (esta a hipótese mais defendida).
Alexandre Herculano disse de D. João V: «O nosso primeiro rei do século XVIII pôde emular Luís XIV em fasto e magnificência. Há, porém diferença entre os dois monarcas: Luís XIV, mais guerreador que guerreiro, malbaratou o sangue dos seus súbditos em conquistas estéreis, enquanto D. João V, mais pacífico que tímido, comprou sempre, sem olhar ao preço, a paz externa dos seus naturais.».
A.H. de Oliveira Marques diz de D. João V na sua «História de Portugal»: « O reinado do Magnânimo ficou famoso pela tendência do monarca em copiar Luís XIV e a corte francesa. O ouro do Brasil deu ao soberano e à maioria dos nobres a possibilidade de ostentarem opulência como nunca anteriormente.
Por toda a parte se construíram igrejas, capelas, palácios e mansões em quantidade. Em Mafra, perto de Lisboa, um enorme Mosteiro exibiu a magnificência real. D. João V ocupou-se igualmente das artes e das letras, despendendo vastas somas na aquisição de livros e na construção de bibliotecas.
Como em tantas cortes do século XVIII, a depravação moral ocupou lugar preponderante. O rei - e com ele muitos nobres - gerou filhos em freiras de diversos conventos, muitos dos quais se converteram em centros de prazer e numa espécie de lupanares reservados à aristocracia.»
Assim com o nascimento da princesa D. Maria Bárbara o monarca determinou o cumprimento da referida promessa, pelo que a sua construção foi iniciada a 17 de Novembro de 1717 com um modesto projecto para abrigar 13 frades franciscanos.
Não se pouparam a despesas. A construção empregou 52 mil trabalhadores e o projecto final acabou por abrigar 330 frades, um palácio real, umas das mais belas bibliotecas da Europa, decorada com mármores preciosos, madeiras exóticas e incontáveis obras de arte. A magnifica basílica foi consagrada no 41.º aniversário do rei, em 22 de Outubro de 1730, com festividades de oito dias.
Entre 1771 e 1791, por breve de Clemente XIV, de 4 de Julho de 1770, a requerimento do Marquês de Pombal, foi ocupado pelos Cónegos Regulares de Santo Agostinho da Congregação de Santa Cruz de Coimbra; os Franciscanos da Província da Arrábida saíram do Convento de Mafra, em Maio de 1771. Em 1791, os Cónegos Regulares de Santo Agostinho saíram do edifício de Mafra.
Em 1834, no âmbito da "Reforma Geral Eclesiástica" empreendida pelo ministro e secretário de Estado, Joaquim António de Aguiar, executada pela Comissão da Reforma Geral do Clero (1833-1837), pelo Decreto de 28 de Maio, promulgado a 30 desse mês, foram extintos todos os conventos, mosteiros, colégios, hospícios e casas de religiosos de todas as ordens religiosas, ficando as de religiosas, sujeitas aos respectivos bispos, até à morte da última freira, data do encerramento definitivo.
O palácio era popular para os membros da família real, que gostavam de caçar na Tapada. As melhores mobílias e obras de arte foram levadas para o Brasil, para onde partiu a família real quando das invasões francesas, em 1808.
Durante os últimos reinados da Dinastia de Bragança, o Palácio foi utilizado como residência de caça e dele saiu também em 5 de Outubro de 1910 o último rei D. Manuel II para a praia da Ericeira, onde o seu iate real o conduziu para o exílio em Inglaterra.
O Palácio possui ainda dois carrilhões, mandados fabricar em Antuérpia por D. João V, com um total de 92 sinos que pesam mais de 200 toneladas e são considerados os maiores e melhores do mundo.
Juntamente com a Biblioteca Joanina da Universidade de Coimbra é o maior exemplo deste tipo de arquitectura e possui igualmente um espólio valiosíssimo.
Tem mais de 36 mil obras espalhadas pelas estantes, feitas de madeira exótica vinda do Brasil, que contempla todos os ramos do saber e que se estendem ao longo de 83 metros de comprimento.
Impressiona a dimensão destas salas iluminadas pela luz natural que entra a jorros pelas enormes janelas, da autoria de Manuel Caetano de Sousa em estilo "rocaille".
O magnífico pavimento é revestido de mármore rosa, cinzento e branco. As estantes de madeira estilo rococó, situadas em duas filas laterais, separadas por um varandim contêm milhares de volumes encadernados em couro, testemunhando a extensão do conhecimento ocidental dos séculos XIV ao XIX. Entre eles muitas jóias bibliográficas, como incunábulos.
A biblioteca do Convento de Mafra é uma biblioteca conventual exactamente como era e revela um espólio riquíssimo e muito vasto, pelo facto de nunca ter sido deslocada, nem quando da extinção das ordens religiosas em 1834, e reunir a biblioteca do convento e a das escolas, instituídas por decreto de D. João V em 1733, três anos depois da sagração da basílica
É curioso que os livros que a Inquisição proibia e colocava no Index [lista de livros proscritos] integravam as bibliotecas dos seus conventos
A biblioteca tem planta em cruz, dispondo na parte mais a sul os livros religiosos.
No centro encontramos os livros relativamente aos quais a inquisição levantava algumas reservas, da filosofia à anatomia, sem esquecer entre os quais se encontra o «Auto da Barca do Inferno» de Gil Vicente.
Na parte a norte, perto da entrada, estão os livros de arquitectura, direito, medicina e música.
Há manuscritos religiosos ainda em pergaminho e uma primeira edição dos «Lusíadas», impressa em 1572.
Estes volumes magníficos foram encadernados na oficina local, também por Manuel Caetano de Sousa.
Os livros são conservados com a inesperada ajuda de morcegos que vivem na biblioteca e que se alimentam de insectos nocivos.
Como nota marginal, mas que me parece ter total cabimento neste meu modesto apontamento, quero fazer referência ao livro de José Saramago «Memorial do Convento» editado em 1982, pela sua riqueza histórico/ficcionista naquilo que rodeou a construção deste Palácio com todo um enquadramento socio-político, que torna este romance, em minha opinião, um dos mais conseguidos deste autor.
Durante o reinado de D. João V, o rigor e as perseguições do Santo Oficio, fazem aumentar o numero de vitimas nos “autos de fé”, que tanto eram cristãos novos como aqueles que eram considerados hereges aos quais estavam sempre ou tentavam sempre que "tivessem ligações com prática de bruxaria".
O «Memorial do Convento» caracteriza uma época de excessos e de diferenças sociais. Este livro é uma narrativa histórica que ultrapassa personagens e acontecimentos verídicos, com seres concebidos pela ficção.
Para além do romance histórico este livro oferece-nos uma minuciosa descrição da sociedade portuguesa no inicio do séc. XVIII.
É por isso um romance social que segue a linha do neo-realismo, preocupando-se com a realidade social e, é também, um romance de intervenção, que visa denunciar a situação política que se vivia em Portugal não só no séc. XVIII como também hoje em dia (na perspectiva política do autor) em que o povo vive reprimido. É um romance de espaço/tempo/época.
Representa uma época histórica entre Lisboa e Mafra sendo estes dois locais os principais espaços onde decorre a acção deste livro.
Todo esta trama de espaços em que se movimentam as personagens e onde se passa a acção do livro permite-nos conhecer melhor o ser humano.
Saudações bibliófilas