Le Cabinet des chiffonniers (Cité Doré) de Madame Lecœur.
Le Monde illustré, Paris: Vallée, 1862, p. 280.
Celebra-se hoje mais um aniversário deste blogue e não queria deixar passar a data sem partilhar convosco algumas reflexões.
Como já verificaram os meus “escritos” foram muito poucos neste último ano.
Se é verdade que o meu tempo disponível para este tipo de escrita tem sido escasso, pois outras tarefas profissionais obrigaram-me a dedicar mais tempo a escrever muitas páginas que nada têm a ver com este espaço, verdade se diga que a vontade também não tem sido muita.
Com efeito, outros “valores” atrairam a minha atenção nestes últimos tempos: a pesquisa e recolha de peças manuscritas e documentos impressos que retratam a época que sempre me fascinou – a transição do século XVIII para o século XIX e sobretudo este último.
Aqui caberá um lugar muito especial para a Revolução Francesa e para a Guerra Civil Portuguesa (1828-1834).
''Prise de la Bastille''
Quadro de Jean-Pierre Louis Laurent Houel (1735-1813)
[no centro vê-se a prisão de Jourdan de René de Bernard, marquês de Laundry (1740-1789)]
A Revolução de 1824
É verdade que muitos escreveram sobre estes temas e não serei eu seguramente quem irá acrescentar alguma novidade, mas obter estes documentos da época – quer sejam manuscritos (que são textos sempre únicos embora reflictam a perspectiva e a vivência do seu autor) ou simples folhetos impressos – que retratem estes acontecimentos tem sido um fascínio para mim.
Entretanto, e finalmente, parece que chegou a Primavera e o meu terraço com as suas flores tem requerido muito da minha atenção (é sempre gratificante ver o desabrochar duma flor que se plantou com carinho e que floresce em toda a sua beleza…)
As flores do meu terraço…
Da Revolução Francesa consegui encontrar alguns documentos de que destaco pelo seu interesse:
Ouverture des Etats-Généraux 1789. Paris : De l’Imprimerie Royale, 1789. 112 pages. Document original daté du 5 mai 1789 dont le détail est précisé ci-après :
Discours du Roi sur 3 pages ;
Discours de M. le Garde des Sceaux sur 14 pages ;
Discours de M. le Directeur Général des Finances sur 83 pages ;
Etat général des revenus et des dépenses fixes sur 8 pages.
Apesar dos tempos conturbados que a França atravessou, deve realçar-se a qualidade tipográfica das Leis e Decretos que foram publicados durante este período. Como ilustrativo deixo aqui alguns exemplos das vinhetas tipográficas que encabeçavam estes documentos:
Vinhetas tipográficas
Claro que as obras clássicas sobre este tema serão sempre de leitura obrigatória.
(Aliás ler tem sido uma das minhas actividades, pois como já disse, qualquer livro da minha biblioteca só tem sentido fazer parte do seu acervo se ele me despertar o interesse pela sua leitura)
Quanto às Guerras Liberais em Portugal parece-me de grande interesse este ducumento:
EXTRACTO do princípio da Marcha que se fez contra a sublevação do Porto em 1828, offerecido a S. Exª, o Illmº, e Exmº Sr. Conde de Basto Ministro dos Negócios do Reino collumna e Exemplo dos puros e Verdadeiros Reallistas, deffensor da Monarquia Portugueza e de El Rei N. Sr. O Senhor D. Miguel 1º.- Sec. XIX. - (20) p.;19cm.-Brochura. Conserva as capas da época em papel estampado a cores.)
Trata-se de um curioso e muito interessante relatório militar sobre as actividades militares de tropas fiéis a D. Miguel comandadas pelo Brigadeiro Manuel Caetano Teixeira Pinto que depois de reunirem tropas em Coimbra postaram-se em Leiria para resistirem ás tropas rebeldes (liberais) que vinham do Porto tendo por fundo uma evidente inimizade entre o Marechal Póvoas e o Brigadeiro Teixeira Pinto. Por estes relatórios que julgo ser inédito se aquilata não só da ausência de coesão entre os dois cabos de guerra mas também da completa incompetência de algumas das chefias intermédias das tropas Miguelistas: “…. …. Não foi assim que obrarão como lhes determinou o ditto Brigadeiro [Teixeira Pinto], mas sim pelo Contrario, pois que nem na ditta marcha mandarão exploradores; e chegando a Ega não mandarão Postos avançados, nem vedetas para a frente, nem para o flanco direito, nem esquerdo, nem tampouco reconhecer o Campo, mandarão encadear os Cavallos, e ensarilhar as Armas descarregadas e tudo se meteu pellas Cazas e o mesmo Major Commandante se meteu em huma taberna. Os rebeldes que se aproveitarão deste descuido, relaxação e falta de Disciplina Militar, se aproveitarão de entrar na ditta Villa da Ega e os surpreenderão, correndo ao Sarilho das Armas, sem que por ninguém fossem pressentidos, onde foi agarrado o Major Roque na ditta taberna e foi acutillado pelos Rebeldes e tudo o que não foi prizioneiro, fugio...” , termina concluindo: “Muitas faltas mais se podiam narrar como foi, nem a ditta Divizão, nem as Brigadas tiverão nunca Pólvora de reserva e só apenas a que se trazia nas Cartuxeiras, mas a Providencia Divina socorreu esta Divizão, e os puros e fieis vassallos do melhor dos Reis, o Sr. D. Miguel 1º que Deos Guarde.” .
(Este opúsculo merece uma apresentação mais detalhada mas não me parece ser esta a ocasião mais oportuna...)
Claro que neste espaço de tempo, muitos catálogos de algumas livrarias me foram enviados sem que eu, como é habitual, deles tenha dado notícia.
Salon international du livre ancien, de l'estampe et du dessin à Paris
(26-28 avril de 2013)
Sem pretender colmatar esta lacuna faço referência a alguns deles (até porque muitos foram elaborados para esse acontecimente de grande importância a nível mundial que é o Salon international du livre ancien, de l'estampe et du dessin que decorreu de 26 a 28 deste mês em Paris).
Eis alguns desses catálogos:
Livraria Castro e Silva
Librairie Camille Sourget
Librairie le Feu Follet
Esta Livraria de Paris editou mais dois catálogos para Maio de 2013:
Librairie le Feu Follet
Librairie le Feu Follet
E, por último, acabou de sair mais um dos excelentes catálogos da Bauman Rare Books dos USA.
Bauman Rare Books
Antes de terminar gostaria de vos deixar com a leitura desta carta, que não sendo propriamente dum bibliófilo, pois que se trata de uma biblioteca de índole profissional, mas que nos esclarece como se negociavam os livros no séc. XVIII e como o seu autor revela um particular interesse em conseguir obter um livro em falta na mesma bem como na personalização das obras adquiridas.
Lettre avec correspondance signée le chevalier de BONNEVAL du Havre (Normandie), ingénieur ordinaire du roi, datée du 22 septembre 1738, adressée à M. Claude Antoine Jombert – marchand Libraire à PARIS.
Resta-me agradecer a todos aqueles que ainda têm paciência para continuarem a ler aquilo que vou “escrevinhando”, pois é precisamente por sua causa que este espaço ainda subsiste.
O meu muito obrigado a todos vós.
Saudações bibliófilas.