
Dou a palavra a Inocêncio V, 317. que nos dá este excelente retrato do autor:
LUIS RAPHAEL SOYÉ, n. em Madrid a 15 de Abril de 1760, filho de pais estrangeiros, sem contudo constar precisamente a que nação pertencessem.
José Maria da Costa e Silva afirmava, não sei com que fundamento, que eram naturais da Alemanha, e pretendia derivar dai o gosto e predilecção que o filho inculcava nas suas obras pela poesia alemã.
Página inicial de "Noite I"
Eu porém, que comecei a familiarizar-me com a lição dos versos de Soyé aos sete anos de idade, quando mal sabia ler, creio ter razões bastantes para duvidar até de que ele entendesse o alemão, e julgo mais que provável que todo o seu conhecimento da literatura daquele pais era bebido exclusivamente nas traduções francesas de Huber, no tratado “Des Progrès des Allemands”, par Bielfeld, vertido na mesma língua, etc. etc. Seja o que for, é certo que Soyé veio para Lisboa trazido ainda na primeira infância por seus pais, que em breve faleceram, correndo a sua educação, ao que posso julgar, por conta do morgado da Oliveira João de Saldanha Oliveira e Sousa, depois primeiro conde de Rio Maior, que parece haver sido o seu protector durante muitos anos. Consta que fizera os estudos de humanidades no Seminário de Rilhafoles, dos padres da Congregação de S. Vicente de Paulo, e que aprendera também as artes da pintura e gravura a buril, do que nos deixou documento em algumas estampas das suas “Noites Josephinas”. Aos 29 de Outubro de 1777 professou a regra franciscana no convento de N. S. de Jesus da Terceira Ordem da Penitencia, e passou a seguir os estudos maiores na Universidade de Coimbra, aí fez alguns actos em Teologia, com desembaraço e aceitação de seus mestres, que muito o distinguiram. Mas tenho para mim que não chegou a graduar se naquela Faculdade, embora pelo tempo adiante ele se inculcasse como «doutor» nos rostos de alguns opúsculos que em França deu á luz. Ou porque tivesse abraçado constrangido a vida monástica, ou porque a sua vocação para ela se desvanecesse, é facto que resolveu voltar para o século, impetrando de Roma um breve pelo qual lhe foram anulados os votos clausurais, e passou ao estado de clérigo secular em 1791.
Já anteriormente, a contar de 1786, havia publicado algumas obras poéticas, composições dos seus primeiros anos, as quais foram muito aplaudidas por uns, e censuradas por outros, como acontece quase sempre.


Obras mais conhecidas:
SOYÉ. Luís Rafael - SONHO POEMA EROTICO QUE ÁS BENÉFICAS MÃOS Do Nosso Augusto, e Amabilissimo PRINCIPE DO BRASIL OFFERECE LUIZ RAFAEL SOYÉ. LISBOA Na Offic. Patr. de FRANCISCO LUIZ AMENO. M. DCC. LXXXVI. (1786) In 8.º de 14x9,5 cm. Com lxxxviii-125 pags.. com vinhetas e um retrato do Príncipe D. José. - Consta de seis cantos em oitava rima. O prólogo é erudito. e talvez vale a pena de ler se. O poema vale pela boa linguagem e versificação, pela viveza das pinturas, e pela graciosa singeleza dos seus quadros pastoris.
SOYÉ, Luís Rafael - Noites Jozephinas de Mirtilo sobre a infausta morte do Serenissimo Senhor D. Joze Principe do Brasil ... Lisboa, Regia Officina Typographica.-1790.in 8º de 252 pags- Poema panegírico sobre a morte do Rei D. José I. Retrato gravado de Josephus Brasiliae princeps na página de titulo por Luis Rafael Soyé. E uma gravura alegórica igualmente por L. R. Soyé. Cada uma das 12 noites tem, no início, uma gravura talhada por alguns dos maiores artistas portugueses (Gregorio Francisco de Queiroz: vinhetas das IV-VII-VIII-IX-XI; Jose Lucio da Costa: vinhetas das I & V, Jeronimo de Barros e Joao Thomas.
Obrigado pela vossa paciência na leitura
Saudações bibliófilas,
Rui