MORGANTI, Bento, 1709-?
[Escudo de armas do Conde Redondo]
[Visual gráfico : [vinheta] / B. Morganti del. 1734 ; G. F. L. Debrie sculp.. - [S.l. : s.n.], 1734.
1 gravura : água-forte, p&b
Bento Morganti nasceu em Roma, filho de pais portugueses, em 13 de Outubro de 1709. Veio muito novo para Portugal.
Estudou no Colégio de Santo Antão e formou-se em Direito Canónico na Universidade de Coimbra. Era um presbítero secular com um benefício na Basílica de Santa Maria. Desconhece-se o local e data do seu falecimento, mas deverá ter ocorrido depois de 1765 (data da sua última obra impressa, visto não ser considerada publicação póstuma)
Bento Morganti também escreveu sob o pseudónimo de José Acúrsio de Tavares.
Bibliografia:
1737 - Nummismalogia ou Breve recopilação de algumas medalhas dos emperadores romanos, de ouro, prata, e cobre, que estão no Museo de Lourenço Morganti
MORGANTI, Bento. 1709-? – Nummismalogia ou Breve recopilação de algumas medalhas dos emperadores romanos, de ouro, prata, e cobre, que estão no Museo de Lourenço Morganti... a que se ajunta huma Bibliotbeea de todos os autores, que escreverão de medallias, e inscripçòes antigas. Parte primeira... Por Bento Morganti. Lisboa Occidental: Joseph António da Sylva, 1737. 36, LXVI, 176 p.: il.; 20 cm.
1742 - Dissertação histórica e crítica: sobre a inscrição que existe no Campo de Santa Ana da Cidade de Braga
MORGANTI, Bento. 1709-? – Dissertação historica e critica: sobre a inscripção que existe no Campo de Santa Anna da Cidade de Braga... / dada à luz pelo Doutor Mathias Pinheiro de Azevedo; escrita pelo...Bento Morganti. Lisboa: Na Reg. Offic. Sylviana, 1742. [8], 51 p. ; 23 cm
1750 - Descrição fúnebre das exéquias, que a Basílica Patriarcal de S. Maria dedicou à memória do... Rei D. João V.
MORGANTI, Bento. 1709-? – Descripção funebre das exequias, que a Bazilica Patriarchal de S. Maria dedicou à memoria do Fidelissimo Senhor Rey Dom Joaõ V / escrita, e delineada por Bento Morganti…: Lisboa: Na Officina de Francisco da Silva, 1750. [8], 52 p. : 4 est.; in 4º (22 cm)
As gravuras (das quais uma desdobrável) executadas por Michel Lebouteux segundo desenhos de Bento Morganti e gravados por G.F.L. Debrie. Destaque-se um retrato gravado de D. João V bem como as capitulares gravadas no texto.
Gravura desenhada por Bento Morganti
Com a morte de João V (1689-1750), rei de Portugal, depois de quase 50 anos de reinado, as suas exéquias realizaram-se na Basílica de Santa Maria em Lisboa.
Na primeira parte compõe-se da descrição das decorações funerárias escritas por Morganti, que também criou a maioria dos desenhos utilizados para as placas onde se inclui a vinheta castrum doloris sobre o catafalco, ornatos com numerosas inscrições lembram as virtudes e acções do rei falecido.
A segunda parte do trabalho apresenta o texto da oração fúnebre proferido pelo Padre Timotheo de Oliveira.
1752 - O Anónimo repartido pelas semanas para divertimento e utilidade do público
MORGANTI, Bento. 1709-? – O Anonymo repartido pelas semanas para divertimento e utilidade do publico. Lisboa: Na Officina de Pedro Ferreira, 1752. 16 p., 20 cm.
MORGANTI, Bento. 1709-? – Carta de hum amigo para outro, em que dá succinta noticia dos effeitos do terremoto succedido em o primeiro de Novembro de 1755. Com alguns principios Fisicos para se conhecer a origem, e causa natural de similhantes Phenomenos terrestres. Lisboa: Na Offic. de Domingos Rodrigues, 1756. 16 [1] p.; 20 cm. Inocêncio I, p. 350
Opúsculo, como no seguinte, onde faz referência ao sucedido em Lisboa como consequência do terramoto de 1755, o qual foi objecto de várias publicações na Europa, pois foi um sismo com proporções e um grau de destruição perfeitamente devastadoras.
Gravura em cobre de 1755 mostrando Lisboa em chamas e o tsunami varrendo o porto
Ruínas de Lisboa. Após o terramoto os sobreviventes viveram em tendas nos arredores da cidade, como ilustra esta gravura alemã de 1755.
1756 - Verdade vindicada ou resposta a uma carta escrita de Coimbra, em que se dá notícia do lamentável sucesso de Lisboa no dia 1 de Novembro de 1755
MORGANTI, Bento (Jozé Acúrsio de Tavares). 1709-? – Verdade vindicada ou resposta a huma carta escrita de Coimbra, em que se dá noticia do lamentavel sucesso de Lisboa no dia 1 de Novembro de 1755 / escrita por José Acursio de Tavares... Lisboa : na Officina de Miguel Manescal da Costa, 1756. 32 p. ; in 4o (20 cm). Barbosa Machado 4, 74, Inocêncio 18, 256.
MORGANTI, Bento. 1709-? – Breve discurso sobre os cometas, em que se mostra a sua natureza, sua duraçaõ, seu movimento, sua influencia, e a sua Regiaõ &c. Escrito por B.M.- Lisboa: na Off. de Francisco Borges de Sousa,, 1757. 21, [2] p. ; 20 cm.
A 1ª edição foi publicada para contrariar a ideia de que um cometa prevê uma grande catástrofe ou desastres. O trabalho explica que os cometas são fenómenos naturais, com uma explicação mais leiga do que científica, do seu significado astronómico e explica que eles não têm nenhuma influência sobre os acontecimentos terrestres. O cometa Halley apareceu em 1759. A impressão de uma 2ª edição em 1818 coincidiu com o aparecimento de um cometa diferente e destinava-se, também, a tranquilizar os rumores de desgraça iminente.
Innocêncio I, 350 (refere apenas 21 pp.), XVIII, 249. Fonseca, Pseudonimos, p. 102. Coimbra, Miscelâneas 6439, 8053. OCLC: 64234425 (Houghton Library, Newberry Library, Bayerische Staatsbibliothek). Conhecem-se três exemplares na Biblioteca Nacional de Portugal (com 21, [2] pp.) e uma da edição de 1818 (Breve discurso sobre os cometas, em que se mostra a sua natureza, a duração do tempo da sua apparição, sua nenhuma influencia sobre o mundo, e nos diversos acontecimentos que no mesmo se observão) na Biblioteca Nacional de Portugal). Não localizado no Copac.
1757 - Carta em resposta ao discurso sobre os cometas
MORGANTI, Bento (Jozé Acúrsio de Tavares). 1709-? – Carta em resposta ao discurso sobre os cometas / escrita por Jozé Acursio de Tavares... Lisboa: na Off. de Francisco Borges de Sousa, 1757. 23, [5] p.; 20 cm.
MORGANTI, Bento (Jozé Acúrsio de Tavares). 1709-? – Sustos da vida nos perigos da cura, ou carta, que hum amigo escreveo a outro, estando convalescendo, depois de huma enfermidade. / [Jozé Acursio de Tavares]. Lisboa: Na Officina de Miguel Manescal da Costa, Impressor do Santo Officio, 1756. 16 p.; 20 cm. (Exemplar na BNP)
MORGANTI, Bento (Jozé Acúrsio de Tavares). 1709-? – Sustos da vida nos perigos da cura, ou carta, que hum amigo escreveo a outro, estando convalescendo, depois de huma enfermidade. / [Jozé Acursio de Tavares]. Lisboa: Na Offic. de Antonio Vicente da Silva, 1758. 16 p.; 20 cm. (Exemplar digitalizado)
A este propósito leia-se o último parágrafo deste opúsculo, onde de uma forma mordaz critica as práticas médicas da época: MORGANTI, Bento (Jozé Acúrsio de Tavares). 1709-? – Sustos da vida nos perigos da cura, ou carta, que hum amigo escreveo a outro, estando convalescendo, depois de huma enfermidade. / [Jozé Acursio de Tavares]. Lisboa: Na Offic. de Antonio Vicente da Silva, 1758. 16 p.; 20 cm. (Exemplar digitalizado)
Finalmente, por nao cansar mais a V. m. e eu estar tambem já cansado de escrever, naõ digo o muito, que me occorre a este respeito, e só peço a V. m. que tenha muito cuidado em conservar sem desordens a vida, para lograr hum estado de perfeita saude, e naõ chegar a ter necessidade de cahir no erro commum de chamar Medico,{16} que naõ seja Medico, que lha destrua de todo; e esta diligencia de chamar Medico bastará que V. m. a reserve para a ultima enfermidade, para mostrar que naõ deixa de morrer à moda; ou tambem, quando por muito velho, e achacado se enfastiar de viver, quizer livrar-se desse embaraço por meyos competentes, que fique salva a sua consciencia, porque elles teraõ todo o cuidado de lhe dar a morte embrulhada em alguma emulsaõ, ou dentro de hum frango, lembrando-se que obraõ nisto huma especie de caridade, verificando que a respeito de huma vida cheya de padecimentos naõ he pena a morte, mas sim o fim, e complemento de todas as penas, como escreveo hum discreto: Mors non poena, sed ultima poenarum est. Mas se por acaso, ou fatalidade lhe succeder o contrario, que antes disto lhe seja preciso recorrer a elles pelo costume, encolha os hombros, e console-se com Ouvidio, dizendo: Me quoque fata ligant. Ainda que lhe recommendo muito, e me cuide em fugir, quanto lhe for possivel, destes tres inimigos do corpo, assim como Christaõ deve fugir dos da alma, pois se os da alma, que saõ mundo, diabo, e carne, a arruinaõ por natureza, assim o Medico, Cirurgiaõ, e Boticario tem por officio destruir a saude, e arruinar o corpo. Eu terei grande gosto de saber que V. m. passa livre de necessitar valer-se de semelhantes inimigos, que eu, graças a Deos, por agora escapei por occulta providencia dos ordinarios effeitos das suas obras, e fico muito prompto para me empregar no serviço de V. m. que Deos guarde muitos annos. Lisboa, 20. de Abril de 1756.
De V. m.
Muito amigo, e criado
Jozé Acursio de Tavares.
MORGANTI, Bento. 1709-? – Juizo verdadeiro sobre a carta contra os medicos, cirurgioens, e boticarios ha pouco impressa com o titulo de sustos da vida nos perigos da cura: exposto em huma carta de hum amigo a outro, que sobre ella lhe pedio o parecer. Lisboa: Na Officina de Joseph Filippe, 1758. 24 p. ; in 4º, 20 cm. Inocêncio I, 349
Leia-se a propósito a introdução, que transmite de modo mais “refinado” a sua atitude crítica sobre as mesmas práticas:
Meu amigo, e Senhor, satisfazendo á sua recomendaçaõ de lhe enviar os papeis coriosos, que sahirem nesta Cidade mais bem compostos, e recebidos; remetto a v. m. esse que a semana passada se publicou com o titulo de Sustos da Vida nos Perigos da Cura, taõ agradavel aos curiosos, como aos medicos odiozo. E ainda que sei, que v. m. naõ he muito inclinado a obras satyricas, com tudo me parece, lhe naõ desagradará, pelo que tem de discreta. Eu desejara que v. m. agora se achasse nesta Cidade para ouvir os pregoens dos cegos; pois naõ contentes com o primeiro titulo, para dar mais clara noticia da obra, apregoaõ; Carta contra os Medicos, Cirurgioens, e Boticarios (verdade he, que naõ lhe levantaõ nenhum testemunho) e por fazer pirraça aos mesmos servindose dos olhos dos moços, pois elles naõ pódem ser testemunhas de vista, ás portas de Boticarios, e na passagem dos Medicos, e Cirurgioens levantàõ com mais forte, e duplicada vós o pregaõ da sua fazenda, alguns sugeitos tenho ouvido louvar muito este papel de discreto, e util á republica, para que se desenganem com estes homicidas disfarçados. Eu porèm com juizo indiferente, espero pelo seu parecer, para que instruindo-me como costuma, eu possa julgar com acerto. Deos guarde a v. m. &c.
1758 - Relação panegírica das exéquias que a Irmandade de N. Senhora Mãe dos Homens, sita no Convento de S. Francisco de Xabrégas fez ao seu instituidor, e Director o M. R. Padre Fr. João de N. Senhora
MORGANTI, Bento. 1709-? – Relaçaõ panegyrica das exequias que a Irmandade de N. Senhora Mãy dos Homens, sita no Convento de S. Francisco de Xabregas fez ao seu instituidor, e Director o M. R. Padre Fr. João de N. Senhora... / escripta por Bento Morganti... Lisboa : [s.n.], 1758. 49 p.; 21 cm.
1758 - Breves reflexões sobre a vida económica a qual consiste nos casamentos, na criação, e educação dos filhos e em adquirir, e conservar os bens
MORGANTI, Bento. 1709-? – Breves reflexões sobre a vida económica a qual consisto nos casamentos, na criação, e educação dos filhos e em adquirir, e conservar os bens, (...) / Ordenadas Por Bento Morganti. Lisboa : Of. de Joseph da Costa Coimbra 1758. 8 fl. 127 p.; 15 cm
1765 - Aforismos morais, e instrutivos, úteis a, todo o género de pessoas
MORGANTI, Bento. 1709-? – Afforismos moraes, e instructivos, uteis a, todo o genero de pessoas ; Nos quaes se achão documentos necessários para a boa instrucção da vida civil, e christã : compilados, e dispostos em centurias para com mayor facilidade convidarem à sua lição... / por Bento Morganti. Lisboa: Of. Manoel Coelho Amado, 1765. 12] 172 p. ; 16 cm
A BNP possui, para além das obras referidas, dois manuscritos provenientes da Livraria Antiquária do Calhariz:
[Bilhete do Padre Bento Morganti para o Sr. Bertrand solicitando-lhe o envio das obras do P.e Nidendorff no caso de as possuir] [Manuscrito] [1] f. ; 8x21 cm
[Apontamentos sobre certas curiosidades relativas a figuras da Antiguidade e sobre o significado de algumas pedras preciosas] [ Manuscrito / [Bento Morganti] [5] f. ; 22 cm
Aqui deixo este esboço bio-bibliográfico sobre um autor português pouco conhecido e sobre o qual me foi muito difícil “descobrir “dados.
É o resultado dessa pesquisa que partilho convosco.
Sendo um autor que não poderemos de modo algum considerar de grande valor literário tem, para mim, o interesse particular de nos dar a sua visão sobre alguns acontecimentos, bem como dos hábitos e de algumas actividades profissionais, da época que são sempre de alguma utilidade para quem gosta de ler e conhecer um pouco mais da nossa história.
Sob o ponto de vista bibliófilo, pelo que consegui averiguar, as suas obras aparecem raramente e atingem valores moderadamente elevados (encontrei apenas uma obra à venda e referência a outra vendida num dos leilões da Christie's em 2009).
Saudações bibliófilas.
Notas:
(*) Acesso a obra digitalizada.
(dado a tratarem-se de pequenos opúsculos convido-vos a lerem alguns deles para conhecerem um pouco melhor a obra deste escritor.)
Fontes consultadas:
PORBASE- Fonte Nacional de Dados Bibliográficos da Biblioteca Nacional de Portugal.
4 comentários:
Buen repaso a un autor típico de la ilustración con libros variados, sin faltar los dedicados a les exèquias reales.
Impresionante el del terremoto de Lisboa, acontecimiento que impactó a toda Europa y que nuestro autor recoge, con ilustración, en el libro que nos presentas.
Gracias por divulgar figuras ilustradas como esta de difícil acceso.
Galderich,
De facto existem escritores, que não deixaram obra literária marcante, caso de Bento Morganti, mas que pelo conjunto da sua obra nos permitem conhecer um pouco melhor a sua época.
É curioso como a sua produção literária se estende por várias áreas: acontecimentos astronómicos (caso dos cometas), o terramoto de 1755, exéquias reais e não só, arqueologia (caso de Dissertação histórica e crítica: sobre a inscrição que existe no Campo de Santa Ana da Cidade de Braga), numismática, critica social (críticas das "prátics médicas" e outros textos sobre certos costumes).
Convirá também não esquecer o seu inegável talento como desenhador, pois executou muitas das ilustrações das suas obras.
Mesmo assim foi-me muito difícil encontrar dados mais credíveis e detalhados sobre a sua biografia e bibliografia (no entanto, penso ter referido tudo aquilo que escreveu)
Um abraço
Rui, informações muito interessantes essas que apresenta no post.
Abraços de além-mar,
Meu caro Rui Martins, muito obrigado pelo seu valioso trabalho ao compilar a bibliografia de Bento Morganti, de facto pouco conhecido. Encontrei-o por acaso,naquelas pesquisas que nos obrigam a ir até bem ao fundo. Foi a propósito da Farsa dos Físicos de Gil Vicente e da necessidade que tive em caracterizar a arte médica do sec XVIII. É uma preciosidade porque, como diz, em "Sustos da Vida" o autor é sarcástico" e cruel mas, é-o ainda mais quando refina a sua critica em Juizo Verdadeiro.
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