"Se não te agradar o estylo,e o methodo, que sigo, terás paciência, porque não posso saber o teu génio, mas se lendo encontrares alguns erros, (como pode suceder, que encontres) ficar-tehey em grande obrigação se delles me advertires, para que emendando-os fique o teu gosto mais satisfeito"
Bento Morganti - Nummismologia. Lisboa, 1737. no Prólogo «A Quem Ler»

Mostrar mensagens com a etiqueta china. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta china. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Donald Heald Rare Books, Prints & Maps – uma livraria de sonho!




Ao fazer uma das minhas “viagens virtuais” pelas livrarias no estrangeiro, despertou-me a atenção esta – Donald Heald Rare Books, Prints & Maps | 124 East 74th St, | New York | NY 10021 | USA, que nos oferece excelentes exemplos de livros antigos e impressos nas áreas de botânica, ornitologia, história natural, americana e canadiana, nativos americanos, viagens e explorações, mapas e atlas, fotografia e muito mais.


 Mas vejamos a sua apresentação:

“Founded in England in 1972, we have formed and contributed to important private and institutional collections. Items of note which we have placed include a unique copy of Abbot’s Natural History of the Rarer Lepidopterous Insects of Georgia with plates on vellum, an extremely rare extra-illustrated large paper Spanish edition of Blaeu’s Atlas Mayor, Curtis' North American Indian, a copy of the Federalist in boards,  the first separate printing of the Bill of Rights, and a large paper issue of Redouté Les Roses with the plates in two states.

We are renowned for our extensive print inventory which is unsurpassed in quality. The Sporting collection recently incorporates the complete print stock of Ackermann & Son of London, established in 1783.

We are members of the Antiquarian Booksellers Association of America, where Mr. Heald has served on the Board of Governors as Treasurer, Security Chairperson, and as Chairman of the New York Antiquarian Book Fair. We are members of the International League of Antiquarian Booksellers, and the American Historical Print Collectors Society. Mr. Heald is a member of the Grolier Club, and the American Antiquarian Society.”

“Books, prints and maps are shown by appointment only. Please contact us to schedule an appointment. info@donaldheald.com

Na secção Voyages & Travel encontrei este exemplar que, para além de nos revelar todo o fascínio do Oriente, reúne todas as condições para ser uma obra de elevada qualidade: excelente encadernação apesar de ser contemporânea (que não de época), belas ilustrações – aguarelas e guaches – e em óptimo estado de conservação (apenas com o “pequeno senão” do seu preço!)

CHINA, Canton School.
[Album of exceptional watercolours of members of the Chinese court, various occupations, landscape views, Chinese junks and botanical and ornithological subjects]



[Canton: circa 1830]. Small 4to. (9 3/4 x 7 7/8 inches). 61 watercolour and gouache drawings, on J. Whatman wove paper watermarked 1829, interleaved with blanks. The first watercolour, within an elaborate border, featuring a seated woman holding a sheet of paper inscribed G. Jackson, 1836.




Contemporary dark purple straight grained morocco, covers bordered in gilt and blind with a central device in gilt, spine wide flat bands in four compartments, tooled in gilt, Liverpool bookseller's ticket on the front pastedown (Richard Taylor), glazed yellow endpapers, gilt edges



Provenance: G. Jackson (inscription dated 1836 on tablet on first image)



A lovely album of pre-Opium Wars Chinese export watercolors of the highest quality.







Beginning in the late 18th century, centered on the treaty port of Canton, there existed a thriving trade in watercolours executed by local Chinese artists and sold to the western merchants and travellers. The best known result of this trade is William Mason's Costume of China, first published in London in 1800, which is illustrated with 60 hand-coloured aquatints adapted from a series of original watercolours by Pu-Qua of Canton.







Importantly, the watercolours in the present album are of a uniformly higher quality than usually encountered, including vivid colouring and the use of gold. The subjects include members of the court and occupations (15), junks and ships (7), landscapes (7) and natural history subjects including flowers, birds and insects (32). Collections of Chinese export watercolors were routinely executed on less expensive pith paper, whereas the present watercolours are on high quality wove paper. The album represents a more prestigious style of export watercolor paintings specifically meant for wealthy Europeans. These are Chinese watercolors of the highest quality, designed and executed to the highest standards.







Chinese export watercolours occupy "a space which is neither wholly Chinese nor wholly European, but which can, by the nature of the compromises it makes, tell us a lot about how one culture saw the other in the age before photography" (Clunas, p. 11).



Crossman, The China Trade (Princeton: 1972); Clunas, Chinese Export Watercolours (London: 1984).



Item #31334
Price: $30,000.00

Espero que esta obra seja do vosso agrado, pelo menos  tanto como eu gostei da vos apresentar.

Saudações bibliófilas.

sábado, 10 de novembro de 2012

O fascínio do Oriente



Chen Hongshou: Magnólia e pedra, Dinastia Ming

Melhor do que responder pessoalmente a cada um dos meus leitores, que publica ou anonimamente, me incentivaram a continuar o meu trabalho, será retribuir-lhes a sua confiança com a publicação de um pequeno post sobre um tema que julgo ser pouco divulgado/conhecido – o livro e a encadernação chinesa.


Wang Hui: Paisagem, Dinastia Qing

Apesar de todo o fascínio que a cultura milenar chinesa nos suscita desde há muitos séculos o livro e a literatura chinesas continuam a ser um pouco desconhecidos para nós europeus, pese embora os Nóbeis da Literatura que recentemente têm sido atribuidos a escritores desde imenso país (caso de Gao Xingjian e este ano a Mo Yan).

Claro que as razões serão por demais óbvias, para além do chinês/mandarim não ser uma língua “muito vulgarizada” no exterior da China e este país ter sempre vivido um pouco encerrado sobre si mesmo, criou como que uma “redoma” que se impedia a divulgação da sua cultura, por outro lado, qual “fruto proibido”, aumentava o desejo de desvendar os seus mistérios.


XINGJIAN, Gao – Buying a Fishing Rod for My Grandfather
(colectânea de contos escritos entre 1983 e 1990 que li com muito agrado)

Deste modo, o que se conhece da sua literatura é através das poucas traduções que nos vão chegando.

(Exceptuem-se aqui a grande divulgação/exportação das traduções, em quase todas as línguas, dos escritos do “camarada” Mao Tsé-Tung – era assim que então se escrevia – nos anos da Revolução Cultural entre os esquerdistas da época)

Mas textos muito mais antigos são hoje cobiçados por bibliófilos/coleccionadores pela sua raridade e, atrevo-me a dizer, igualmente pela sua beleza.

(o mercado americano tem alguma predileção por esta temática)

E já agora deixo aqui três exemplos que me parecem bem elucidativos das qualidades que referi acima.

Veja-se este manuscrito em rolo:


A Dunhuang manuscript scroll that contains three fragments of Buddhist sutras was initially appraised by the UChicago Library and determined to date back to the ninth century. An expert from the National Library of China, who has studied numerous similar pieces at his own institution, examined the manuscript during the conference. He has suggested the piece dates back to the seventh century. (Photo by Michael Kenny)
©The University of Chicago Library

E que se poderá dizer deste livro e das suas ilustrações?




E por ultimo este exemplar mais recente com toda a sua delicada beleza orientalista.


Four 20th Century Chinese picture books - "The Story of Chinese Old Farming", "The Story of Chinese Fashion", "The Story of Tea" and "The Story of Silk", all contained within stained wood covers each with a character to front. (lote 421)
©The CANTERBURY AUCTION Galleries

Igualmente nos ocorre a imagem de Confucio  e dos seus princípios filosóficos.


Confúcio

Claro que a cultura chinesa e o seu espiritualismo não se prendem só com este grande filósofo.

Convirá não esquecer essa obra intemporal que é o Tao Te Ching atribuído a Laozi , um dos fundamentos do taoismo, que continua a ser uma óptima fonte para meditação.


Laozi, retratado como um líder taoísta.

Mas voltemos àquilo de que me propus falar.

(como podem ver é extremamente fácil divagar neste mundo fascinante da cultura chinesa e mal nos apercebemos já perdemos o “fio à meada”)

Vejam-se então algumas das técnicas de encadernação chinesa pela leitura deste documento: Bookbinding – Some characteristics of the Dunhuang booklets by Colin Chinnery, que me parece ser bastante elucidativo.





Bookbinding – Some characteristics of the Dunhuang booklets
by Colin Chinnery

Não posso deixar passar esta oportunidade sem referir que este documento me foi enviado como presente de aniversário por um dos muitos leitores com quem vou trocando impressões e que contribuem largamente para o enriqueciomento dos meus escassos conhecimentos.

Neste caso foi o meu estimado amigo Johnson Brito de Lima a quem publicamente agradeço a sua lembrança.

(se calhar só por isto valerá a pena manter o blogue…)



Camilo Pessanha
Fotografia com dedicatória a Luís Nolasco

Já aqui deixei notícia sobre Camilo Pessanha e a sua Clepsydra, o qual passou a maior parte da sua vida em Macau, onde se tornou um grande admirador, e mais tarde conhecedor, da arte e da literatura chinesas.

Recordo de novo as duas obras que nos legou fruto da sua paixão por esta cultura: China: estudos e traduções e Leituras Chinesas – Kuok Man Kau Fo Shü.


Camilo Pessanha – China : estudos e traduções
Lisboa, Agência Geral das Colónias, 1944
1ª ed. XII, 131, [4] p.

Camilo Pessanha teve um mestre de língua chinesa e um amigo, o sinólogo José Vicente Jorge, tradutor da Embaixada de Portugal em Pequim, Chefe da Repartição de Expediente Sínico em Macau, grande coleccionador de Arte Chinesa e autor do livro Notas sobre a Arte Chinesa, que o introduziu no conhecimento da Arte e da Literatura chinesas e com quem publicou um livro de Leituras Chinesas – Kuok Man Kau Fo Shü.


Camilo Pessanha
Leituras Chinesas – Kuok Man Kau Fo Shü

Espero que esta minha divagação, pois mais não é do que isso, tenha sido do vosso agrado.

Saudações bibliófilas.


Nota:

Veja-se a este propósito ainda este artigo: Stanford acquires a cache of ancient Chinese books .

The volumes represent the four traditional realms of Chinese knowledge:
history, philosophy, literature and classics.