"Se não te agradar o estylo,e o methodo, que sigo, terás paciência, porque não posso saber o teu génio, mas se lendo encontrares alguns erros, (como pode suceder, que encontres) ficar-tehey em grande obrigação se delles me advertires, para que emendando-os fique o teu gosto mais satisfeito"
Bento Morganti - Nummismologia. Lisboa, 1737. no Prólogo «A Quem Ler»

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terça-feira, 20 de novembro de 2012

Livraria Castro e Silva: Catalogo 138 / Rare Books Catalog e Francisco de Quevedo Villegas – alguns apontamentos a propósito duma obra deste catálogo.



A Livraria Castro e Silva editou mais um dos seus apreciados catálogos – o Catalogo 138 / Rare Books Catalog.



Como deixei transparecer no post As Palavras do Silêncio  com o soneto de Camões:

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
….

A apresentação de catálogos e outros eventos bibliófilos, sempre que para isso “tenha arte”, passará a ser feita duma forma diferente daquela a que estão habituados.
(vamos a ver se isso vos fará interessar ainda mais pelo livro enquanto objecto de arte e cultura)

Com efeito, vou tentar mostrar como ao se ver um livro, por mais inacessível que ele seja para as nossas bolsas, ele nos poderá despertar outro tipo de interesses que nos conduzam ao estudo do seu autor, acontecimentos da época, importância do tipógrafo/editor, tipo de encadernação, por exemplo, ou muitos outros temas que vos possam vir à ideia.
(já reparam que o novo subtítulo do blog é “Conversas em torno dos livros”?

A bibliofilia não é só comprar livros (isso é mais bibliomania), mas é sobretudo, estudar o mais profundamente possível que se possa a história do livro, como muito bem demonstraram Rubens Borba de Moraes ou o nosso Inocêncio Francisco da Silva entre tantos outros que aqui mereceriam uma referência.

Mas voltando ao catálogo desta livraria nele encontrei, entre muitas outras obras que poderiam interessar a muitos de nós, o lote 84:



84. QUEVEDO DE VILLEGAS, Francisco de. OBRAS DE DON FRANCISCO DE QUEVEDO Villegas, Cavallero de la Orden de Santiago, Señor de la Villa de la Torre de Juan-Abad. DIVIDIDAS EN TRES TOMOS. Nueva Impression corregida y ilustrada com munchas Estampas muy donosas y apropriadas à la matéria. EN AMBERES. Por la VIUDA de HENRICO VERDUSSEN Año M. DCC. XXVI. [1726] Junto com: TOMO QUARTO EN EL QUAL CONTIENE Su vida y Obras posthumas, de la Providencia de Dios tratados tres, com el tratado de la Introducion à la vida Devota. Aqui antes nunca impresso ni en la impression de Bruselas, ni en la de Amberes. EN AMBERES. En Casa de BAUTISTA VERDUNSSEN, 1726. In 4. º de 22,5x17,5 cm. 4 volumes com: I - [viii], 542, [ii] pags. [xiv grav.]. II - [iv], 472, [iv grav.]. III - [iv], 592, [xiv, ii b.], pags. [9 grav.]. IV - [viii], 405, [iii] pags. [ii grav.] Encadernações da época inteiras de pele [um pouco cansadas) com rótulos vermelhos, nervos e ferros a ouro lavrados nas lombadas, cortes das folhas marmoreados. Obra com folhas de rosto impressas a duas cores e ilustrada com 29 gravuras de página inteira, incluindo 2 retratos do autor e um fólio desdobrável com um epitáfio. Edição que apresenta pela primeira vez o quarto volume da obra, este aparece por vezes junto da edição anterior que é tipograficamente quase igual, mas publicada em Bruxelas pelo impressor Folpens em 1660-61. Palau 1990, VI 188. “Bella e acreditada edicion.”

Quanto a esta edição de Foppens aquí fica o seu belo frontispicio:


Frontispício de Obras de Don Francisco de Quevedo...,
En Brusselas, Francisco Foppens Impressor y Mercader de Libros, M.DC. LX

Podemos encontrar um outro exemplar à venda na Libreria Anticuária António Mateos na Calle Esparteros, 11 em Málaga.


Libreria Anticuária António Mateos

QUEVEDO, Francisco de – Obras de Don Francisco de Quevedo Villegas, Cavallero de la Orden de Santiago, Señor de la Villa de la Torre de Juan Abad. Divididas en tres tomos, Nueva impression corregida y ilustrada con muchas estampas muy donosas y apropiadas a la materia.



Amberes, Viuda de Henrico Verdussen (y Tomos II y III: Henrico y Cornelio Verdussen), 1699-1726, 3 tomos, 24 x 18 cm., pergamino época uniforme, títulos rotulados en los lomos, frontis grabado + 4 h. incluso portada a dos tintas + retrato + 542 págs. + 1 h. + 11 láminas grabadas en cobre = 2 h. + 472 págs. + 4 láminas grabadas en cobre = 2 h. + 592 págs. + 7 h. + 8 láminas grabadas en cobre. (Mancha de agua en margen interior de 3 hojas en el Tomo I. Ejemplar mixto formado por el Vol. I de 1726 y Vols. II & III de 1699; contiene bellas laminas por Harrewijn, Clouet, Bouttats, Bernaerts, y Lambert Cause. "En 10 octubre 1698 Foppens traspasa a Verdussen el privilegio para la reproduccion de las obras de Quevedo. De ahi se origina esta nueva serie de ediciones, por ventura las mejores y mas ricas de las realizadas hasta entonces". Palau. Al fin del tomo I contiene una Carta del autor, en que da cuenta de lo que le sucedió caminado a Andalucía con el Rey, pag. 540 a 542).

Mas afinal quem foi Francisco Quevedo de Villegas?


Retrato de Francisco de Quevedo

Francisco de Quevedo y Villegas foi indiscutivelmente o maior e mais prolífico escritor que a Espanha produziu, nasceu em Madrid em 1580, de uma família nobre. Estudou em Alcalá e tornou-se num dos espanhóis mais eruditos de sua época. Prestou serviço com o Duque de Osuna na Sicília e Nápoles, mas quando Osuna caiu em 1620, Quevedo foi banido da Corte. Só regressaria à corte após a subida ao trono de Filipe IV, em 1621, mas, ao que se julga, por ter incorrido na inimizade do Conde Duque de Olivares, foi preso em 1639.

Seria libertado em 1643, quando a sua saúde já se encontrava bastante debilitada pelo que acabaria por falecer em 1645.

As suas obras podem ser classificadas como filosófica, ascética, política, crítica, satírica e poética, enquanto ele também contribuiu com um romance picaresco, Historia de la Vida del Buscón, e com vários trabalhos satíricos para a literatura da Espanha.

Desde cedo a sua obra começou a ser divulagada noutros países.

Refira-se o caso de Los Sueños, publicados pela primeira vez en 1627 e que tiveram quatro edições nesse ano.

Esta obra durante o séc. XVII e XVIII contará com numerosas edições em inglés, francês, holandês e italiano.

Aqui ficam dois exemplos:



QUEVEDO, Francisco de – Les visions augmentées de l'Enfer reformé; ou, Sedition infernalle traduites de l'Espagnol par le Sieur de la Geneste. Paris, Pierre Billaine, 1636. [xvi], 382 p. (provavelmente a 1ª edição desta obra em francês)



QUEVEDO, Francisco de – The visions of Dom Francisco de Quevedo Villegas. London : printed by W.B. for Richard Sare …, 1715. (Esta uma tradução mais tardia)

Vejamos, num apontamento um pouco mais detalhado, um esboço biográfico bem como alguns dos acontecimentos políticos da sua época que lhe marcariam o seu percurso pessoal e influenciariam a sua vasta produção literária.


Francisco de Quevedo y Villegas

Nascido em Madrid a 14 de Setembro de 1580 numa família fidalga, a infância de Quevedo passou-se na Corte, onde os pais desempenhavam altos cargos.

O pai, Francisco Gómez de Quevedo, era secretário da princesa Maria, esposa de Maximiliano da Alemanha, e sua mãe, María de Santibáñez, era camareira da rainha.

Era rapaz ainda, embora sobredotado intelectualmente, mas de pés disformes, coxo de uma perna, gordo e curto de vista, quando ficou órfão aos seis anos de idade, refugiando-se nos livros que consultava no Colégio Imperial dos Jesuítas de Madrid.


Colégio Imperial dos Jesuítas de Madrid

Em 1596 frequentou a Universidade de Alcalá de Henares. Aproveitou para aprofundar os seus conhecimentos em vários ramos, como em filosofia, línguas clássicas, árabe, hebreu, francês e italiano.


Universidade de Alcalá de Henares – Fachada cerca de 1870

Em Valladolid, onde acompanhou a corte quando esta para aí foi mudada por ordem de Francisco de Sandoval y Rojas, I duque de Lerma , estudou também teologia.

Fruto desses estudos produziria mais tarde algumas obras teológicas, como o tratado contra o ateísmo Providencia de Dios. Já nessa altura destava-se como poeta, figurando na antologia de Pedro Espinosa Flores de poetas ilustres (1605), ainda que o conjunto da sua obra tenha sido editado postumamente e classificada dentro do Conceptismo Barroco.


Duque de Lerma, por Peter Paul Rubens, 1603
(Museo del Prado)

Também já tinha escrito, então, como divertimento cortesão, a primeira versão de um romance picaresco intitulado Vida del Buscón, que se tornou célebre entre os estudantes da altura. Encetaria também alguns contactos epistolares com humanistas como Justo Lipsio, onde deplorava as guerras que minavam a Europa, como se pode verificar no epistolário reunido por Luis Astrana Marín.


Justo Lipsio

A Corte voltou para Madrid, para onde Quevedo regressa em 1606 e reside aí até 1611, e aqui desenvolverá intensa actividade literária, ganha a amizade de Félix Lope de Vega (que o elogia por diversas vezes nos seus livros de Rimas; assim como Quevedo faz críticas igualmente elogiosas às suas Rimas humanas y divinas de Tomé Burguillos, seu heterónimo) e de Miguel de Cervantes (que o louva em Viaje del Parnaso; correspondendo-lhe Quevedo com os elogiosos comentários de La Perinola), que o acompanhava na Confraria dos escravos do Santíssimo Sacramento; por outro lado, atacou sem piedade os dramaturgos Juan Ruiz de Alarcón, que ridicularizava fazendo menção aos seus defeitos físicos (ruivo e corcunda), em cruéis comentários que o levam até à disformidade, e de Juan Pérez de Montalbán, filho de um livreiro com quem Quevedo tinha tido algumas disputas, e contra quem escreveu La Perinola, sátira cruel ao seu livro de miscelâneas Para todos. Mas o mais atacado foi, sem dúvida, Luis de Góngora, a quem dirigiu uma série de sátiras terríveis, acusando-o de ser um sacerdote indigno, homossexual, e escritor obscuro, baralhado e indecente.Em sua defesa pode-se dizer que também Góngora o atacou de forma quase igualmente virulenta.


Pedro Téllez-Girón y Velasco,
Duque de Osuna 
por Bartolomé González y Serrano

É deste período estabelecimento da sua grande amizade com Pedro Téllez-Girón y Velasco Guzmán y Tovar, Duque de Osuna, que acompanhará na função de secretário a Itália em 1613, visitando Niza e Veneza. Voltará ainda a Madrid, ao serviço deste senhor para subornar ("untar as mãos", como ele mesmo escreverá) todos aqueles que têm influência junto do Duque de Lerma,de forma a conseguir a nomeação de Osuna para vice-rei de Nápoles – objectivo que alcançará em 1616. Voltou depois a Itália onde o Duque o encarregou de dirigir e organizar a fazenda do vice-rei, além de desempenhar outras missões – algumas delas relacionadas com espionagem na República de Veneza, conseguindo, por estes serviços, obter o hábito de Santiago em 1618.

Francisco de Quevedo glorificaría os seus triunfos neste soneto:

Diez galeras tomó, treinta bajeles,
ochenta bergantines, dos mahonas;
aprisionóle al turco dos coronas
y a los corsarios suyos más cueles.

Sacó del remo más de dos mil fieles,
y turcos puso al remo mil personas;
y tú, bella Parténope, aprisionas
la frente que agotaba los laureles.

Sus llamas vio en su puerto la Goleta;
Chicheri y la Calivia saqueados,
lloraron su bastón y su jineta.

Pálido vio el Danubio sus soldados,
y a la Mosa y al Rhin dio su trompeta
Ley, y murió temido de hados.


Castillo de Montizón de Torre de Juan Abad (Ciudad Real)

Com a queda política do Duque de Osuna, Quevedo é igualmente afastado para longe da corte, como um dos seus homens de confiança. Foi, então, desterrado em 1620 para a Torre de Juan Abad (Ciudad Real), cujos domínios tinham sido comprados para ele, por sua mãe, antes de morrer. Os seus vizinhos não reconheceram esta compra pelo que Quevedo se manterá em pleitos judiciais contra o conselho da localidade – a sentença a favor do escritor só será pronunciada depois da sua morte, na pessoa do sue sobrinho e herdeiro.

Afastado das tormentosas intrigas da corte, a sós com a sua própria consciência, escreverá algumas das suas mais celebradas poesias, como o soneto Retirado a la paz de estos desiertos... ou Son las torres de Joray... aqui encontraria o consolo espiritual das suas ambições cortesãs na doutrina estóica de Séneca, cuja obra estudará e comentará, convertendo-se num dos principais expoentes do Neo-estoicismo espanhol.


Felipe IV a cavalo,
quadro de Diego Velázquez
(Museo del Prado)

A subida ao trono de Filipe IV levaria à suspensão do seu desterro e ao renascer das suas ambições políticas, agora sob a influência do Conde-Duque de Olivares.


Conde-Duque de Olivares a cavalo (c. 1634),
quadro de Diego Velázquez
(Museo del Prado)

Quevedo acompanhará o jovem rei em viagens à Andaluzia e a Aragão, e descreverá algumas das suas divertidas incidências nalgumas das suas cartas.

Como vários livreiros tinham imprimido e posto a circular muitas das suas peças satíricas, ganhando dinheiro às suas custas, decidiu denunciar as suas próprias obras à Inquisição.


Carta autógrafa de Francisco de Quevedo y Villegas datada de 1619,
(leiloada numa prestigiosa Casa de Leilões em Madrid).
©EFE/Archivo

A intenção de Quevedo era, não só assustá-los, mas também abrir caminho a uma edição completa das suas obras que não se chegou a concretizar. Levava, então, uma vida desordenada de solteirão: fuma muito, bebe (Góngora chama-o de bêbedo consumado) e frequenta os prostíbulos, ainda que viva amacebado com uma tal de Ledesma. Contudo, será secretário do monarca em 1632, que levava vida tão estouvada quanto a sua. As pressões cortesãs sobre o seu amigo, Antonio Juan de la Cerda y Toledo 7º Duque de Medinaceli, obrigam-no a casar contra a sua vontade com Dona Esperanza de Aragón, senhora de Cetina, viúva e com filhos. O matrimónio durará apenas três meses, terminando com um divórcio muito comentado em 1636. São anos de actividade criativa febril. Em 1634 publica La cuna y la sepultura e a tradução de La introducción a la vida devota de Francisco de Sales; de 1633 a 1635 escreve obras como De los remedios de cualquier fortuna, o Epicteto, Virtud militante, Las cuatro fantasmas, a segunda parte de Política de Dios, a Visita y anatomía de la cabeza del cardenal Richelieu ou a Carta a Luis XIII. Em 1635 aparece em Valência o mais importante dos libelos destinados a difamá-lo: El tribunal de la justa venganza, erigido contra los escritos de Francisco de Quevedo, maestro de errores, doctor en desvergüenzas, licenciado en bufonerías, bachiller en suciedades, catedrático de vicios y protodiablo entre los hombres.


Detalhe da fachada principal do convento de San Marcos de León

Em 1639, depois de um memorial que apareceu debaixo do guardanapo do rei, Sacra, católica, cesárea, real Majestad..., onde era denunciada a política do Conde Duque de Olivares, foi detido, confiscaram-lhe os livros e é levado para o convento de San Marcos de León. Depois de libertado desta prisão vergonhosa, retira-se para a Torre de Juan Abad. Será na sua vizinhança, no convento dos padres Dominicanos de Villanueva de los Infantes, que morrerá, a 8 de Setembro de 1645.


Villanueva de los Infantes

As suas obras foram muito mal reconhidas e editadas por José González de Salas, que não se preocupa em retocar os textos, em 1648: El Parnaso español, monte en dos cumbres dividido, con las nueve Musas; também muito mal feita é a edição do seu sobrinho e herdeiro: Pedro Alderete, em 1670: Las tres Musas últimas castellanas.

A sua produção literária pode ser dividida nos seguintes géneros:

Obras políticas:

Política de Dios, gobierno de Cristo y tiranía de Satanás, escrita em 1617 e impressa em 1635, onde tenta inferir uma doutrina política a partir dos Evangelhos.


QUEVEDO, Francisco de – Política de Dios y gobierno de Cristo Nuestro Señor.

Vida de Marco Bruto, 1644, onde desenvolve a biografia do famoso assassino de César, escrita por Plutarco, com um rigor quase matemático e onde o estilo conceptista atinge um nível praticamente inimitável.


QUEVEDO, Francisco de - Historia y vida de Marco Bruto


QUEVEDO, Francisco de - Historia y vida de Marco Bruto. Reproducción digital a partir de Obras de Don Francisco de Quevedo Villegas...: [tomo primero], En Amberes, por Henrico y Cornelio Verdussen, 1699, pp. 1-87.
Grab. calc. entre p. 48-49 : "Jaco: Harriewijn inve: et fecit 1699".
Localización: Biblioteca Pública de Orihuela.
©Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes – Portal Biblioteca de autor Francisco de Quevedo

Mundo caduco y desvaríos de la edad (escrita em 1621, editada em 1852)

Grandes anales de quince días (1621, ed. en 1788), análise da transição dos reinados de Filipe III e Filipe IV.

Lince de Italia y zahorí español (1628, ed. em 1852).

El chitón de Tarabillas (1630),onde critica as disposições económicas do Conde-Duque de Olivares, insinuando a sua ascendência judaica.

Execración contra los judíos (1633), texto de cariz antissemita onde faz acusações, de forma velada, contra Dom Gaspar de Guzmán, Conde-Duque de Olivares, valido de Filipe IV.

Obras ascéticas:

Providencia de Dios, 1641, tratado contra os ateus, onde tenta unificar o estoicismo com o cristianismo.

Vida de san Pablo, 1644.


QUEVEDO, Franciso de – Vida de San Pablo Apóstol
Grabado extraido de la reproducción digital a partir de la Nueva impression corregida y ilustrada con muchas estampas... de Obras de Don Francisco de Quevedo Villegas... : tomo segundo, En Amberes, por Henrico y Cornelio Verdussen, 1699.
Localización: Biblioteca Pública de Orihuela.
©Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes – Portal Biblioteca de autor Francisco de Quevedo

Vida de Santo Tomás de Villanueva, 1620.

Obras filosóficas:

La cuna y la sepultura (1635).


QUEVEDO, Francisco de – La cuna y la sepultura.

Las cuatro pestes del mundo y las cuatro fantasmas de la vida (1651).

Crítica literária:

La aguja de navegar cultos con con la receta para hacer Soledades en un día (1631), investida satírica contra os poetas que utilizam o estilo gongórico ou culterano.

La culta latiniparla (1624), manual burlesco onde se ridiculariza o estilo gongórico.


QUEVEDO, Francisco de – La culta latiniparla.


QUEVEDO, Francisco de – La culta latiniparla.
Grabado extraido de la reproducción digital a partir de Obras de Francisco de Quevedo Villegas... [tomo primero], En Amberes, por Henrico y Cornelio Verdussen, 1699, pp. 229-292.
Localización: Biblioteca Pública de Orihuela
©Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes – Portal Biblioteca de autor Francisco de Quevedo

Cuento de cuentos (1626), onde demonstra o absurdo de alguns coloquialismos que carecem totalmente de significado.

Obras satírico-morais:

Los Sueños, compostos entre 1606 e 1623, circularam manuscritos mas só foram impressos em 1627.




QUEVEDO, Francisco de – El sueño de las calaveras

La hora de todos y la Fortuna con seso (1636),

Historia de la vida del Buscón, llamado Don Pablos, ejemplo de vagamundos y espejo de tacaños, impresso em Zaragoza em 1626.


QUEVEDO, Franciso de – Historia de la vida del Buscón, llamado Don Pablos, ejemplo de vagamundos y espejo de tacaños. Zaragoza, Pedro Verges, 1626

Segundo opinião de Jaime Moll, em De la imprenta al lector: estudios sobre el libro español de los siglos XVI al XVIII, Madrid, Arco/libros, 1994, pp. 16; afirma, seguindo a tese de Miguel Herrero (1945), “que esta edición zaragozana de 1626 es una edición contrahecha y hace la identificación del ejemplar atribuyéndola a la imprenta sevillana de Francisco de Lyra basándose en estudios tipográficos. Existe otra edición contrahecha del "Buscón", con el pie de imprenta zaragozano de la primera, pero con fecha de 1628, ésta sería impresa en Gerona por Gaspar Garrich.”

Poesias:

El Parnaso Español (1648)


QUEVEDO, Francisco de – El Parnasso Español : monte en dos cumbres dividido, con las nueve musas castellanas, donde se contienen poesias / de Francisco de Quevedo Villegas … ; que con adorno, i censura, ilustradas, i corregidas, salen ahora de la librería de don Ioseph Antonio González de Salas … – En Madrid : lo imprimió en su officina del libro abierto Diego Diaz de la Carrera : a costa de Pedro Coello, mercader de libros, 1648. – [14], 666, [18] p. : il. ; in 4.º

“José Antonio González de Salas, amigo de Francisco de Quevedo, preocupado por recopilar sus poesías, llevaba a la imprenta los poemas del poeta en una edición de 1648 comentada por él. La tituló El Parnaso español: monte en dos cumbres dividido con las nueve musas. Fue González de Salas quien ideó y justificó las imágenes, seis musas más el frontispicio grabado al aguafuerte y al buril, que ilustrarán esta primera edición: Clío, Polimnia, Melpómene, Erato, Terpsícore y Talía.


Clío, representación de la poesía encomiástica. (1)


Polimnia, representación de la poesía moral.


Melpómene, representación de la poesía fúnebre.


Erato, representación de la poesía amorosa.


Terpsícore, representación de la poesía satírica.


Talía, representación de la poesía burlesca.

Sin embargo, González de Salas murió en 1651 y no pudo completar las tres musas restantes: Calíope, Euterpe y Urania. Las musas, dibujadas por Alonso Cano, fueron grabadas por Juan de Noort y Herman Panneels, holandés y flamenco afincados en Madrid, y una por el propio Alonso Cano. Habría que esperar hasta 1670 para poder leer todas las poesías publicadas en Las tres musas últimas castellanas. Segunda parte del Parnaso español, edición ésta que incluía poemas no escritos por Quevedo.


Calíope, representación de la poesía heroica.



Euterpe, representación de la poesía bucólica.


Urania, representación de la poesía sacra.

El libro se estructura en diferentes portadillas, una por cada musa, con información de cada una de ellas, en la que se hace una breve descripción del grupo al que pertenecen las poesías.

En el frontispicio, grabado por Juan de Noort con buril y aguafuerte, se desarrolla una escena alusiva al Parnaso: las nueve musas, hijas de Júpiter y Mnemosina, que inspiran la poesía y todas las actividades intelectuales, están sentadas, mientras Apolo corona de laurel a Quevedo. Les sobrevuela Pegaso. Por debajo de esta composición, bajo la tierra, una ninfa sostiene un medallón con el título “Las nueve musas castellanas”; a la derecha, un sátiro sujeta otro medallón con otro retrato de Quevedo, pero esta vez sólo la cabeza; no es muy usual que el autor sea retratado por partida doble en la portada calcográfica.” [ASA]

Com esta leitura, bem diferente dum catálogo, lanço o desafio para que outros descubram um livro, que lhes interesse seja porque aspecto fôr, e partam à descoberta de tudo aquilo que com ele se possa relacionar.

Verão que há muitas pistas que se podem seguir, que muitas vezes desembocam noutras imprevistas, no entanto, quanto mais avançamos mais interessantes serão as descobertas.
(como é sempre muito curto o nosso conhecimento!)

A minha “viagem” foi empolgante: descobri muito que desconhecia e que aqui partilho convosco.

Saudações bibliófilas.


Notas:

(1) Las 9 musas: La selección de estos grabados se ha extraído de la reproducción del original de Obras de Francisco de Quevedo Villegas... : divididas en tres tomos, tomo III, en Amberes, por Henrico y Cornelio Verdussen, 1699, procedente de la Biblioteca Pública de Orihuela Fernando de Loazes (©Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes – Portal Biblioteca de autor Francisco de Quevedo)

Parece-me de consulta quase obrigatória esta página web da Biblioteca Virtual Miguel de Cervantes – Portal Biblioteca de autor Francisco de Quevedo.


segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

404º Aniversário do Nascimento do Padre António Vieira




Padre António Vieira
por Arnold van Westerhout (1651-1725)

Celebra-se hoje mais um aniversário do nascimento do Padre António Vieira, que foi um padre jesuíta, professor de Retórica, crítico da sociedade e da escravatura e um defensor dos cristãos-novos.

Da sua vasta bibliografia destaco duas obras das mais conhecidas:



VIEIRA, Padre António. - ARTE DE FURTAR,// ESPELHO DE ENGANOS, // THEATRO DE VERDADE, // MOSTRADOR DE HORAS MINGUADAS, // GAZUA GERAL // Dos Reynos de Portugal. // OFFERECIDA // A ELREY NOSSO SENHOR // D. JOÃO IV. // para que a emende. // COMPOSTA NO ANNO DE 1652. // Correcta, e emendada de muitos erros; e assim // tambem a verà o curioso leytor com as pa- // lavras, e regras, que por inadvertencia faltaraõ na passada impressão. // AMSTERDAM, // Na Officina de Elziveriana. 1652. // In-8º de [24], 512 págs.
Primeira edição. MUITO RARA. Ilustrada com o retrato do autor. Frontispício impresso a negro e vermelho.

[Nesta data publicaram-se duas edições distintas. Contudo a outra edição contém [24], 409 págs.e não tem o retrato do Padre António Vieira.]

E o célebre Sermão de Santo António aos Peixes, que pode ser lido na integra aqui.

 
Sermão de Santo António aos Peixes

Dum estudo em preparação deixo um apontamento sobre os seus primeiros anos:

António Vieira nasceu a 6 de Fevereiro de 1608, em lar humilde, na Rua do Cónego, freguesia da Sé, em Lisboa. Filho de Cristóvão Ravasco, que serviu na Marinha Portuguesa e foi, por dois anos, escrivão da Inquisição, e de Maria de Azevedo.

António é baptizado na Sé, segundo parece na mesma pia baptismal em que o fora Fernando Bulhões, o famoso Santo António de Lisboa, por quem o futuro pregador jesuíta sempre manifestará grande admiração e devoção

O pai, de origem modesta e provavelmente com ascendência africana, é destacado para o Brasil em 1609 para assumir cargo de escrivão em Salvador, na Relação da capitania da Baia. Trata-se de uma oportunidade para melhorar de vida e simultaneamente fugir da opressão filipina.

Em 1614 mandou vir a família para o Brasil. A família Ravasco – a mãe e os dois filhos, António de seis anos e o irmão mais novo, Bernardo, partem de Lisboa a 16 de Dezembro de 1614.

Aplica-se-lhe a frase que ele mesmo escreveu: "os portugueses têm um pequeno país para berço e o mundo todo para morrerem."

Refira-se esta de que aquí se deu notícia mais detalhada.

 

VIEIRA, Padre António - LAS CINCO // PIEDRAS // DE LA HONDA // DE DAVID // EN CINCO DISCURSOS // MORALES, // Predicados en Roma a la Reyna de Suecia, // CHRISTINA ALEXANDRA, // en lengua Italiana, // Por el Reverendissimo Padre // ... // Y traducidos en lengua Castellana por el mismo Author. // LISBOA, // En la Officina de Miguel Deslandes, // Año de 1695. In-8º de [16], 125, [40] págs. Encadernação moderna em inteira de carneira, com título e gravados a ouro na lombada.
Referências: Ávila Perez, 7994; Garcia Perez, 570.

A nossa cultura tem vultos que se destacaram pela sua universalidade e o Padre António Vieira foi seguramente um deles.

Saudações bibliófilas.


sexta-feira, 22 de abril de 2011

João da Costa – um impressor francês em Portugal: Apontamentos a propósito de uma marca de impressão




Marca tipográfica de Nicolau de la Coste e de Jean de la Coste
(associados em Paris)

Já referi este impressor anteriormente, no apontamento sobre Jean de la Coste de Lesné.

Hoje vou tentar esboçar alguns apontamentos sobre o seu filho Jean de la Coste, que ficou conhecido entre nós por João da Costa.

Sobre a estadia de João da Costa em França, antes de vir para Portugal, pouco, ou mesmo nada se sabe, pela escassez de registos biográficos.

Estamos apenas seguros da sua estadia já em Portugal quando Jean de la Caille cita o seu nome na Histoire de l’Imprimerie et de la Librairie.

Terá vindo para Portugal em 1650, ainda que a primeira referência à sua residência em Lisboa seja de 1659, com registo no livro manuscrito da Irmandade de do Bemaventurado S. Luiz Rei de França (datado de 9 de Março de 1659), mas curiosamente, nesse mesmo livro, e com data de 4 de Fevereiro de 1657, aparece um assento da lista dos subscritores e quantias destinadas a “uma lâmpada de prata” que a Irmandade resolvera mandar fazer “pera honra de deus E da nossa Capela”, surge o seu nome e com a quantia importante de 7.000 réis. Este documento prova que a 4 de Fevereiro de 1657 já se encontrava a residir entre nós.

Ora o que terá feito João da Costa nos primeiros anos da sua estadia em Portugal até ao início da sua actividade como livreiro-impressor em 1662?

Temos duas hipóteses: ou nos primeiros tempos, não trabalharia tipograficamente por sua conta, e exerceria em oficina alheia esta actividade; ou viria para Lisboa estabelecer-se primeiro como livreiro, e só mais tarde assentaria anexa à tenda dos livros a oficina de impressão.

Esta segunda hipótese parece ser a mais plausível.

A este propósito Venâncio Deslandes afirma que “Joáo da Costa teve por sócio na sua tenda de livreitro ao Chiado a Jacques Schuartz. Assim consta em documento autêntico existente no Cartório do Museu Platino em Anvers”


Documento comprovativo da actividade de livreiro

Terá estabelecido a sua oficina na Rua da Figueira (actual Rua da Anchieta), conforme nos diz o Visconde Júlio de Castilho na pág. 170, vol. VI de Lisboa Antiga.

Casou-se em 1666 com Arcangela de Sousa natural de Carnide, deste casamento nasceu apenas uma filha – Luisa Maria da Costa.

Ainda que nas primeiras impressões, como é o caso desta, impressa ainda em vida de seu pai, aparece um tipo de vinheta tipográfica como é o caso de: NOTICIAS/CVRIOSAS;/E NECESSARIAS/DAS COVSAS DO/BRASIL./ Pello P. SIMAM DE VASCONCELLOS/da Companhia de Iesvs, /Natural da Cidade do Porto, Lente que foi da sagrada Theologia./& Provincial naquelle Estado. / /EM LISBOA. /na Officina de IOAM DA COSTA. Anno 1668. / / COM AS LICENÇAS NECESSARIAS. /


NOTICIAS/CVRIOSAS; /E NECESSARIAS/DAS COVSAS DO/BRASIL


Descritivo

Encontra-se posteriormente, uma vinheta ornamental muito empregue por João da Costa nas suas impressões.

O conjunto é composto num rectângulo, com cerca de 142x23 mm, gravado em madeira, com um escudete no centro, no campo do qual se ergue uma palmeira e, por detrás do caule da mesma, se desdobra uma fita com as palavras CVRVATA RESVRGO como divisa, ladeando o escudete, simetricamente dispostos, irrompem dois vistosos festões de flores e frutos; estes dois festões, seguros na extremidade periférica por um anjo, prendem-se de modo entrelaçado, pela outra extremidade ao rebordo do escudete; cada um dos anjos segura com uma das mãos o exuberante festão e, com a outra, empunha um farto ramo de frutos e folhedos; toda esta composição é encaixilhada por uma cercadura granulada.


Marca tipográfica de Augustin Courbé

Augustin Courbé (que teve actividade florescente em Paris no século XVII) (1) adoptou por marca tipográfica um escudo eliptiforme, em cujo campo se ergue esta mesma divisa: CVRVATA RESVRGO. Terá saído daqui a ideia que inspirou João da Costa a copiar esta divisa? Nunca se saberá.

Aliás João da Costa utilizou muitos dos elementos decorativos, capitulares ornadas (de vários tipos), cabeções e vinhetas tipográficas que se podem encontrar nos trabalhos deste impressor francês.

Veja-se, a este propósito:
LES/OEVVRE/DE MONSIVER/DE/VOITURE. /CINQUIESME EDITION. /Reueué, corrigé & augmentée. /Vinheta tipográfica/A PARIS:/Chez Avgvstin Covrbé, dans l apetite/Salle du Palais, à Palme. / / M.DC.LVI./AVEC PRIVILEGE DV ROY./


LES/OEVVRE/DE MONSIVER/DE/VOITURE.

In-4.º de 709-210 pág. Numeradas, precedidas de 32 inumeradas (na última destas, um retrato do autor, gravado por Nantueil em chapa de cobre, seguidas por 17 que também não apresentam numeração.


LES/OEVVRE/DE MONSIVER/DE/VOITURE.

Mas porquê João da Costa adoptou esta marca? A resposta não parecer ser muito clara, pois já na época havia alguns preceitos sob este assunto (vinham ainda muito longe os direitos de autor!)


Cabeção de Les Œuvres de Monsieur Voiture

Acontecia, no entanto algumas vezes, nas oficinas de impressão, passarem a figurar como simples elementos decorativas (sem a mínima intenção de marca distintiva) gravuras que noutras oficinas haviam anteriormente representado marcas tipográficas de impressores ou de livreiros.

Estas marcas passavam, habitualmente, de um para outro livreiro, ou de um para outro tipógrafo, lealmente, francamente, legalmente, quer por sucessão hereditária (e este era o processo mais natural), quer por aquisição da loja ou da oficina, quer por aquisição do material, quer inclusivamente por empréstimo.

Mas já Ribeiro dos Santos reconheceu e afirmou esse mesmo facto, quando na Memória sobre as origens da Typographia em Portugal no Século XV (pág. 75 do Tomo VIII das Memórias de Litteratura Portugueza, publicadas pela Academia Real das Sciências de Lisboa) escreveu: “E estas Divisas, e Marcas, ou erão originaes dos Impressores, isto he de sua própria invenção, ou herdadas, ou também adoptadas das mesmas Officinas, que compravão”

Analogamente, Delalain, na pág. XIV do Inventaire des Marques d’Imprimeurs et de Libraires de la Collection du Cercle de la Librairie (2), escreve: «Ajoutons que toutes les marques ne sont pas originales ; on les voit se répéter soit dans le même pays, soit dans d’autres pays. On observe aussi qu’il y a échange ou emprunt de marques; et, plusieurs fois, sur des ouvrages portant un nom de libraire ou d’imprimeur déterminé, se trouve une marque que appartient notoirement a un autre dont il pouvait être le correspondant ou le dépositaire,»


Gravura adquirida em França por João da Costa

A marca tipográfica que João da Costa usou, com o escudo elíptico da palmeira e a divisa CVRVATA RESVRGO, poderia ter resultado do facto da aquisição em França do material tipográfico da Oficina Courbé, pelo que passou a usar nas suas impressões em Lisboa (sem qualquer motivo intencional) aquele ornato gravado, da mesma forma como usou cabeças ornamentais em que figuravam as armas reais de França, estas inquestionavelmente provenientes da Oficina de Courbé. Nalgumas impressões o A de Augustin aparece claramente apagado (intencional ou não é assunto por esclarecer)


Cabeção decorativo adquirido por João da Costa em Paris

A corroborar esta hipótese refira-se que entre 1630 e 1662 foi o período em que Augustin Courbé exerceu a sua actividade de livreiro-impressor em Paris, desconhecendo-se impressões posteriores.

Ora é precisamente no ano de 1662 que se inaugurou em Lisboa a longa série de publicações, pelas quais se distinguiu o impressor João da Costa, que acumulava com a actividade de livreiro.


Vinheta gravada em Portugal ao tempo de João da Costa
e muitas vezes usada nas impressões deslandesianas

A marca tipográfica de João da Costa adquirida em França, que é o objecto deste texto, aparece toscamente imitada (com algumas modificações) numa outra chapa que figura frequentemente nas impressões deslandesianas. Nesta as principais modificações  em relação à que João da Costa terá adquirido na Oficina Courbé, podem resumir-se em três: redução das dimensões, por modo que a chapa imitativa corresponde a cerca de dois terços da chapa imitada; supressão da divisa Curvata Resurgo no escudo elíptico da palmeira; supressão do escudete inferior e consequentemente da sigla.

Esta surge ainda no tempo de João da Costa no livro:



Outro exemplo é



BARRETO, João Franco. – ORTOGRAFIA // DA // LINGVA PORTVGVEZA // PER // ... // Em Lisboa. Na Officina de Ioam da Costa. M.DC.LXXI. In-8º de [16], 279 págs. Primeira edição.

A impressão é em caracteres redondos intervalados por grande abundância de tipo itálico; oferecem rubricas por letras alfabética os cadernos, e reclamos as páginas. Duas iniciais floreadas, diversas cabeças ornamentais, entre elas a que representa o escudo das armas reais portuguesas ladeado por figuras femininas, cornucópias e serpentes, grande número de remates decorativos e, é como remate decorativo que aparece na página 8 das preliminares, que figura a vinheta da palmeira sem letra.


Mercúrio Portuguez com as novas do anno de 1667

Teve igualmente papel importante na impressão de “Mercúrio Portuguez”, que começara a circular em Janeiro de 1663, pois que de Julho de 1666 até Janeiro de 1667, saíram dos seus prelos os fascículos respectivos. Os restantes (Fevereiro a Julho) estamparam-se todos (uns com designação de oficina, e outros sem ela) em casa de António Craesbeck de Mello.

Imitando Courbé ou João da Costa, houve no séc. XVIII um impressor espanhol que adoptou por insígnia a palmeira com o respectivo letreiro. Trata-se de Dionísio Hidalgo com oficina em Toledo.

Aliás a palmeira é um emblema que os livreiros-impressores frequentemente adoptaram para suas insígnias.

Como curiosidade refira-se que um dos primeiros a utilizá-la, foi Jean Gérard (Joannes Gerardus), que floresceu em Genebra no séc, XVI. Usou por insígnia uma palmeira, de cujos ramos está suspenso um menino.

Espero com estes apontamentos ter despertado a vossa curiosidade para este tema sempre apaixonante para qualquer estudioso bibliófilo.

Do que li fiquei com mais dúvidas do que certezas, mas ainda bem que assim foi, pois outros, mais habilitados do que eu, terão um vasto campo de pesquisa.

Saudações bibliófilas.


Notas:

(1) De Augustin Courbé diz Jean de la Caille na pág. 274 da sua Histoire de l’Imprimerie et de la Librairie: «Il prenoit la qualité d’Imprimeur & Libraire de Monseigneur le Duc d’Orleans, et avoit pour marque un Palmier, et pour devise ces paroles: Curvata resurgo : faisant allusion à son nome.»


(2) Delalain, M. P. – Bibliothèque Technique du Cercle da la Librairie – Inventaire des Marques d’Imprimeurs et de Libraires de la Collection du Cercle de la Librairie. Par … Deuxième édition, revue et augmentée. Paris, Au Cercle de la Librairie, de l’Imprimerie de la Papeterie, du Commerce de la Musique et des Estampes, 1892. In 4º de XXVIII – 357 pág. numeradas ; no texto várias reproduções em fac-simile.



Fonte consultada:

Xavier da Cunha – Impressões deslandesianas : divulgações bibliographicas –  Lisboa: na Imprensa Nacional, [1895], (1896). - 2 vols. Volume I, Capítulo VIII, pág. 338 [350] -387 [405], pág. 397 [415] a 406 [423], 421 [438] a 422 [439] e 449 [465] a 451 [469].