"Se não te agradar o estylo,e o methodo, que sigo, terás paciência, porque não posso saber o teu génio, mas se lendo encontrares alguns erros, (como pode suceder, que encontres) ficar-tehey em grande obrigação se delles me advertires, para que emendando-os fique o teu gosto mais satisfeito"
Bento Morganti - Nummismologia. Lisboa, 1737. no Prólogo «A Quem Ler»

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sábado, 3 de outubro de 2015

Mário Cláudio: um apontamento bio-bibliográfico a propósito de um trabalho de Miguel de Carvalho



Mário Cláudio distinguido com o Grande Prémio de Romance e Novela 2014
pela Associação Portuguesa de Escritores (APE)

 O escritor Mário Cláudio, distinguido em de 15 Julho de 2015 com o Grande Prémio de Romance e Novela 2014, pela Associação Portuguesa de Escritores (APE) (1) (2), por causa de Retrato de Rapaz, publicado em 2014, editou um novo romance, intitulado Astronomia, na editora D. Quixote.


CLÁUDIO, Mário – Astromonia

A obra estará dividida em três partes, intituladas "Nebulosa", "Galáxia" e "Cosmos", referentes às três fases fundamentais da vida do protagonista: a infância, a idade adulta e a velhice", explica a editora.
Este livro, que ficciona a vida de Giacomo, discípulo do pintor renascentista Leonardo da Vinci, é o segundo de uma trilogia de novelas dedicadas a relações entre pessoas de idades distintas.


CLÁUDIO, Mário – Boa noite, Senhor Soares

Esta trilogia foi iniciada em 2008 com Boa noite, Senhor Soares, no qual é revisitado o semi-heterónimo Bernardo Soares, de Fernando Pessoa, e a relação com António, "moço de escritório", e concluída este ano com O Fotógrafo e a Rapariga, sobre o escritor Lewis Carroll e Alice Lidell, que inspirou Alice no País das Maravilhas.


CLÁUDIO, Mário – O Fotógrafo e a Rapariga

Mário Cláudio está entre os escritores mais premiados da literatura portuguesa, escritor prolífico, metódico e rigoroso, pesquisador de estilos e investigador da «portugalidade», serve-se dos mais variados géneros literários – poesia, romance, teatro, conto, crónica, novela, literatura infantil, ensaio, biografia –, embora confesse sentir-se mais à vontade na narrativa ficcional, sobretudo o de cariz histórico. Na sua escrita e oralidade denota, uma religiosidade abnegada de cunho católico e barroco.

É um leitor compulsivo e cronista de costumes, escreveu inúmeros textos de opinião e conferências, mas também séries documentais para a televisão. Fez traduções, organizou antologias e comunidades de leitores, prefaciou inúmeros novos autores e colaborou dispersamente em mais de meia centena de diferentes jornais e revistas, nacionais e estrangeiros, nos últimos 30 anos, tendo-se ainda empenhado na homenagem e divulgação de importantes figuras da cultura portuguesa (Nobre, Camilo, Aquilino, Eça), a par de algumas profissões institucionais ligadas à Cultura, em especial a literária.


Mário Cláudio

Mário Cláudio é o pseudónimo literário de Rui Manuel Pinto Barbot Costa, nascido a 6 de Novembro de 1941, no seio de uma família da média-alta burguesia industrial portuense de raízes irlandesas, castelhanas e francesas, e fortemente ligada à História da cidade nos últimos três séculos. Filho único, foi primeiro instruído por um professor particular, tendo prosseguido os estudos, até à conclusão do liceu, sob a rígida batuta dos padres do Colégio Almeida Garrett (actual Teatro do Bolhão, no Porto).

Começou o curso de Direito em Lisboa e terminou-o em Coimbra (1966), onde viria a diplomar-se novamente, em 1973, com o Curso de Bibliotecário-Arquivista. Pelo meio, a Guerra Colonial e uma mobilização para a Guiné, na secção de Justiça do Quartel General de Bissau. Antes de partir, em 1968, entrega ao pai, pronto para publicação, o seu primeiro livro de poemas, Ciclo de Cypris, publicado no ano seguinte.

Pouco depois de assumir a direcção da Biblioteca Pública Municipal de Vila Nova de Gaia, foi bolseiro da Fundação Gulbenkian, tendo obtido o título de Master of Arts em Biblioteconomia e Ciências Documentais (1976), pela Universidade de Londres, defendendo uma tese que seria parcialmente publicada com o título Para o Estudo do Analfabetismo e da Relutância à Leitura em Portugal, o único livro que assinou com o seu nome civil. Ainda durante a década de 70 publica dois livros de poesia, um romance, uma novela, um livro de viagens em colaboração e uma antologia de textos sobre Gaia.

Pertenceu sucessivamente à Delegação Norte da Secretaria de Estado da Cultura, ao inacabado Museu da Literatura e à direcção da Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto.

Em 1985, iniciou-se como professor na Escola Superior de Jornalismo do Porto e, actualmente, é professor convidado da Universidade Católica do Porto e da Fundação de Serralves.

Em 1984, por convite de Vasco Graça Moura, escreve Amadeo, biografia do pintor futurista Amadeo de Souza-Cardoso (3).


Amadeo no seu atelier, Rue Ernest Cresson, 20, Paris, 1912


Les Faucons   (Os falcões), 1912
Tinta-da-china sobre papel, 27 x 24,3 cm

Que Mário Cláudio consideraria como uma «psico-socio-biografia», e início da premiada Trilogia da Mão, na qual o escritor abordou a vida e obra de outras duas figuras artísticas nortenhas, a violoncelista Guilhermina Suggia (Guilhermina) e a barrista Rosa Ramalha (Rosa). Através dos três artistas, tipificou distintos estratos sociais (aristocracia, burguesia, povo) e o «imaginário nacional», entre o virar do século XIX e meados do século XX. Nesta primeira trilogia, o autor romanceia o próprio processo de biografar, através de uma escrita fragmentada, mais sensorial que objectiva. Aliás pode-se afirmar, para usar as palavras do autor: «toda a biografia é um romance».

Em 1984 foi distinguido com o Grande Prémio de Romance e Novela da APE precisamente pelo romance Amadeo.


CLÁUDIO, Mário – Amadeo

Seguiu-se a publicação de um segundo tríptico (A Quinta das Virtudes, Tocata para Dois Clarins e O Pórtico da Glória), onde a História volta a cruzar a ficção, mas desta feita incorrendo na autobiografia familiar.


CLÁUDIO, Mário – A Quinta das Virtudes

Entre 2000 e 2004 publicou uma outra trilogia, composta por Ursamaior, Oríon e Gémeos, e que é descrita pelo autor como relacionada com «situações de alguma marginalidade» e «discurso problemático com o poder», transversais a três gerações de personagens, uma por volume.


CLÁUDIO, Mário – Oríon


 
CLÁUDIO, Mário – Gémeos

O autor está traduzido em inglês, francês, castelhano, italiano, húngaro, checo e serbo-croata.

Foi condecorado com a Ordem de Santiago de Espada.

Em 2004, pelo conjunto da obra literária, foi-lhe atribuído o Prémio Pessoa e em 2008 recebeu o Prémio Vergílio Ferreira.

Já conquistou por duas vezes o Prémio PEN Clube Português de Novelística, assim como o Grande Prémio de Crónica da APE e o Prémio Fernando Namora com o romance Camilo Broca.


CLÁUDIO, Mário – Camilo Broca

Em 2013, a antiga escola primária de Venade, localidade do concelho de Paredes de Coura, foi reconvertida num Centro de Estudos Mário Cláudio, criado a partir do arquivo doado pelo escritor.


Centro de Estudos Mário Cláudio (Paredes de Coura)

Chegados a este ponto, pergunta-se: o que é que o Miguel de Carvalho tem a ver com o assunto?


Miguel de Carvalho – artista plástico/livreiro-antiquário

A capa do livro foi concebida por Rui Garrido com base numa collage de Miguel de Carvalho – No Princípio Não Era O Verbo.


Miguel de Carvalho - o artista a trabalhar
(©Fotografia de mdc no Facebook)

Dentro do estilo a que já nos tinha habituado, e das quais partilha algumas no Facebook, conseguiu realizar um trabalho que permitiu  a realização de uma capa com um excelente grafismo e que em muito valoriza esta obra.




Bom agora resta-nos comprar,  ler o livro e apreciar mais de perto esta pequena obra de arte. (Quando digo pequena refiro as dimensões que não a sua alta qualidade)


Fotograma do filme Documental sobre o escritor Mário Cláudio.
Realizado por Jorge Campos e produzido pela Vigília Filmes

Bibliografia:

Ficção

Um Verão Assim (1974)
As Máscaras de Sábado (1976)
Damascena (1983)
Improviso para Duas Estrelas de Papel (1983)
Amadeo (1984)
Guilhermina (1986)
Duas Histórias do Porto (1986)
A Fuga para o Egipto (1987)
Rosa (1988)
A Quinta das Virtudes (1990)
Tocata para Dois Clarins (1992)
Trilogia da Mão (1993)
Itinerários (contos, 1993)
As Batalhas do Caia (1995)
Dois Equinócios (contos, 1996)
O Pórtico da Glória (1997)
O Último Faroleiro de Muckle Flugga (1998)
Peregrinação de Barnabé das Índias (1998)
Uma Coroa de Navios (1998)
Ursamaior (2000)
O Anel de Basalto e Outras Narrativas (narrativas, 2002)
Oríon (romance, 2003)
Gémeos (romance, 2004)
Triunfo do Amor Português (2004)
Camilo Broca (2006)
Boa Noite, Senhor Soares (2008)
Retrato de Rapaz (2014)
O Fotógrafo e a Rapariga (2015)
Astronomia (2015)

Poesia

Ciclo de Cypris (1969)
Sete Solstícios (1972)
Étimos e Alexandrinos (1973)
A Voz e as Vozes (1977)
Estâncias (1980)
Terra Sigillata (1982)
Dois Equinócios (1996)
Nas Nossas Ruas, ao Anoitecer (2001)
Os Sonetos Italianos de Tiago Veiga (2005)

Teatro

Noites de Anto (1988)
A Ilha de Oriente (1989)
Henriqueta Emília da Conceição (1997)
O Estranho Caso do Trapezista Azul (1998)

Outras

Meu Porto
Fotobiografia de António Nobre
A Cidade num Bolso
Pintor e a Cidade
Páginas Nobrianas
Júlio Pomar - Um Álbum de Bichos

Espero ter despertado o vosso interesse para este conceituado autor português bem como para a análise da estética, grafismo e autoria das capas das obras que nos passam pelas mãos, que por vezes “ficam um pouco ao lado”.

Saudações bibliófilas

Notas:
(1) O Grande Prémio de Romance e Novela da APE foi criado em 1982 e teve, nesta 33.ª edição, o apoio da Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, da Fundação Calouste Gulbenkian, da Imprensa Nacional-Casa da Moeda, do Instituto Camões e da Sociedade Portuguesa de Autores.
(2) Vergílio Ferreira, António Lobo Antunes, Agustina Bessa-Luís e Maria Gabriela Llansol foram os quatro outros autores distinguidos por duas vezes com este prémio da APE.
(3) Amadeo de Souza-Cardoso – Wikipedia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Amadeo_de_Souza-Cardoso


Fontes consultadas:
DGLAB – Direcção Geral Livro dos Arquivos e das Bibliotecas
Màrio Cláudio – Wikipedia:
Mário Cláudio – Portal de Leitura:


domingo, 20 de janeiro de 2013

Umberto Eco – escritor e bibliófilo.


“Rem tene, verba sequentur” (1)


Umberto Eco

Umberto Eco  (Alexandria, 5 de Janeiro de 1932) é um escritor, filósofo, semiólogo, linguista e bibliófilo italiano de fama internacional. Titular da cadeira de Semiótica (aposentado) e director da Escola Superior de Ciências Humanas na Universidade de Bolonha.

Ensinou temporariamente em Yale, na Universidade Columbia, em Harvard, Collège de France e Universidade de Toronto. Colaborador em diversos periódicos académicos, e destaque-se como colunista da revista semanal italiana L'Espresso, na qual escreve sobre uma infinidade de temas.


Umberto Eco
(caricatura)

Eco é ainda, e justamente conhecido, como escritor de romances, destacando-se na sua bibliografia:

O Nome da Rosa (Il nome della rosa) 1980. (Prémio Médicis, livro estrangeiro na França);
O Pendulo de Foucault (Il pendolo di Foucault) 1988;
A Ilha do Dia Anterior (L'isola del giorno prima) 1994;
Baudolino (Baudolino) 2000;
A Misteriosa Chama da Rainha Loana (La misteriosa fiamma della regina Loana) 2004;
O Cemitério de Praga (Il cimitero di Praga) 2011.


ECCO, Umberto - Il Nome della Rosa. Milano: Bompiani, 1980.
(edição original italiana)

Se é verdade que um leitor não será forçosamente um bibliofilo (quando muito será um bibliómano…) não consigo compreender um bibliófio que não seja um leitor.

Qualquer leitor lerá, por exemplo, La mare au diable de George Sand numa quaquer versão – nem que seja numa vulgar edição em livro de bolso, mas um bibliófilo tentará perseguir até obter a 1ª edição da mesma!

Claro que alguns de nós lerão as "suas primeiras edições" em versões mais recentes e só manusearão e lerão apenas alguns excertos  da verdadeira edição original, mas este previlégio não é para todos...


Aqui fica um óptimo exemplar desta obra de George de Sand  incluso no Catalogue 76: Janvier 2013, Livres Modernes de La Librairie le Feu Follet.



185. SAND George. La mare au diable. Desessart, Paris 1846, 13x21cm, 2 volumes reliés sous étui.
Edition originale rare et très recherchée.



Reliures en demi veau caramel, dos lisses ornés d'arabesques dorées, plats de papier marbré, gardes et contreplats de papier à la cuve, têtes dorées; étui bordé de box chocolat, élégante reliure pastiche romantique.



Notre exemplaire est enrichi, en frontispice du premier volume, du célèbre portrait de l'auteur par Auguste Charpentier gravé par Riffaut; et dans le second, du portrait non signé inspiré du "Portrait de George Sand en costume d'homme" par Delacroix.



Exemplaire exempt de rousseur (ce qui est très rare selon Clouzot qui mentionne qu'ils sont souvent piqués).
Bel exemplaire établi dans une agréable reliure romantique pastiche.


Umberto Eco

Vêm estas conjecturas a propósito do livro de Umberto Eco que li recentemente:



ECO, Umberto – Confissões de um jovem escritor/Conferências Richard Ellmann sobre Literatrura Moderna (Confessions of a young writer). Lisboa: Livros Horizonte, 2012. Colecção Ensaios literários. Tradução de Rita Figueiredo. Capa de Manuel Pessoa. 1ª edição portuguesa. 158(I) pp. 235x155 mm. Brochura de capa mole com badanas.

Da leitura da sua sinopse fica-nos uma ideia clara do seu conteúdo: “O brilhante escritor italiano leva-nos numa viagem aos bastidores do seu método criativo e recorda como arquitetou os seus mundos imaginários: partindo de imagens específicas, fez sucessivas escolhas ao nível da época, da localização e da caracterização do narrador – o resultado foram histórias nesquecíveis para todos os leitores.

De forma alternadamente divertida e séria, mas brilhante como sempre, Umberto Eco explora a fronteira entre a ficção e a não-ficção, afirmando que a primeira deve assentar num intricado enredo que requer ao escritor a construção, através da observação e da pesquisa, de todo um universo até ao mais ínfimo pormenor. Por fim, revela ao leitor um precioso trunfo que permite vislumbrar o infinito e alcançar o impossível.

Umberto Eco tinha quase 50 anos de idade quando a sua primeira obra de ficção, O Nome da Rosa, o catapultou para a fama mundial e se tornou um clássico moderno. Nestas “confissões”, o agora octogenário faz uma retrospetiva da sua carreira, cruzando o seu percurso como teórico da linguagem com a veia romancista que descobriu mais tarde na vida.

Este “jovem escritor” é, afinal, um grande mestre e aqui partilha a sua sabedoria sobre a arte da imaginação e o poder das palavras.”

Podemos através da sua leitura compreender um pouco melhor o processo criativo de uma obra literária e bem assim das diversas interpretações de que a mesma pode ser objecto por parte dos seus leitores ou dos seus críticos literários.

Em minha opinião trata-se de uma obra a figurar nas nossas bibliotecas.

Da sua edição original aqui fica o seu registo:



ECO, Umberto – Confessions of a Young Novelist. Series: Richard Ellmann Lectures in Modern Literature. Harvard University Press, 2011. 240 pages. Jacketed hardcover.

Destaco das minhas “notas de leitura” (sem me querer substituir aos criticos literários, pois que para isso não tenho conhecimentos), alguns apontamentos que me pareceram de sobremaneira importantes e pertinentes.

Numa primeira nota, pode ler-se, na página 10, no sobre o tema “O que é a Escrita Criativa?”: “Em francês é possível traçar uma distinção entre um écrivain – uma pessoa que produz textos “criativos”, como um romancista ou um poeta – e um écrivant: alguém que regista factos, como um escriturário de um banco ou um polícia a preparar um relatório de uma investigação criminal.”

Mais adiante afirma, na página 14, já sobre outro tema – “Como Escrever”: “Enquanto estava a escrever o meu primeiro romance, aprendi algumas coisas. Primeiro, que “inspiração” é uma palavra má que autores sem talento usam para se fazerem parecer artisticamente respeitáveis. Segundo diz o velho adágio, o génio é dez por cento de inspiração e noventa por cento de transpiração.”

Mas voltando ao tema que me propus tratar, e a leitura do livro leva-nos muitas vezes a fazer incursões por caminhos nunca antes ensaiados…, acabei por descobrir que Umbero Eco é, ele também, um bibliófilo.


Um bibliófilo
©Fotos de Libri antichi online - Studio bibliografico Apuleio/Facebook
[Norman Rockwell, Bookworm, 1926]

A este propósito leia-se o que escreveu nas páginas 51-52 do Capítulo 2. "Autor, Texto e Intérpretes": “Nos anos seguintes [após 1979], talvez porque depois de publicar O Nome da Rosa comecei a ter mais contacto com bibliotecários e colecionadores de livros (e certamente por ter mais dinheiro para gastar), tornei-me um colecionador de livros raros. Ao longo da minha vida, tinha comprado alguns livros antigos, e tinha-o feito por puro acaso e apenas quando eram muito baratos. Só nos últimos vinte e cinco anos é que me tornei um colecionador a sério – e “a sério” significa que temos de consultar catálogos especializados e temos de escrever, para cada livro, uma ficha técnica, incluindo o cotejo, informações históricas sobre as edições anteriores ou subsequentes e uma descrição exata do estado do nosso exemplar. Esta última parte obriga-nos a usar um jargão técnico, a especificar se o livro está amarelecido ou acastanhadio, se tem manchas de humidade ou de sujidade, se o miolo apresenta pontos de acidez, se há margens aparadas, rasuras, restauros, cansaço, etc.”


A biblioteca de um bibliófilo
©Foto de Philippe Gandillet/Facebook

Aqui estamos perante um bibliófilo já na posse de grandes conhecimentos. Sem eles, formar uma boa biblioteca é uma aventura por demais arriscada e quase sempre condenada ao fracasso!

Aqui ficam estas reflexões e uma boa proposta de leitura, pelo menos na minha modesta opinião.

Saudações bibliófilas.


Notas:

As citações são apresentadas de acordo com as novas normas ortográficas e conforme figuram no livro.

(1) Referido na página 14, da obra mencionada, por Umberto Eco. (“Mantêm-te fiel ao tema e as palavras seguir-se-ão”)

domingo, 6 de março de 2011

Maria Alzira Seixo – Prémio Vergílio Ferreira 2011




Maria Alzira Seixo – Prémio Vergílio Ferreira 2011

Não quero deixar passar em claro este evento que premeia uma personalidade com uma posição incontornável na cultura literária portuguesa, e não só, que muito admiro e a sua conotação a um dos escritores que mais marcaram o meu percurso nestas minhas tentativas de “escrevinhador” – Vergílio Ferreira – que tive a honra de conhecer enquanto aluno no “velho” Liceu de Camões.

O prémio Vergílio Ferreira instituído pela Universidade de Évora, e entregue desde 1997, tem como objectivo homenagear o escritor que lhe dá o nome e galardoar também um conjunto de obra literária de um autor de língua portuguesa.

O prémio deste ano foi entregue à ensaísta, crítica literária e professora catedrática Maria Alzira Seixo, que afirmou: “É bom que um professor de literatura seja premiado porque é um reconhecimento a todos os meus colegas”

A premiada impulsionou e presidiu ainda à Associação Portuguesa de Literatura Comparada e à Federação Internacional de Línguas e Literaturas Modernas.

Maria Alzira Seixo juntou-se assim à galeria dos ilustres que detém este prémio, entre os quais estão Mia Couto, Agustina Bessa-Luís, Manuel Gusmão, Vasco Graça Moura, Mário Cláudio, Mário de Carvalho e Luísa Dacosta.


Cerimónia de Entrega do Prémio a Alzira Seixo
Copyright © Universidade de Évora

A cerimónia teve lugar no início da noite de terça-feira 2 de Março, na Sala dos Actos da emblemática Universidade de Évora, e contou com a presença, entre outras personalidades, de Maria Cavaco Silva que comentou: "A minha amiga fez uma carreira notável. Este prémio para mim é muito significativo e ela merece-o. Foi muito bem entregue."

Para além de considerar este prémio muito significativo, a mulher do Presidente da República recordou que são amigas desde infância, “tendo, depois, ela ido para a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa um pouco depois de mim e fez uma carreira notável”.

Maria Cavaco Silva afirmou ainda que tinha igualmente “uma amizade muito especial” por Vergílio Ferreira, patrono do prémio, e “uma admiração enormíssima pela obra do escritor”. Deste modo, “juntaram-se as duas coisas e eu tinha que estar aqui”, justificou.


Maria Alzira Seixo – Prémio Vergílio Ferreira 2011
Copyright © Universidade de Évora

A galardoada revelou sentir-se muito feliz pela atribuição deste prémio que, desde o início, tem sido outorgado a intelectuais. “Olhando para essa galeria fiquei um pouco aflita, mas ao mesmo tempo contente, sendo por isso muito gratificante receber este prémio”, confessou.

Maria Alzira Seixo disse ainda ser bom que um professor de literatura seja premiado “porque, no fundo, são todos os professores de literatura que são premiados, pois de algum modo se reconhecem num galardão que um colega seu obtém”.

A premiada, Maria Alzira Seixo feliz por ter sido a escolhida " sinto-me gratificada pelo meu trabalho e isto é sobretudo um reconhecimento para todos os professores de literatura" admitiu no final da cerimónia.

A Universidade de Évora lembra que Maria Alzira Seixo tem «uma vasta bibliografia publicada», destacando títulos como Para o Estudo da Expressão do Tempo no Romance Português Contemporâneo, publicado em 1968, ou Discursos do texto de 1977.


SEIXO, Maria Alzira – O Rio com Regresso - ensaios Camilianos

Seguiram-se títulos como O Essencial sobre José Saramago (1987), Lugares da ficção em José Saramago. O essencial e outros ensaios (1999) e Os romances de António Lobo Antunes; análise, interpretação, resumos e guiões de leitura (2002), entre outros.

SEIXO, Maria Alzira – A Palavra do Romance – Ensaios de Genealogia e Análise


SEIXO, Maria Alzira – Lugares da Ficção em José Saramago – O Essencial e Outros Ensaios

A escritora é especialista do romance português contemporâneo e, em especial, da ficção de António Lobo Antunes.

No ano passado, publico As flores do Inferno e Jardins Suspensos (1), um estudo aprofundado sobre os romances daquele escritor.


SEIXO, Maria Alzira – Memória Descritiva. Da fixação do texto para a edição ne varietur da obra de António Lobo Antunes. Volume I de “Os Romances de António Lobo Antunes.




SEIXO, Maria Alzira – As Flores do Inferno e Jardins Suspensos. Volume II de “Os Romances de António Lobo Antunes. Com um Esboço Biográfico do Autor por António Bettencourt.

Como nota final, refira-se que obre o Acordo Ortográfico, à semelhança de Vasco Graça Moura, Maria Alzira Seixo tem manifestado a sua maior discordância, tendo sido uma das signatárias da Petição em Defesa da Língua Portuguesa contra o Acordo Ortográfico.

Saudações bibliómanas e literárias.
(o bibliófilo não se esquece de que são momentos como este que dignificam a nossa cultura)


Nota:

(1) Livro que me foi oferecido, com uma dedicatória da autora e do António Bettencourt, que conservo como uma particular estima na minha biblioteca.


Fontes:

Correio da Manhã (edição electrónica) Domingo, 6 de Março de 2011:

Diário do Sul (edição electrónica) Domingo, 6 de Março – Universidade de Évora entregou Prémio Vergílio Ferreira a Maria Alzira Seixo: