"Se não te agradar o estylo,e o methodo, que sigo, terás paciência, porque não posso saber o teu génio, mas se lendo encontrares alguns erros, (como pode suceder, que encontres) ficar-tehey em grande obrigação se delles me advertires, para que emendando-os fique o teu gosto mais satisfeito"
Bento Morganti - Nummismologia. Lisboa, 1737. no Prólogo «A Quem Ler»

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sábado, 6 de maio de 2017

Camilo Castelo Branco – Agulha em Palheiro



Retrato de Camilo Castelo-Branco.
CDV, albumina, fotógrafo Horácio Aranha.
Colecção Ângela Camila Castelo-Branco e António Faria

Camilo Castelo Branco é um escritor que está actualmente um pouco arredado dos círculos “intelectuais” do país, mas que tem grande procura entre os bibliófilos tanto pela sua bibliografia activa como pela passiva.


Jaime Nogueira Pinto – A forma das coisas: O saneamento de Camilo
In Sol – edição de 24/06/2011

De facto Camilo Castelo Branco é uma fonte inesgotável de pesquisa e as suas obras espelham bem o séc. XIX no nosso país – onde as cidades do Porto e de Lisboa assim como o Minho e Trás-os-Montes estão muito bem retratados.

Se o podemos considerar pobre em personagens e na descrição das paisagens, no que toca ao estilo esse é inconfundível.


Alberto Pimentel

Senão vejamos o que Alberto Pimentel, grande amigo de Camilo e, como tal, com vasta bibliografia passiva sobre ele, nos diz no PIMENTEL, Alberto ― O Torturado de Seide (Camilo Castelo Branco). Lisboa, Livraria de Manoel dos Santos, 1922.


PIMENTEL, Alberto ― O Torturado de Seide (Camilo Castelo Branco).
Lisboa, Livraria de Manoel dos Santos, 1922.

“Este ilustre seiscentista [Agostinho Fortes] preconizou a obra genuinamente portuguesa de Camilo na conversação que tivemos, não só como iniciador do romance de costumes nacionais, mas também como o mais terso remodelador da língua pátria em obras que foram muitas e muito lidas. […]
Oiço às vezes censurar Camilo, porque as suas personagens são sempre as mesmas.
Mas na sociedade portuguesa de há meio seculo não havia outras, não havia mais nem melhores. Eram o «brasileiro», o morgado, o barão, o negociante e o padre. Do «brasileiro» fez dezenas de caricaturas, todas elas felizes. E havia razões poderosas para lhe dar a preferência, porque o brasileiro era o detentor do ouro que produz escândalos e tragédias, do ouro que compra as consciências e as mulheres.
O que admira é que Camilo pudesse accionar tantos romances com tão poucas personagens.” (1)

“Acusam Camilo de não ter pintado a paisagem. Pois. Algumas vezes a descreveu em poucas palavras, o que representa uma alta qualidade de condensação. […]
A alma de uma nação, seja a nação grane ou pequena, é sempre uma paisagem difícil de reproduzir.
E Camilo soube reproduzir a alma portuguesa em quase duzentos livros, melhor que todos os outros nossos romancistas, melhor que os melhores, acima de todos, sem excepção absolutamente nenhuma.” (2)

Ainda que não seja uma das obras maiores do escritor, apresenta-nos uma das suas características fundamentais: a caricatura e crítica dos preconceitos da sociedade de então.

Agulha em Palheiro é um dos bem tecidos romances de Camilo Castelo Branco, em que estão narradas, à maneira de libelo contra os preconceitos sociais, as peripécias de um jovem que, por ser filho de um sapateiro, tudo faz para dobrar o orgulho de rico fidalgo que não deseja vê-lo unido à sua filha.


CONSIDERAÇÕES ACERCA DA MORAL NA FICÇÃO CAMILIANA
Tatiana de Fátima Alves Moysés.

“O gosto dominante também é questionado em Agulha em palheiros, na medida em que nele o autor tece comentários sobre o vínculo entre moral e publicidade. No episódio em que a protagonista decide escrever para seu namorado, o narrador encontra a oportunidade de expor o que, de fato, entende por desmoralização:

Ao afirmar que a desmoralização é o escândalo, o narrador corrobora a hipótese de que, nos enredos camilianos, em geral, a aparência e a essência são faces opostas de um mesmo personagem. Pouco importa que Paulina, quando opta por comunicar-se com o namorado, a fim de determinar os próximos passos de sua relação, tenha prescindido do recato e passividade exigidos às mulheres no século XIX. Nesse contexto, basta somente que ela esconda sua essência determinada e aparente uma postura submissa; assim, não exporá a si nem sua família à opinião pública, ávida por recriminar e punir aqueles que rompem as regras estabelecidas. Tal dicotomia culmina em uma dissonância entre os discursos proferidos pelos personagens e seus actos.” (3)


Bibliographias

Serve também para esclarecer um ponto, de que ainda hoje troquei impressões com um bom amigo – o Gonçalo Rodrigues de Bibliographias –  também ele um grande camilianista e com um bom acervo de bibliografia activa e passiva camiliana,  de que os livros de Camilo Castelo Branco, quando em encadernação de época, só excepcionalmente têm capas de brochura e estão sempre mais ou menos aparados.

Claro que em encadernações recentes podemos e devemos ter uma maior exigência…



BRANCO, Camilo Castelo – AGULHA EM PALHEIRO // POR // CAMILLO CASTELLO BRANCO // - // SEGUNDA EDIÇÃO, REVISTA PELO AUTHOR // (Vinheta editorial) // PORTO // EM CASA DA VIUVA MORÉ – EDITORA // 1865 In-8° de 262 págs. Encadernado.



Compreende ante-rosto com os dizeres AGULHA EM PALHEIRO e verso com lista bibliográfica da livraria; frontispício textualmente descrito supra e verso com subscrição tipográfica Typographia de Sebastito José Pereira, // Rua do Almada, 641; página 5ª com dedicatória a António Feliciano de Castilho e verso em branco; página 7 com DUAS PALAVRAS datadas no final da mesma Porto, Janeiro de 1865. O romance propriamente dito decorre da página 9 à página 262 ao longo de XXI capítulos, e uma CONCLUSÃO.



Primeira edição publicada em Portugal, preferível à primeira (Brasileira), que saiu muito incorrecta, por não ter sido revista pelo autor. MUITO RARA. SEM CAPA DE BROCHURA.



Encadernação meia inglesa em pele vermelha, com cantos, e com dizeres dourados na lombada. Miolo muito bem conservado e fresco. Boa e sólida encadernação. Ocasionais picos de acidez.



HENRIQUE MARQUES, 94; MANUEL DOS SANTOS, 59; JOSÉ DOS SANTOS (1939), 8; CONDE DA FOLGOSA, 1109; CAMILIANA (SOARES & MENDONÇA, 1968), 746; ALMEIDA MARQUES, 319.

E com este escrito camilianista me despeço com votos de um bom fim-de-semana.

Saudações bibliófilas.

Notas:

(1) Camilo janotapágs. 62-63.
(2) Uma Carta de Camilo. págs. 102-103.

in:



PIMENTEL, Alberto ― O Torturado de Seide (Camilo Castelo Branco). Lisboa, Livraria de Manoel dos Santos, 1922. In-8º de 221, [3] págs. 

Primeira edição de um dos livros principais da bibliografia passiva camiliana, reunindo em volume uma série de artigos escritos por Alberto Pimentel – uns inéditos, outros antes publicados (e, nalguns casos, revistos para este propósito). Além das histórias e das curiosidades sobre a vida de Camilo aqui reproduzidas pelo amigo, o livro interessa também, acessoriamente, ao estudo do Porto do séc. XIX, descrevendo, em vários passos, aspectos da cidade e da sociedade da época e contando alguns episódios mais castiços; - A Freira de S. Bento…e de Camilo; - O filho mais velho de Camilo; - Camilo janota; - Ainda as «Cem cartas»; - Camilo morto-vivo; - Uma Carta de Camilo; - O incendiário; - Serão Camiliano; - Voltando ao «Amor de Perdição»; - Horas alegres numa casa triste; - Camilo tripeiro; - Camilo minhoto; - Camilo incoercível; - O seu centenário.

Exemplar bem encadernado com lombada em pele gravada a ouro, conservando a capa original.

Este livro pode ser lido (ou consultado) em:


(3) RECORTE – revista eletrônica ISSN 1807-8591 – Mestrado em Letras: Linguagem, Cultura e Discurso / UNINCOR | V. 11 - N.º 1 (janeiro-junho - 2014) – CONSIDERAÇÕES ACERCA DA MORAL NA FICÇÃO CAMILIANA – Tatiana de Fátima Alves Moysés.


sábado, 23 de julho de 2016

Cólofon – Últimas novidades Julho 2016 - livros do século XVI ao século XX


Encadernação do séc. XVIII
(Colecção privada)

Francisco Brito da Cólofon – livros antigos / edições | Largo Condessa do Juncal, nº 57 |  4800-159 Guimarães | Portugal, lançou mais um curioso catálogo de livros com as últimas novidades de Julho que podem consultar seguindo esta ligação.

Das obras apresentadas neste catálogo, na sua opinião, merecem natural destaque as seguintes:

892 – LA MYTHOLOGIE MISE À LA PORTÉE DE TOUT LE MONDE, Ornée de cent Figures en couleurs, ou en noir. Paris. Chez Déterville. An Septième (1799). 12 volumes de 176 – 172-174-146-191-175-164-187-175-190-169-151 págs. 12,5cm. E.

889 – Theodoreti, Beati - BEATI THEODORETI EPISCOPI CYRI INTERPRETATIO IN OMNES DAVIDIS PSALMOS. Patavii. Apud M. Antonium Gallassium Brixiensem. 1564. XII – 299 págs. 20,5cm. E.

901 – Castelo Branco, Camilo – O VISCONDE DE OUGUELA. PERFIL BIOGRÁFICO. Porto. Typ. Pereira da Silva. 1873.107-III págs. 19.5cm. E.

914 – Mendóça, Dom Filipe Folque de - A CASA DE LOULÉ E AS SUAS ALIANÇAS. Lisboa. Livraria Bizantina. 1995. 287 págs. 30cm. B.

896 – Faria, Guilheme de - SOMBRA. Lisboa. 1924. 38 págs. 17,5 cm. B.


Um leitor

Tem sido com algum interesse que tenho acompanhado o “desenvolvimento” da actividade bibliófila deste livreiro-antiquário da nova geração e, pelo que tenho avaliado, tem feito um percurso coerente e com um progressivo aprofundar dos seus conhecimentos fruto de pesquisa e trabalho (facto que não posso deixar de louvar!)

Claro que é sempre mais fácil falar dos mais conhecidos – mas esse “como já são bem conhecidos” têm um nome no mercado bem definido – com os seus defensores e os seus detractores (o mercado bibliófilo é um pouco selvagem tanto quanto me tenho apercebido … ou não fizesse parte do mundo financeiro!)

Um outro aspecto que não posso deixar de realçar, até pela experiência própria de livros que lhe adquiri, o rigor do seu descritivo que tenta ser o mais “técnico possível” não entrando em grandes confabulações do eventual valor, para isto ou aquilo, pois isso compete ao comprador saber para que quer o livro!

Mas talvez o mais significativo é o seu empenho num campo onde muitos dos seus confrades – mesmos os decanos (chamemos-lhe assim) são pouco cautelosos –  e refiro-me à descrição das encadernações (onde muitas vezes temos grandes desilusões depois da aquisição do nosso exemplar baseado na sua descrição(…e eu que o diga!)


Plaisirs d'amateurs - Le bibliophile

Mas vamos lá ver então as preciosidades que ele nos propõe:



889 – Theodoreti, Beati  - BEATI THEODORETI EPISCOPI CYRI INTERPRETATIO IN OMNES DAVIDIS PSALMOS. Patavii. Apud M. Antonium Gallassium Brixiensem. 1564. XII – 299 págs. 20,5cm. E.



[Já posteriormente o livreiro esclareceria: “tanto quanto pude apurar esta é a primeira edição desta obra publicada em Itália. Há uma segunda, logo em 1565, da mesma casa tipográfica”]



Muito rara edição desta obra interpretativa dos Salmos do Rei David da autoria de Teodoreto, Bispo de Cirro (actual Síria) entre 420 e 466, eclesiástico nestoriano e notável exegeta, aqui apresentada numa edição quinhentista impressa nas oficinas de Antonium Gallasium Brixiensem, em Pádova.



Contém a seguinte anotação manuscrita no rosto: "finis(do) exommado pello expurgatori inquisitore".  Uma outra nota demonstra que este exemplar foi analisado pela Inquisição, possivelmente para validar a sua circulação em Portugal.



Exemplar encadernado. Encadernação antiga com as pastas a aparentarem ser de época e a lombada mais recente. Com restauro na lombada.



Sobre a encadernação também acrescentou: é bastante provável que a lombada seja do século XIX mas que a restante encadernação, aplicada à lombada (ou vice-versa!), seja do século XVI...”]

Alguns restauros na folha de rosto. Manchas de humidade e marcas de xilófagos. Furo (0,4cm) nas páginas 133 – 138. Restante miolo em geral bom estado de conservação.

Preço: 300 euros. RESERVADO.




892 – LA MYTHOLOGIE MISE À LA PORTÉE DE TOUT LE MONDE, Ornée de cent Figures en couleurs, ou en noir. Paris. Chez Déterville. An Septième (1799). 12 volumes de 176 – 172-174-146-191-175-164-187-175-190-169-151 págs. 12,5cm. E.



Fabulosa obra sobre a Mitologia Clássica adornada com 100 gravuras distribuídas da seguinte forma pelos volumes:

1º volume: 23 gravuras. 
2º volume: 18 gravuras.  
3º volume: 12 gravuras.  
4º volume: 5 gravuras.    
5º volume: 6 gravuras.    
6º volume: 8 gravuras.
7º volume: 4 gravuras.
8º volume: 8 gravuras.
9º volume: 2 gravuras.
10º volume: 8 gravuras.
11º volume: 2 gravuras.
12º volume: 4 gravuras.

A obra pretendia ser uma obra, “indispensable aux jeunes gens de l’un et l’autre sexe, et utile à toutes les classes de lecteurs”, pelo que se adivinha um certo intuito instrutivo ou educacional.

Colecção de elevado interesse e de notável apuro gráfico e estético.

Exemplares em excelente estado de conservação.



Encadernação antiga com a lombada em pele. Completo, com todas as gravuras em geral bom estado. 
Algumas gravuras apresentam algum foxing. Pequenas perdas marginais nas páginas de texto 97 do 2º vol. E 13 do 5º vol. que contudo não afectam o texto. Miolo em excelente estado de conservação.

Muito raro e pouco frequente no mercado.

Preço: 680 euros.



896 – Faria, Guilherme de - SOMBRA. Lisboa. 1924. 38 págs. 17,5 cm. B.

Poeta crepuscular, Guilherme de Faria teve meteórica ascensão no panorama poético português, tendo privado e trabalhado com Joaquim e Henrique Paço d’Arcos, Francisco Lucena, Manuel de Castro, entre muitos outros. Conheceu também Teixeira de Pascoaes (que editou e com quem se viria a incompatibilizar), Mário Beirão, António Sardinha, Afonso Lopes Vieira, entre outros.
Suicidou-se em 1929.


Guilherme de Faria (1)

“Sombra” é já uma das fases finais do caminho que o viria a fazer atirar-se à Boca do Inferno, o brado de um homem que “quiz lutar, sofrer, sonhar a vida inteira!”.
​Exemplar com os cadernos por abrir. Algum foxing nas páginas.
Preço: 20 euros



901 – Castelo Branco, Camilo – O VISCONDE DE OUGUELA. PERFIL BIOGRÁFICO. Porto. Typ. Pereira da Silva. 1873.107-III págs. 19.5cm. E.

 Edição de autor, escreveu-a Camilo como manifestação pública em favor do Visconde de Ouguela, então preso por motivos político, dedicou-a à Viscondessa. Carlos Ramiro Coutinho, barão de Barcelinhos pelo casamento e Visconde desde 68, era amigo de infância do romancista, mas Camilo lembrava também o doloroso tempo na Cadeia da Relação do Porto, embora por causas bem diferentes e consabidas. Do julgamento (1873) não houve condenação e o Visconde continuou a sua actividade política e associativa de que deixou interpretações e ensaios, pregão da reforma e revolução.



O propósito do perfil biográfico, com a urgência e vicissitudes da edição e distribuição, ressalta das cartas de Camilo a Ouguela – de que Teófilo deu alguns extractos “Camilo Castelo Branco – notas autobiográficas”, Revista portuguesa, dir. Joaquim de Araújo, I, 1894-95, p. 1-7 e 111-120) e que hoje lemos integralmente (Camilo íntimo– cartas inéditas de Camilo Castelo Branco ao Visconde de Ouguela, ed. por A. Campos Matos, 2012).


Camilo Castelo Branco

 Camilo chamou-o para iniciativas literárias, refere-se-lhe em vários momentos, dedicou-lhe, em 1876, uma das Novelas do Minho (O cego de Landim) e, em 1883, “D. Luís de Portugal”, dedicatória extensiva a Rodrigues de Azevedo e Fernando Palha.

Exemplar encadernado. Encadernação da época com a lombada em pele. Miolo em bom estado. Edição apurada. Todas as páginas são circundadas por um filete tipográfico. Contém uma extensa dedicatória do Visconde de Ouguela a Luís da Câmara na folha de anterrosto. Apresenta um retrato fotográfico da época do Visconde de Ouguela no verso da folha de anterrosto. Assinatura de posse antiga na folha de rosto.
 Preço: 180 euros.

Não vou citar o outro exemplar que o Francisco Brito refere, mas antes este outro, que lhe “anda enrolado há tanto tempo!” pela Livraria:



842 – Urcullu, D. José de – TRATADO ELEMENTAR DE GEOGRAFIA ASTRONOMICA, FIZICA, HISTÓRICA OU POLITICA...Porto. Imprensa de Álvares Ribeiro. 1835-39. 3 vols. de L - 502, XXIV - 608 e XXII -522 - 52 págs. 18 cm. E.

Curiosa obra da autoria de D. José de Urcullu, um escritor e matemático castelhano e simpatizante da causa liberal que se radicou em Portugal após a guerra civil.

Este seu “Tratado” assume uma forma invulgar, uma vez que, num estilo próximo do enciclopédico, trata assuntos aparentemente tão distintos como a História ou a Astronomia. Os temas são divididos por capítulos e ao longo dos três extensos tomos da obra...

O primeiro volume desta obra dedicada João Allen, abre com uma interessante lista de subscritores, onde podemos encontrar os nomes de pessoas e famílias distintas da sociedade portuguesa de então como a família Pinto Basto, o Barão de Forrester, o Conde de Ficalho, Manuel Clamouse Brown, entre muitos outros.



Obra ilustrada com gravuras do Museu e Casa de João Allen, da Fábrica da Vista Alegre. Contém 3 desdobráveis sobre o sistema solar (vol. I) e 2 desdobráveis com mapas comparativos de rios e vulcões (vol. II).

Exemplar encadernado. Encadernação com a lombada em pele. Miolo em geral bom estado. Com defeito (ver imagem) nas 3 primeiras folhas do tomo I.

(O tal pormenor que pode afastar alguns potenciais compradores…mas se as tem!)

Preço: 120 euros (com oferta de portes de envio)

Antes de terminar, não quero deixar de expressar o meu convite, para todos aqueles que tenham oportunidade de o fazer, que passem pelo Mercado dos Caquinhos que está a decorrer em Guimarães durante este fim-de-semana e, onde, poderão encontrar o nosso prezado amigo Francisco e alguns dos seus livros.


Mercado dos Caquinhos – Cartaz

“Nos dias 23 e 24 de Julho, a Viela da Arrochela (mais conhecida pelo famoso restaurante dos Caquinhos) terá o seu caminho preenchido com livros, vinis, arte e antiguidades entre as 10:00 e as 20:00.
Dois dias com muita coisa para ver, ouvir e comprar. A Almanaque 23, a Colofon e a Snob convocaram diversos comerciantes para marcarem presença neste primeiro evento de “mercado” de rua naquela viela histórica do Centro Histórico vimaranense.
Com confirmações de participantes como Loja do Júlio, Livraria Pinto dos Santos, Alfarrabista Quinto Planeta, Antiguidades por Vítor Aguiar Branco, entre outros, o Mercado dos Caquinhos promete ser o ponto de encontro de uma Guimarães já esquecida.”
In FreePass Guimarães


Mercado dos Caquinhos
©Fotografia Almanaque 23

Espero que não “se sintam muito enfastiados”, pois tentei ser o mais ligeiro possível e, como estamos num período em que apetece mais sair do que ficar em casa, ficou o convite para um passeio pelo Centro Histórico de Guimarães, “darem uma vista de olhos” pelas peças expostas e, porque não, fazerem uma “refeição familiar” no afamado restaurante localizado na rua onde decorre o evento.

Saudações bibliófilas.

Notas:

(1) Veja-se: Universidade Católica evoca poeta Guilherme de Faria

segunda-feira, 13 de junho de 2016

José F. Vicente – Leilão da Biblioteca de Ramiro Teixeira e Outras Proveniências.


José F. Vicente vai organizar mais um dos seus leilões; desta vez será parte da Biblioteca de Ramiro Teixeira e de livros de outras proveniências.



O leilão terá lugar nos dias 20, 21 e 22 de Junho de 2016 às 21h e a Exposição decorrerá nos dias 19, 20, 21 e 22 de Junho das 15h às 20h.

O leilão processar-se-á do seguinte modo:

1ª sessão – Lotes 1 a 470
2ª sessão – Lotes 471 a 945
3ª sessão – Lotes 946 a 1418

Como sempre, tanto a exposição como o leilão decorrerão no Palácio da Independência | Largo de São Domingos, 11 (ao Rossio) |1150320 Lisboa



Desta vez, vou propor uma outra abordagem: deixo aqui somente a notícia do evento e vou fazer aquilo que vos desafio a fazer – ler atentamente o catálogo e fazer uma selecção de obras que me interessariam licitar (e obviamente comprar)



No próximo artigo prometo partilhar as minhas dificuldades e estratégias para tentar adquirir aquilo que mais me interessa.

Tem bons lotes na temática camiliana e um excelente conjunto de manuscritos. As revistas literárias, sempre com muita procura, também estão bem representadas.



(Claro que já comecei a trabalhar e a primeira listagem deixou-me aterrorizado: a bolsa era demasiadamente curta para os meus propósitos!

Agora estou na fase dos “cortes” que é a parte mais difícil – que escolher e como garantir a sua compra sem “cometer loucuras”!)

Saudações bibliófilas e votos de um bom trabalho.

sábado, 7 de maio de 2016

Maio – um mês de leilões!



Aspecto da sala de leilões no Hotel Roma em Lisboa
(foto de Dora Nogueira)

Com efeito neste mês de Maio vamos ter dois leilões de livros de conceituados livreiros antiquárias.

Pela elevada quantidade, e sobretudo pela qualidade, das obras propostas para venda merecem uma análise um pouco aprofundada de cada um dos catálogos, pois a maioria das obras contidas em cada um deles, corresponde a diferentes propostas de temáticas.

Obviamente que há obras em comum mas, na minha opinião, os bibliófilos sentir-se-ão indecisos na escolha do leilão, pois que cada uma destas ofertas estará mais de acordo com as características da estrutura de cada uma das suas bibliotecas pessoais.


Uma ilustração

Como escrevi na minha última postagem, o desfazer de grandes bibliotecas traz a possibilidade de aparecerem no mercado obras que anteriormente eram muito pouco frequentes de se verem à venda.

É claro que com isto, não pretendo dizer de modo algum, que estas obras não sejam raras, muito antes pelo contrário!

O que se verifica, é que por razões díspares, muitos dos seus anteriores proprietários optaram por as colocar novamente no mercado.

Tome-se como exemplo as obras de Fernando Pessoa e em especial a Mensagem, e contem-se os exemplares que surgiram para venda – tanto em leilões como directamente pelos livreiros-antiquários – nos últimos 4/5 anos (bem sei que um mesmo exemplar irá aparecer, por vezes, em várias vendas … mas mesmo assim o número é bem diferente do que era habitual).

Outros dois bons exemplos são Dispersão de Mário de Sá-Carneiro e de António Nobre. (Claro que só falo aqui em 1ª edições!)

 Mas vamos lá a começar.



O José F. Vicente vai organizar mais um leilão nos próximos dias 9, 10 e 11 de Maio de 2016 às 21h no Palácio da Independência | Largo de São Domingos, 11 (ao Rossio) |1150320 Lisboa.

A Exposição dos lotes decorrerá nos dias 8, 9, 10 e 11 de Maio das 15h às 20h.

As três sessões do leilão decorrerão de acordo com a seguinte planificação:

1ª sessão – Lotes 1 a 480
2ª sessão – Lotes 481 a 960
3ª sessão – Lotes 961 a 1431





066. ARISTOTELES. – EVSTRATII // EPISCOPI NICAENI // COMENTARIA IN SECVNDVM // LIBRVM POSTERIORVM RESOLVTIVORVM // ARISTOLELIS. // IN NOMINATI ITEM AVTORIS // EXPOSITIONES COMPENDIARIAE IN EVENDEM. // Andrea Gratiolo Tuscano ex benaco interprete. // Venetys Apud Hieronymum Scotum. // 1542. InFólio de [1 em branco], 195 págs. págs. Enc. [€ 2.000 / 3.500]

 Raríssima obra que versa a filosofia aristotélica, muito respeitada em todo o mundo da Antiguidade
e responsável pela grande influência registada na filosofia portuguesa de quinhentos, particularmente de Pedro Hispano, Pedro da Fonseca e Manuel de Góis, este responsável pelo Curso Conimbricense da Universidade de Coimbra no séc. XVI. Por seu lado, estes nossos estudiosos acabaram por influenciar mais tarde grandes filósofos como Descartes ou Leibnitz.
Esta edição, como era corrente na época e até no século anterior, é uma obra comentada da filosofia de Aristóteles, levada a cabo por Eustrato, Bispo de Nice.
O aristotelismo, através do cultivo da escolástica e da neoescolástica, tem exercido influência decisiva na divulgação da obra deste grande filósofo.
Bela impressão veneziana, marca do impressor no rosto, cabeçalho decorativo gravado em todas as páginas, capitulares gravadas de belo efeito e ilustrado com esquemas geométricos no texto. Magnifico exemplar, muito limpo e de grandes margens.
Encadernação moderna inteira de chagrin negro, com guardas em pergaminho.



133. BERREDO, Bernardo Pereira de. – ANNAES // HISTORICOS // DO ESTADO // DO // MARANHAÕ, // EM QUE SE DA’ NOTICIA DO SEU DESCOBRIMENTO, // e tudo o mais que nelle tem succedido desde o anno em que foy // descuberto até o de 1718. // Lisboa. // Na Officina de Francisco Luiz Ameno. // M.DCC.XLIX. InFólio de [26], 710 págs. Enc. [€ 2.000 / 3.500]

1ª edição. Raríssima. O autor, natural de Serpa, foi Governador e Capitão General do Maranhão e de Mazagão. Inocêncio, Tomo I, pág. “Berredo gosou por mais de um seculo da posse não contestada de ser tido como escriptor consciencioso e instruido na verdade dos factos que relata e puro e correcto na sua linguagem notandoselhe apenas o estylo nimio affectado proprio do seculo em que escrevia...”.

 Exemplar com uma mancha de água á cabeça de todo o texto, pequeno carimbo a óleo no frontispício, duas folhas preliminares com pequenos defeitos nas margens e pequena falta de papel na margem das páginas 47/48. Encadernação da época inteira de carneira.

Inocêncio Tomo I, pág. 382; Rodrigues, 388; Borba de Moraes. Bibliografia Brasiliana. Tomo I, 103.

Contem uma interessante camoniana (lotes 239 a 264) assim como um bom conjunto de camiliana (lotes 302 a 329) desta cito por serem duas obras que tem aparecido menos nestes catálogos (embora não de elevada raridade… talvez apenas o 2º título)



310. CASTELO BRANCO, Camilo. – O LUBISHOMEM. Comedia original, e inédita, em 3 actos, por... Visconde de Correa Botelho. (1850). Com um prefácio de Alberto Pimentel. Lisboa. Livraria Editora Guimarães, Libanio & Cia. 1900. In 8º de [10], XXIV, [2], 91, [1] págs. Enc. Edição primitiva. Póstuma. Encadernação meia de pele. Com capas. [€ 60 / 120]


322. CASTELO BRANCO, Camilo. – THEATRO COMICO DE CAMILLO CASTELLO BRANCO. A MORGADINHA DE VAL D’AMO RES. Entre a flauta e a viola. Porto. Viuva Moré, Editora. 1871. In 8º de 190, [1] págs. Enc. Edição primitiva. MUITO RARA. Assinatura antiga no anterrosto. Encadernação meia de pele. Sem capas. [€ 180 / 300]

Refira-se ainda a presença de algumas Constituições Sinodais (lotes 393 a 396)



395. CONSTITUIÇOENS // SYNODAES // DO ARCEBISPADO DE BRAGA, // Ordenadas no anno de 1639. // PELLO ILLUSTRISSIMO SENHOR ARCEBISPO // D. SEBASTIÃO DE MATOS E NORONHA: // E mandadas imprimir a primeira vez // PELO SENHOR D. JOÃO DE SOUSA, // Arcebispo, & Senhor de Braga, Primaz das // Espanhas, do Conselho de Sua Magestade, // & seu Sumilher da Cortina, &c. // LISBOA, Na Officina de MIGVEL DESLANDES, Impressor de Sua Magestade. Anno de 1697. In Fólio de [34], 811, 15 págs. Enc.

2ª edição. A primeira publicou se em 1639. Ilus trado com um belo frontispício gravado. As últi mas 15 págs., são uma Pastoral de D. José Arce bispo e Senhor de Braga, Primaz das Hespanhas, datada de 1742. Exemplar com algumas manchas de água e anotações manuscritas nas margens de algumas folhas. A Pastoral com cortes de traça e defeitos marginais. Encadernação da época inteira de pele. Inocêncio Tomo II, 99 e Tomo VII, 219. [€ 200 / 400]

Na literatura merecem destaque Natália Correia (lotes 405 a 414) em que a peça mais rara é Comunicação; Tomás da Fonseca (lotes 549 a 567)



564. FONSECA, Tomás da. – SERMÕES DA MONTANHA. I A Religião e o Povo. Lisboa. Typ. de Antonio Maria Antunes. 1909. In 8º de 260, [1] págs. Enc. Primeira edição. Muito Rara. Ilustrada com o retrato do autor. Encadernação meia de pele. Conserva a capa de brochura da frente. [€ 35 / 70]

Herberto Helder (lotes 673 a 674), Alexandre Herculano (lotes 675 a 681), Soeiro Pereira Gomes (lotes 622 e 623), Guerra Junqueiro (lotes 718 a 722), Gomes Leal (lotes 744 a 758)


©Almanaque Republicano

753. LEAL, Gomes. – A ORGIA. Publicação mensal. Politica. Literatura. Costumes. Carta a El Rei de Espanha sobre a União Ibérica. Lisboa. Typographia Popular. 1882. In 8º de 98, [1] págs. Enc. Primeiro e único número publicado. De grande raridade. Pequenos defeitos nas margens de algumas folhas, assinatura no frontispício e manchas de humidade. Encadernação em pano. Conserva a capa de brochura da frente. [€ 20 / 40]

José Agostinho de Macedo (lotes 821 a 829) de que a obra mais conhecida é O Oriente (2ª edição), Joaquim Pedro de Oliveira Martins (lotes 877 a 882), Rocha Martins (lotes 884 a 889 e 1426 e 1427), D. Francisco Manuel de Mello (lotes 909 a 911), José de Almada Negreiros (lotes 966 a 969), Vitorino Nemésio (lotes 970 a 972), António Correia de Oliveira (lotes 988 a 993), Ramalho Ortigão (lotes 1012 a 1016), Alberto Pimentel (lotes 1068 a 1074), Eça de Queirós (lotes 1102 a 1119), que é completado com um conjunto de bibliografia passiva queirosiana (lotes 1120 a 1129), 



1113. QUEIROZ, Eça de. – O MANDARIM. Porto e Braga. 1880. In 8º de [4], 181, [1] págs. Enc. Edição original. Muito rara. Encadernação da época meia de pele. Sem capas. [€ 80 / 150]

Antero de Quental (lotes 1132 a 1137), Alves Redol (1148 e 1149), José Régio (lotes 1152 a 1154), Aquilino Ribeiro (lotes 1179 a 1197),

As gravuras e mapas (lotes 631 a 655) com alguns belos exemplares.



642. LINSCHOTEN. – A CIDADE DE ANGRA NA ILHA DE IESV XPÕ DA TERCEIRA QVE ESTÁ EM 39 GRAOS. 1595. Colorida á mão. Medida: 85x51cm. Gravura de Angra do Heroísmo, em magnifico estado de conservação, apenas reforçada nas margens. Pertence ao Atlas de Linschoten e rara mente acompanha a obra. [€ 800 / 1.500]

Os manuscritos (lotes 851 a 867) têm alguns espécimes muito interessantes e raros.



856. CARTA EXECUTÓRIA. Carta executória espanhola, passada pelo Rei Carlos III e Don Ramon Zalo Ortega, a favor de Don JuanManuel Monje, natural da Real Islla de Leon, Datada de Madrid 26 de Setiembre de Mil Setezientos setenta). (1770). In Fólio de [26] Fls. Ilumina das a ouro, prata e cores, representando vários brasões de armas, árvore genealógica, frontispício gravado, letras capitais iluminadas, etc. Esta famí lia pertence ás Casas de Monje, Casa de Rodri guez, Casa de Merchante e Casa de Gallardo. Texto a preto, vermelho e azul. 



Encadernação da época inteira de pele com artísticos ferros a ouro, tendo em ambas as pastas um Brasão de Armas Real. [€ 3.000 / 4.500]

Mas muitas outras obras ficaram por referir.

Podemos encontrar na temática do livro antigo  obras como estas, por exemplo:



1091. POMEY, Padre Francisco. – PANTHEUM // MYSTICUM, // SEU // FABULOSA // DEORUM // HISTORIA // Hoc Epotomis  eruditionis volumine bre // viter dliccidèque compehensa. // Editio nona,... // AMSTAELO DAMI, // Ex Officina Schouteniana // MDCCL VII. In 8º peq. de [14],298, [14] págs. Enc. Ilustrado com uma portada gravada e gravuras abertas a buril em chapa de cobre representando as diversas figuras míticas tratadas na obra, algu mas em folhas desdobráveis.Com um corte de traça que atinge letras do texto nas páginas 191 a 224 e manchas de água. Encadernação da época inteira de carneira. [€ 30 / 60]



1324. SOUSA, Fr. Luis de. – PRIMEIRA PARTE // DA HISTORIA // DE S. DOMINGOS // PARTICULAR DO REINO, E CONQUISTAS // de Portugal, // POR FR. LUIS CACEGAS // Da   mesma Ordem, e Provincia, e Chronista della. // Reformada em estilo, e ordem, e amplificada em succeesssos, // e particularidades. // POR FR. LUIS DE SOUSA // Filho do Convento de Bemfica. // Lisboa. // N a Officina de António Rodrigues Galhardo. 1767. 4 Vols. In Fólio. Enc. 2ª edição. A primeira publicouse em 1623. Obra de grande merecimento histórico e literário. Os dizeres dos frontispícios dentro de artística portada gravada. Todos os volumes com o carimbo de antigo proprietário na primeira folha da dedicatória. A última folha de Índice do IV Volume com falta de papel sem atingir letras do texto. Encadernações uniformes inteiras de carneira, algumas com pequenos defeitos. [€ 1.100 / 1.800]

Em minha opinião trata-se de um leilão a seguir atentamente.




O Pedro de Azevedo - Leiloeiro, Unipessoal, Lda. | Rua Custódio Vieira 2 A, 1250-086 Lisboa | Portugal vai realizar mais um leilão.

Trata-se do 62º Leilão de Livros: Guerra Peninsular, manuscritos, gravuras e outros livros importantes que terá lugar em Lisboa, no próximo dia 16 de Maio, pelas 19:30 h, no Hotel Fénix Lisboa, no Marquês de Pombal.



Marcadamente centrado para a Guerra Peninsular, constitui uma óptima oportunidade para os coleccionadores e estudiosos deste período sempre fascinante e curioso da nossa História poderem encontrar algum (ou alguns exemplares que possam enriquecer as suas bibliotecas.

No entanto iremos encontrar muitas outras obras de elevado interesse e raridade como sejam:



5. ANDRADE, Antonio Galvão de – ARTE | DA | CAVALLARIA | DE GINETA, E ESTARDIOTA, BOM | primor de ferrar, & Alueitaria. | DIVIDIDA | Em tres Tratados, que contem varios discursos, & | experiencias novas desta arte. Lisboa: Na Officina de Joam da Costa, 1678.- [16], 605 (aliás 607) p.: il.; 29 cm.- Enc. [ € 1.000 - 1.500]

Primeiro tratado de cavalaria (ou equitação) publicado em Portugal, cujo autor (c. 1613-1689), natural de Vila Viçosa, foi comendador da Ordem de Cristo e estribeiro da Casa Real. A obra inclui, além de um retrato gravado do autor (oval envolta em motivos heráldicos e alegóricos), 20 gravuras a talhe-doce, das quais 15 de folha dupla ou desdobráveis, representando vários exercícios de gineta, diversos arreios e outros acessórios. As gravuras apresentam a subscrição C. B. F. (Clemente Bilingue Fecit) e F. D. I. ou C. R. f. (Ernesto Soares [História], 318).O exemplar, um pouco aparado, apresenta a falta de três gravuras: hum ferro de hum garrocham (p. 255), hum homem à estardiota (p. 453) e um de dous peitoraes (p. 594); algumas gravuras mal encadernadas, não correspondendo à localização indicada no índice na oitava folha preliminar (**8). Apresenta ainda as seguintes intervenções: folhas preliminares (e fólio T4) com restauros na margem externa (mais grave na folha de rosto); algumas gravuras espelhadas, outras com restauros nas dobras. Encadernação do século XIX, inteira de carneira.
Samodães, 1342. Inocêncio, I, p. 147. Torrecilla, 255. BN (Séc. XVII), 177. Arouca, A 341.



28. BOWDICH, Thomas Edward – Excursions in Madeira and Porto Santo, during the autumn of 1823, while on his third voyage to Africa; to which is added, by Mrs. Bowdich, I. A narrative of the continuance of the voyage to its completion, together with the subsequent occurrences from Mr. Bowdich’s arrival in Africa to the period of his death. II. A description of the English settlements on the river Gambia. III. Appendix: containing zoological and botanical descriptions, and translations from the Arabic.- London: George B. Whittaker, 1825.- XII, 278 p.: il.; 27 cm.- Enc. [€ 800 - 1.200]

Thomas Edward Bowdich (1791-1824), viajante inglês, natural de Bristol, casou em 1813 com Sarah Wallis (1791-1856), com quem viria a partilhar a sua carreira de naturalista. Tendo convivido com Cuvier e Humboldt, o casal efectuou várias viagens de estudo, nomeadamente a Lisboa, em 1822, Cabo Verde, Madeira e Porto Santo. No decurso da sua terceira viagem a África, Thomas Edward viria a falecer de malária, quando se encontrava na Gâmbia. A obra é ilustrada com 22 litografias, sendo duas desdobráveis e quatro coloridas à mão. A última estampa, com inscrições árabes, não vem referida no índice. Exemplar com algumas manchas de acidez e ligeiro manuseamento, revestido de meia-encadernação de pele, da época. Estampas antigas da Madeira (1935), p. 75. Duarte de Sousa, 97. Silva’s/Pedro de Azevedo, Março de 2000, nº 103.  



137. [JOINVILLE, François Ferdinand Philippe d’Orléans, Prince de] – Études sur la Marine.- Paris: Michel Lévy frères, 1859.- [8], 385, [2, 1 br.] p.; 22 cm.- Enc. [€ 40 – 80]

O volume inclui os seguintes três estudos publicados sem o nome do autor : L’escadre de la Méditerranée, La question chinoise e La Marine à vapeur dans les guerres continentales, previamente publicados na Revue des Deux Mondes. O príncipe de Joinville (1818-1900), filho de Luís Filipe I de França (1773-1850) e de Maria Amélia de Bourbon, almirante da Marinha Francesa, casou em 1843 com a infanta D. Francisca de Bragança (1824-1898), filha do imperador do Brasil D. Pedro I e de D. Maria Leopoldina de Áustria. Exemplar com algumas manchas de acidez, revestido de excelente encadernação inteira de marroquim, com cercaduras nos planos, casas fechadas a ouro na lombada, roda nas seixas e o corte das folhas impecavelmente dourado. Ex-libris da Biblioteca do Dr. Ricardo Espírito Santo.



218. MOREIRA, Manuel de Sousa – THEATRO | HISTORICO, | GENEALOGICO, | PANEGYRICO: | ERIGIDO | a la Immortalidad da la Excelentissima Casa | DE SOUSA.- Paris: en la Emprenta Real, por Juan Anisson, 1694.48 [aliás 44], 986, [13, 1 br.] p.: il.; 38 cm.- Enc. [€ 600 – 900]


 Obra monumental, ilustrada com 32 gravuras, das quais 30 são retratos, e outras tantas vinhetas gravadas em folha de cobre, para além de um frontispício alegórico, junto ao rosto. Inocêncio (VI, p. 114) considera-a um monumento estimável da arte tipográfica, para além da importância das notícias que contem. Todos os retratos foram espelhados (recortados pelo vinco da matriz e colados em folhas papel [da época?], com as mesmas dimensões dos cadernos originais). Apenas as duas restantes gravuras se encontram no seu estado original. Mancha restaurada na margem superior, junto ao festo, afectando cerca de 20 folhas finais e a margem de dois retratos. Pertence manuscrito da época, na página de rosto (Isidoro Juzte. de Souza Tavares). O exemplar apresenta-se contudo, limpo, sólido e completo. Encadernação recente, inteira de carneira, da época, ao gosto da época. Salvá, 3603. Samodães, 3269.

Aqui também vamos encontrar algumas obras raras da literatura portuguesa, ora veja-se:



221. NEGREIROS, José de Almada –  A invenção do dia claro. - Lisbôa: “Olisipo” Apartado 145, 1921.- 45 [3] p.: 1 retrato; 25 cm.- Broc. [€ 300 – 450]


Edição original de um dos mais raros títulos do autor, ilustrado com o seu auto-retrato. Transcreve uma das conferências que mais impressionou Fernando Pessoa, que nesse mesmo ano viria a escolher este texto para inaugurar a sua editora Olisipo. Exemplar assinado no rosto (data de 1921), com algum manuseamento, conservando as capas de brochura verdes (com badanas). De salientar que estas envolvem a primeira e última folhas do primeiro e terceiro caderno. O exemplar inclui, soltas, duas raras pagelas: bilhete de entrada (1 escudo) no Teatro de S. Carlos para o lançamento do folheto (10x10 cm.); convite para uma sessão de apresentação do autor e da sua obra, na Liga Naval, por António Ferro (22x16 cm.).  



236. PEDRO, António – Manifesto do I Salão de Independentes - [Lisboa: edição do autor, 1930]. - 1 f.; 39 cm.- Broc. [€ 200 – 300]

Manifesto publicado por ocasião da exposição ou I Salão de Independentes, realizado em 1930 em Lisboa, na Sociedade Nacional de Belas Artes, no qual participaram 20 pintores, 10 escultores, 10 arquitectos, 21 desenhadores, 2 decoradores, 2 cartazistas e 2 fotógrafos, com um total de 312 obras expostas. Folha volante, impressa de um só lado.



238. PESSOA, Fernando – Mensagem - Lisboa: Parceria António Maria Pereira, 1934.- 100, [2] p.; 18 cm.- Broc. [€ 1.600 - 2.400]

Edição original de uma obra emblemática da literatura portuguesa do século XX. Único livro publicado pelo autor (1888-1935), um ano antes da sua morte. Exemplar limpo, conservando as capas de brochura com badanas com pequenas imperfeições. 



239. PESSOA, Fernando – Sobre um manifesto de estudantes - [Lisboa: edição do autor, 1923]. - 1 f.; 38 cm.- Broc. [€ 800 - 1.200]

Segundo manifesto de intervenção, publicado por Fernando Pessoa, na polémica que, entre Fevereiro e Maio de 1923, envolveu, por um lado, o escritor e poeta Raúl Leal e próprio Pessoa, e, por outro, a Liga de Acção dos Estudantes de Lisboa, liderada por Pedro Theotónio Pereira, com o apoio do jornal A Época, da Igreja Católica.  O objecto dos estudantes era o combate contra a literatura imoral, da qual eram exemplos acabados as obras Sodoma divinizada, de Raúl Leal e Canções de António Botto, ambas publicadas pela editora Olisipo, de Fernando Pessoa. Folha volante, composta a três colunas, impressa de um só lado, provavelmente em Abril/Maio de 1923. 



248. POUSÃO, Frei Manuel, O.S.A. –  LIBER | PASSIONUM, | ET EORUM | QUÆ A DOMINICA PALMARUM, | usque ad Sabbatum Sanctum cantari solent. | AVCTORE | P. FR. EMMANUELE POUZAM, | ORDINIS EREMITARUM S. AUGUSTINI, | Provinciæ Lusitaniæ. | PRIMA EDITIO.- Lugduni: Ex Typographia Petri Guillimin, Sumptibus Joannis à Costa, & Didaci Suarez, 1675.162 p.: notação musical; 36 cm.- Enc. [€ 800 - 1.200]

Segundo Barbosa Machado, Fr. Manuel Pousão (c. 1593-1683), era natural de Alandroal e professou no Convento da Graça, de Lisboa, da Ordem de Santo Agostinho, onde foi Mestre de Capela. A edição, impressa em Lyon por motivos desconhecidos, é constituída por 20 cadernos (A-T4, V5 [ao exemplar falta a última folha em branco]) com um rosto (verso em branco), seguido de 80 folhas com notação musical quadrada tradicional a negro sobre pautas de cinco linhas a vermelho. Versão actualizada de livros de cantochão congéneres anteriores, como, por exemplo o Passionário de Fr. Estêvão, impresso em Lisboa, em 1595 (v. Pedro de Azevedo, leilão nº 61, Outubro de 2014, lote, nº 126), introduz, contudo, novas formas melódicas, reduzindo os vocalizos de grande extensão, de expressão bizantina. A este respeito deverá ler-se O Canto da Paixão nos séculos XVI e XVII: a singularidade portuguesa, de José Maria Pedrosa Cardoso, Coimbra, 2006 (5.1.4., p. 149 e seg.), de onde foram recolhidos parte dos elementos para a presente descrição. Fólios do caderno D, encadernados fora de ordem: D2, D1, D4 e D3. Exemplar aparado, um pouco manuseado e com alguma acidez; ocasionais restauros menores. Encadernação recente, com a lombada em pele, com falta das guardas volantes. Vieira, II, p. 230. Alegria, p. 133.


José Maria Eça de Queirós

253. [QUEIRÓS, José Maria Eça de] – [O crime do Padre Amaro] - Revista Occidental: publicação quinzenal.- 1º cuaderno, 1º anno, tomo primero a 5º fascículo, 1º anno, tomo segundo (15 de Febrero a 15 de Julho de 1875).- Lisboa: Escriptorio da Revista Occidental, 1875.-11 fascículos em 2 vols.; 25 cm.- Enc. [€ 400 – 600]

Trata-se da primeiríssima edição da obra, publicada nesta revista dirigida por Eça de Queirós, desde o primeiro fascículo do primeiro tomo, ao primeiro fascículo do segundo, que viria a ser editada no ano seguinte em forma de livro, com inúmeras alterações. A revista teve ainda a colaboração de Antero de Quental, Gonçalves Crespo, Oliveira Martins e muitos outros. O conjunto apresenta a particularidade de o primeiro tomo pertencer à edição em castelhano, publicada simultaneamente em Espanha através do seu representante A. Duran. Os 11 fascículos encadernados em dois volumes, conservando todas as capas de brochura, por vezes com algumas manchas. Tudo quanto foi publicado. Exemplar com ocasional acidez, revestido de meias-encadernações de chagrin. Ex-libris de Francisco J. Martins. BN (Jornais e Revistas), 4645 (descrição incompleta). Guerra Da Cal, 66 e 29.


Nas gravuras temos alguns bons espécimes como este:



91, GUERRA PENINSULAR – The Holy Alliance unmasked.- London: Pub. by J. Dickinson, 1823.- 1 litografia colorida; 280x320 mm. [€ 40 – 80]

Litografia de sátira política, colorida à mão, segundo original de Edward Purcell, representando os representantes da Grã-Bretanha (Wellington), Espanha, Russia e Áustria à volta de uma mesa, conspirando para repor Fernando VII no trono de Espanha. Levemente aparada na margem superior.

 E nos manuscritos vamos encontrar esta carta de Beresford:



160. BERESFORD, Lieutenant General Willam Carr (1768-1854) – 1 documento (carta autógrafa) - Século XIX (1809). 2 f.; 23 cm. Carta autógrafa dirigida ao capitão Henry Goldfinch (c.1781-1854), dos Royal Engineers, com instruções para este se deslocar para o Porto e organizar a sua defesa. Uma página e meia autógrafa (bifólio). Documento datado e assinado: Lisbon, 20th March - W.C. Beresford. [€ 300 – 450]

Bem a conversa já vai longa embora esteja seguro de que muito mais havia para dizer e mostrar.

Claro que esta é uma das leituras possíveis destes dois bons catálogos, mas  deixo, um pouco deliberadamente,  ao vosso critério/gosto uma outra leitura e análise que espero  serem seguramente diferentes.

Um resto de bom fim-de-semana (…mesmo com a chuva)


Saudações bibliófilas.