Rosalia de Castro
Nascida em Santiago de
Compostela, em Fevereiro de 1837, Rosalía de Castro deixou uma obra ímpar. Os seus Cantares
Gallegos são unanimemente considerados como a primeira grande obra
da literatura galega contemporânea, vindo assim contrariar um conceito antigo
de que o idioma galego não é propício à poesia.
Em qualquer idioma é difícil
encontrar um autor que simbolize toda uma língua e toda uma literatura, mas
Rosalia de Castro deve ser considerada como a fundadora da moderna literatura
galega.
Co seu xordo e costante mormorio
atráime o oleaxen dese mar bravío,
cal atrái das serenas o cantar.
«Neste meu leito misterioso e frio
-dime-, ven brandamente a descansar».
El namorado está de min... ¡o deño!
i eu namorada del.
Pois saldremos co empeño,
que si el me
chama sin parar, eu teño
unhas ansias mortáis de apousar nel.
Fragmento de Follas Novas
Casa-Museu de Rosalía em Padrón
Em 21 de Fevereiro de 1837,
Rosalía de Castro nasce em Camiño Novo, no cruzamento com a estrada para Conjo,
na periferia de Santiago de Compostela, filha de María Teresa de la Cruz de
Castro y Abadia e, segundo se julga, do padre católico José Martínez Viojo,
embora não existam documentos que sustentem esta afirmação comummente aceite.
A sua mãe era uma aristocrata
proveniente da linhagem dos Castro, implantada desde a Idade Média na Galiza,
pertencendo os condes de Lemos a um dos seus ramos. María Teresa é a senhora da
casa grande de Arretén; descende, portanto de uma das famílias mais ilustres e
respeitadas da Galiza. Quando Rosalía nasce, María Teresa tinha 32 anos.
Não podendo, pela sua condição
sacerdotal, legitimar ou reconhecer a filha, encarrega suas irmãs, Teresa e
María Josefa, de cuidarem da recém-nascida. No assento de nascimento, figura o
nome de María Rosalía Rita de Castro, filha de pais incógnitos.
Numa certidão do concelho de Padrón, datada de
17 de Setembro de 1842, regista-se que ali reside Teresa de Castro com sua
filha Rosalía e com uma criada de nome María Martínez. Após ter vivido os
primeiros anos com suas tias paternas, terá, portanto, ficado ao cuidado da
mãe.
Em 1850, Rosalía e sua mãe
residem em Santiago, onde a jovem estuda e participa em diversas actividades
culturais.
Aurelio Aguirre
Em 1852 apaixona-se por Aurelio Aguirre,
o poeta romântico chamado de "o Espronceda galego".
Sobre este poeta galego leia-se igualmente:
¿Quién fue en realidad Aurelio Aguirre?.
Mas no ano seguinte – 1853 – contrai
o tifo. Cura-se, mas Eduarda Pondal, a sua melhor amiga, morre, vítima da mesma
doença.
Em 1856 muda-se para Madrid, onde
vive em casa de uma prima. Deste ano datam as suas primeiras publicações. Em 2
de Março, realiza-se o célebre Banquete do Conjo.
Em 1857 sai a sua primeira
colectânea de poemas em língua castelhana – La flor.
O ano de 1858 será marcado pela
morte de Aurelio Aguirre, grande amigo de Rosalía e o seu primeiro amor. Neste
mesmo ano, com Manuel Murguía, um
escritor e investigador funcionário do Estado.
Manuel Murguía
O casal regressa à Galiza em 1859,
onde, a 12 de Maio, em Santiago, nasce Alejandra, a sua primeira filha. Publica
em castelhano La hija del mar.
No entanto em 1861 voltariam a
Madrid. Neste ano começa a publicar textos em galego e em castelhano. É editado
o seu «ensaio de romance», Flavio.
A sua mãe morre em 1862 e Rosalia
dedica-lhe o seu livro A mi madre,
publicado no ano seguinte.
Será em 1863 que Rosalia publica,
em Vigo, a sua primeira grande obra em língua galega, Cantares
Gallegos. A língua galega estava desde o século XV relegada para a
condição de idioma rural. Neologismos castelhanos foram sendo tomados de
empréstimo e integrados, a fonética castelhana invadira também a pureza do
galego genuíno – o vernáculo foi-se perdendo.
“E cando a gaita gallega
aló nas Castillas oias,
ó teu corazón pregunta,
verás que che di en resposta
que a gaita gallega:
Non canta, que chora”
Cantares Gallegos
Em Portugal, Antero de Quental
e Teófilo Braga não deixam de saudar
com entusiasmo a publicação desta obra.
Neste mesmo ano sai também a
público Flavio e publicará em
castelhano A mi madre.
Devido à publicação de Cantares Gallegos (a primeira obra editada em
língua galega), o dia 17 de Maio, passou a ser Dia das Letras Galegas, é feriado nacional na Galiza.
Em 1864 deu-se um artigo de
Rosalía cujo original se perdeu, enfurece um grupo de seminaristas de Lugo, que
invadem as instalações do El Almanaque de Galicia, destruindo
a composição., pelo que este nunca seria publicado.
Em 1866 edita em Madrid a
narrativa Ruinas e, em Lugo, El
Cadicee no ano seguinte, ainda em castelhano, , sai o romance El caballero de las botas azules.
Em Setembro de 1868, eclode em
Cádis uma revolta liberal, liderada pelo almirante Topete ao qual se junta
depois o marechal Prim. A rebelião dirige-se contra a rainha Isabel II e
contra o presidente do seu governo, González Bravo.
Isabel II, em 1852. Próximo a sua filha Isabel.
(Quadro de Francisco Xavier Winterhalter)
A rainha refugia-se em França e é
deposta. Devido à liberalização do governo, Murguía é nomeado Chefe do Arquivo
de Simancas. O casal passa a viver entre Madrid e Simancas. Depois de terem
residido em Lugo, Rosalía e Manuel voltam a Madrid onde, em Dezembro, nasce uma
segunda filha, Aura.
Em Julho de 1871, nascem os
gémeos Gala e Ovídio; em Julho 1873 nasce, na Corunha, Amara; em Março de 1875
nasce Adriano Honorato Alejandro (que viria a morrer em Novembro do ano
seguinte, vítima de uma queda); finalmente em Fevereiro 1877 Rosalía dá à luz
Valentina (que nasce morta).
Entretanto, em Madrid, Murguía dirige La
Ilustración Gallega y Asturiana.
Em 1880 publica, em galego, a
colectânea Follas novas.
Publica em 1881 El primer loco;
cuento estraño. E em La
Ilustración Gallega y Asturiana, publica um texto sobre «Padrón y las inundaciones».
Em castelhano, é editada a
colectânea En las orillas del Sar,
em 1884.
Em Padrón, a 15 de
Julho de 1885, com 48 anos, morre Rosalía de Castro, vitimada por um cancro no
útero. É enterrada no cemitério de Adina, junto à campa de sua mãe.
Os restos de Rosalía mortais serão
trasladados para o Panteão dos Galegos Ilustres, no convento de São Domingos de
Bonaval, em Santiago de Compostela em 1891.
Homenagens que culminariam em
1917, com a inauguração de um monumento a Rosalia de Castro no Passeio de
Ferradura, no centro de Santiago de Compostela.
Estátua de Rosalía na Praça da Galiza, no Porto
Em Portugal, a Setembro de 1954,
na cidade do Porto, na Praça da Galiza, é inaugurado um monumento a Rosalía, da
autoria do escultor Salvador Barata Feyo
(1902-1990).
Vem este apontamento a propósito de um belíssimo exemplar da
1ª edição de Follas Novas inserido na Montra de 19 de Maio da in-libris.
8345. CASTRO
(Rosalía de). — FOLLAS NOVAS // VERSOS EN GALLEGO // DE // ROSALÍA DE CASTRO DE
MURGUÍA // PRECEDIDOS DE UN PRÓLOGO // POR // EMILIO CASTELAR // MADRID // La Illustracion
Gallega y Asturiana // ... // 1880 (Aurelio J. Alaria, impresor, Estrella, 15,
Madrid. 14,5x20 cm. 271-I págs. E.
“Guardados estaban, ben podo
decir que para sempre, estes versos, e xutamente condenados po-la sua propia
índole á eterna olvidanza, cando, non sin verdadeira pena, vellos compromissos
obrigáronme á xubtalos de presa e correndo, ordenalos e dalos á estampa. N’era
esto, en verdade, o qu’eu queria, mais n’houbo outro remedio; tuben que
conformarme c’o duro d’as circunstancias que asi o fixeram (...) Despois d’o xa
dito, tendrey que añadire qu’este meu libro n’é en certa maneira, fillo d’a
mesma inspiracion que dou de si os Cantares gallegos? Paréce-me que non. Cousa
este ultimo d’os meis dias d’esperanza e xuventude, ben se ve que ten algo d’a
frescura propia d’a vida que comenza. Mias o meu libro d’hoxe, escrito como
quen dí, en medio de todo-l-os desterros, non pode ter anque quixera o encanto
que soye emprestarlles á inocencia d’as primeiras impressiós: que ô sol d’a
vida, ó mesmo que o que alima ó mundo que habitamos, non loce n’os seus albores
d’a mesma sorte que cando vay poñerse tristemente, envolto antr’as nubes d’o
postreiro outono. Por outra parte, Galicia era n’os Cantares ó obxeto, á alma
enteira, mentras que n’este meu libro d’hoxe, âs veces, tan soyo á ocasion,
anque sempre ó fondo d’o cuadro (...)
Primeira edição do segundo livro
da autora, inequivocamente a figura mais representativa da literatura galega de
todos os tempos.
Espero ter despertado a vossa
atenção para esta poetisa e para um melhor conhecimento da cultura galega.
Saudações bibliófilas.