"Se não te agradar o estylo,e o methodo, que sigo, terás paciência, porque não posso saber o teu génio, mas se lendo encontrares alguns erros, (como pode suceder, que encontres) ficar-tehey em grande obrigação se delles me advertires, para que emendando-os fique o teu gosto mais satisfeito"
Bento Morganti - Nummismologia. Lisboa, 1737. no Prólogo «A Quem Ler»

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sexta-feira, 28 de abril de 2017

No 8º Aniversário da Tertúlia – Cartucho


Celebra-se hoje o oitavo aniversário do primeiro artigo publicado por mim neste espaço que foi baptizado de “Tertúlia Bibliófila”.



RÉGIO, José – A Chaga do Lado. Sátiras e epigramas. Portugália, Lisboa, 1954, In-8º gr. de 92-(2) págs. Encadernação luxuosa em pele com dizeres e florões a ouro na lombada e nas pastas. Conserva capas de brochura. Ostenta uma assinatura autógrafa. 1.ª edição. Invulgar.



Esta colectânea de poemas foi publicada pela primeira vez em Lisboa, em Setembro de 1954, pela Portugália Editora, quando José Régio era já considerado um dos maiores poetas da sua época.



Sobre o processo de formação do livro o autor, numa carta endereçada a Alberto Serpa, dirá: "creio que me está nascendo um novo livro de versos, – bastante prosaico e bruto – nos rápidos intervalos da Velha Casa e dos sonhos de teatro. Ser-me-ia bom financeiramente". Mais tarde, numa outra carta, Régio explicará: "Assim me vieram, incompletos, uns três ou quatro poemas, aos quais aludi numa carta em que te dizia julgar estar a nascer-me um novo livro. Entre essa carta e a que te escrevi falando-te já no propósito de publicação do livro (isto é: uma semana) o livro fez-se! Poderá ser pouco verosímil; mas é verdadeiro. Claro que se não fez o livro completo, organizado, definitivo: Fizeram-se, apenas, uns sete ou oito poemas que vieram pegados uns aos outros […] nem seriam sete ou oito poemas que dariam um livro. Simplesmente, existia um núcleo, um fulcro (o essencial do livro) em volta do qual reuniria, completando-os, alguns fragmentos deixados aí pelas gavetas além dum longo poema já antigo – Um poeta ainda canta – (...) e outros que haviam sido publicados em revistas, três dos sonetos novos da 3ª edição da Biografia etc."
©Colecção privada

Muito escrevi desde essa data procurando realçar a beleza do livro enquanto objecto de divulgação cultural e objecto de arte, claro que como bibliófilo, a vertente coleccionista teve um papel muito importante.

Por aqui se deixou notícia de vários eventos ligados ao livro (ou não seja o subtítulo do blogue “conversas em torno dos livros”!) – exposições, feiras, leilões ou simplesmente catálogos editados pelas várias livrarias que têm a gentileza de mos fazer chegar (tanto nacionais como estrangeiras).

A impressão, os impressores e editores têm igualmente aqui um lugar importante, pois é assim que nasce um livro!

A encadernação, que sempre me fascinou, tem também o seu espaço e sobre ela muitas notas aqui ficaram.



07292-L1. A LABAREDA. Revista mensal de Literatura e Arte. Directores: Narciso de Azevedo e Soares Lopes. Proprietarios: Armando Cruz, Narciso de Azevedo e Soares Lopes. Porto. (Typgraphia Costa Carregal). 1914. 2 números 17,5x26 cm. 32 págs. E.
350,00 €



Rara revista literária e artística com colaboração de Eugénio de Castro, Camilo Castelo Branco, António Patrício, Teixeira de Pascoaes, Afonso Duarte, Mário Beirão, Guilherme Braga, Fialho de Almeida, Conde de Monsaraz, Carlos Parreira e Teixeira de Carvalho.

Colaboração artística de excelência, com desenhos, impressos em folhas à parte, da autoria de António Carneiro, Domingos Sequeira, Vieira Portuense e Soares Lopes, este último autor das capas.
Refira-se ainda que foram publicadas cartas inéditas: de Eça de Queiroz a Maria, cartas de Camilo e de Manuel Laranjeira. Colecção completa.



Luxuosa encadernação em inteira de chagrin, com embutidos em pele na pasta da frente, reproduzindo a capa da brochura. Conserva as capas das brochuras embora as do primeiro número possuam restauro. Assinatura de posse e data na folha de rosto do primeiro número. No verso da última folha do número um, encontram-se desenhos a lápis.
©In-Libris

Obviamente que, não sou alheio sobre aquilo que os leitores mais apreciam, e as estatísticas servem para isso mesmo, mas tento deixar um certo cunho pessoal e pedagógico (nem sempre bem entendidos inicialmente), com apontamentos sobre movimentos/escolas literárias, particularidades de algumas edições, escritores menos conhecidos e divulgar sempre mais qualquer pormenor que não tenha ainda sido referido aqui.

Vem isto a propósito de que nem sempre o que escrevo corresponder às minhas preferências literárias ou posturas que defendo (que aliás são bem conhecidas, pois nunca as escondi), mas dar uma visão de outras perspectivas o mais imparcialmente possível, pois transmitir conhecimentos é isso mesmo… e se o tiver conseguido fico muito orgulhoso!



04488-L1. FERREIRA (Vergílio). — ESTRELA POLAR. Romance. Portugália Editora. [Lisboa. 1962]. 13x19 cm. 316-IV págs. B.
150,00 €



“Dois temas se cruzam neste novo livro de Vergílio Ferreira: o da verdade  e o da comunhão  humana. Pelo primeiro, este romance associa-se a Mudança; pelo segundo, continua Aparição.”

Edição original. Capa ilustrada por Câmara Leme.

Valorizado pela assinatura do autor. Por abrir.
©In-Libris

Apesar de os meus conhecimentos serem bastante limitados, estes têm-se enriquecido com o aprofundar do estudo necessário à escrita dos artigos, pelo contributo de algumas das vossas críticas e comentários, assim como pela colaboração solicitada por mim a alguns dos meus amigos, que se disponibilizam a esclarecer, com os seus conhecimentos mais profundos na matéria, o prazer de coleccionar, mas muito mais do que isso, o de estudar um livro (aqui considere-se o livro como objecto de arte no seu todo e não como uma das formas de impressão para leitura).



08815-L1. CORTEZ (Alfredo). — ZILDA. Peça em 4 actos. Porto. Companhia Portugueza Editora. 1921. 12,5x18 cm. 255-I págs. B.
85,00 €


Primeira edição muito cuidada, “(...) onde se dão, com o texto, os scenarios da Zilda, através as reproduções das maquettes, nas cores dos proprios originaes, tendo assim a honra de dar à estampa os trabalhos de artistas como as exmas. sras. D. Alice Rey Collaço, D. Milly Possoz e Jorge Barradas (...)”.



Capa “original de D. Alice Rey Collaço, que é, se nos permittem ter aqui opinião, uma obra d’arte”.

As ilustrações apresentam-se em folhas à parte.

De muito raro aparecimento no mercado.
©In-Libris

A leitura de um qualquer livro é o fundamental, mas uma vez esta terminada, no espírito do bibliófilo devem colocar-se sempre várias questões: qual a importância da edição que tem entre mãos, em que tipo de papel está impresso, que caracteres foram utilizados, que sabemos sobre o impressor ou o editor, se for ilustrado, qual o tipo de ilustrações, quem as desenhou e quem as imprimiu, quem desenhou a capa da brochura – muitas vezes pequenas obras de arte – e se estiver encadernado, em que estilo está e, se possível, identificar o encadernador (isto se esta não estiver assinada); deste modo se estabelece a principal diferença entre leitor, bibliómano e bibliófilo.



04654-L1. QUENTAL (Antero de). — CARTAS DE ANTHERO DE QUENTAL. Coimbra. Imprensa da Universidade. 1915. 16x24 cm. de 320-IVpágs. E.
100,00 €

“Ao Exmo. Sr. Candido Augusto Nazareth, de Coimbra, admirador e colleccionador da obra do meu illustre patrício Anthero de Quental é que devo hoje poder reproduzir em volume as cartas dispersas em jornaes e livros difficeis senão impossíveis de obter actualmente, prestando assim esta pequena homenagem de veneração ao meu infeliz patricio que tanto honrou as lettras patrias. (...)”.

PRIMEIRA EDIÇÃO. Encadernação com lombada e cantos em pele, conservando as capas da brochura. Apenas parado e carminado à cabeça. 
©In-Libris

Julgo ter deixado vários apontamentos que vos permitam responder às questões acima enunciados…se não o conseguirem fazer, então terei falhado nos meus intentos!

No entanto, o meu entusiasmo e empenho, que vai renascendo com o apoio que se manifesta pelas vossas leituras e consultas das muitas páginas que aqui vão ficando suspensas no mundo virtual e etéreo da Internet, mas acessíveis para todos, e em qualquer parte deste nosso pequeno mas belo planeta, dão-me coragem para continuar na mesma direcção – a divulgação do livro!

É para vós que este espaço existe pelo que só me resta agradecer todo o apoio e carinho que me têm transmitido…o meu muito obrigado a todos!


O Livro Antigo

Como hoje é dia de festa (pelo menos para mim é, pois comunicar convosco é sempre um grande prazer) trago-vos um exemplo bem ilustrativo daquilo que escrevi.


In-Libris

Da In-Libris | Rua do Carvalhido, 194 | 4250-101 Porto | Portugal recebi uma Newsletter: Conheça o acervo deHistória na estante da In-Libris, onde encontrei uma das obras mais curiosas editadas em Portugal – CARTUCHO.

(Aliás a maioria das imagens e descritivos deste artigo foram retiradas daqui, tentando ilustrar as ideias expressas no texto, pelo que apresento, mais uma vez, o meu agradecimento à In-Libris)



ALEXANDRE (António Franco) & PEREIRA (Helder Moura) & JORGE (João Miguel Fernandes) & MAGALHÃES (Joaquim Manuel). — CARTUCHO. Edição dos autores. Lisboa, 1976, 10x10x9 cm. 21ff. (Indisponível)



Edição muito restrita desta original obra, de manufactura artesanal composta por  20 poemas “amarrotados”, cinco de cada um dos autores, inseridos num cartucho de papel.

(...) O meu pai deu-nos os cartuchos, o cordel e os chumbos que os fechavam. Lá dentro ficaram poemas bem amarrotados. Mandámos imprimir um rótulo com os nossos nomes na tipografia «Proletariado Vermelho», que ficava no meu bairro. Não esquecer que corriam os gloriosos dias de 76! De resto, quando eu e o Joaquim vínhamos da Consolação com a mala do carro cheia de cartuchos acabados de fazer, fomos interceptados por uma operação stop das vigilâncias populares, à entrada da Calçada de Carriche. Ao mandarem abrir a mala do carro e ao verem os cartuchos perguntaram: — «O que é isto?» O Joaquim respondeu-lhes: — «São livros!» Como se de rosas se tratasse! Acharam coisa acertada para a revolução em curso. (Seria este o motivo para o seu poema «28 de Setembro» de Os dias, pequenos charcos) (...)”. — retirado de  Obra Poética, 3.º Volume — Meridional, Vinte e Nove Poemas, Direito de Mentir  de João Miguel Fernandes Jorge.



Não sendo o que normalmente  se designa por livro, este objecto ficou conhecido pela atribuição, dada na altura pela poetisa Fiama Hasse Pais Brandão, – de  “aquilo”.

João Barrento, na Revista Semear 4, no seu artigo Um quarto de século na Poesia Portuguesa, diz o seguinte: “(...) Com a apresentação — de “publicação” dificilmente se poderá falar neste caso — do Cartucho (1976), uma colecção de poemas soltos de quatro poetas (Joaquim Manuel Magalhães, João Miguel Fernandes Jorge, António Franco Alexandre e Helder Moura Pereira) empacotados num cartucho de mercearia e assim vendidos, estamos perante um gesto provocatório e dum desafio — no espírito da “Pop” americana ou da chamada “poesia de consumo” —, e assistimos ao fim da tradição de grupos e das profissões de fé programáticas. 



Os anos sessenta tinham estado ainda totalmente subordinados ao espírito dos Modernismos e das vanguardas históricas. Com este gesto radical (que, na sua espectacularidade neo-dadaísta, é ainda um programa, talvez o último, depois formulado com ira e nostalgia, agora entre as capas de um livro, por Joaquim M. Magalhães no poema de abertura de Os Dias Pequenos Charcos, em 1981), com esse gesto abre-se, em meados da década de setenta, uma nova fase que já se poderia considerar pós-moderna, pelo seu lado lúdico, provocatório e descomplexado (lembremos que o pós-moderno já vem sendo teorizado no Estados Unidos por Leslie Fiedler desde finais da década anterior, e que precisamente esta “geração do Cartucho” tem uma forte ligação ao mundo e à poesia anglo-americanos, nomeadamente à cena Pop). Num certo sentido, os quatro autores do Cartucho já eram então quatro vozes difenciadas, já tinham publicado separadamente e enveredaram depois por caminhos que não se podem dizer coincidentes. 



Esta nova orientação da poesia portuguesa, que se anuncia em simultâneo com a Revolução (“uma pirueta sobre o real demoníaco”, na visão de Vasco Graça Moura em 1976), mas sem com ela ter a ver directamente, é visível também na obra de outros autores que por esses anos ganham maior projecção, com destaque para Nuno Júdice e Vasco Graça Moura. Trata-se de dois poetas cuja obra ficcionaliza progressivamente o espaço lírico, rompe (tal como os poetas do Cartucho) com os registos emocionais e ideológicos e com o pathos lírico anteriores, cultiva uma abertura consciente a novas dicções poéticas e uma ironia por vezes dissolvente em relação a formas e discursos antes sacralizados, com o(s) do próprio Fernando Pessoa, para Vasco Graça Moura, ou, para Nuno Júdice, nas muitas “Poéticas” que enchem os seus livros, a linguagem hierática de sessenta, que um poeta sem escola, mas muito influente, como Ruy Belo, ainda definia nos seguintes termos: “poesia é complicação, é doença da linguagem, é desvio da sua principal função, que será comunicar. Só o poeta fica na linguagem, os outros passam por ela, servem-se dela...” (“Da espontaneidade em poesia”). 



Com os novos poetas inventa-se um novo discursivismo e uma nova retórica que levam, ou à encenação fictícia, no poema, das experiências mais pessoais e mais quotidianas (em Nuno Júdice, Diogo Pires Aurélio), ou ainda, com recurso a um largo espectro de linguagem das formas e de formas de linguagem, ao cruzamento dos grandes temas da tradição ocidental (o tempo e a morte, o amor e a arte) com o registo, em parlando, da circunstancialidade mais comezinha e dos interstícios de uma realidade “demoníaca” intensamente vivida, no caso de Vasco Graça Moura (com David Mourão-Ferreira, ele será o grande poeta doctus de uma época e de uma poesia que, com excepção de João Miguel Fernandes Jorge, irá cada vez mais perdendo as ligações à tradição cultural, para as recuperar hoje), um poeta de grande virtuosismo que assimila heranças que vão de Camões e Cesário Verde a Jorge de Sena, Vitorino Nemésio e Alexandre O’Neill. (...)”.

Aliás este mesmo espécime bibliófilo já tinha sido referido aqui aquando do Leilão da Livraria «Otium Cum Dignitate» a 21 de Novembro de 2009 e que determinou o reparo de um leitor – Edgar Pereira Reis em 17 de Março de 2017 autor do livro: Portugal, poetas do fim do milênio, Rio de Janeiro: Sette Letras, 1999, onde este faz referência a esta obra nas pp.34-39.


 REIS, Edgar Pereira – Portugal, poetas do fim do milênio

Livro que pode ser acedido aqui e do qual recomendo a leitura, pelo menos em suporte virtual.


Ecléctica – Livraria Alfarrabista

E já que se fala na Otium Cum Dignitate refira-se que o Nuno Gonçalves está agora  integrado na livraria da família – Ecléctica – Livraria Alfarrabista | Calçada do Combro, 50 | 1200-115 Lisboa | Portugal  – onde é o responsável pela realização dos catálogos e lançou recentemente o Catálogo XVI.


Catálogo XVI

Sobre este o Nuno Gonçalves escreveu:

“Está disponível para consulta e download o novo catálogo com uma selecção de livros disponíveis para venda na Livraria Ecléctica. De entre as peças apresentadas destacam-se obras como a obra de Nicolau Godinho De Abassinorum Rebus [...], de 1615, primeira edição raríssima de uma das mais importantes descrições daquele reino (lote 124); a revista Graal dirigida por Manuel Couto Viana (lote 129); um muitíssimo curioso relatório publicado em Paris sobre a produção de café ilustrado com dois mapas desdobráveis (lote 144); uma colecção completa do Ciclo Port Wine de Alves Redol (lote 249); ou um bonito exemplar de um dos livros mais importantes publicados no final do século XVII sobre botânica intitulado Élémens de Botanique ou M´ethode pour Connoitre les Plates de Pitton de Tournefort, ilustrado com quase 5 centenas de gravuras (lote 306) ”.


Cólofon – livros antigos edições

E, antes de terminar, já que estamos em maré de poesia, de referir que o bom amigo Francisco Brito da Cólofon  livros antigos edições | Largo Condessa do Juncal, nº 57 |4800-159 Guimarães | Portugal editou um catálogo on-lineÚltimas Novidades de Abril de 2017 - Literatura, poesia, curiosidades de que destaco estes dois volumes de poesia:



1265 - Alegre, Manuel – UM BARCO PARA ITACA. Águeda. Edição de autor. 1971. 62 págs. 16,6 cm. B.

 Primeira edição desta obra de Manuel Alegre, que se tinha estreado como autor anos antes com “O Canto e as Armas”.

Exemplar em bom estado de conservação.

VENDIDO.



294 - Junqueiro, Guerra – O SÉCULO. I. BAPTISMO DE AMOR. Porto. Livraria Cruz Coutinho. 1885. 23.5cm. B.

De 1868 é a primeira edição deste trabalho de Junqueiro, a última das suas produções de juventude depois de Duas páginas dos quatorze anos, 1864 e Mysticae nuptiae, reproduzida com alterações em Vozes sem eco, 1866-67 – raríssimas todas.

No prefácio, encorajante, “no verdor da vida e sem experiência de grandes dores”, Camilo atesta-lhe “duplo talento”, o de sentir e exprimir.

A obrinha traduz a ânsia, dolorosa, do divino, do eterno, uma das vertentes de Junqueiro, pela oratória, em prosa ou verso - a par da atitude política e social, que foi o Junqueiro polemista e panfletário. Aqui – no Baptismo de amor – é a regeneração pela Fé, mas o final é bem diferente n’ A morte de D. João, que publicará em 1874, já em outro período da sua evolução literária, brado de indignação contra o vício, que acaba em aviltosa agonia.

Segunda edição. Prefácio de Camilo Castelo Branco.

Exemplar brochado. Com alguns defeitos nas capas de brochura. Miolo em bom estado. 

Preço: 60 euros.



E assim acabam os “festejos” deste ano, foi com muita alegria que partilhei este momento convosco, espero que nos encontremos todos de novo no próximo ano!

Saudações bibliófilas e boas leituras.

sábado, 30 de abril de 2016

Conversa bibliófila – um aniversário esquecido


No passado dia 28 de Abril completaram-se sete anos da criação deste blogue, onde se dá ênfase ao livro como objecto de comunicação e cultural, mas sobretudo da sua vertente coleccionista.


Sairey Gamp

The face of Mrs. Gamp — the nose in particular — was somewhat red and swollen, and it was difficult to enjoy her society without becoming conscious of a smell of spirits." Martin Chuzzlewit. — Chap. XIX. J. Clayton Clarke ("Kyd") – Watercolour
The John Players cigaret card
Scanned image and text by Philip V. Allingham

Joseph Clayton Clarke, who is best known by his pseudonym “Kyd,” was born in 1857 in Onchan on the Isle of Man. He was versatile an artist who attempted all sorts of subjects, although he is chiefly remembered for his two collections of watercolours of Dickens's quirky characters, The Characters of Charles Dickens Pourtrayed in a Series of Original Water Colour Sketches by Kyd (1889) and Some Well Known Characters from the Works of Charles Dickens (1892). After only one day on the staff of the London humour magazine Punch, he switched 1887 to the Fleet Street Magazine, in which appeared his watercolour illustrations of Dickens's characters without the benefit of backdrops such as American caricaturist Felix Octavius Carr Darley. From 1927 onward Kyd made a very good living from executing watercolour sketches of literary (chiefly Dickensian) characters for wealthy collectors. In personal appearance, the artist affected the style of Dickens's Micawber, including spats and gloves. However, as rising income permitted him to move his growing family out of the metropolis in 1892, he moved not to "Dickens-land" (Rochester, Kent), but to the charming West Sussex town of Chichester.



The Marchioness

Muitos temas, autores, eventos bibliófilos (ou simplesmente relacionados com o livro) e livrarias foram aqui divulgados.

Muita paciência tem tido os meus leitores de me continuarem a ler e de seguir as minhas divagações e escritos.

De Donald A. Heald – Rare books, prints & maps  localizado em 124 East 74th St, New York, NY 10021, USA  apresento:


AUDUBON, John James (1785-1851) – Mallard Duck. From "The Birds of America" (Amsterdam Edition)



[Pl. 221] Amsterdam and New York: Johnson Reprint Corporation and Theatrum Orbis Terrarum, 1971-72. Colour-printed lithograph, on fine hand-made paper. Excellent condition. Image size (including text): 24 1/2 x 37 inches. Sheet size: 26 3/4 x 39 7/8 inches (approx).

In October 1971, employing the most faithful printing method available, the best materials and the ablest craftsmen of their age, the Amsterdam firm of Theatrum Orbis Terrarum Ltd., in conjunction with the Johnson Reprint Corporation of New York, set out to produce the finest possible limited edition facsimile of the greatest bird book ever printed: the Havell edition of John James Audubon's well-loved "Birds of America".

The Curators of the Teyler's Museum in Haarlem, Holland made their copy of the original work available for use as a model. The Museum, founded in 1778, bought their copy through Audubon's son as part of the original subscription in 1839. After long deliberation, the extremely complex but highly accurate process of colour photo-lithography was chosen as the appropriate printing method. The best exponents of this art were the renowned Dutch printing firm of NV Fotolitho Inrichting Drommel at Zandvoort who were willing to undertake the task of printing each plate in up to eight different colours.

The original Havell edition was published on hand-made rag paper and the publishers were determined that the paper of their edition should match the original. Unhappy with the commercially available papers, they turned to the traditional paper manufacturers G. Schut & Zonen (founded in 1625), who, using 100% unbleached cotton rags, were able to produce a wove paper of the highest quality, with each sheet bearing a watermark unique to the edition: G. Schut & Zonen [JR monogram] Audubon [OT monogram].

The publishers and their dedicated team completed their task late in 1972 and the results of these labours were affectionately known as the "Amsterdam Audubon." 250 copies were published and sold by subscription, with the plates available bound or unbound. Given all this careful preparation, it is not surprising that the prints have the look and feel of the original Havell edition.

John James Audubon was born in Les Cayes, Haiti on 26 April 1785. From 1788 to 1803 he lived in France until he was sent to the United States to manage an estate that his father had bought in Pennsylvania. He returned to France in 1805, but his fascination with the United States had taken root and he returned again in May 1806. He married Lucy Bakewell in 1808 and together they embarked on a difficult period financially that was only to be resolved, through Audubon's unshakable and justified belief in his own abilities, with the publication of his masterpiece in 1827-1838.
"The Birds of America" is the single greatest ornithological work ever produced and is the realization of Audubon's dream of traveling throughout the United States recording, natural size, every native bird then known. The 435 double-elephant folio sized plates, printed by the Havells of London, depict some 1,065 different species, the majority drawn from specimens that Audubon himself had captured.
The Havell edition was expensive at the time of publication and this has not changed. Possibly the last complete copy which will ever appear on the market sold for a staggering $8,802,500 in a sale in New York in March 2000. Currently, the increasingly rare individual plates from this edition, when they do appear, generally sell for between $5,000 and $175,000 depending on the image. The quality of the Amsterdam Audubon plates is apparent to any discerning collector and it is becoming ever clearer that they offer the most attractive alternative to the Havell edition plates, given the latter's spiraling prices. [$3,000.00]

Cf. Zimmer, p. 22; cf. Bennett, p. 5; cf. Fries, Appendix A; cf. Wood, p. 208; cf. Nissen IVB 51; cf. Sabin 2364; cf. Ripley 13; cf. Tyler, Audubon's Great National Work , 1993, Appendix I.



ETHIOPIC MANUSCRIPT – Manuscript in Ge-ez script on vellum. Late 19th century or early 20th century. Quarto in 10s and 12s. 192 vellum leaves: comprised of 2 blank leaves, 3 leaves with later drawings on one side only, 1 leaf with later drawing on recto and 9 lines of red and black text on verso, 180 leaves of text in red and black (20 lines per page, 18 pages with polychrome headpieces), 2 leaves with later text in black only, 4 blank leaves. [$2,750.00]



Red goatskin over wooden boards, elaborately panelled in blind, the panels composed from fillets and decorative rolls with occasional roundels, all surrounding a central panel tooled in blind with a Christian cross made up from fillets, decorative rolls and various small tools, the flat spine divided into three compartments with fillets in blind, the compartments similarly decorated with crossed fillets and roundels, red morocco doublures, elaborately tooled in blind, with small central approximately rectangular panel of dark blue velvet, within a red morocco inner slipcase with integral flaps, the exterior elaborately tooled in blind with tools that were also employed on the binding, and attached by straps to an outer carrying case of red morocco, this case with some stitched decoration but also tooled in blind with tools that were employed on the binding.



Provenance: Unidentified ink-stamp on final page of regular text

A beautiful and venerated object, and a reminder of an age before printing.



Unlike most books, the signs of wear on this bound manuscript are signs of care rather than neglect. It is usually spurious to talk of the patina of a book, but the tears, scuffs and careful amateur repairs to the exterior carrying case, the darkened area at one end of the inner slipcase and small worm smooth patch of board that is visible on the upper cover of the binding, these are all signs of a work that is esteemed, like the shining brass toe of a statue of a revered saint. The main body of the text appears to be in a single hand, in red and black ink, with occasional abstract headpieces in three or four colours.

É precisamente para eles que hoje escrevo este breve apontamento, onde não posso deixar de dizer o meu muito obrigado e quanto o seu apoio me sensibiliza e dá alento para seguir no meu modesto contributo para a divulgação da bibliofilia.

O percurso tem sido conturbado com “altos e baixos”, aliás como tudo na vida, mas julgo ter deixado transparecer sempre o meu amor pelo livro como objecto de arte e cultura e, simultaneamente tentar desmitificar o que é a bibliofilia, pois para muitos ainda é um passatempo elitista em vias de extinção.


De Gabriela Gouveia – Livros Antigos - Antiquário| Rua Marcos Portugal, 28-30 |1200-258 Lisboa | Portugal veja-se:
Quental (Antero de) - Poesias avulsas. Conjunto de 7 folhas volantes de poesias publicadas em Coimbra. Coimbra; Imp. da Universidade e Imp. Litteraria, 1862. In-8º de 8 folhas. - Enc. (Reservado)

Conjunto Muito Valioso pois estas folhas volantes são Raríssimas.

Para distribuição no Teatro Académico ou em saraus, Anthero escreve e publica estas folhas volantes com poesias, que em plena crise académica, assentam numa missão Revolucionária, Social e Moral Da Poesia.

O conjunto contém as seguintes poesias;
- Á Distincta Actriz Emilia das Neves e Sousa. - Ao Distinto Actor Simões na recita do seu beneficio em 22 de Março (1862). - Beijo, a Gabriella Florentina. - Gabriella Florentina. - Poesia de Anthero de Quental recitada na noite de 13 de Maio de 1862, no Theatro Academico. - A Gennaro Perrelli, ao artista e patriota italiano. - Á Italia. Poesia recitada no Theatro Academico por A. Fialho Machado, na noite de 22 de Outubro de 1862.

Dado o carácter efémero destas folhas volantes, impressas em papel muito fino e frágil, de cores diferentes, são hoje Raríssimas.

Excelente exemplar, encadernação simples, todas as folhas intactas e limpas.
Raríssima e Valiosa Peça de Colecção.

Estou certo que algumas vezes o tenha conseguido, mas em muitas outras ocasiões errei redondamente (...as minhas sinceras desculpas aos meus leitores).

Atravessámos momentos de grande crise nesta área, consequência da crise económica global e das suas repercussões em todos os países com especial reflexo na classe média, que era um dos pilares do coleccionismo e a principal clientela das livrarias-alfarrabistas, que face ao seu desaparecimento (embora não só, pois o disparar do valor dos arrendamentos também teve a sua importância) se viram forçadas a fechar as portas.

No entanto, outras formas de comercialização do livro (sobretudo na Internet) têm surgido e, ainda que não haja uma clara separação "do trigo do joio”, já se notam alguns dos seus frutos.

E vou terminar com uma temática, que tem sido fruto de uma conversa com o meu estimado amigo Jorge Telles Menezes da Alquimia Livros – o Ocultismo.

Da Les Portes Sombres – livres anciens, rares, occultes et étranges | 5, route de larribère | 64330 BALIRACQ.



SURIN, Histoire abrégée de la possesion des ursulines de Loudun. Paris, Au bureau de l'association du sacré-coeur, 1828. (2)+ 365 pp. + table. in-12  10,5 x 17  cm. Reliure  plein cuir, petits frottements. Papier avec rousseurs importantes sur les premières page (voir photo page de titre) plus éparses dans le reste de l'ouvrage.Tampon d'une bibliothèque religieuse sur la page de tite.
            


"L'ouvrage du Père Surin est certainement le plus extraordinaire qui ait été écrit sur cet épisode dramatique de la démonologie en France. On sait que ce religieux joua dans l'affaire un rôle très actif, en qualité d'exorciste et cruellement passif comme possédé.



Son point de vue mis hors de cause, restent les détails truculents de ce procès célèbre et parfois scabreux en ce qui concernent surtout les rigoureuses disciplines qu'il infligeait aux démons à travers la chair des malheureuses nonnes qui évidemment devaient hurler comme de beaux diables.

Tous ces sévices sont narrés avec une naïveté qui désarme. En dehors de sa curiosité même, l'ouvrage du Père Surin, qui contient en outre tout un traité de démonologie est un des plus rares sur la possession de Loudun."  Caillet

Caillet (III, 10444), Yve-Plessis (1307)

Estamos a assistir ao fim de uma geração de bibliófilos, que ao se desfazerem das suas grandes bibliotecas, na maioria em leilão – um pouco por todo o mundo – permitem que os seus livros, ao se dispersarem, irão enriquecer as bibliotecas da próxima geração: é o ciclo habitual da vida!

E assim com alguns novos exemplares entremeados (que não entremezes que são bastante mais curiosos...) fica esta modesta celebração tardia de uma data que para mim é festiva e já com um certo orgulho da mesma.

Saudações bibliófilas.

terça-feira, 28 de abril de 2015

No 6º Aniversário da “Tertúlia Bibliófila” – Algumas reflexões


No dia do 6º aniversário da “Tertúlia Bibliófila” vou aproveitar para trocar algumas impressões convosco.


As mãos que manuseiam os livros…
[Gravura de Albrecht Dürer]

Em primeiro lugar, nunca é demais referir que sem o vosso apoio – tanto pelo número de leitores, como pelos comentários deixados ou até por contacto pessoal – não teria a motivação para continuar com este trabalho.

Deste modo, este aniversário deverá ser encarado como uma festa de todos nós – os bibliófilos que gostam de falar sobre livros – mas sobretudo daqueles que vão tendo paciência para me lerem!

A Libreria Anticuaria La Galatea publicou uma fotografia no Facebook (que com a devida vénia aqui insiro), que espelha bem o esforço que representa elaborar um simples “escrito” (nem me atrevo a chamar-lhe artigo), pois que para isso as pesquisas teriam de ser muito mais abrangentes, cuidadas e, sobretudo, trazerem à luz algo de novo.


Agradecidos de la vida, con amigos y libros... Sobre todo buenos amigos...
El profesor Rico ejerciendo de librero por un día...
©Libreria Anticuaria La Galactea

Como muitos dos meus leitores são de várias nacionalidades e eu, sempre que possível gosto de ler os escritores estrangeiros nas suas línguas originais, passaram também por aqui um conjunto interessante de autores estrangeiros com alguma relevância.

Deixou-se uma “pincelada” numa tela muito vasta daquilo que se poderia ter escrito, ou dito, sobre estes mesmos autores.

O leitor

Com efeito, como bibliómano inveterado, que o sou, delineie alguns dos perfis dos autores que compõem o meu universo literário – nem sempre coincidente com o vosso (e ainda bem!).

Mas vejamos alguns desses exemplos:

Comecemos com Charles Dickens.


Charles Dickens - uma sessão de leitura

E cite-se uma das suas várias obras:



Our Mutual Friend, the last complete novel by Charles Dickens, began serialization in May, 1864


Tivemos também aqui Victor Hugo.


Victor Hugo



HUGO, Victor – Les Châtiments. Nouvelle édition illustrée. Eugène Hugues, Editeur, rue Thérèse, 8, Paris, s.d. (1884). Paris, Typographie A. Quantin, rue St-Benoit, 7. 1 volume grand in-8 (28,7 x 20 cm) de (10)-335 pages.

Broché, couverture saumon illustrée (vignette sur le premier plat). Réclame pour l’édition Hugues des Œuvres de Victor Hugo (détails). Non rogné. Exemplaire sur papier de chine. Quelques légères colorations par endroit sur les deux plats de couverture. Infimes fendillements du papier de couverture au dos (brochage très solide). Absolument aucune rousseur.
Texte encadré d’un filet noir, les illustrations à pleine page sont comprises dans la pagination. Les dessins sont d’Emile Bayard, J.-P. Laurens, Férat, Méaulle, Chovin, H. Vogel, L. Benett, Charles Hugo, Victor Hugo, T. Schuler, Ferdinandus, A. Lançon, H. Daumier, Lix. D. Maillard, G. Vuillier, A. Marie Chapuis, L. Mouchot, et C. Guyot.
UN DES 50 EXEMPLAIRES SUR PAPIER DE CHINE (N°20).

Assim como Emile Zola.


Émile Zola
[Portrait d'Émile Zola avant 1880]



ZOLA, Emile  - Le Docteur Pascal. Paris, Bibliothèque-charpentier, 1893. In-8° relié 19 X 13 centimètres, demi-maroquin à coins, reliure à la bradel, dos orné d'ellipses, tête dorée, couvertures conservées.

Reliure signée Ch. Meunier. (Reliure en très bon état).
Il y juste une minuscule tâche brune sur le bord de 3 ou 4 pages.
Il y a bien le tableau dépliant, un portrait et 390 pages.
L'un des 340 exemplaires numérotés sur papier de Hollande, édition originale.
Bel exemplaire.
Une autre édition est parue la même année.

Os autores portugueses também não foram esquecidos e assim podemos ver Antero de Quental:



Antero de Quental



QUENTAL, Antero de – Beatrice. Coimbra; Imprensa da Universidade, 1863. In-4º de 39 [1] pag. - Encadernado. Primeira Edição. Segundo livro de poemas do autor, e um dos mais raros da sua bibliografia. Publicado dois anos depois dos "Sonetos". Muito bonita encadernação com lombada em pele decorada com finos ferros a ouro. Conserva intactas as capas de brochura. Excelente exemplar. Muito Rara Peça de Colecção.

Claro que Camilo Castelo Branco não podia faltar.


Camilo Castelo Branco, visconde de Correia Botelho




CASTELO BRANCO, Camilo – BOHEMIA // DO // ESPIRITO // POR // CAMILLO CASTELLO BRANCO // (vinheta editorial) // PORTO // LIVRARIA CIVILISAÇÃO // 4, Rua de Santo Ildefonso, 6 // - // 1886. In-8.º gr de 454-I págs. Encadernado.

Compreende ante-rosto com os dizeres BOHEMIA DO ESPIRITO e verso em branco; frontispício textualmente descrito supra e verso com subscrição tipográfica TYP. DE ARTHUR JOSÉ DE SOUSA & IRMÃO // Largo de São Domingos, 58 – Nº telephonico, 131; página 5ª com PREAMBULO datada na página seguinte; o texto propriamente dito inicia-se na página 7 e decorre até à página 454 incluindo as ERRATAS e o INDICE.
PRIMEIRA EDIÇÃO apreciada colectânea de escritos, primitivamente dada a lume em diversas publicações. BASTANTE INVULGAR. Junto ao frontispício vem um bom retrato de Camilo.
Encadernação francesa inteira de chagrin azul, com dourados, não contemporânea. Sem capas de brochura. Bom exemplar, limpo.

Vergílio Ferreira e a minha ligação ao meu velho Liceu Camões também não podiam faltar:


Vergílio Ferreira no Liceu Camões (1981)



FERREIRA, Vergílio – Onde Tudo Foi Morrendo. Coimbra; Coimbra Editora, Ldª. 1944. In-8º de VIII-436 [2] p. Encadernado. Primeira Edição.

Primeira e muito rara edição do segundo livro do autor, da qual deixamos as primeiras linhas: "Pela janela aberta vem a poesia da dispersão. Tudo se calou naquela hora sombria. E longa. As árvores quedaram-se, transidas de frio, de braços nus erguidos ao céu. Mas o céu escondera-se porque os ventos lhe tinham desdobrado nuvens espêssas pela curva abatida. Então os homens ficaram tristes, olhando, em silêncio, a planície sem fim. Rostos enegrecidos, barba crescendo, negra e negra, sempre crescendo, olhos necessitados inundando o ar... Pelo céu recôncavo ecoam uivos fundos de cães que choram lá para as bandas do cabo do mundo. Lamentos de uma angústia tôrva. Por isso o azul do céu foi sorrir para as terras do Sol. E a aldeia começou a fugir também para as terras do Sol. Só aquela janela aberta olha a tristeza das árvores abandonadas e derrama na saleta escurecida a desolação do Outono.(...)."

Capa de Regina Kaspizykowi, mulher de Vergilio Ferreira.

Integrada na colecção Novos Prosadores, que lançou os primeiros romances do neo-realismo português.
Apreendido pela censura política da época.
Excelente exemplar.


Crianças numa livraria.
(será este o futuro da bibliofilia…é nele que temos de apostar!)

Um outro tema que me tem chamado a atenção é o uso/abuso do termo RARO.


Vamos falar de raridades….

Com efeito, quando folheamos catálogos de livreiros-antiquários para venda a preço fixo, ou para um leilão, encontramos a indicação no descritivo de um determinado livro: RARO.

No entanto, é frequente já termos deparado com esta mesma classificação noutros catálogos que consultáramos recentemente ou apareceram noutras vendas/leilões, há pouco tempo, e sempre com esta mesma indicação de raro! 
(mas se o livro aparece assim tantas vezes, será que é mesmo raro ou será uma grande coincidência?)

E isto para não falarmos nos diversos graus: RARO, MUITO RARO e RARÍSSIMO!

(Nunca me esqueço duma frase do meu prezado amigo Luís Gomes: “Um livro ou é raro ou não o é!” – e penso que tem razão apesar da sua simplicidade classificativa)

Mas afinal como se poderá definir a raridade de uma obra?

Claro que nenhum bibliófilo português terá escrúpulos em aceitar a raridade desta obra.:

QUENTAL, Antero – SONETOS // DE // ANTHERO// Editor – Sténio // COIMBRA // Dezembro 1861. In 8º gr. De XII-23-III págs.

É muitíssimo raro (e lá me fugiu o dedo para adjectivar a raridade!) pois são conhecidos muitos poucos exemplares e é seguramente uma das mais raras espécies bibliográficas de toda a literatura portuguesa.

(O último exemplar vendida foi aquando do leilão da Biblioteca do Dr. Laureano Barros – lote 4955, ex-Biblioteca de V. Avilez Perez que tinha sido vendido no leilão da mesma por 500$ e já lá vão mais de mais de 40 anos!)

Fiquemos por esta edição, que não é assim tão má:



QUENTAL, Antero de – Sonetos / Antero de Quental.
Porto: Imprensa Portugueza, 1881. - 32, [4] p. ; 19 cm.
(Bibliotheca da Renascença)

Obviamente que se consideram nesta categoria, como regra geral, todas as primeiras edições de uma obra e, em especial das primeiras produções literárias de cada escritor.
Também se devem incluir, em minha opinião, nesta categoria as chamadas edições especiais de tiragem muito limitada. (Não confundir com tiragens comemorativas que essas são geralmente em tiragens de maior número de exemplares.)

Tomando como ponto básico a premissa acima referida, em minha opinião, devem ser incluídas aqui apenas exemplares cuja edição foi de pequena tiragem (poucas centenas de exemplares), obras que sofreram processos de destruição (as purgas inquisitoriais ou políticas fruto da censura religiosa ou política) ou ainda aquelas escassas edições que o seu autor decidiu destruir posteriormente depois de publicadas e de que se salvaram pouquíssimos exemplares.


Estado Islâmico incendeia biblioteca de Mossul, queimando 8 mil livros raros

Deste modo, são obras de que são conhecidos poucos exemplares, ausentes muitas vezes mesmo das instituições estatais – bibliotecas nacionais ou museológicas.

Mas talvez seja mais prático ilustrar com alguns exemplos:




ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner – Poesia. Edição de autor, Coimbra, 1944. In-8º de 85-(3) págs. Encadernação inteira em sintético com dizeres e florões a ouro. Folha de guarda, ante-rosto e rosto com poemas escritos a tinta (não autógrafos). Foram publicados apenas 300 exemplares.
MUITO RARO.

Primeiro livro da poetisa, publicado em 1944.
Espero
Espero sempre por ti o dia inteiro,
Quando na praia sobe, de cinza e oiro,
O nevoeiro
E há em todas as coisas o agoiro
De uma fantástica vinda.


Livraria Alfarrabista Miguel de Carvalho

Na livraria Livros Antigos de Gabriela Gouveia temos um outro clássico em termos de raridade:



NOBRE, António – . Paris; Léon Vanier, Éditeur. 1892. In-8ºgr. de VI-157-III págs. - Encadermado.
Primeira Edição.

Primeira, mais rara e muito valiosa edição de um dos maiores e mais queridos livros de Poesia Portuguesa, absolutamente fundamental na história da Poesia portuguesa de todos os tempos, numa sóbria e esmerada edição em papel de linho impressa em Paris.
Tiragem limitada a apenas 230 exemplares.
Excelente exemplar. Magnífica encadernação com lombada e cantos em pele e gravação a ouro. Assinada Fersil Porto.
Ex-libris de Nuno Francisco Sttau Monteiro Ferreira da Silva, no interior da encadernação.
Conserva as raras capas de brochura com as respectivas badanas e a lombada em excelente estado, por aparar.
Muito Rara Peça de Colecção.



«A Paródia em Coimbra», caricatura de Rafael Bordalo Pinheiro
que parece representar o poeta António Nobre rodeado de símbolos universitários,...

E já agora que estamos em maré de poesia veja-se este outro exemplar da mesma Livraria:



SÁ-CARNEIRO, Mário de - Dispersão. 12 Poesias por… Lisboa: Em casa do autor, 1 Travessa do Carmo, 1913. In- 4º gr. de 70[2]p. - Encadernado.

Raríssima e Muito Valiosa
Primeira Edição.
Tiragem única de 250 exemplares.
Obra de extrema   importância  na  literatura  modernista  portuguesa.
Admirável capa de brochura, ilustrada a cores e ouro, por José Pacheco (ilustrador da capa do nº 1 da revista Orpheu).
Capa que tem a particularidade de possuir margens consideravelmente maiores do que as dimensões do corpo do volume, daí que sejam raros os exemplares que a mantenham na sua integridade. 
Excelente exemplar, com as capas de brochura em perfeito estado de conservação. Encadernação sóbria inteira em pele, com gravação a ouro na lombada.
Valiosa Peça de Colecção.


Livraria Livros Antigos de Gabriela Gouveia

Um outro aspecto que não se pode deixar de considerar é o preço destas raridades: a obra pode ser mesmo rara, mas o seu conteúdo e qualidade literária é tão pobre que o valor é quase nulo; enquanto outras obras que levam a classificação de INVULGAR/POUCO COMUM podem atingir preços muito mais altos, pois embora existam mais exemplares disponíveis no mercado, a procura é tanta que o valor sobe em função dessa mesma procura.

Evidentemente que não se trata dos exemplares referidos acima!

Mas nem só de raridades vivem os bibliófilos – ainda que sonhem com elas constantemente e muitas vezes na miragem de uma “descoberta” quase milagrosa numa livrariazita perdida no mapa ou num livreiro distraído (é tão fácil sonhar…), pois temos muitos outros livros importantes para ler ou adquirir. 

Como disse o meu amigo Eduardo De Blas Duport “!Tantos libros….! y tan poco tiempo!”


!Tantos Libros...!y tan poco tiempo
©Eduardo De Blas Duport

Aqui vos deixo estas reflexões com um convite à vossa participação na discussão dos temas e espero que para o ano nos encontremos aqui de novo.

Assim eu continue a ter “alguma arte e engenho!” para ir escrevinhando alguns "textozitos" e também disposição para isso…pois que esta já me começa a faltar por vezes.


Saudações bibliófilas.