sábado, 1 de dezembro de 2012

Bento Morganti – um escritor português



MORGANTI, Bento, 1709-?
[Escudo de armas do Conde Redondo]
[Visual gráfico : [vinheta] / B. Morganti del. 1734 ; G. F. L. Debrie sculp.. - [S.l. : s.n.], 1734.
1 gravura : água-forte, p&b

Bento Morganti nasceu em Roma, filho de pais portugueses, em 13 de Outubro de 1709. Veio muito novo para Portugal.
Estudou no Colégio de Santo Antão e formou-se em Direito Canónico na Universidade de Coimbra. Era um presbítero secular com um benefício na Basílica de Santa Maria. Desconhece-se o local e data do seu falecimento, mas deverá ter ocorrido depois de 1765 (data da sua última obra impressa, visto não ser considerada publicação póstuma)

Bento Morganti também escreveu sob o pseudónimo de José Acúrsio de Tavares.


Bibliografia:

1737 - Nummismalogia ou Breve recopilação de algumas medalhas dos emperadores romanos, de ouro, prata, e cobre, que estão no Museo de Lourenço Morganti

MORGANTI, Bento. 1709-? – Nummismalogia ou Breve recopilação de algumas medalhas dos emperadores romanos, de ouro, prata, e cobre, que estão no Museo de Lourenço Morganti... a que se ajunta huma Bibliotbeea de todos os autores, que escreverão de medallias, e inscripçòes antigas. Parte primeira... Por Bento Morganti. Lisboa Occidental: Joseph António da Sylva, 1737. 36, LXVI, 176 p.: il.; 20 cm.



1742 - Dissertação histórica e crítica: sobre a inscrição que existe no Campo de Santa Ana da Cidade de Braga

MORGANTI, Bento. 1709-? – Dissertação historica e critica: sobre a inscripção que existe no Campo de Santa Anna da Cidade de Braga... / dada à luz pelo Doutor Mathias Pinheiro de Azevedo; escrita pelo...Bento Morganti. Lisboa: Na Reg. Offic. Sylviana, 1742. [8], 51 p. ; 23 cm

1750 - Descrição fúnebre das exéquias, que a Basílica Patriarcal de S. Maria dedicou à memória do... Rei D. João V.



MORGANTI, Bento. 1709-? – Descripção funebre das exequias, que a Bazilica Patriarchal de S. Maria dedicou à memoria do Fidelissimo Senhor Rey Dom Joaõ V / escrita, e delineada por Bento Morganti…: Lisboa: Na Officina de Francisco da Silva, 1750. [8], 52 p. : 4 est.; in 4º (22 cm)

As gravuras (das quais uma desdobrável) executadas por Michel Lebouteux segundo desenhos de Bento Morganti e gravados por G.F.L. Debrie. Destaque-se um retrato gravado de D. João V bem como as capitulares gravadas no texto.


Gravura desenhada por Bento Morganti

Com a morte de João V (1689-1750), rei de Portugal, depois de quase 50 anos de reinado, as suas exéquias realizaram-se na Basílica de Santa Maria em Lisboa.

Na primeira parte compõe-se da descrição das decorações funerárias escritas por Morganti, que também criou a maioria dos desenhos utilizados para as placas onde se inclui a vinheta castrum doloris sobre o catafalco, ornatos com numerosas inscrições lembram as virtudes e acções do rei falecido.

A segunda parte do trabalho apresenta o texto da oração fúnebre proferido pelo Padre Timotheo de Oliveira.

1752 - O Anónimo repartido pelas semanas para divertimento e utilidade do público

MORGANTI, Bento. 1709-? – O Anonymo repartido pelas semanas para divertimento e utilidade do publico. Lisboa: Na Officina de Pedro Ferreira, 1752. 16 p., 20 cm.



MORGANTI, Bento. 1709-? – Carta de hum amigo para outro, em que dá succinta noticia dos effeitos do terremoto succedido em o primeiro de Novembro de 1755. Com alguns principios Fisicos para se conhecer a origem, e causa natural de similhantes Phenomenos terrestres. Lisboa: Na Offic. de Domingos Rodrigues, 1756. 16 [1] p.; 20 cm. Inocêncio I, p. 350

Opúsculo, como no seguinte, onde faz referência ao sucedido em Lisboa como consequência do terramoto de 1755, o qual foi objecto de várias publicações na Europa, pois foi um sismo com proporções e um grau de destruição perfeitamente devastadoras.


Gravura em cobre de 1755 mostrando Lisboa em chamas e o tsunami varrendo o porto


Ruínas de Lisboa. Após o terramoto os sobreviventes viveram em tendas nos arredores da cidade, como ilustra esta gravura alemã de 1755.

1756 - Verdade vindicada ou resposta a uma carta escrita de Coimbra, em que se dá notícia do lamentável sucesso de Lisboa no dia 1 de Novembro de 1755

MORGANTI, Bento (Jozé Acúrsio de Tavares). 1709-? – Verdade vindicada ou resposta a huma carta escrita de Coimbra, em que se dá noticia do lamentavel sucesso de Lisboa no dia 1 de Novembro de 1755 / escrita por José Acursio de Tavares... Lisboa : na Officina de Miguel Manescal da Costa, 1756. 32 p. ; in 4o (20 cm). Barbosa Machado 4, 74, Inocêncio 18, 256.




MORGANTI, Bento. 1709-? – Breve discurso sobre os cometas, em que se mostra a sua natureza, sua duraçaõ, seu movimento, sua influencia, e a sua Regiaõ &c. Escrito por B.M.- Lisboa: na Off. de Francisco Borges de Sousa,, 1757. 21, [2] p. ; 20 cm.

A 1ª edição foi publicada para contrariar a ideia de que um cometa prevê uma grande catástrofe ou desastres. O trabalho explica que os cometas são fenómenos naturais, com uma explicação mais leiga do que científica, do seu significado astronómico e explica que eles não têm nenhuma influência sobre os acontecimentos terrestres. O cometa Halley apareceu em 1759. A impressão de uma 2ª edição em 1818 coincidiu com o aparecimento de um cometa diferente e destinava-se, também, a tranquilizar os rumores de desgraça iminente.

Innocêncio I, 350 (refere apenas 21 pp.), XVIII, 249. Fonseca, Pseudonimos, p. 102. Coimbra, Miscelâneas 6439, 8053. OCLC: 64234425 (Houghton Library, Newberry Library, Bayerische Staatsbibliothek). Conhecem-se três exemplares na Biblioteca Nacional de Portugal (com 21, [2] pp.) e uma da edição de 1818 (Breve discurso sobre os cometas, em que se mostra a sua natureza, a duração do tempo da sua apparição, sua nenhuma influencia sobre o mundo, e nos diversos acontecimentos que no mesmo se observão) na Biblioteca Nacional de Portugal). Não localizado no Copac.



1757 - Carta em resposta ao discurso sobre os cometas

MORGANTI, Bento (Jozé Acúrsio de Tavares). 1709-? – Carta em resposta ao discurso sobre os cometas / escrita por Jozé Acursio de Tavares... Lisboa: na Off. de Francisco Borges de Sousa, 1757. 23, [5] p.; 20 cm.
 



MORGANTI, Bento (Jozé Acúrsio de Tavares). 1709-? – Sustos da vida nos perigos da cura, ou carta, que hum amigo escreveo a outro, estando convalescendo, depois de huma enfermidade. / [Jozé Acursio de Tavares]. Lisboa: Na Officina de Miguel Manescal da Costa, Impressor do Santo Officio, 1756. 16 p.; 20 cm. (Exemplar na BNP)



MORGANTI, Bento (Jozé Acúrsio de Tavares). 1709-? – Sustos da vida nos perigos da cura, ou carta, que hum amigo escreveo a outro, estando convalescendo, depois de huma enfermidade. / [Jozé Acursio de Tavares]. Lisboa: Na Offic. de Antonio Vicente da Silva, 1758. 16 p.; 20 cm. (Exemplar digitalizado)

A este propósito leia-se o último parágrafo deste opúsculo, onde de uma forma mordaz critica as práticas médicas da época:

Finalmente, por nao cansar mais a V. m. e eu estar tambem já cansado de escrever, naõ digo o muito, que me occorre a este respeito, e só peço a V. m. que tenha muito cuidado em conservar sem desordens a vida, para lograr hum estado de perfeita saude, e naõ chegar a ter necessidade de cahir no erro commum de chamar Medico,{16} que naõ seja Medico, que lha destrua de todo; e esta diligencia de chamar Medico bastará que V. m. a reserve para a ultima enfermidade, para mostrar que naõ deixa de morrer à moda; ou tambem, quando por muito velho, e achacado se enfastiar de viver, quizer livrar-se desse embaraço por meyos competentes, que fique salva a sua consciencia, porque elles teraõ todo o cuidado de lhe dar a morte embrulhada em alguma emulsaõ, ou dentro de hum frango, lembrando-se que obraõ nisto huma especie de caridade, verificando que a respeito de huma vida cheya de padecimentos naõ he pena a morte, mas sim o fim, e complemento de todas as penas, como escreveo hum discreto: Mors non poena, sed ultima poenarum est. Mas se por acaso, ou fatalidade lhe succeder o contrario, que antes disto lhe seja preciso recorrer a elles pelo costume, encolha os hombros, e console-se com Ouvidio, dizendo: Me quoque fata ligant. Ainda que lhe recommendo muito, e me cuide em fugir, quanto lhe for possivel, destes tres inimigos do corpo, assim como Christaõ deve fugir dos da alma, pois se os da alma, que saõ mundo, diabo, e carne, a arruinaõ por natureza, assim o Medico, Cirurgiaõ, e Boticario tem por officio destruir a saude, e arruinar o corpo. Eu terei grande gosto de saber que V. m. passa livre de necessitar valer-se de semelhantes inimigos, que eu, graças a Deos, por agora escapei por occulta providencia dos ordinarios effeitos das suas obras, e fico muito prompto para me empregar no serviço de V. m. que Deos guarde muitos annos. Lisboa, 20. de Abril de 1756.

De V. m.
Muito amigo, e criado
Jozé Acursio de Tavares.



MORGANTI, Bento. 1709-? – Juizo verdadeiro sobre a carta contra os medicos, cirurgioens, e boticarios ha pouco impressa com o titulo de sustos da vida nos perigos da cura: exposto em huma carta de hum amigo a outro, que sobre ella lhe pedio o parecer. Lisboa: Na Officina de Joseph Filippe, 1758. 24 p. ; in 4º, 20 cm. Inocêncio I, 349

Leia-se a propósito a introdução, que transmite de modo mais “refinado” a sua atitude crítica sobre as mesmas práticas:

Meu amigo, e Senhor, satisfazendo á sua recomendaçaõ de lhe enviar os papeis coriosos, que sahirem nesta Cidade mais bem compostos, e recebidos; remetto a v. m. esse que a semana passada se publicou com o titulo de Sustos da Vida nos Perigos da Cura, taõ agradavel aos curiosos, como aos medicos odiozo. E ainda que sei, que v. m. naõ he muito inclinado a obras satyricas, com tudo me parece, lhe naõ desagradará, pelo que tem de discreta. Eu desejara que v. m. agora se achasse nesta Cidade para ouvir os pregoens dos cegos; pois naõ contentes com o primeiro titulo, para dar mais clara noticia da obra, apregoaõ; Carta contra os Medicos, Cirurgioens, e Boticarios (verdade he, que naõ lhe levantaõ nenhum testemunho) e por fazer pirraça aos mesmos servindose dos olhos dos moços, pois elles naõ pódem ser testemunhas de vista, ás portas de Boticarios, e na passagem dos Medicos, e Cirurgioens levantàõ com mais forte, e duplicada vós o pregaõ da sua fazenda, alguns sugeitos tenho ouvido louvar muito este papel de discreto, e util á republica, para que se desenganem com estes homicidas disfarçados. Eu porèm com juizo indiferente, espero pelo seu parecer, para que instruindo-me como costuma, eu possa julgar com acerto. Deos guarde a v. m. &c.

1758 - Relação panegírica das exéquias que a Irmandade de N. Senhora Mãe dos Homens, sita no Convento de S. Francisco de Xabrégas fez ao seu instituidor, e Director o M. R. Padre Fr. João de N. Senhora

MORGANTI, Bento. 1709-? – Relaçaõ panegyrica das exequias que a Irmandade de N. Senhora Mãy dos Homens, sita no Convento de S. Francisco de Xabregas fez ao seu instituidor, e Director o M. R. Padre Fr. João de N. Senhora... / escripta por Bento Morganti... Lisboa : [s.n.], 1758. 49 p.; 21 cm.

1758 - Breves reflexões sobre a vida económica a qual consiste nos casamentos, na criação, e educação dos filhos e em adquirir, e conservar os bens

MORGANTI, Bento. 1709-? – Breves reflexões sobre a vida económica a qual consisto nos casamentos, na criação, e educação dos filhos e em adquirir, e conservar os bens, (...) / Ordenadas Por Bento Morganti. Lisboa : Of. de Joseph da Costa Coimbra 1758. 8 fl. 127 p.; 15 cm

1765 - Aforismos morais, e instrutivos, úteis a, todo o género de pessoas

MORGANTI, Bento. 1709-? – Afforismos moraes, e instructivos, uteis a, todo o genero de pessoas ; Nos quaes se achão documentos necessários para a boa instrucção da vida civil, e christã : compilados, e dispostos em centurias para com mayor facilidade convidarem à sua lição... / por Bento Morganti. Lisboa: Of. Manoel Coelho Amado, 1765. 12] 172 p. ; 16 cm

A BNP possui, para além das obras referidas, dois manuscritos provenientes da Livraria Antiquária do Calhariz:

[Bilhete do Padre Bento Morganti para o Sr. Bertrand solicitando-lhe o envio das obras do P.e Nidendorff no caso de as possuir] [Manuscrito] [1] f. ; 8x21 cm

[Apontamentos sobre certas curiosidades relativas a figuras da Antiguidade e sobre o significado de algumas pedras preciosas] [ Manuscrito / [Bento Morganti] [5] f. ; 22 cm

Aqui deixo este esboço bio-bibliográfico sobre um autor português pouco conhecido e sobre o qual me foi muito difícil “descobrir “dados.

É o resultado dessa pesquisa que partilho convosco.

Sendo um autor que não poderemos de modo algum considerar de grande valor literário tem, para mim, o interesse particular de nos dar a sua visão sobre alguns acontecimentos, bem como dos hábitos e de algumas actividades profissionais, da época que são sempre de alguma utilidade para quem gosta de ler e conhecer um pouco mais da nossa história.

Sob o ponto de vista bibliófilo, pelo que consegui averiguar, as suas obras aparecem raramente e atingem valores moderadamente elevados (encontrei apenas uma obra à venda e referência a outra vendida num dos leilões da Christie's em 2009).

Saudações bibliófilas.

Notas:

(*) Acesso a obra digitalizada.
(dado a tratarem-se de pequenos opúsculos convido-vos a lerem alguns deles para conhecerem um pouco melhor a obra deste escritor.)

Fontes consultadas:

PORBASE- Fonte Nacional de Dados Bibliográficos da Biblioteca Nacional de Portugal.


4 comentários:

  1. Buen repaso a un autor típico de la ilustración con libros variados, sin faltar los dedicados a les exèquias reales.

    Impresionante el del terremoto de Lisboa, acontecimiento que impactó a toda Europa y que nuestro autor recoge, con ilustración, en el libro que nos presentas.

    Gracias por divulgar figuras ilustradas como esta de difícil acceso.

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  2. Galderich,

    De facto existem escritores, que não deixaram obra literária marcante, caso de Bento Morganti, mas que pelo conjunto da sua obra nos permitem conhecer um pouco melhor a sua época.

    É curioso como a sua produção literária se estende por várias áreas: acontecimentos astronómicos (caso dos cometas), o terramoto de 1755, exéquias reais e não só, arqueologia (caso de Dissertação histórica e crítica: sobre a inscrição que existe no Campo de Santa Ana da Cidade de Braga), numismática, critica social (críticas das "prátics médicas" e outros textos sobre certos costumes).

    Convirá também não esquecer o seu inegável talento como desenhador, pois executou muitas das ilustrações das suas obras.

    Mesmo assim foi-me muito difícil encontrar dados mais credíveis e detalhados sobre a sua biografia e bibliografia (no entanto, penso ter referido tudo aquilo que escreveu)

    Um abraço

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  3. Rui, informações muito interessantes essas que apresenta no post.

    Abraços de além-mar,

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  4. Meu caro Rui Martins, muito obrigado pelo seu valioso trabalho ao compilar a bibliografia de Bento Morganti, de facto pouco conhecido. Encontrei-o por acaso,naquelas pesquisas que nos obrigam a ir até bem ao fundo. Foi a propósito da Farsa dos Físicos de Gil Vicente e da necessidade que tive em caracterizar a arte médica do sec XVIII. É uma preciosidade porque, como diz, em "Sustos da Vida" o autor é sarcástico" e cruel mas, é-o ainda mais quando refina a sua critica em Juizo Verdadeiro.

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