"Se não te agradar o estylo,e o methodo, que sigo, terás paciência, porque não posso saber o teu génio, mas se lendo encontrares alguns erros, (como pode suceder, que encontres) ficar-tehey em grande obrigação se delles me advertires, para que emendando-os fique o teu gosto mais satisfeito"
Bento Morganti - Nummismologia. Lisboa, 1737. no Prólogo «A Quem Ler»

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Conversa bibliófila: outras formas de escrita...



Hotel Palace Bussaco

Hoje proponho-vos um passeio. vamos até ao Palace Hotel do Bussaco.

Depois de se admirar este maravilhoso hotel, bem enquadrado pelos seus jardins, porque não nos aventurarmos a dar um passeio pela mata do Buçaco.


Hotel Palace Bussaco
Jardins

É um óptimo exercício, bastante benéfico para a saúde, e, sobretudo, para relaxar o espirito.
Foi isto que fiz há alguns dias.


Vale dos Fetos

Durante o meu passeio e, sempre com a minha curiosidade inata de tentar descobrir algo diferente, foi com certo entusiasmo que encontrei este poema que aqui vos deixo:


«Flores para Sylvia»

Não me atraiu a atenção pela elevada qualidade do poema, mas, sobretudo, pela forma da sua “publicação”: um painel de azulejos quase escondido na mata! Para todos aqueles, como eu que tanto gostam de livros, não devemos esquecer que a escrita também pode, e deve ser, divulgada de outras formas.


«Flores para Sylvia»
Pormenor

Bom passeio ... e boa pausa para estas, ou outras leituras, ouvindo o chilrear dos pássaros e o murmúrio da água, nos seus cursos, antes de mergulhar nos pequenos lagos.


“Assinatura” do autor

Prometo voltar em breve com textos “escritos” ou “manuscritos”, pois é esse o nosso objecto de estudo e divulgação, mas como já tenho dito: nem só de livros se alimenta o nosso espírito. Há toda uma vida para ser vivida e desfrutar dos seus prazeres!


Pormenor da pintura dos azulejos

Como diz Gabriel García Márquez: “La vida no es la que uno vivió, sino la que uno recuerda y cómo la recuerda para contarla." in «Vivir para contarla» (Barcelona, Mondadori, 2002. 2. ª edição)

Saudações bibliófilas.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

«Livraria D. Pedro V» - A recordação do “mestre”!



Livraria D. Pedro V
Rua D. Pedro V - Lisboa

Num apontamento, que escrevi há pouco tempo, sobre os meus primórdios bibliófilos, veio-me logo à memória a «Livraria D. Pedro V» e, sobretudo, a personagem, para mim incontornável, do seu fundador – o Sr. Magalhães.

Era, na altura, um autêntico "oásis" no panorama dos Livreiros-Antiquários (e, infelizmente, não só para mim).

Claro que outros existiam, dos quais conheci alguns e outros não. mas falo deste por ser aquele que mais me marcou e pelo facto, para mim importante, de me ter ensinado só pelo seu gosto pelos livros que não para cativar um cliente que não o era nem tinha possibilidades para isso (pelo menos a curto prazo)

Fui sua visita assídua, enquante estudante, nos finais dos anos 60 e durante quase toda a década de 70, praticamente durante o início da sua actividade como livreiro alfarrabista, mas por razões pessoais e profissionais, que me afastaram de Lisboa, deixei o seu convívio.

Considero o Sr. Magalhães como o meu primeiro “professor” e, talvez o principal, nestes meandros bem intrincados que é a bibliofilia.
Recordo, ainda hoje, com saudade, as tardes que passava a falar com ele sobre livros e autores e a ver livros que, pacientemente, me mostrava.
Foi muito importante para mim, e fazem falta mais “Magalhães” (não só os computadores do nosso governo), mas livreiros, com a sua paciência e gosto pelos livros, para saberem incutir nos principiantes, como eu era na altura (e ainda sou...), as primeiras luzes e lhe guiarem os primeiros passos, pois que poucos livros me podia vender .. e ele bem o sabia!
Aliás, era frequente encontrar-se sempre mais alguém, pois o Sr. Magalhães, apesar do seu ar um pouco circunspecto, gostava bastante de conversar e de transmitir os seus conhecimentos. Tinha-se era falta de espaço, pois a Livraria era pequena e estava bem recheada ... aquela prateleira à esquerda que tentação!

Retenho também que, embora sendo de longe o mais jovem e o de “bolsa mais curta” (tinha de contar os tostões ... na altura nem se sonhava com o euro!), era usual encontrar jovens e não só os clássicos bibliófilos de meia a terceira idade, bem instalados e de aspecto sempre um pouco fechado (se calhar também já estou assim!...).


Um livro com uma bela encadernação
... só para repousar da leitura!

Apresentou-me o Alexandre Herculano e falou-me da famosa polémica de "Eu e o Clero" sobre o discutível "milagre" da Batalha de Ourique, sempre fui um grande apaixonado pela História, mostrou-me o Almeida Garrett, falou-me do Joaquim Martins de Carvalho, do Luz Soriano e de tantos outros...
Mostrou-me as impressões da Typographia Rollandiana, que tinham grande procura pela homogeneidade do conjunto dos livros impressos – tinham todos a mesma altura (a chamada “colecção rolandiana”)
Foi, também pela sua mão que vi o primeiro exemplar de uma 1ª edição de «Clepsidra», era visita assídua um grande admirador de Camilo Pessanha, (outra das minhas paixões – a poesia)
Nunca esquecerei, no entanto, uma 1ª edição de «O Crime do Padre Amaro» que vi, desconjuntado, mas com um miolo muito limpo, quase sem picos de acidez, e que ele fez reencadernar, em inteira de pele verde escuro com o corte das folhas dourado e com excelentes gravados de ferros dourados na lombada e nas pastas! O problema é que já nessa altura pediu cinquenta contos (é verdade!) e vendeu-o rapidamente.
Curiosamente nunca mais vi este livro (há poucos exemplares no circuito comercial). Encontrei há uns anos outro exemplar que foi vendido por cerca de mil contos (um excelente investimento ... só que eu não invisto em livros!)
Editava regularmente os seus Catálogos, em folhas A4 verdes policopiados, mas com grande qualidade informativa.
(Recordo de ele se auto-criticar por apresentar o mesmo dividido por temas, pois isso não obrigava à sua leitura completa. O leitor procurava só os temas preferidos. Talvez tivesse razão...)

Deixo aqui um apelo: se alguém tiver ainda algum destes catálogos que o divulgue. Pois eu infelizmente, com as minhas vária andanças, não guardei nenhum exemplar.

Durante estas “tertúlias” e, talvez, desta recordação o nome que decidi dar a este espaço, a sua esposa, sempre mais retraída, se entretinha a tricotar, enquanto nós íamos conversando. Ainda que menos conversadora, tinha intervenções oportunas e encorajadoras.

Quando voltei um dia, já nos finais dos anos 80, tinha mudado de dono e de visual. Confesso que isto constituiu um choque para mim. Senti um certo vazio dentro de mim ... tinha perdido o “mestre”.
Vim a saber que, desde o final de 1988 e até final de 1999, pertenceu ao prestigiado livreiro Luís Burnay que aí desenvolveu uma importante actividade leiloeira
Nos três anos seguintes foi gerida por Catarina Rodrigues, filha do conhecido livreiro e leiloeiro José Manuel Rodrigues.

Voltei a passar por lá, trata-se de um percurso “tradicional nas andanças bibliófilas” – da Rua D. Pedro V até ao Chiado – há pouco e, ao não encontrar qualquer referência, pensei que tivesse fechado, mas qual não foi o meu espanto, quando ao pesquisar na Internet, descobri que tinha mudado novamente de dono e que se encontrava encerrada para obras.
Desde Setembro de 2003 é dirigida por Carla Teixeira.
Para os interessados fica aqui o link para acederem: http://www.livrariadpedrov.com/

Fica aqui a promessa para uma visita após a conclusão das referidas obras ... será como que uma romagem de saudade!


Dois reparos finais:
1) Ao contrário do habitual, não ilustrei este artigo pois trata-se de uma homenagem a um “mestre” e nada pode substituir “a palavra”.
2) Não me move nada contra os posteriores proprietários e, nomeadamente, a actual proprietária desta Livraria. Aliás tenho óptimo relacionamento com o estimado livreiro Luís Burnay, e lamento não conhecer a Sr.ª Carla Teixeira.

Saudações bibliófilas.


quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Livraria Luís Burnay - «Boletim Bibliográfico n.º 43 / Outubro 2009»


Livraria Luís Burnay

É com prazer que informo que já está disponível a versão pdf do «Boletim Bibliográfico n.º 43», referente a Outubro de 2009, desta conceituada Livraria.

Já tive oportunidade de o consultar, e pude verificar que contem algumas obras de inegável interesse e raridade. Apresenta, nomeadamente, um bom conjunto de obras sobre Direito, incluindo legislação avulsa, dos séculos XVI a XIX.

Destaco, neste tema, apenas um título quase ao acaso:

138 - CASTRO, Francisco de Caldas Pereira e.- COMMENTARIVS /ANALYTICVS, DE RE- / NOVATIONE EMPHYTEVTICA, / TAM IN FORO VERSANTIBVS, / QVAM ETIAM GYMNASTIS / & Christianae Reipub. Vtilissimvs….-Ulissipone: Excudebat Emmanuel de Lyra,1585.- (24), 172f.numeradas pela frente; 28cm.-E + SINGVLARIS, ET EXCELLENS /TRACTATVS / ET ANALYTICVS COM- / MENTARIVS, ET SYNTAGMA DE / Nominatione emphyteutica, eiusq' successione, & progressu, / tam pragmaticis, & magistralibus, qu'am etiam in / academia versantibus utilissimus./ AMPLISSIMO ET ADMODVM ILLVSTRI / Senatori Sacri Palatis, Domino Petro Barbosae...-Ulissipone: (Excudebat Antonius Riberius), 1585.- (24), 291f. Numeradas pela frente; 28cm.-E. Trata-se das duas obras principais deste famoso jurisconsulto português do século XVI, que nasceu em Monção , estudou em Santiago de Compostela e Coimbra, e exerceu advocacia em Lisboa e Braga. Gozou na época de muita consideração pelos seus pares e as suas obras granjearam merecida popularidade. Os dois exemplares aqui presentes são ambos das segundas edições de cada uma, aliás tão raras como as primeiras publicadas em 1583. Os textos vêm compostos a duas colunas em caracteres redondos e itálicos, aqui ocasionalmente adornados c/tarjas tipográficas. A página das "Erratas" do primeiro titulo vem adornada com uma bonita portada formada por tarjas tipográficas ao gosto renascentista. Os dois volumes estão encadernados juntos e vêm revestidos por uma encadernação da época inteira de pele c/lombada restaurada (trabalho antigo) que tem pequeno corte na coifa superior. O primeiro título apresenta um pequeno restauro antigo marginal nas primeiras três folhas. O segundo titulo tem leves picos de humidade no rosto e tem falta da última folha. Exemplar estimado destas raras obras quinhentistas portuguesas de evidente interesse e significado para a história do Direito em Portugal. (Anselmo: 740 e 966).(267)


Boletim Bibliográfico n.º 43

Para a sua consulta aceda por: http://www.livrarialuisburnay.pt/

Saudações bibliófilas

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Ernest Hemingway - «A Farewell to Arms» e outros livros …



Ernest Hemingway no Quénia em 1953

Vou cometer hoje um “heresia bibliófila”!
Proponho-me apresentar uma primeira edição (1ª impressão) de Ernest Hemingway - «A Farewell to Arms» (1929).

Porquê esta atitude?
Primeiro, e principalmente, por ser um autor de que sou grande admirador, tanto como escritor como Homem; segundo lugar, porque o coleccionismo das primeiras edições americanas é uma verdadeira “dor de cabeça” para os neófitos (como é o meu caso) e, em terceiro lugar, por ter sido o autor que me fez “conhecer” e gostar de Espanha (1), com os seu livros: «For Whom the Bell Tools» (1940) e «The Sun Also Rises» (¡Fiesta!) (1926) (2)


«For Whom the Bell Tools»
New York, Charles Scribner’s Sons, 1940

“This is the best book Ernest Hemingway has written, the fullest, the deepest, the truest. It will, I think, be one of the major novels of American literature…Hemingway has struck universal chords, and he has struck them vibrantly” (J. Donald Adams).


«The Sun Also Rises»
New York, Charles Scribner’s Sons, 1926

Um sucesso imediato, «The Sun Also Rises» foi publicado em 22 Outubro de 1926, numa primeira tiragem de 5.090 exemplares. Uma segunda reimpressão, de 2.000 exemplares, foi feita em Novembro. Em meados de Dezembro ambas já se encontravam esgotadas! Em 1961 estimava-se que o romance tinha vendido mais de um milhão de exemplares.
“The emergence of Hemingway… gave the Modern Movement one of its few men of action… No other writer stepped so suddenly into fame, or destroyed with such insouciance so many other writers or ways of writing or became such an immediate symbol of an age” (Connolly, «The Modern Movement», 50).
James T. Farrell, escreveu, em 1943, que este romance permanece the definitive account of a war-wearied lost generation… The best of Ernest Hemingway is still to be found in The Sun Also Rises” (New York Times)


«A Farewell to Arms» - Capa
New York, Charles Scribner’s Sons, 1929.
First edition, first print.
Copyright 1929, by Charles Scribner’s Sons
(3)

“Probably [Hemingway’s] best… Its success was so enormous… After it one could no more imitate that musical crystal-clear style; blown like glass from the white-heat of violence… the beginning, like all his beginnings, seems effortless and magical” (Connolly, «The Modern Movement», 60)


«A Farewell to Arms» - Página de título

Trata-se de um livro escasso e procurado. Podemos mesmo considerá-lo raro em óptimas condições: sobrecapa original em bom estado, encadernação editorial sólida e não descorada e em bom estado interior com poucos sinais de uso e com papel sem manchas e com a sua sonoridade (pode chegar aos milhares de euros, e se estiver assinado pelo autor o seu preço dispara!) (4)


«A Farewell to Arms» - Cartonagem editorial

A “hardcover” (capa cartonada editorial) tem algumas manchas pequenas, assim como sinais dum desgaste ligeiro pela sua arrumação na prateleira. Pastas e lombada com aspecto consideravelmente agradável. Encadernação em bom estado – sem falta de páginas nem deformações. As páginas geralmente limpas; ainda que, algumas tenham manchas de humidade nos bordos. Bordos superiores e inferiores com ligeira oxidação do papel. De referir um carimbo e assinatura de posse na guarda anterior: “Arnie Swartz. La Crosse, Wisconsin”, sem mais quaisquer outras anotações manuscritas.
O seu grande defeito, e que lhe retire grande valor comercial, que não tanto bibliófilo, é ter uma sobrecapa (DJ) não original...é um fac-símile! O conjunto, no entanto é bastante agradável.


«A Farewell to Arms» - Cartonagem editorial

Como um jovem de 18 anos, Ernest Hemingway estava ansioso por combater na Grande Guerra. No entanto, problemas de visão mantiveram-no fora do exército, Juntou-se ao “ambulance corps” e foi enviado para a França. Daí, transferiu-se para a Itália, onde se transformou no primeiro ferido americano, nesse país, durante o conflito. Hemingway saiu dos campos de batalha europeus com uma medalha de mérito e com a riqueza da experiência que aí viveu e que, 10 anos mais tarde, lhe permitiriam revivê-las ao escrever «A Farewell to Arms». Esta é a história do tenente Henry, um americano, e Catherine Barkley, uma enfermeira inglesa. Os dois encontram-se em Itália, e que Hemigway nos introduz imediatamente no trama e tensão central do romance: a natureza ténua do amor em tempo de guerra. Durante o seu primeiro encontro, Catherine fala a Henry sobre o seu namorado, há oito anos, que fora morto no ano anterior no Somme. Explicando, porque não se tinha casado com ele, afirma que estava receosa que a união pudesse ser má para ele, e admite então:
“I wanted to do something for him. You see, I didn't care about the other thing and he could have had it all. He could have had anything he wanted if I would have known. I would have married him or anything. I know all about it now. But then he wanted to go to war and I didn't know.
The two begin an affair, with Henry quite convinced that he "did not love Catherine Barkley nor had any idea of loving her. This was a game, like bridge, in which you said things instead of playing cards." Soon enough, however, the game turns serious for both of them and ultimately Henry ends up deserting to be with Catherine”.



(1) Na altura, anos 60, vivia-se sob duas ditaduras irmãs e coniventes ... com um grande desconhecimento da realidade de ambos os povos. Infelizmente a democratização não melhorou muito este conhecimento!

(2) Referi deste modo por ter sido a ordem em que os li ... evidentemente, na altura, em traduções portuguesas!

(3) "True first edition, first print points:
• Title page shows printing year 1929
• Scribner’s colophon on copyright page with no other print indication
• No legal disclaimer on the verso of the dedication page indicates it's a first print


«A Farewell to Arms» - 1ª edição / 1ª impressão


«A Farewell to Arms» - Marca do editor

Most publishers now use a numbering system, in which a row of numbers appears on the copyright page. The lowest number (at either end of the line) is the number of the printing. First printing usually indicates First Edition, although you can have a first printing of a later edition, if the book has been changed in some significant way. Here is a quick survey to just a few of the major book publishers, and how to determine their first editions from before (roughly pre-1980s) the number line system. (…) Scribners - Has an "A" on the copyright page 1930-1973. («Is It Really A First Edition?»)


«A Farewell to Arms» - 1ª edição / 5ª reimpressão

“Have you noticed the number on the publishers page of a book and ever wondered what they mean? They are printer's code and provide information on the edition and printings of a book. The print code indicates a print run and does not always guarantee a first edition but certainly provides more information to verify edition. They may be as simple as a line of numbers or letters:
Example of First Printings:
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
10 9 8 7 6 5 4 3 2 1

ABCD
abcdefg”
(«Book Collecting: Printer's Codes»)

(4) Dou apenas dois exemplos tomando como referência os catálogos de “Bauman Rare Books”.
Do “Catalogue Hemingway” :
5. HEMINGWAY, Ernest. A Farewell to Arms. New York, 1929.
Octavo, original black cloth, gold paper labels, dust jacket.
$9,000.
Do “Catalogue October Holiday 2009”:
141. HEMINGWAY, Ernest. Farewell to Arms. New York, 1929. Octavo, original black cloth, dust jacket, custom clamshell box.
$22,000.
First trade edition, scarce second issue, a presentation/association copy of the novel that “placed Hemingway, early, among the American masters,” this copy warmly inscribed to Hemingway scholar and his frequent correspondent, “To Frazer Drew from his friend, Ernest Hemingway,” in first issue dust jacket, rarely found.

Espero não os ter aborrecido muito. Parece-me, que apesar de tudo, o autor justifica esta incursão por outros campos de coleccionismo bibliófilo e, com este tema, acabámos por “vislumbrar” e “lançar algumas ideias” (para mais não tenho conhecimentos!) sobre alguns dos vários tipos de coleccionismo e da sua, maior ou menor, complexidade. Vimos autores franceses, ingleses e americanos e. tentei chamar a atenção para os pontos que, pelo menos para mim, são mais fascinantes no estudo das suas edições.

Ler um livro é, para mim, sempre o mais importante ... estudá-lo, enquanto objecto, e tentar desvendar os segredos que as edições escondem é para “aqueles indivíduos tocados pelo bichinho da bibliofilia” (mas atenção que estes também lêem!)

Saudações bibliófilas.

«Stephan Fry and the Gutenberg Press»



Oficina de encadernação

Quero partilhar convosco um conjunto de vídeos (6 no total com a duração aproximada de 10 min.), que um dos meus leitores me enviou e, que pela sua importância merece ser divulgado, pelo que lhe expresso os meus agradecimentos.

Trata-se de um documentário da BBC sobre Gutenberg - «Stephan Fry and the Gutenberg Press»


Ilustração

Correndo o risco de ser repetitivo, pois muito provavelmente já quase todos o devem conhecer; no entanto, pela sua alta qualidade (1) e interesse, penso que merece ser aqui referido.


Ilustração

Aqui deixo o link para a visualização:


Espero que tenham gostado e, se já o conheciam, penso que não terá sido mal empregue o tempo numa nova visão.

Saudações bibliófilas.

(1) Sugiro que o vejam em HD, pois realça a boa qualidade da imagem.

domingo, 11 de outubro de 2009

Alphonse Daudet - «Sapho»



Alphonse Daudet

Alphonse Daudet nasceu em Nimes a 12 de Maio de 1840 e faleceu em Paris a 17 de Dezembro de 1897. Foi um romancista, poeta e dramaturgo francês. Estreou-se com uma colectânea de versos, «Les Amoureuses», em 1858.

Trata-se de um autor da escola naturalista, que produziu uma obra variada, satírica, tirando as personagens da vida parisiense. O seu estilo é cristalino, brilhante, deixando transparecer, com frequência, os sentimentos de paixões recalcadas.

Criou o héroi Tartarin, personagem alegre e gabola, das novelas «Tartarin de Tarascon» e «Tartarin sur les Alpes».

Foi amigo de Frédéric Mistral, e pertenceu ao grupo de escritores de língua ocidental Le Félibrige, fundado em 1854. Escreveu várias composições poéticas em provençal. A lingua provençal, ou languedoc, é o idioma falado ao sul do Loire, entre o mar, os Alpes e os Pireneus, compreendendo o provençal propriamente dito, o languedocino e o gascão.

A Provença foi a pátria primeira da poesia trovadoresca, em especial na Idade Média. Além de Frédéric Mistral, Roumanille, ao qual Daudet se refere em «Lettres de Mon Moulin», também foi um desses poetas.

Como algumas das suas obras principais, podem referir-se: «Lettres de Mon Moulin» (1866), «Le Petit Chose» (1868), «Tartarin de Tarascon» (1872) e «Tartarin sur les Alpes» (1885)


«Sapho, Mœurs Parisiennes»
Paris, Maison Quantin, 1888,
Collection Charpentier, 16 x 23,5 cm.

Como exemplo dum livro ilustrado do século XIX, de que tenho falado um pouco, deixo. como exemplo, pela sua boa qualidade e riqueza de ilustrações, «Sapho» de Alphonse Daudet. (1)


Encadernação

Encadernação assinada por Aussourd em meio-marroquim com cantos, lombada, em mosaico com quatro nervuras, ricamente decorada com motivos geométricos dourados, e a seco, e com incrustações de marroquim vermelho, local e data na base, corte superior das folhas dourado, capas e lombada, da brochura, conservadas.


Encadernação
Pormenor da lombada


Encadernação
Assinatura do encadernador

Obra enriquecida por 10 águas-fortes de Reichan, gravadas por Abot e Duvivier, assim como outras 50 águas-fortes gravadas por Muller segundo desenhos de Gorguet e realizadas sobre papel Japão.
Destas deixo aqui só alguns exemplos.


Ilustração


Ilustração


Ilustração


Ilustração

Vinhetas tipográficas no texto gravadas por Montaigut.


Vinhetas tipográficas


Vinhetas tipográficas

Espero que apreciem esta obra, e, que mais este exemplo, desperte o vosso interesse por este tipo de livros tão característicos deste século.

(1) A 1ª edição data de 1884 e foi publicada, igualmente, pela Charpentier

Saudações bibliófilas.

Bibliografia:

RAHIR, Edouard
- «La Bibliothèque de l'amateur. Guide sommaire à travers les livres anciens les plus estimés et les principaux ouvrages modernes». Paris, Damascène Morgand ,1907.
(Tem extensas referências aos ilustradores franceses e obras por estes ilustradas)

Alphonse Daudet – Biografia (versão em pdf – Wikipédia)
http://fr.wikipedia.org/w/index.php?title=Sp%C3%A9cial:Livre&bookcmd=download&collection_id=0f24963f9042a38c&writer=rl&return_to=Alphonse+Daudet

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Jane Austen – Esboço bio-bibliográfico


Retrato a óleo de Jane Austen feito em 1875,
de autor desconhecido, baseado na aquarela
feita pela irmã em 1810

Ainda na literatura inglesa, penso que outra figura muito admirada e com inegável procura bibliófila, é sem dúvida, Jane Austen.
Hoje, deixo aqui, alguns breves apontamentos para uma bio-bibliografia.

Jane Austen nasceu a 16 de Dezembro de 1775.

Foi uma escritora inglesa proeminente, considerada por alguns, em minha opinião um pouco exagerado, como a segunda figura mais importante da literatura inglesa depois de Shakespeare. Ela representa um exemplo de uma escritora cuja vida, sem grandes acontecimentos de referência, em nada reduziu a estatura da sua ficção.

Nasceu numa casa da paróquia de Steventon, Hampshire, Inglaterra, o pai era sacerdote e viveu a maior parte de sua vida nesta região. Teve seis irmãos e uma irmã mais velha, Cassandra, da qual era muito íntima.

O único retrato conhecido de Jane Austen é um esboço colorido feito por Cassandra, que se encontra agora na National Gallery em Londres.


A "cottage" em Chawton onde Jane Austen viveu,
hoje a Casa-Museu


Os seus irmãos, Frank e Charles serviram na Marinha, tendo ambos atingido o posto de almirante.
Em 1801 a família mudou-se para Bath. Com a morte do pai em 1805, Jane, sua irmã e a mãe mudaram-se para Chawton, nos arredores de Alton, Hampshire, (cerca de 80 quilómetros a sudoeste de Londres). onde o seu irmão lhes tinha cedido uma propriedade (uma “cottage”). Esta casa está hoje aberta ao público como Casa-Museu.

A «Casa-Museu Jane Austen» é um museu independente administrado pelo "Jane Austen Memorial Trust" e consiste numa casa em estilo arquitectónico “Georgiano”, situada nesta pequena localidade de Chawton,

Foi a ultima morada de Jane Austen, que viveu ali entre 1809 e 1817 com sua mãe e irmã Cassandra. Jane Austen trabalhou aqui na revisão dos manuscritos de «Sense and Sensibility», «Pride and Prejudice» e «Northanger Abbey» e escreveu «Mansfield Park», «Emma» e «Persuasion».

Tendo-se estabelecido como romancista, continuou a viver em relativo isolamento, na mesma altura em que a doença a afecta. Pensa-se que ela poderá ter sofrido de doença de Addison, cuja causa era então desconhecida. Viajou até Winchester para procurar uma cura, mas aí faleceu a 18 de Julho de 1817, foi sepultada na Catedral.

Os romances de Jane Austen foram publicadas anonimamente, pelo que a sua autoria era um segredo para todos e, mesmo, para os seus amigos.
Só em 1818 se encontra a primeira referência pública, numa curta notícia biográfica feita por seu irmão Henry, numa introdução à publicação das duas obras póstumas «Northanger Abbey» e «Persuasion», pelo que génio de Jane Austen recebeu pouco reconhecimento durante sua vida.

Da sua bibliografia citamos:
«Lady Susan» (1794, 1805)
«Sense and Sensibility» (1811)


Primeira edição de «Sense e Sensibilty» (1811)

«Pride and Prejudice» (1813)

“Elizabeth’s own energy and defiance of character respond to Rousseau’s and the popular notion of the pliant, submissive female... None of her novels delighted Jane Austen more than Pride and Prejudice ... She had given a rare example of fiction as a highly intelligent form... This remains her most popular and widely translated novel” (Honan, 313-20). Written between October 1796 and August 1797, Pride and Prejudice was originally an epistolary novel; Austen revised it in 1812. “Her father offered Pride and Prejudice to [publisher] Cadell on 1 Nov. 1797; but the proposal was rejected by return of post, without an inspection of the manuscript” (DNB).


Primeira edição de «Pride and Prejudice» (1813)

“The size of the edition is not known... perhaps 1500 copies... The first edition was sold off very rapidly and a second one was printed in the same year” (Keynes, 8). Cassandra Austen’s records indicate that the first edition of her sister’s novel was issued in January 1813, and the second edition in October 1813.”


Jane Austen – “Pride and Prejudice”.
London, Richard Bentley, 1891.

Encadernação contemporânea em inteira de pele assinada pela famosa casa
“Relfe Brothers Bindery of London”

«Mansfield Park» (1814)
«Emma» (1815)
«Northanger Abbey» (1818) póstumo
«Persuasion» (1818) póstumo


«Northanger Abbey» and «Persuasion»
London. John Murray, Albemarle Street, 1818. 4 Volumes.

"Northanger Abbey “was written in 1797-98 with the title Susan ... it was sold for £10 in the spring of 1803 to Messrs. Crosby & Co.... [but] was not printed.” When Austen inquired in 1809 why the manuscript had never been published, Crosby sold it back to her for the same price he had paid. Meanwhile, “in 1809 a novel called Susan was published by another author, and Miss Austen changed the name of her work to Catherine ... Seven years later, in 1816, negotiations were re-opened and the MS. was bought back for £10, Crosby still being unaware of the identity of the author... The publication of the book under [the title Catherine ] was still being discussed in March 1817. Ultimately the name was changed to Northanger Abbey ... Persuasion , the latest of the novels, was begun in 1815 and completed on July 18, 1816” (Keynes 9). The two novels, Austen’s first sold and last written, were finally published in December 1817, five months after Austen’s death. “In a flash of mischief the author has put two rogues of like aptitudes together... In the twentieth century [ Persuasion ] has been felt to be her most emotionally powerful work and perhaps the most difficult to judge... Northanger Abbey does make serious points about social education and language, and the novel became a running debate... over the real values of fiction” (Honan, Jane Austen , 385, 139)."

«Sir Charles Grandison» (sua única peça teatral, escrita provavelmente em 1791 ou 1792 e publicada somente em 1980)

Deixou ainda inacabadas:
«The Watsons» (1804)
«Sanditon» (1817)

Os mais importantes editores das obras de Jane Austen foram:

Thomas Egerton (1811 até meados de 1815):
«Sense and Sensibility» (1811)
«Pride and Prejudice» (1813)
«Mansfield Park» (1814)

John Murray (1815-1821): (1)
«Emma» (1815)
«Northanger Abbey» (1818) póstumo
«Persuasion» (1818) póstumo

Richard Bentley (1820-):
Adquiriu os direitos autorais restantes de todos os romances de Austen e, a partir de Dezembro de 1832 ou Janeiro de 1833, publicou-os, em cinco volumes ilustrados, como parte da sua série de «Standard Novels». Em Outubro de 1833, Bentley publica a primeira edição da recolha das obras de Austen.



Edição das Obras Completas de Jane Austen em 5 volumes
London, Richard Bentley (Successor to H. Colburn), 1833
(2)

Refira-se ainda que H. G. Clarke and Co., 66, Old Bailey, London, publicou, em 1844, «Pride and Prejudice» e «Sense and Sensibility» (esta é a primeira edição, em separado deste título, que apareceu após o fim do direito de autor em 1839).
São duas edições difíceis de encontrar desconhecendo-se igualmente o numero de exemplares de cada uma.


Apontamento de David Gilson
sobre as edições de 1844 por H. G. Clarke

Outra edição, igualmente difícil de se encontrar, é: «Mansfield Park», ilustrada, em extra-texto, com desenhos de A.F. Lydon, editada por Groombridge and Sons, 5, Paternoster Row, London. (novamente, não há nenhum registo, que conheça, do numero de exemplares desta tiragem, no entanto, penso que foi bastante pequeno visto o livro ser muito difícil encontrar)

As ilustrações das suas obras são um complemento para uma visão mais clara das mesmas. Este facto é aliás muito comum nas obras ilustradas do século XIX, o que por si só, pode constituir um filão para o coleccionismo bibliófilo.


Deixo aqui uma ilustração da 1ª edição ilustrada de «Pride and Prejudice» London,Richard Bentley (Successor to H. Colburn), Cumming, Dublin, Bell & Bradfute, Edinburgh, Galigani, Paris, 1833.


Jane Austen - Pride and Prejudice–
(Mr. Bennet is on the left, Elizabeth on the right)
“She then told him what Mr. Darcy had voluntarily done for Lydia.
He heard her with astonishment”


Como para Charles Dickens, espero que tenha conseguido despertar também o interesse por esta autora inglesa tão conhecida, até pela várias adaptações cinematográficas e televisivas das suas obras, para uma abordagem bibliófila da sua importante e muito procurada produção literária.


(1) Ao ouvirem este nome, a maioria lembrar-se-á de Charles Darwin, pois este foi o seu editor.
«Origin of Species» foi um dos primeiros “best-selers”, pois a primeira edição esgotou no próprio dia em que foi lançada!
Foram editados 3.000 exemplares para esta 1ª edição em 1859 e 5.000 para a segunda em 1860.
Para despertar a vossa curiosidade, fica aqui um dos vários trabalhos de Darwin publicados por este editor.



DARWIN, Charles.
«The Descent of Man, and Selection in Relation to Sex.»
London, John Murray, 1871. 2 volumes.



(2) Trata-se duma das formas mais frequentes do colecccionismo das obras de Jane Austen: conjuntos de Obras Completas publicadas por um determinado editor. Este conjunto é um dos que tem maior procura por ser o primeiro.


Saudações bibliófilas.


Bibliografia:

Gilson. David - « Bibliography of the works of Jane Austen» (imprescindível!)
«Catálogos» de Bauman Rare Books

Agradecimentos.

Quero aqui deixar o meu agradecimento público a Mr. Andrew Cox de «Andrew Cox Rare Books», que me transmitiu, com os seus vastos conhecimentos sobre este tema, muito do pouco que eu sei.