domingo, 11 de outubro de 2015

Um apontamento breve – editoras, capas e livros



Alegoria

No último post fiz uma referência a uma excelente capa do último livro de Mário Cláudio, mas sempre houve belos trabalhos de grafismo e ilustrativo na concepção das capas.

Se é certo que algumas editores mantem um certo monolitismo na sua realização: a Gallimard e a Calmann-Lévy são bem um exemplo disso mesmo:


SARTRE, Jean-Paul – Les Mots
(Éditions Gallimard)


BALZAC, Honoré de -  Lettres à L'Etrangère
(Calmann-Lévy, Éditeurs)

No entanto, outras há que se esmeram na concepção das mesmas entregando os trabalhos a artistas de renome.

No Brasil a Livraria José Olympio éum bom exemplo.


Graciliano Ramos - Vidas Secas (1ª edição)
(Livraria José Olympio Editora)

No último “O alfarrabista em sua casa” da In-Libris vamos encontrar dois bons exemplos:



8150. CORREIA (Natália).— O ENCOBERTO. (Lisboa. 1969). 13,5x21 cm. 122-IV págs. Brochura. Peça de teatro, invulgar nesta sua primeira e cremos que ainda não repetida edição.



Livro que foi apreendido pela censura que na conclusão do seu relatório afirma o seguinte: “(...) Julgo ser de proibir por inconveniência política e ser pornografica.”



7700. PEDRO (António).— PROTO POEMA DA SERRA D'ARGA. Cadernos Surrealistas. (Imprensa Libanio da Silva. Lisboa. S.d. 1948). 14,5x21 cm. 14-II págs. Encadernado.



Da badana: “Filológicamente, amador é o que ama. Na linguagem corrente também, e opõe-se a profissional. Amor e profissão, quando se juntam, dão consequentemente Profissão de Amador e Amor de Profissional. A primeira confusão dá de comer aos críticos e às galerias de arte, quando as há; a segunda faz nascer os homens de letras, os artistas profissionais e as prostitutas. (...)"

São extremamente RAROS os exemplares deste poema surrealista de António Pedro.

Encadernação com lombada e cantos em pele. Conserva a capa da frente da brochura.


Da Cólofon - novidades destaco este exemplar pela capa, mas também para demonstrarcomo um bom descritivo pode ser uma mais-valia na divulgação de uma obra, como é o caso desta, de um autor desconhecido para uma maioria significativa dos leitores.



371 - Brederode, Martinho de – SUL. Lisboa. Typografia Castro Irmão. 1905. 174 págs. 23cm. Brochura.

Nascido em 1866, de família flamenga em Portugal desde os finais do século XVII, habilitado com o Curso Superior de Letras, diplomata.

O seu primeiro trabalho de maior fôlego, sob o pseudónimo de Marco Sponti, foi A morte do amor, 1894, romance na senda queirosiana, mas que integra favores ao simbolismo (e outros testemunhos há na sua obra com a mesma marca), de Mallarmé e de Verlaine – Verlaine cujo Colóquio Sentimental logo traduziria em Charneca, 1896. Ganhava corpo, assim, a sua actividade poética – breve, aliás – na qual Sul é ponto alto, senão culminante: ensaiando conciliar as mensagens de Cesário e de António Nobre, evoca o Alentejo, Lisboa, as Águas Livres, Queluz, Sintra e a Pena, o Algarve, e feiras, procissões, pregões, e a lavadeira saloia, a rendeira de Peniche, ciganos e varinas…

Mas Sul é também, pode dizer-se, o produto derradeiro da sua obra: pouco mais produziu, ocupado nos afazeres de chancelaria, que terminou em Bucareste, onde faleceu em 1952, na qualidade de ministro aposentado, nomeado em 1919.

Exemplar brochado. Miolo em excelente estado de conservação. Contém uma assinatura de posse a lápis na folha de anterrosto de Fernando Brederode Santos, conhecido jornalista e sobrinho neto do autor.

Edição muito cuidada e de elevado apuro gráfico. Capa ilustrada a cores.


Librairie Henri Leclerc

Aqui ficam estas reflexões/apontamento para vossa consideração. Muito mais se poderia escrever (mas muito já ficou descrito ao longo dos muitos posts deste blogue...que tal uma pesquisa?)

Saudações bibliófilas.

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