sábado, 3 de outubro de 2015

Mário Cláudio: um apontamento bio-bibliográfico a propósito de um trabalho de Miguel de Carvalho



Mário Cláudio distinguido com o Grande Prémio de Romance e Novela 2014
pela Associação Portuguesa de Escritores (APE)

 O escritor Mário Cláudio, distinguido em de 15 Julho de 2015 com o Grande Prémio de Romance e Novela 2014, pela Associação Portuguesa de Escritores (APE) (1) (2), por causa de Retrato de Rapaz, publicado em 2014, editou um novo romance, intitulado Astronomia, na editora D. Quixote.


CLÁUDIO, Mário – Astromonia

A obra estará dividida em três partes, intituladas "Nebulosa", "Galáxia" e "Cosmos", referentes às três fases fundamentais da vida do protagonista: a infância, a idade adulta e a velhice", explica a editora.
Este livro, que ficciona a vida de Giacomo, discípulo do pintor renascentista Leonardo da Vinci, é o segundo de uma trilogia de novelas dedicadas a relações entre pessoas de idades distintas.


CLÁUDIO, Mário – Boa noite, Senhor Soares

Esta trilogia foi iniciada em 2008 com Boa noite, Senhor Soares, no qual é revisitado o semi-heterónimo Bernardo Soares, de Fernando Pessoa, e a relação com António, "moço de escritório", e concluída este ano com O Fotógrafo e a Rapariga, sobre o escritor Lewis Carroll e Alice Lidell, que inspirou Alice no País das Maravilhas.


CLÁUDIO, Mário – O Fotógrafo e a Rapariga

Mário Cláudio está entre os escritores mais premiados da literatura portuguesa, escritor prolífico, metódico e rigoroso, pesquisador de estilos e investigador da «portugalidade», serve-se dos mais variados géneros literários – poesia, romance, teatro, conto, crónica, novela, literatura infantil, ensaio, biografia –, embora confesse sentir-se mais à vontade na narrativa ficcional, sobretudo o de cariz histórico. Na sua escrita e oralidade denota, uma religiosidade abnegada de cunho católico e barroco.

É um leitor compulsivo e cronista de costumes, escreveu inúmeros textos de opinião e conferências, mas também séries documentais para a televisão. Fez traduções, organizou antologias e comunidades de leitores, prefaciou inúmeros novos autores e colaborou dispersamente em mais de meia centena de diferentes jornais e revistas, nacionais e estrangeiros, nos últimos 30 anos, tendo-se ainda empenhado na homenagem e divulgação de importantes figuras da cultura portuguesa (Nobre, Camilo, Aquilino, Eça), a par de algumas profissões institucionais ligadas à Cultura, em especial a literária.


Mário Cláudio

Mário Cláudio é o pseudónimo literário de Rui Manuel Pinto Barbot Costa, nascido a 6 de Novembro de 1941, no seio de uma família da média-alta burguesia industrial portuense de raízes irlandesas, castelhanas e francesas, e fortemente ligada à História da cidade nos últimos três séculos. Filho único, foi primeiro instruído por um professor particular, tendo prosseguido os estudos, até à conclusão do liceu, sob a rígida batuta dos padres do Colégio Almeida Garrett (actual Teatro do Bolhão, no Porto).

Começou o curso de Direito em Lisboa e terminou-o em Coimbra (1966), onde viria a diplomar-se novamente, em 1973, com o Curso de Bibliotecário-Arquivista. Pelo meio, a Guerra Colonial e uma mobilização para a Guiné, na secção de Justiça do Quartel General de Bissau. Antes de partir, em 1968, entrega ao pai, pronto para publicação, o seu primeiro livro de poemas, Ciclo de Cypris, publicado no ano seguinte.

Pouco depois de assumir a direcção da Biblioteca Pública Municipal de Vila Nova de Gaia, foi bolseiro da Fundação Gulbenkian, tendo obtido o título de Master of Arts em Biblioteconomia e Ciências Documentais (1976), pela Universidade de Londres, defendendo uma tese que seria parcialmente publicada com o título Para o Estudo do Analfabetismo e da Relutância à Leitura em Portugal, o único livro que assinou com o seu nome civil. Ainda durante a década de 70 publica dois livros de poesia, um romance, uma novela, um livro de viagens em colaboração e uma antologia de textos sobre Gaia.

Pertenceu sucessivamente à Delegação Norte da Secretaria de Estado da Cultura, ao inacabado Museu da Literatura e à direcção da Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto.

Em 1985, iniciou-se como professor na Escola Superior de Jornalismo do Porto e, actualmente, é professor convidado da Universidade Católica do Porto e da Fundação de Serralves.

Em 1984, por convite de Vasco Graça Moura, escreve Amadeo, biografia do pintor futurista Amadeo de Souza-Cardoso (3).


Amadeo no seu atelier, Rue Ernest Cresson, 20, Paris, 1912


Les Faucons   (Os falcões), 1912
Tinta-da-china sobre papel, 27 x 24,3 cm

Que Mário Cláudio consideraria como uma «psico-socio-biografia», e início da premiada Trilogia da Mão, na qual o escritor abordou a vida e obra de outras duas figuras artísticas nortenhas, a violoncelista Guilhermina Suggia (Guilhermina) e a barrista Rosa Ramalha (Rosa). Através dos três artistas, tipificou distintos estratos sociais (aristocracia, burguesia, povo) e o «imaginário nacional», entre o virar do século XIX e meados do século XX. Nesta primeira trilogia, o autor romanceia o próprio processo de biografar, através de uma escrita fragmentada, mais sensorial que objectiva. Aliás pode-se afirmar, para usar as palavras do autor: «toda a biografia é um romance».

Em 1984 foi distinguido com o Grande Prémio de Romance e Novela da APE precisamente pelo romance Amadeo.


CLÁUDIO, Mário – Amadeo

Seguiu-se a publicação de um segundo tríptico (A Quinta das Virtudes, Tocata para Dois Clarins e O Pórtico da Glória), onde a História volta a cruzar a ficção, mas desta feita incorrendo na autobiografia familiar.


CLÁUDIO, Mário – A Quinta das Virtudes

Entre 2000 e 2004 publicou uma outra trilogia, composta por Ursamaior, Oríon e Gémeos, e que é descrita pelo autor como relacionada com «situações de alguma marginalidade» e «discurso problemático com o poder», transversais a três gerações de personagens, uma por volume.


CLÁUDIO, Mário – Oríon


 
CLÁUDIO, Mário – Gémeos

O autor está traduzido em inglês, francês, castelhano, italiano, húngaro, checo e serbo-croata.

Foi condecorado com a Ordem de Santiago de Espada.

Em 2004, pelo conjunto da obra literária, foi-lhe atribuído o Prémio Pessoa e em 2008 recebeu o Prémio Vergílio Ferreira.

Já conquistou por duas vezes o Prémio PEN Clube Português de Novelística, assim como o Grande Prémio de Crónica da APE e o Prémio Fernando Namora com o romance Camilo Broca.


CLÁUDIO, Mário – Camilo Broca

Em 2013, a antiga escola primária de Venade, localidade do concelho de Paredes de Coura, foi reconvertida num Centro de Estudos Mário Cláudio, criado a partir do arquivo doado pelo escritor.


Centro de Estudos Mário Cláudio (Paredes de Coura)

Chegados a este ponto, pergunta-se: o que é que o Miguel de Carvalho tem a ver com o assunto?


Miguel de Carvalho – artista plástico/livreiro-antiquário

A capa do livro foi concebida por Rui Garrido com base numa collage de Miguel de Carvalho – No Princípio Não Era O Verbo.


Miguel de Carvalho - o artista a trabalhar
(©Fotografia de mdc no Facebook)

Dentro do estilo a que já nos tinha habituado, e das quais partilha algumas no Facebook, conseguiu realizar um trabalho que permitiu  a realização de uma capa com um excelente grafismo e que em muito valoriza esta obra.




Bom agora resta-nos comprar,  ler o livro e apreciar mais de perto esta pequena obra de arte. (Quando digo pequena refiro as dimensões que não a sua alta qualidade)


Fotograma do filme Documental sobre o escritor Mário Cláudio.
Realizado por Jorge Campos e produzido pela Vigília Filmes

Bibliografia:

Ficção

Um Verão Assim (1974)
As Máscaras de Sábado (1976)
Damascena (1983)
Improviso para Duas Estrelas de Papel (1983)
Amadeo (1984)
Guilhermina (1986)
Duas Histórias do Porto (1986)
A Fuga para o Egipto (1987)
Rosa (1988)
A Quinta das Virtudes (1990)
Tocata para Dois Clarins (1992)
Trilogia da Mão (1993)
Itinerários (contos, 1993)
As Batalhas do Caia (1995)
Dois Equinócios (contos, 1996)
O Pórtico da Glória (1997)
O Último Faroleiro de Muckle Flugga (1998)
Peregrinação de Barnabé das Índias (1998)
Uma Coroa de Navios (1998)
Ursamaior (2000)
O Anel de Basalto e Outras Narrativas (narrativas, 2002)
Oríon (romance, 2003)
Gémeos (romance, 2004)
Triunfo do Amor Português (2004)
Camilo Broca (2006)
Boa Noite, Senhor Soares (2008)
Retrato de Rapaz (2014)
O Fotógrafo e a Rapariga (2015)
Astronomia (2015)

Poesia

Ciclo de Cypris (1969)
Sete Solstícios (1972)
Étimos e Alexandrinos (1973)
A Voz e as Vozes (1977)
Estâncias (1980)
Terra Sigillata (1982)
Dois Equinócios (1996)
Nas Nossas Ruas, ao Anoitecer (2001)
Os Sonetos Italianos de Tiago Veiga (2005)

Teatro

Noites de Anto (1988)
A Ilha de Oriente (1989)
Henriqueta Emília da Conceição (1997)
O Estranho Caso do Trapezista Azul (1998)

Outras

Meu Porto
Fotobiografia de António Nobre
A Cidade num Bolso
Pintor e a Cidade
Páginas Nobrianas
Júlio Pomar - Um Álbum de Bichos

Espero ter despertado o vosso interesse para este conceituado autor português bem como para a análise da estética, grafismo e autoria das capas das obras que nos passam pelas mãos, que por vezes “ficam um pouco ao lado”.

Saudações bibliófilas

Notas:
(1) O Grande Prémio de Romance e Novela da APE foi criado em 1982 e teve, nesta 33.ª edição, o apoio da Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, da Fundação Calouste Gulbenkian, da Imprensa Nacional-Casa da Moeda, do Instituto Camões e da Sociedade Portuguesa de Autores.
(2) Vergílio Ferreira, António Lobo Antunes, Agustina Bessa-Luís e Maria Gabriela Llansol foram os quatro outros autores distinguidos por duas vezes com este prémio da APE.
(3) Amadeo de Souza-Cardoso – Wikipedia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Amadeo_de_Souza-Cardoso


Fontes consultadas:
DGLAB – Direcção Geral Livro dos Arquivos e das Bibliotecas
Màrio Cláudio – Wikipedia:
Mário Cláudio – Portal de Leitura:


Sem comentários:

Enviar um comentário