quinta-feira, 1 de maio de 2014

Livraria Alfarrabista Miguel de Carvalho – Novidades Bibliográficas de Abril




O Miguel de Carvalho apresentou recentemente as últimas novidades bibliográficas da sua Livraria Alfarrabista adquiridas durante o mês de Abril para o que criou um linkespecial

Desta vez vou começar com  duas  obras na temática do livro antigo de que esta Livraria também possui um bem seleccionado acervo.



10361. PITISCUS, Samuel – LEXICOO ANTIQUITATUM ROMANARUM in quo Ritus et Antiquitates cum Graecis ac Romanis communes, tum Romanis peculiares, Sacrae et Profanae, Publicae et Privatae, Civiles ac Militares exponuntur. Accedit his Auctorum notatorum, emendatorum , & explicatorum Index copiosissimus. Ex Typographia Balleoniana, Venetiis, 1719. 3 vols de in-folio. Encadernações da época, inteiras de pele com ferros a ouro nas lombadas, com defeitos nas coifas e charneiras e sem guardas. Leve humidade marginal nas primeiras e ultimas folhas. Esta edição é rara e de esmerado apuro gráfico, composta a duas colunas em caracteres redondos e italicos. As páginas de rosto vêm impressas a negro e vermelho e adornadas com uma bonita vinheta alegórica, finamente aberta por buril em chapa de cobre. O primeiro volume apresenta ainda uma gravura de página inteira, e uma grande vinheta decorativa como titulo.
Pensamos tratar-se da primeira edição italiana deste dicionário dos costumes e antiguidades dos romanos baseados na famosa obra de Johanes Rosinus. [200 €]



10359. BOEHMER, Justus Henning – CORPUS JURIS CANONICI GREGORI XIII... post emendationem absolutam in duos tomos diovisum et appendice nova avctum ...recensuit cum codicibus veteribus manuscriptis... Halae Magdeburgicae, Impensis Orphanotrophei, 1747. 2 vols de in-folio. Encadernações da época, inteiras de pele um pouco cansadas. O texto vem composto a duas colunas e a página de rosto do primeiro volume vem impressa a negro e vermelho, e adornada com uma bonita vinheta decorativa, finamente aberta em chapa. O mesmo volume tem ainda uma bonita gravura de página inteira que figura o Consistório Cardinalício que elegeu o Papa Benedito XIV, com a efígi e deste Santo Padre também finamente aberta em chapa e que serve de frontispício alegórico.
Trata-se da rara 1ª edição desta obra de Direito Canónico, publicada por este famoso professor da Universidade de Halle, importante jurista eclesiástico. [180 €]

Como sempre a literatura (e em especial a poesia…) ocupa um espaço relevante nestas Novidades.



Começo com NatáliaCorreia, já diversas vezes aqui referida.



10315. CORREIA, Natália – O HOMÚNCULO tragédia jocosa com quatro ilustrações da autora. Contraponto, Lisboa, 1964. In- 4º de 38-(2)págs. Encadernação meia francesa em pele azul com florões dourados em casas abertas na lombada. Conserva capa de brochura. Ilustrado com quatro colagens da Autora. Expressiva dedicatória autógrafa.
Obra muito rara.
Peça publicada em 1965 por Luiz Pacheco e logo apreendida pela PIDE, onde a sátira está presente do início ao fim, abrindo, assim, espaço a uma profunda crítica ao salazarismo.Nesta peça é possível notar a presença de elementos vindos do Surrealismo, bem como algumas semelhanças com o Teatro do Absurdo.
"Câmara real no palácio de el-rei Salarim, senhor absolutíssimo da Mortocália, país de dez milhões de habitantes e outras estátuas de heróis que outrora o glorificaram, antiquissimamente alojado na Europa, de forma a ver o mar, e de clima temperado por calores propícios a fazer sesta" [80 €]



10274. CORREIA, Natália – PASSAPORTE. Editora Gráfica Portuguesa, lisboa, 1958. In-8º de 60-(4)págs. Br. Primeira edição. Raro.
Um dos primeiros e mais raros livros de poesia de Natália Correia. [85 €]

POEMA DESTINADO A HAVER DOMINGO

Bastam-me as cinco pontas de uma estrela
E a cor dum navio em movimento
E como ave, ficar parada a vê-la
E como flor, qualquer odor no vento.

Basta-me a lua ter aqui deixado
Um luminoso fio de cabelo
Para levar o céu todo enrolado
Na discreta ambição do meu novelo.

Só há espigas a crescer comigo
Numa seara para passear a pé
Esta distância achada pelo trigo
Que me dá só o pão daquilo que é.

Deixem ao dia a cama de um domingo
Para deitar um lírio que lhe sobre.
E a tarde cor-de-rosa de um flamingo
Seja o tecto da casa que me cobre

Baste o que o tempo traz na sua anilha
Como uma rosa traz Abril no seio.
E que o mar dê o fruto duma ilha
Onde o amor por fim tenha recreio.



De David Mourão-Ferreira, temos igualmente algumas das suas obras mais procuradas.



10325. MOURÃO-FERREIRA, David – TEMPESTADE DE VERÃO. Guimarães Editores, Lisboa, 1954. In-8º de 69-(2)págs. Br. Integrado na colecção "Poesia e Verdade". Com um desenho de António Vaz Pereira na página antes da folha de rosto. Valorizado com uma extensa dedicatória autógrafa datada de Novembro de 1954. Conserva cinta editorial. Cheio de anotações,a lápis, feitas por Maria de Lourdes Belchior e com interesse literário.
Primeira edição.
Segundo livro do autor, distinguido com o Prémio de Poesia Delfim Guimarães. [85 €]

Praia do Esquecimento

Fujo da sombra; cerro os olhos: não há nada.
A minha vida nem consente
rumor de gente
na praia desolada.

Apenas decisão de esquecimento:
mas só neste momento eu a descubro
como a um fruto rubro
de que, sem já sabê-lo, me sustento.

E do Sol amarelo que há no céu
somente sei que me queimou a pele.
Juro: nem dei por ele
quando nasceu.



10281. MOURÃO-FERREIRA, David – A SECRETA VIAGEM. Edições Távola Redonda, Lisboa, 1950. In-8º de 59-(3) págs. Br. Integrado na colecção "Távola Redonda". Valorizado com uma expressiva dedicatória autógrafa do autor. Livro numerado (nº 6) e assinado pelo autor de uma tiragem especial de 165 exemplares. Muito raro.
Obs.: Primeiro livro de poesia de David Mourão-Ferreira onde já se encontram alguns dos traços da sua poética. [75 €]

A Secreta Viagem

No barco sem ninguém, anónimo e vazio,
ficámos nós os dois, parados, de mão dada...
Como podem só dois governar um navio?
Melhor é desistir e não fazermos nada!

Sem um gesto sequer, de súbito esculpidos,
tornamo-nos reais, e de madeira, à proa...
Que figuras de lenda! Olhos vagos, perdidos...
Por entre nossas mãos, o verde mar se escoa...

Aparentes senhores de um barco abandonado,
nós olhamos, sem ver, a longínqua miragem...
Aonde iremos ter? — Com frutos e pecado,
se justifica, enflora, a secreta viagem!

Agora sei que és tu quem me fora indicada.
O resto passa, passa... alheio aos meus sentidos.
— Desfeitos num rochedo ou salvos na enseada,
a eternidade é nossa, em madeira esculpidos!


               
De Mário Cesariny de Vasconcelos encontramos um óptimo conjunto de títulos.



10311. VASCONCELOS, Mário Cesariny de [ant.] – ANTOLOGIA SURREALISTA DO CADÁVER ESQUISITO. Guimarães Editores, Lisboa, 1961. In-8ºde 106(2)págs. Br. Colecção " Poesia e Verdade". Frontispicio ilustrado por Cruzeiro Seixas, Mário Henrique Leiria, Cesariny e Simon Watson Taylor. Primeira Edição. Raro.

Primeira reunião de textos colectivos realizados por surrealistas portugueses usando um jogo muito comum neste movimento- O "cadavre exqui". Participam nesta antologia nomes como Mário Henrique Leiria, Mário Cesariny, António Maria Lisboa,Henrique Risques Pereira, Alexandre O' Neill, Pedro Oom, Alfredo Margarido, entre outros. Obra de referência do Surrealismo Português. Muito rara. [80 €]



10309. VASCONCELOS, Mário Cesariny de – NOBILÍSSIMA VISÃO. Guimarães Editores, Lisboa, 1959. In-8º de 76-(4)págs. Br. Cadernos por abrir. Livro raro, integrado na conceituada «Colecção Poesia e Verdade».
Primeira Edição.
Livro Raro. Nesta primeira edição, «Nobilíssima Visão» é “uma visão humorística do mundo, por vezes bem à maneira surrealista, onde surgem ingredientes neo-realistas para serem imediatamente ultrapassados” (O Surrealismo em Portugal, p. 316). Mais tarde, em 1976, foi totalmente refundida pelo autor. [140 €]

À JUSTA
vou aqui por este lado
a vistoriar o historiado

vou por aqui e vou bem
já o dizia a minha mãe

pobre morta é verdade
mas é assim a eternidade

vou depressa antes que anoiteça
e o campo de facto desapareça

e canto esta canção irregular
que é como canta quem anda a vistoriar



10308. CESARINY, Mário – PENA CAPITAL. Contraponto, Lisboa, 1957. In-8.º de 135-(4) págs. Br. Exemplar em bom estado de conservação, com miolo muito limpo, apresentando apenas ocasionais picos de acidez nas capas de brochura.
PRIMEIRA EDIÇÃO com uma dedicatória autógrafa.
Encerra o célebre poema “you are welcome to Elsinore”. Alguns poemas encontravam-se até aqui inéditos. Os temas aqui publicados rondam essencialmente “...o humor, o absurdo, non-sense, inverosimilhança. As imagens utilizadas são fortemente influenciadas pelo surrealismo e os textos narrativos encontram-se na linha das correspondentes composições francesas...” (Maria de Fátima Marinho, Dicionário de Literatura Portuguesa). [300 €] 



De Ruy Cinatti Vaz Monteiro Gomes  temos esta obra importante na sua bibliografia:



10241. CINATTI, Ruy – BORDA D´ALMA | OS MELHORES ANOS DA NOSSA VIDA - DIVERTIMENTO CONTRAPONTÍSTICO. Editora Pax, Lisboa, 1973. In-8º de 32 págs. Br.
Obra Muito rara.
Sátira ao sistema eleitoral e político, ao regime fascista e à guerra colonial, ao destino da pátria e do império. Inclui também ainda 2 trabalhos: OS MELHORES ANOS DA NOSSA VIDA/ R. Cinatti e DIVERTIMENTO CONTRAPONTÍSTICO /José Blanc de Portugal. [75 €]



De Júlio Maria dos Reis Pereira, ou Júlio como artista plástico e Saúl Dias como poetatemos este raro livro de poemas:



10271. DIAS, Saúl – AINDA. Versos de Saul Dias com desenhos de Júlio da colecção “poeta”. Edições “Presença”. (Coimbra). 1938. In-8º de 44 págs. inums. Br. Ilustrado com desenhos de Júlio impressos em página inteira. De tiragem reduzidíssima. Valorizado por uma dedicatória autógrafa. Muito raro. [175 €]

Serena,
pacífica província,
toda alma e toda calma!

Sempre aos domingos
beijada pelo sol!

Jogam, em plena praça, o futebol
os garotos da rua
(jogo sem convenções...)

Província das procissões
(oiros velhos, doridos...)
e das brancas primeiras comunhões!

Província sem sentidos!


Muitos outros autores, de leitura quase obrigatória, ficaram por referir, mas essa descoberta caberá a vós fazê-la com o convite para uma boa leitura – mais que não seja dos poemas seleccionados pelo Miguel.


Saudações bibliófilas.


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