Passados que são 40 anos sobre o
25 de Abril já existem novas gerações que não viveram o período da ditadura
salazarista/marcelista, pelo que a memória de alguns dos acontecimentos mais
dramáticos deste longo período se vai perdendo ao longo do tempo.
40.º Aniversário do 25
de Abril
Pretendo com este apontamento deixar
aqui o registo do que a Censura tentou amordaçar / silenciar na palavra
escrita, pelo que me vou socorrer desta página criada pela in-libris propositadamente para esta data – *** Letras de Liberdade***.
Escrever livre em ditadura sempre foi muito difícil e, por mais voltas
que se dessem ou se tentasse deixar a mensagem subentendida nas entrelinhas, o
censor era sempre bastante activo e na dúvida (raramente as tinha...) cortava.
Carimbo de Exame Prévio
(Censura)
Vejamos alguns exemplos de obras de escritores na sua grande
maioria bem conhecidos tanto como homens das letras bem como exemplos de cidadania
responsável e espírito democrático.
ALEGRE (Manuel).— UM BARCO PARA ÍTACA. 1971. [Águeda. 1971].
11,5x17 cm. 64 págs. B.
Primeira edição desta obra
poético-dramática, evocando o poema Odisseia, de Homero. Integrado na colecção
“Nosso Tempo”.
Consta no rol de livros proibidos
pela censura.
ALEGRE (Manuel).— O CANTO E AS ARMAS. 1970. [Tipografia Camões.
Póvoa de Varzim]. 11,5x19 cm. 140-IV págs. B.
“Se neste nosso país houver um
mínimo de consciência dos valores nacionais e sobretudo da escassês daquilo que
se realiza a tal nível de depuração que se torna necessário a quem quer que
seja, estes poemas de Manuel Alegre deverão figurar imediatamente em antologias
escolares e ser decoradas como expressão mais actual de uma saudade portuguesa
que (como pretendia Pascoaes) é também, se não sobretudo, esperança.”
Livro cujos exemplares da 1ª
edição foram apreendidos pela censura.
BRANDÃO (Raul).— OS PESCADORES. Prefácio de Manuel Mendes.
Editorial Estúdios Cor. Lisboa. (1957). 19x25.5 cm. 194-VI págs. B.
Rara edição de muito cuidada
orientação gráfica de Manuel Correia, ilustrada com fotografias de “alguns
amadores fotográficos” de grande
qualidade artística e documental, muito bem impressas em sépia.
Tiragem limitada a mil exemplares
numerados.
(Documento
retirado de Ephemera, Biblioteca e Arquivo de José Pacheco Pereira)
Uma das mais importantes obras do
autor e um dos mais belos livros que sobre este tema possui a literatura
portuguesa. Com referências às praias da Foz do Douro, Ria de Aveiro, Palheiros
de Mira, Berlengas, Nazaré, Lisboa, Setúbal, Sezimbra, Costa da Caparica, Olhão,
Tavira, Sagres e a muitas outras praias pesqueiras, tipos de pesca, etc.
O livro, na sua primeira edição
de 1923, foi alvo das investidas da censura, que acabou por autorizar a sua
publicação. Vinte e três anos mais tarde, faz os reparos, que se mostram no
relatório.
Exemplar com alguns picos de
acidez na folha de guarda.
CORREIA (Romeu).— SÁBADO SEM SOL. Contos. Edição do autor. 1947.
13x19,5 cm. 151-VII págs. B.
Primeiro livro de contos de Romeu
Correia e um dos mais raros da sua bibliografia, por ter sido proibido pela
censura.
Capa de brochura ilustrada por
Fernando Camarinha.
Capa da brochura com sinais de
manuseamento. Assinatura de posse nas páginas preliminares e folha de rosto.
FERREIRA (José Gomes).— AVENTURAS MARAVILHOSAS DE JOÃO SEM MEDO.
Romance. Portugália Editora. (Lisboa. 1963). 13,5x19 cm. 254-VIII págs. B.
Primeira edição da publicação em volume que colige e refunde,
em 1963, alguns dos episódios vividos por João Sem Medo, um herói
"fala-barato de imprecações e graçolas populares, desprezador dos
tiranetes e dos poderosos e, sobretudo, cheio de alegria de existir, de
respirar, de acreditar nos bons sentimentos e de inventar monstros para os
destruir e vencer"
Em 1933, havia sido escrita pelo
autor, em 26 folhetins, para uma gazeta
juvenil, O Senhor Doutor, sob o pseudónimo de Avô do Cachimbo, nascidas da
ideia de criar um herói que "desmistificasse os Gigantes, os Príncipes, as
Princesas, as Fadas" e "permitisse criar novos mitos, tornar mágicos
os objetos vulgares da vida diária e dar contorno às minhas verdades mais
profundas numa linguagem de acção poética"
Ainda segundo o autor, esta obra
é “... Um romance irónico passado num mundo fantástico de símbolos, sonhos e
pesadelos, e escrito por um homem bem acordado.”
Capa ilustrada a cores por Câmara
Leme.
Capa da brochura amarelecida.
FERREIRA (Vergílio).— MANHÃ SUBMERSA. Romance. Lisboa. 1954.
12,5x19,5 cm. 234-VI págs. B.
Inicialmente intitulado Cavalo
Degolado, foi proibido pela censura em Ofício datado de Maio de 1953 e enviado
a Vergílio Ferreira, para Évora, cidade onde então leccionava. Na margem do
mesmo ofício pode ler-se a lápis: “Teve mais tarde o título de Manhã Submersa”.
Um dos mais importantes romances
do século XX português aqui apresentado na sua rara primeira edição ilustrada
com os magníficos linóleos de António Charrua.
FERREIRA (Vergílio).— ANDRÉ MALRAUX (INTERROGAÇÃO AO DESTINO). Editorial
Presença. Lisboa. 1963. 11,5x18,5 cm 243-I págs. B.
“(...) Ora, Vergílio Ferreira,
neste magnífico e original ensaio que uma vez mais evidencia a sua rara vocação
para o ensaísmo, dá-nos precisamente essa diferenciação de planos, ao abordar a
personalidade de Malraux, para seguidamente se deter na parte que mais nos
importa — a obra do grande escritor francês. E fá-lo de um modo notável,
equilibrando um penetrante poder de análise com uma profunda sensibilidade em
relação ao fenómeno estético e, sobretudo, à mensagem humana que ele encerra,
de tal modo que nos deixa nesta obra mais uma marca da sua excepcional
capacidade criadora e... quiça a sugestão de que, tal como Malraux, essa
capacidade venha a encontrar fora do ficcionismo o seu futuro campo de
expressão”.
Ilustrado com várias reproduções
de fotografias.
Obra que foi posta fora de
circulação pela censura aquando desta
sua primeira edição em 1963.
FILIPE (Daniel).— PÁTRIA, LUGAR DE EXÍLIO. Poesia em tempo de
guerra. (S.d. 1963?). Composto e Impresso na Gráfica Boa Nova, Ldª. Lisboa.
13x19,5 cm. 78-II págs. B.
Poeta com merecido lugar na
história da Literatura Portuguesa do século XX, não apenas pela obra que nos
deixou mas pela sua grande intervenção na vida cultural e política do nosso
país, tendo sofrido na pele a prisão e a censura, da qual este seu livro de
poesia integrado na Colecção Forma, é disso exemplo.
FILIPE (Daniel).— O MANUSCRITO NA GARRAFA. Novela. Guimarães
Editora. Lisboa. (1960). 11,5x16,5 cm. 156-II págs. B.
“O Manuscrito na Garrafa prova
que a criação poética não é incompatível com a criação novelística. Poeta e
cronista de viva originalidade, Daniel Filipe, pôde encontrar e apurar um meio
de expressão que nesta sua primeira novela ganha uma significativa aplicação à
actualidade portuguesa (...)”
(Documento
retirado de Ephemera, Biblioteca e Arquivo de José Pacheco Pereira)
Daniel Filipe, foi colaborador,
entre outras publicações literárias, das revistas Seara Nova e Távola Redonda.
Combateu a ditadura salazarista, tendo sido perseguido e torturado pela
P.I.D.E.
Viu alguns dos seus livros serem
proibidos, nomeadamente esta curiosa novela, cuja primeira e única edição agora
se apresenta.
Capa da brochura algo escurecida
e com pequena mancha.
FONSECA (Manuel da).— SEARA DE VENTO. Colecção Atlântida. (Lisboa.
1958). 13x20 cm. 171-V págs. B.
Primeira edição deste excelente
livro de Manuel da Fonseca, autor muito vigiado pelo regime, tendo este livro
sido autorizado a publicar após apreciação da Direcção dos Serviços de Censura,
como se pode ver em anexo. Capa da brochura ilustrada por Vespeira.
GOMES (Soeiro Pereira).— ENGRENAGEM. Romance. Edições SEN Porto.
1951. 15x21 cm. 261-III págs. B.
Obra importante no moderno
panorama da literatura portuguesa, integrada no movimento neo-realista,
movimento de que o autor foi um dos mais notáveis cultores.
Primeira edição, póstuma,
apreendida pela censura aquando do seu aparecimento no mercado o que justifica
a sua raridade.
Inclui o “Último retrato de
Soeiro Pereira Gomes.”
GOMES (Soeiro Pereira).— ESTEIROS. Edições "Sirius".
1941. (Lisboa. Oficinas de Severo, Freitas, Mega & Cª). 13x19,5 cm. 298-VI
págs. B.
Primeira edição de uma das obras
que abre o movimento neo-realista português. Capa e desenhos de Álvaro Cunhal.
(Documento
retirado de Ephemera, Biblioteca e Arquivo de José Pacheco Pereira)
Vinte e cinco anos após a sua
publicação, no relatório de censura de 1966, à quinta edição, que abaixo se
mostra, pode ler-se: “Julgo por isso que este livro deveria ter sido proibido
quando apareceu, mas agora, só servia à sua propaganda no nosso meio, que o
poderia ignorar. No entanto a Ex ma. Direcção resolverá.”
Capa da brochura denotando alguma
sujidade e um pouco cansada.
JUNQUEIRO (Guerra).— PÁTRIA. Esta é a ditosa patria minha amada.
Camões. s.d. Livraria Chardron. Porto. 13,5x19,5 cm. 224 págs. E.
Terceira edição desta obra que
retrata à lupa Portugal num texto do brilhante pensador Guerra Junqueiro. No
final, naquilo a que o autor define como Balanço Patriótico, pode ler-se:
“(...) “Um povo imbecilizado e
resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta
de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de miséria, sem uma
rebelião, um mostrar de dentes, a energia de um coice, pois que nem já com as
orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se
lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que
eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência
como que um lampejo misterioso da alma nacional, - reflexo de astro em silêncio
escuro de lagoa morta; (...) Um poder legislativo, esfregão de cozinha do
executivo; este criado de quarto do moderador; (…) A Justiça ao arbítrio da Política,
torcendo-lhe a vara a ponto de fazer dela um saca-rolhas; (…) Instrução
miserável, marinha mercante nula, indústria infantil, agricultura rudimentar;
(…) Um regime económico baseado na inscrição e no Brasil, perda de gente e
perda de capital, autofagia colectiva, organismo vivendo e morrendo do
parasitismo de si próprio; (...) O português , apático e fatalista, ajusta-se
pela maleabilidade da indolência a qualquer condição. (...)”
Peça que foi proibida de ser
representada pela Comissão de Censura conforme relatório datado de 16 de Maio
de 1955, (já na sua sétima edição).
NAMORA (Fernando).— O TRIGO E O JOIO. Romance. Guimarães Editores.
Lisboa. (1954). 12,5x19 cm. 295-V págs. B.
Primeira edição de um dos mais
emblemáticos textos de Fernando Namora, com capa da autoria de Cambraia e
desenhos de António Charrua.
O livro, foi levado à Direcção
dos Serviços de Censura, cujo relatório de 1957, termina desta foram: “(...)
Atendendo à obra que é e ao seu autor e também a que está publicada e à venda
desde 1954 não vejo agora, razão para proibir, tanto mais que até hoje não
houve nenhuma reclamação.”
Em 1965, este livro foi objecto
de uma adaptação cinematográfica, realizada por Manuel Guimarães interpretado
por Eunice Muñoz, Igrejas Caeiro, Manuel da Fonseca, Lídia Franco, entre
outros.
PIRES (José Cardoso).— O HÓSPEDE DE JOB. Romance. Arcádia. (Lisboa.
1963). 11,5x19 cm. 254-IV págs. E.
Uma das mais notáveis obras do
autor, valorizada com um autógrafo. Primeira edição, Rara.
Encadernação editorial.
QUENTAL (Antero de).— CAUSAS DA DECADÊNCIA DOS POVOS PENINSULARES.
2ª edição. (Edição do coordenador, impresso por Prensa). (Lisboa. 1971). 11x18
cm. 70 pags. B.
“Este texto foi extraído do livro
Prosas (vol II), editado pela Imprensa da Universidade, Coimbra, 1926).
"Obra inserida na colecção Cadernos Peninsulares. De salientar o facto de
ser uma edição do coordenador (José Antunes Ribeiro).
.
(Documento
retirado de Ephemera, Biblioteca e Arquivo de José Pacheco Pereira)
Esta segunda edição foi levada
aos Serviços de Censura, acabando por ser autorizada, como pode ler-se no
despacho que aqui se mostra.
REDOL (Alves).— A BARCA DOS SETE LEMES. Romance. Publicações
Europa-América. Lisboa. (1958). 14x19 cm. 516 págs. B.
"A Barca dos Sete Lemes é um
grande romance e assinala uma fase culminante de domínio da criação romanesca
na obra do grande escritor português que, em romance, iniciou a ficção
neo-realista.”.
Este livro consta do rol de
livros censurados pelo regime.
Capa da brochura de Sebastião
Rodrigues.
REDOL (Alves).— GAIBÉUS. Romance. 6ª edição refundida. Publicações
Europa-América. (Lisboa. 1965). 14,5x21 cm.322-VI págs. B.
“No magnífico prefácio que antecede esta 6ª
edição, que historia o nascimento do escritor e a gestação do seu primeiro
romance, escreve Alves Redol: ‘Gaibéus seria um compromisso deliberado da
reportagem com o romance, em favor dos homens olvidados e também da literatura
aviltada... Mas, perante a ameaça que depois tão tràgicamente todos provaram na
consciência, ou na carne, Gaibéus quis ser, e foi, um dos gritos exactos de um
drama colectivo e privado.’ “.
(Documento
retirado de Ephemera, Biblioteca e Arquivo de José Pacheco Pereira)
Livro cuja primeira edição foi
proíbida pelo regime, conforme relatório Nº 1214 (15 DE FEVEREIRO DE 1940), da
Direcção dos Serviços de Censura.
Dedicatória do autor a Alfredo
Guisado.
RIBEIRO (Afonso).— POVO. Contos. Editorial Ibérica. Porto. (1947).
13x19,5 cm. 268-IV págs. B.
"De um humanismo profundo,
os contos de Povo estão escritos de maneira a fazer-nos sentir os sofrimentos e
a ansiedade dos seus personagens, produtos de uma amarga e miserável
existência", motivos que determinaram a sua apreensão pela censura.
Primeira edição.
Capa ilustrada por Júlio Pomar.
Capa da brochura e lombada muito
cansadas.
RIBEIRO (Aquilino).— QUANDO OS LOBOS UIVAM. Livraria Bertrand.
Lisboa. (1958). 15,5x20,5 cm. 412 págs. B.
Primeira edição desta importante
obra de Aquilino que, pela sua ousada temática social para a época, esteve
proibida de circular em Portugal o que justifica o seu escasso aparecimento no
mercado.
(Documento
retirado de Ephemera, Biblioteca e Arquivo de José Pacheco Pereira)
No relatório que se anexa abaixo
pode ler-se escrito à mão: “1.º Não autorizada a reedição. 2.ª Não permitir
críticas em impressão. 3.ª Apreender os poucos exemplar que, possivelmente...”
RODRIGUES (Urbano Tavares).— NUS E SUPLICANTES. Novelas. Livraria
Bertrand. [Lisboa. 1960.] 13x19 cm. 147-V págs. B.
Uma das obras mais lidas do
autor, que como tantos outros, foi afastado do ensino universitário durante a
ditadura de Salazar e Caetano, tendo participado activamente na resistência e
preso inúmeras vezes.
Livro proibido pela censura,
embora tenha suscitado pareceres diferentes entre os censores.
Números escritos na folha de
guarda. Pequeno carimbo a óleo na folha de rosto.
SANTARENO (Bernardo).— O DUELO. Peça em 3 Actos e 3 Quadros.
Edições Ática. Lisboa. (1961). 14,5x19,5 cm. 206-II págs. B.
Segundo Luís Francisco Rebelo:
“Oscilando entre os pólos (de sinal contrário, mas de força equivalente) de uma
fascinação do mal e de uma obsessão de angelismo, o seu teatro realiza a
inesperada fusão de temas de raíz popular com as preocupações existenciais mais
fundamente sentidas na carne e no espírito do homem seu e nosso contemporâneo”.
Primeira edição de uma das mais notáveis peças de Santareno, pseudónimo
literário de António Martinho do Rosário.
Peça que consta do rol de livros
proibidos do antigo regime.
SANTARENO (Bernardo).— O INFERNO. Peça-julgamento em 3 audiências e
8 retrospectivas. Edições Ática. Lisboa. S.d.18x20 cm. 228 págs. B.
Peça baseada num dos
"processos mais atrozes da história", ocorrido em Inglaterra.
Primeira edição, proibida pela
Comissão de Censura.
Exemplar com carimbos a óleo na
folha de rosto.
SANTARENO (Bernardo).— ANUNCIAÇÃO. Peça em 3 actos. Edições Ática.
Lisboa. (1962). 14,5x19,5 cm. 240-IV págs. B.
Disse José Régio no Diário de
Lisboa da época: “... a mais poderosa e original revelação do teatro português
dos nossos dias...”
Primeira edição de uma das
melhores obras de Bernardo Santareno.
Capa e ilustrações da autoria de
Francisco Relógio.
Consta do rol de livros proibidos
pela Comissão de Censura.
STTAU MONTEIRO (Luís de).— TODOS OS ANOS PELA PRIMAVERA. 2ª edição.
Guimarães Editores. Lisboa. (1963). 12,5x19 cm. 107-III págs. B.
“Dedico esta peça — sem espírito
de camaradagem, mas com uma fortíssima gargalhada — a todos os que, pela
própria natureza do regime prisional a que estejam, ou venham a estar sujeitos,
se considerem, em consciência, obrigados a proibi-la.”
Obra, obviamente proibida pela
censura.
TORGA (Miguel).— MONTANHA. Contos. Coimbra. 1941. (Impresso nas
Oficinas da tip. da “Atlântida”). 14x20,5 cm. VI-181-I págs. B.
Primeira edição, de grande
raridade no mercado, uma vez que foi imediatamente apreendido aquando da sua
publicação.
Posteriormente viu o seu título
modificado para “Contos da Montanha”.
TORGA (Miguel).— BICHOS. Contos. 3ª edição revista. Coimbra. 1943.
(Composto e impresso nas oficinas da «Atlântida»). 13x19 cm. 128 págs. B.
Terceira edição revista.
Dedicatória na folha de guarda.
(Documento retirado de Ephemera, Biblioteca e Arquivo de José Pacheco Pereira)
Livro proibido pelo regime,
conforme RELATÓRIO Nº 5069 (29 DE OUTUBRO DE 1953), da Direcção dos Serviços de
Censura.
TORGA (Miguel).— A CRIAÇÃO DO MUNDO (O Terceiro Dia). Coimbra.
1948. [«Coimbra Editora, Limitada»]. 13,5x19cm. 218-II págs. B.
Muito invulgar segunda edição,
refundida, de parte de uma das mais importantes obras do Autor.
Livro cuja primeira edição foi
censurada pelo regime, conforme relatório nº 5057, onde se pode ler:
“ (...) Escritor de forte poder de aceitação por leitores deficientes recursos
espirituais. Procura motivos sugestivos, em prol da descrença, fomentando o
desrespeito social. O humilde é sempre vitima das injustiças sociais. As obras
deste autor não devem ser consentidas em agremiações operárias, por razões
óbvias.”
TORGA (Miguel).— VINDIMA. Romance.
Coimbra 1945. 13,5x20 cm. 266-II págs. E.
Primeira edição deste romance,
que tem como cenário a paisagem duriense.
Encadernação em sintético.
Conserva as capas da brochura. Carminado à cabeça.
TORGA (Miguel).— VINDIMA. Romance. 4ª edição revista. Coimbra
[1971]. 13,5x20 cm. 271-I págs. B.
Reedição deste notável romance,
que tem como cenário a paisagem duriense.
De assinalar que este foi um dos
muitos livros apreendidos pela censura.
Encadernação com lombada e cantos
em pele. Conserva as capas da brochura.
TORGA (Miguel).— RUA. Novelas e contos. Coimbra - 1942. (Oficinas
da “Atlântida”). 12,5x19,5 cm. 198-II págs. E.
Invulgar livro de contos e
novelas, sendo esta a primeira das várias edições que a obra já conta.
(Documento
retirado de Ephemera, Biblioteca e Arquivo de José Pacheco Pereira)
Obra que passou pelas mãos da
censura, que no seu relatório nº5058 refere a perigosidade de Torga advertindo
que :”(...) As obras deste autor não devem ser consentidas em gremiações
operárias, por razões obvias.”
Encadernação sóbria em tela
reproduzindo a capa original. Exemplar com alguma acidez caracteristica do
papel. Conserva capas de brochura e encontrando-se levemente aparado à cabeça.
Mas se estes autores são por demais conhecidos, convirá
não esquecer muitos vultos da intelectualidade portuguesa da época, que não
partilhavam das opiniões oficiais, e que ao tentarem editar algumas das suas obras
também sofreram com as arbitrariedades da Censura – proibição ou cortes
significativos das mesmas. Senão vejamos:
BACELAR (José).— ARTE POLÍTICA E LIBERDADE. Editorial “Inquérito”,
Lda. Lisboa. (1941). 76-IV págs. B.
José Bacelar foi um brilhante
crítico, pensador e ensaísta da sua geração. Colaborou em revistas como Seara
Nova, Revista de Portugal ou Presença. Na sua opinião há uma cisão profunda
entre a arte e a política, e é precisamente esta opinião que vemos neste
ensaio.
“(...) Seja como for, não é ao
político que incumbe estabelecer o ‘valor’ da arte sob o ponto de vista do
mesmo (o largo ponto de vista do espírito livre) dos altos ‘interêsses’ da
Humanidade, decretar o seu banimento ou a sua exaltação. diz-no-lo a pura
lógica das coisas: o político é uma parte — não é o todo. Menos lógico ainda,
porém, sobretudo muito mais hipócrita, é que, sob o pretexto de beneficiar a
arte, ou pelo menos não confessando a sua indiferença perante o aniquilamento
dela, o político, mantendo-se inamovível no seu ponto de vista de político,
pretenda impor uma orientação, uma ‘moral’ (a sua, naturalmente) à arte, e
intervenha com leviandade e sem-cerimónia nos seus problemas íntimos (...).”
Obra proibida pela censura.
CARAÇA (Bento de Jesus).— CULTURA INTEGRAL DO INDIVÍDUO. Problema
central do nosso tempo. 3ª edição. Lisboa. Seara Nova. 1941. 12x19cm. 49-III
págs. B.
Na nota explicativa da 2ª edição, pode ler-se: “As páginas que
vão ler-se conteem a matéria de uma conferência que o autor realizou em 1933
(25 de Maio) a convite duma organização de novos — a União Cultural “Mocidade
Livre” — para inauguração da sua actividade. Viviam-se nessa altura horas
inquietas e fecundas (...)” As ilusões nunca são perdidas. Elas significam o
que há de melhor na vida dos homens e dos povos. Perdidos são os cépticos que
escondem sob uma ironia fácil a sua impotência para compreender e agir (...)
Bemditas as ilusões, a adesão firme e total a qualquer coisa de grande, que nos
ultrapassa e nos requere. Sem ilusão, nada de sublime teria sido realizado, nem
a catedral de Strasburgo, nem as sinfonias de Beethoven. Nem a obra imortal de
Galileo.”
Obra da secção de Estudos
Políticos e Sociais, integrada nos Cadernos da Seara Nova.
Proibição desta obra, como pode
ler-se no despacho de 14 de Fevereiro de 1951.
Assinatura de posse na folha de
rosto.
PEREIRA (José Pacheco).— LUTAS OPERÁRIAS CONTRA A CARESTIA DE VIDA EM
PORTUGAL. A GREVE GERAL DE NOVEMBRO DE 1918. (Portucalense Editora. 1971)
11,5x18,5 cm. 199-I págs. B.
(Documento
retirado de Ephemera, Biblioteca e Arquivo de José Pacheco Pereira)
Livro apreendido e proibido de
circular pela PIDE, tendo valido um processo ao autor, sob a direcção de
António Rosa Casaco.
Valorizado pela dedicatória do
autor.
SARAIVA (António José).— A INQUISIÇÃO PORTUGUESA. Publicações
Europa-América. Lisboa. (1956).12x18 cm. 122-IV págs. B.
(Documento
retirado de Ephemera, Biblioteca e Arquivo de José Pacheco Pereira)
"Este livro é uma
contribuição para a necessária revisão das ideias correntes acerca das causas,
função e consequências da Inquisição portuguesa. As suas conclusões estão
sujeitas a riscos inerentes a tudo o que sobre a Inquisição se diga enquanto
não se fizer o estudo sistemático do material da Torre do Tombo." Primeira
edição, integrada na "Colecção Saber". A capa retrata S. Domingos com
uma espada na mão esquerda e um ramo de oliveira na direita, tendo a seus pés
um cão que segura nos dentes uma vela acesa, cuja chama toca numa esfera
redonda com uma cruz. Por cima da cabeça pode ler-se: "Misericordia et
Justitia."
Livro muito analisado pelo
regime, conforme relatórios n.º 7603 (20 de Dezembro de 1965) e n.º 8527 (Julho
de 1969) da Direcção dos Serviços de Censura.
SÉRGIO (António).— EDUCAÇÃO CÍVICA. (2ª edição). 1954. Editorial
Inquérito Limitada. Lisboa. 12,5x19 cm. 86-II págs. B.
(Documento
retirado de Ephemera, Biblioteca e Arquivo de José Pacheco Pereira)
“Nesta segunda edições, que
aparece trinta e nove anos depois da primeira, fizeram-se as modificações
seguintes: suprimiu-se a longa advertência da primeira; traduziram-se as
transcrições que na primeira se tinham dado em francês, inglês e espanhol; e
desapareceram (como não podia deixar de ser) as notas relativas às partes do
texto que foram agora eliminadas.”
A primeira edição esteve proibida
pela censura.
SÉRGIO (António).— ALOCUÇÃO AOS SOCIALISTAS. No Banquete do
Primeiro de Maio de 1947. Editorial Inquérito Limitada. Lisboa. [S.d.]. 14,5x21
cm. 32 págs. B.
Texto bem ao estilo sergiano,
numa explanação concisa mas reveladora da sua clareza de raciocínio.
Livro proibido pelo regime,
conforme relatório Nº 3028 (S.D.), da
Direcção dos Serviços de Censura.
SÉRGIO (António).— HISTÓRIA DE PORTUGAL. Tomo I — Introdução
Geográfica. Livraria Portugália. Lisboa. 1941. 16x22 cm. 253 - V págs. B.
“Êste ensáio histórico-social
(que se poderia intitular, com suficiente propriedade, ‘problemas de
interpretação da nossa história’) é como que um apêlo à erudição futura para
que nos dê aquilo de que êle é um germe — uma mancha, digamos, uma veleidade,
um esquema;(...)”
Do índice: Capítulo I - A
“Ocidental praia” do continente europeu; Capítulo II - O ambiente geográfico e
as regiões naturais-sociais: 1 - Portugal na península ibérica; 2 - O regime
das águas e os seus problemas; 3 - As regiões geográfico-sociais; Capítulo III
- A orla marítima; Capítulo IV - O clima e os planos actuais para a correcção
do ambiente físico; Capítulo V - Entradas geográficas; Capítulo VI - A
população.
Primeiro e único volume
publicado, proibido aquando do seu aparecimento no mercado, o que explica a sua
invulgaridade. Ilustrado nas páginas de texto. Primeira edição.
Capa da brochura com algum
cansaço.
SILVA (Agostinho da).— VIAGENS DE LIVINGSTONE. (Publicação
Quinzenal. Edição do autor: Agostinho da Silva.). Lisboa. 1944. 16,5x24 cm. 30
págs. B.
Cadernos de Informação Cultural,
foi uma publicação quinzenal, criada por Agostinho da Silva em 1940, que
consiste em pequenos fascículos, dedicados a um tema, arte, biografia,
literatura, história, ciência, curiosidades, etc. Este, fala-nos das viagens de
Livingstone, médico missionário escocês, e explorador em África.
O fascículo, acabou por ser
autorizado com cortes, pois julga “ser inconveniente varias alusões que o autor
faz à prática da escravatura por portugueses (...)”.
Outras obras pela sua índole marcadamente política
tiveram o mesmo destino – a supressão pela Censura omnipotente e omnipresente
na vida cultural de então.
É o caso deste opúsculo editado
por alturas das “eleições livres” de 1969 pela Oposição maioritariamente
reunida na CDE (Comissão Democrática Eleitoral).
Partidos? Esse era único – Acção
Nacional Popular (ANP) a versão marcelista da União Nacional.
VÁRIOS.— NOVA CARTILHA DO POVO. (edição dos autores). Braga. 1969.
11,5x17 cm. 29-I págs. B.
“Em Jeito de explicação, CARTILHA
DO POVO — foi o título de um opúsculo publicado em 1884. O seu autor, José
Falcão, contribuiu através dele para a propaganda republicana, despertando o
Povo para a consciencialização política. E alcançou o objectivo pretendido,
pois o opúsculo logo teve mais de cinco edições, com uma tiragem total de algumas
dezenas de milhares de exemplares. A NOVA CARTILHA DO POVO inspira-se no
opúsculo de José Falcão. Mas, embora através de um esquema necessàriamente
simples, adopta por temas, como é natural, os problemas portugueses do nosso
tempo presente. (...) seguindo o seu exemplo, pretendemos também suscitar a
reflexão e efectiva consciencialização política e, por consequência, ajudá-lo a
mais rapidamente tomar conta do destino do País, que é a Pátria de todos nós.”
São autores deste opúsculo:
António Pereira Marinho Dias, Humberto Trindade Soeiro, Joaquim António dos
Santos Simões, Joaquim Victor Baptista Gomes de Sá, Lino Carvalho de Lima e
Maria Margarida Braga Malvar.
De raro aparecimento no marcado
alfarrabista, não só por se tratar de um opúsculo político facilmente
descartável, mas por haver sido proibido pela censura.
CARTA ABERTA AO SENHOR PRESIDENTE DA COMISSÃO PROVINCIAL DA UNIÃO
NACIONAL. S.d. 21x28cm. 3 ff.
Cópia dactilografada, cujo
primeiro parágrafo transcrevemos: “Os signatários figuram, como V.ºxa sabe -
até porque nunca fizeram segredo disso - entre os que, em Moçambique, têm
afirmado, no passado em todas as eleições, uma posição intransigente de
desacordo com o Governo sobre problemas internos.
“Houve por bem V.ªxa, na sua
alocução aos portugueses de Moçambique, que a rádio e a imprensa amplamente
difundiram, interpretar a abstenção dos oposicionistas moçambicanos, em face do
acto eleitoral em curso como manifestação de “falta de solidariedade”, por
motivos superiores, com essa escassa minoria que, em Lisboa publicou o chamado
manifesto da Oposição Democrática.”
“Acrescentou V. Ex.ªxa que “nesta
Provincia, hoje os portugueses, no que respeita à Defesa Nacional e à Política
de manutenção do Ultramar, estão de
acordo com o Governo”, e acabou V. Exa. por nos prestar homenagens.
“Ao proceder assim, não se
acautelou V. Exa. concedendo-nos, ao menos, o beneficio da dúvida em matéria de
tanto melindre. “Apertis Verbis”, Vªxa. julgou-se habilitado a afirmar que a
nossa abstenção - e dizemos nossa porque, infelizmente, não podemos julgar-nos
alheios às afirmações de V. Exa. - só tem como explicação ”aquela pretensa
falta de solidariedade. E afirmando, não curou de considerar que bem podia
acontecer sermos nós tão zelozos da nossa lealdade, para com os ideais que
defendemos, e para aqueles que connosco os defendem como, por certo, V. Exa, é
raro da lealdade que dispensa ao seu Governo.
“Daí a necessidade deste
esclarecimento que, como V.Exa. será o primeiro a reconhecer, não poderá deixar
de ter publicidade semelhante à que V.ªxa deu à causa que o determinou. (...)
Silenciosos ou não, a nossa divisa será sempre a mesma: “libertas quaesera
tamem” - liberdade, ainda que tarde”. Os seguintes nomes responsabilizam: António
Almeida Santos, Carlos Adrião Rodrigues, Henrique Vasco Soares de Melo e José
Santa Rita.
LEAL (Cunha).— CARTA DO SR. ENGENHEIRO CUNHA LEAL, AO SR. DR. CASTRO
FERNANDES. Lisboa, 3 de Novembro de 1965. 21x29cm. 4 ff.
Extensa, rara e polémica carta
policopiada a propósito da eleição para Presidente da República em que
participou o General Norton de Matos. Dada a sua extensão e os numerosos temas
tratados, dela reproduzimos apenas o início: “Ouso dirigir-me a V. Ex. sem ser
da sua privança ou sequer das suas relações sociais.
“Sucede, porém, que V. Exª ocupa
lugar de tal relevo na mecânica do sistema político vigente entre nós, que lhe
foi cometida nesta emergência a superior orientação do fenómeno eleitoral
(...)”. Seguem-se contundentes considerações que tocam em muitos aspectos da
política portuguesa colonial e metropolitana, à censura, etc., terminando do
seguinte modo: “Volto a dizer que esta carta é um protesto da minha
consciência, e, reservando-me o direito de fazer dela o uso que entender, não
tentarei publicá-la em jornais do meu país, para poupar aos senhores censores o
seu trabalho negativo. Autorizo, porém, V. Exª a substituir-se a mim para este
efeito, com a expressa condição de que dela não seja eliminada nem sequer uma
vírgula, sob pena de se lhe não dar publicidade.
“Creia V. Ex. que me dói ver
criaturas terem necessidade de procurarem enaltecer o seu patriotismo com
atitudes similares.
“Apesar de tudo, persisto em
subscrever-me, com muita consideração”, etc
Como sempre também existiram episódios de quem se
quisesse servir da Censura para calar outras opiniões que consideravam lesar as
suas pessoas.
ARCHER (Maria).— ARISTOCRATAS. Romance. Editorial Aviz. Lisboa. 2ª
edição. 15x20,5 cm. 437-III págs. B.
Segunda edição do segundo e
bastante invulgar romance de Maria Archer, destacada figura da literatura
portuguesa.
Segundo o relatório de censura:
“Este livro foi presente à censura em virtude dum requerimento assinado por uma
irmã da autora, a qual protesta pelo facto do livro descrever deturpadamente,
segundo a requerente, cenas da vida da família, apresentando os paes, e
principalmente a mãe, sob um prisma falso e ofensivo (...)”. O livro, acabaria
por ser autorizado pois o censor, não encontra “no livro matéria em que a
Censura possa intervir sob o ponto de vista moral e politico (...) ”.
Capa da brochura apresentando
algumas manchas de acidez, próprias do papel. Assinatura de posse na folha de
rosto.
Alguns autores estrangeiros e nomeadamente brasileiros também
tiveram problemas com a Censura.
AMADO (Jorge).— JUBIABÁ. Romance. 2ª edição. Martins. Edição Livros
do Brasil. Lisboa. 14,5x21,5 cm. 332-IV págs. E.
“Com Jubiabá, alcançou Jorge
Amado a notabilidade e a categoria dum dos maiores romancistas do mundo. O
livro esgotou no Brasil sucessivas edições e logo se negociaram os direitos
para a sua publicação em francês, russo, inglês alemão, sueco dinamarquês e
espanhol; fizeram-se contratos especiais para adaptar ao teatro e à rádio,
ultimando-se negociações que levarão ao cinema as páginas vibrantes desse
famoso livro. Ali estava pois, na obra culminante de Jorge Amado, um verdadeiro
“best-seller” a que a crítica mundial prestou os mais justos elogios”
Livro que em Portugal foi
censurado pelo regime.
Encadernação com lombada e cantos
em percalina conservando as capas de brochura. Pequena assinatura antiga na
folha de anterrosto.
SIENKIEWICZ (Henrik).— QUO VADIS. Europa-America. Lisboa. 1952
12x18,5 cm. 387-I págs. B.
“(...) O leitor encontrará nas
páginas de Quo Vadis os mais belos e horríveis espectáculos da Roma de Nero: o
incêncio da cidade, os cristãos ardendo nos jardins, os espectáculos do circo
em que os homens, mulheres e crianças
são lançados às feras. Evocando uma época terrível da História da Civilização,
o romance de Henryk Sienkiewicz deu lugar ao filme em ‘tecnicolor’ da M.G.M.,
que ficará na história do cinema pela sua deslumbrante grandiosidade”.
Edição cuidada, que assinalou a
estreia do filme Quo Vadis em Portugal.
Ilustrada com reproduções de
fotografias do filme, “amavelmente cedidas pela M.G.M.”
O livro foi proibido de circular,
pela censura.
Lombada com sinais de
manuseamento.
Claro que todas as obras que “atentassem contra a moral e os bons costumes” tão afanosamente
defendidos (mas por vezes não praticados) pelo Estado Novo teriam de ser
proibidos.
CORREIA (Natália).— O ENCOBERTO. (Lisboa. 1969). 13,5x21 cm. 122-IV
págs. B.
Peça de teatro, invulgar nesta
sua primeira e cremos que ainda não repetida edição.
(Documento
retirado de Ephemera, Biblioteca e Arquivo de José Pacheco Pereira)
Livro que foi apreendido pela
censura que na conclusão do seu relatório afirma o seguinte: “ (...) Julgo ser
de proibir por inconveniência política e ser pornografica.”
CORREIA (Natália).— O VINHO E A LIRA. Edição de Fernando Ribeiro de
Mello. (Lisboa. S. d.). I12x19 cm. 99-V págs. B.
Edição primeira e única, cuja
circulação esteve proibida na época, conforme se pode ver no RELATÓRIO Nº 7782
(6 DE JUNHO DE 1966) da Direcção dos Serviços de Censura.
(Documento
retirado de Ephemera, Biblioteca e Arquivo de José Pacheco Pereira)
Integrado na Colecção Sagir.
Capa em veludo vermelho própria
da edição. Dedicatória da autora.
SADE (Marquês de).— A FILOSOFIA NA ALCOVA. Edições Afrodite.
Fernando Ribeiro de Mello. S.d. 14,5x19 cm.359-V págs. B.
Com tradução de Manuel João Gomes
e capa e excelentes ilustrações de Martim Avillez. Esta edição tem como
posfácio o tema “A 1ª edição portuguesa ou Sade no Tribunal Plenário de Lisboa
— documentos para uma reflexão exemplar sobre política-cultura-moral-ditadura”
, onde se podem ver facsimiles dos autos de declarações, despacho de pronuncia
contestações dos réus : Fernando Ribeiro Bento de Melo; António Manuel Calado
Trindade; Herberto Helder de Oliveira; Luiz José Machado Gomes Guerreiro
Pacheco e João Batista Martins Rodrigues, do processo “de abuso de liberdade de
expressão”que decorreu em Lisboa aquando a publicação da primeira edição desta
obra. Os advogados que defenderam os réus, foram respectivamente: Dr. Manuel João
da Palma Carlos, Dr. Jorge Sampaio, Dr. Luis Francisco Rebelo, Dr. Fernando da
Rocha Calisto e João Lopes Alves. Como testemunhas também se encontram nomes
sonantes como por exemplo o de David Mourão Ferreira, José Augusto França,
Palma Carlos, José Blanc de Portugal, a Alexandre O’Neill entre outros.
Para conclusão proponho a leitura
deste artigo publicado na Tertúlia de
in-libris: OS LIVROS E A CENSURA EM PORTUGAL de José Brandão.
O texto começa deste modo: “Não se sabe bem ao certo quanto tempo a cultura
portuguesa pôde viver livre da implacável repressão dos censores e seus mandantes.”
Convirá nunca esquecer o valor da
liberdade de expressão com uma das formas de defesa do património cultural de
uma nação.
Antes de terminar não posso
deixar de louvar esta selecção de obras feita pela in-libris de que aqui deixei estes apontamentos como uma sincera
homenagem aos seus autores … bem hajam!
Optei por inserir os descritivos
de todas as obras, seleccionadas por mim, na sua íntegra por fornecerem um
detalhe muito maior sobre o seu conteúdo bem como sobre o estado em que surgem
no mercado bibliófilo.
Não pude deixar de constatar que
muitos dos títulos se encontravam já "Indisponível" o que atesta da sua qualidade/raridade
e do interesse e procura que este tipo de obras desperta.
Apetece-me terminar com uma das
frases bem conhecidas do Maio de 68
que tanto marcaria a minha geração:
É
proibido proibir!
Saudações bibliófilas.
Rui, sensacional o texto, além da extrema relevância do assunto.
ResponderEliminarParabéns de além-mar.
Obrigado Angelo.
ResponderEliminarNunca devemos esquecer o que foi viver em ditadura e tentar transmitir essa mensagem às gerações mais novas.
Um forte abraço de amizade.