domingo, 14 de novembro de 2010

Machado de Assis – Chrysalidas (1ª edição)




Frontispicio

MACHADO DE ASSIS, Joaquim Maria – Chrysalidas. Rio de Janeiro, Livraria de B. L. Garnier, 1864. In-8vo. (182 mm) de 178 pp. Possui prefácio do Dr. Caetano Filgueiras, posfácio do autor: Carta ao Dr. Caetano Filgueiras, notas, errata e índice. Encadernação em meia de pele, da época, cansada, mantendo as capas de brochura. Razoável estado de conservação. Primeira edição do primeiro livro do autor. Raro.

Esta 1ª edição de Chrysalidas de Machado de Assis é o primeiro livro de poesias de Machado de Assis, dedicado ao amor e às mulheres. Poemas apaixonados que tiveram boa repercussão, tanto no Brasil como em Portugal, e ajudaram a abrir as portas para o mundo da literatura. É, de facto, uma obra rara. (1)

Chrysalidas compõe-se de poemas originais e traduções de Machado de Assis. Uma boa amostra de seu estilo no início da carreira e de sua faceta menos conhecida: a de poeta.

 


Encadernação em meia de pele, da época, cansada.

Conteúdo:  Musa consolatrix (p. 21-22); Stella (p. 23-26); Lúcia (p. 27-30); Dilúvio (p. 31-34); Visio (p. 35- 38); Fé (p. 39-40); A Caridade (p. 41-42); A joven captiva (p. 43-46); No limiar (p. 47-50); Quinze annos (p. 51-54); Sinhá (p. 55-56) Erro (p. 57-58); Ludovina Moutinho (p. 59-64); Aspiração (p. 65-70); Embirração (ao autor) (p. 71-74); Cleopatra (p. 75-80); Os arlequins (p. 81-86); Epitaphio do México (p. 87-88); Polônia (p. 89-94); As ondinas (p. 95-96); Maria Dupplessis (p. 97-100); Horas vivas (p. 101-102); As rosas (p. 103-106); Os dous horisontes (p. 107-110); Monte Alverne (p. 111-114); As ventoinhas (p. 115-118); Alpujarra (p. 119- 122); Versos a Corinna (p. 125-154); Ultima folha (p. 155-158).

 
Ante-rosto

 


Capas da brochura

Em 1864, com 25 anos, Machado de Assis vendeu para a Editora Garnier os direitos de autor de Chrysalidas, o seu primeiro livro de versos.

O relacionamento de Machado de Assis com a Baptiste-Louis Garnier já durava havia alguns nos, pois deve referir-se que este foi um dos redactores e colaboradores do Jornal das Famílias, que se começou a publicar em 1862, o que lhe permitiu começar a tornar-se conhecido e simultaneamente, com esta publicação, Garnier viu os seus negócios a prosperarem.

Esta longa ligação de B.-L. Garnier com Machado de Assis é uma prova de que o editor era capaz de reconhecer um real talento literário num escritor que não fazia qualquer esforço para conquistar popularidade fácil e de que estava disposto a apoiá-lo.














Prefácio do Dr. Caetano Filgueiras

Esta primeira manifestação literária vendeu oitocentos exemplares num ano. (2) Os acordos financeiros terão sido bastantes justos, no início ($150 por exemplar de Chrysalidas, mais 43 exemplares grátis), e tornaram-se indiscutivelmente generosos quando ficou patente que as vendas eram certas.




Musa consolatrix

Em apenas quatro meses, Machado de Assis recebeu 1.600$000 de direitos de autor, uma quantia razoável para a época, equivalente a oito meses do seu salário.

Como o autor manteve ao direitos de autor, trata-se de um pagamento magnânimo, qualquer que seja o padrão de julgamento, embora, é claro, ninguém possa esperar enriquecer com o recebimento de direitos de autor sobre apenas algumas centenas de exemplares.




Stella

Este primeiro livro de poesia de Machado de Assis, publicado em 1864 e “esquecido” desde então, só seria reeditado apenas em 2000 pela Livraria Crisálida.

Com efeito, após a sua inclusão em Poesias Completas (1901), não voltou a ter mais nenhuma edição em separado até esta data. Refira-se que nesta colectânea dos seus poemas, se encontra truncado com cortes e alterações de palavras e versos que Machado de Assis operou quando da sua publicação nas Poesias Completas.

Esta edição preserva a ortografia original, foram corrigidos apenas os evidentes erros tipográficos, mantendo rigorosamente o texto da edição princeps.

 
Belo Horizonte: Livraria Crisálida Ltda., 2000. Brochura. 120p.

Sobre esta edição o crítico literário Fernando Py (3) escreveu:
“A editora reproduz a grafia da edição original de Chrysalidas (1864), primeira coletânea de poesia do nosso Machado; o organizador informa que corrigiu apenas os evidentes erros tipográficos, mantendo rigorosamente o texto da edição princeps. Assim, o leitor terá condições de ler o volume tal como apareceu em vida do autor, pois a presente edição é a única reedição integral de Chrysalidas que já se fez, sem os cortes e alterações de palavras e versos que Machado operou quando da publicação das Poesias completas (1901).

Ao escrever as 29 peças de Chrysalidas, Machado de Assis ainda estava preso à poesia romântica; porém seu romantismo se afastava bastante de alguns postulados da escola, pois o poeta já manifestava a tendência de aperfeiçoar a métrica, ou seja, colocava-se numa posição um tanto precursora do nosso Parnasianismo. Utilizando de preferência o verso alexandrino, antecipava uma das constantes dos futuros parnasianos; seu cuidado com a métrica e o comedimento com a expressão que atinge por vezes a elipse, em "Ocidentais" fizeram-no muito respeitado entre os jovens que, desde os anos 1870, buscavam maior rigor tanto na forma como na maneira de expressar-se.

Contudo, Machado era ainda romântico, principalmente no que diz respeito ao sentimento de evasão, tão comum no Romantismo. Poemas como “Visio”, “Stela” e “Horas vivas” são exemplos de fuga para o sonho, ao passo que em “Musa consolatrix” a própria poesia serve-lhe de fuga. De todo modo, a poesia de Machado de Assis, ainda em seus começos, já mostrava uma certa insatisfação diante da realidade, o que só fez acentuar-se com o tempo.”

Saudações bibliófilas.



Notas:

(1) Com efeito, nos últimos anos, apenas tenho conhecimento de um exemplar, com capas de brochura, para venda pela Fólio – Livraria Antiquária: 2º Leilão de Livros Raros e Papéis Antigos (Agosto de 2004 - XI Salão de Arte e Antiguidades):
Lote 43 - Assis, Machado de – Chrysalidas, Rio de Janeiro, 1864. 178 pp.
Primeira edição dessa coletânea de poesias, na qual Machado de Assis ainda mostra certa influência romântica. Exemplar em ótimo estado, com encadernação da época que preserva as capas originais da brochura.
O exemplar traz ainda dedicatória autógrafa assinada do autor para o Dr. Jacobina: “Ao meu am.º Dr. Jacobina, como testemunho de affecto e admiração. Machado de Assis”.
Exemplar especial. Raríssimo.

Mais recentemente vi um outro exemplar, no MercadoLivre. Brasil, mas sem capas de brochura.

(2) Este número foi o total de exemplares impressos.

(3) Fernando Py é poeta, tradutor e crítico literário.
Texto publicado em: http://migre.me/lPpD [Texto publicado na versão impressa de Poiésis - Literatura, Pensamento & Arte, nº 110, Maio de 2005, pág. 10]


Bibliografia:

Hallewell, Laurence – O livro no Brasil; sua história. São Paulo: T. A Queiroz; Edusp, 1985 [2ª ed. revista e ampliada. São Paulo: Edusp, 2005]

5 comentários:

  1. Rui, parabéns pelo texto e pelo belo e raro exemplar que nele apresenta.

    Abraços,

    Angelo

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  2. Caro Rui.

    Mis más sentidas felicitaciones por el hermoso ejemplar que nos compartes.
    A pesar de que la poesía no es el género más popular,parece increíble que fuera hasta el 2000 en que se llevó a cabo la reimpresión. Bueno más vale tarde que nunca.

    Enhorabuena Saludos bibliófilos.

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  3. Angelo,

    Este livro foi um achado fortuito. Procurava outra coisa e surgiu-me esta oportunidade (o tal prazer da eterna busca bibliófila…). Não consegui resistir, mas penso ter “enriquecido” a minha modesta biblioteca.

    Falta-lhe uma encadernação condigna para ser perfeito, mas isso procura-se eternamente sem nunca se atingir.

    Um abraço

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  4. Estimado Marco Frabrizio,

    Foi preciso esperar até 2000 para a sua reedição, mas nunca te esqueças que desde 1901 esteve sempre incluído em Poesias Completas.

    Situações semelhantes ocorrem com obras de muitos outros escritores.

    Claro que este facto torna esta edição muito procurada.

    Um abraço

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  5. Felicidades por este ejemplar de una belleza comprable a su rareza.
    Una buena composición tipográfica muy propia de la época para un libro de poesía que tuvo su éxito en su momento. Com dice el compañero Marco Fabrizio, es raro que no se editara independientemente más a menudo... Cosas de los editores!

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