“Contas feitas de tanta avareza, o livro lá fica de ano
para ano, de século para século, de eternidade para eternidade.
Só por isso o bibliófilo é benemérito.”
Aquilino Ribeiro (1)
Dr. Laureano Barros
Pela primeira – e como sempre há uma primeira vez para tudo! – tenho de divulgar a III, e ultima. parte do leilão desta Biblioteca, e não sei concretamente o quer realçar, dada a elevada qualidade das obras oferecidas em venda (a maioria com dedicatórias o que as torna ainda mais valiosas e apetecíveis!)
Como é habitual, este leilão irá realizar-se no Salão Nobre da Junta de Freguesia do Bonfim, no Porto, decorrendo esta terceira parte entre os dias 20 e 22 e 27 e 29 de Maio pelas 21 horas.
A exposição terá lugar entre os dias 19 a 22 de Maio e 26 a 29 de Maio, das 15 horas às 18 horas.
Se por um lado é com profunda mágoa que vejo dispersar um espólio tão valioso, também é com grande alegria que anseio pela sua realização na esperança de conseguir adquirir alguns exemplares que possam enriquecer a minha modesta biblioteca.
Relendo, mais uma vez Artur Anselmo é ocasião para transcrever uma das suas citações, que, em minha opinião, muitos de nós gostaríamos que se concretizasse:
Albino Forjaz Sampaio
“Albino Forjaz Sampaio (2), que várias vezes, fala do bibliófilo – em livros como Lisboa trágica (1910), Grilhetas (1916) e Homens de letras (1930) –, dá desta figura simpática da nossa sociedade um retrato caricatural mas nem por isso desfocado: caturra que tudo se priva para gozar o seu prazer e morrer por ele (“fareja, rebusca, indaga, vem, e pode à noite contemplar com orgulho a nova preciosidade que triunfalmente depositou nas estantes”), inimigo figadal de livro emprestado, capaz de ficar sem jantar “para comprar o livro namorado e desejado”, mas seria capaz de “mandar meter no calabouço”, em dias de leilão, meia dúzia de bibliófilos como ele, que têm os mesmos gostos e cobiçam os mesmos lotes. (...)”
O respectivo catálogo, em formato digital, da terceira, e última, parte do leilão da biblioteca do Dr. Laureano Barros já se encontra disponível. Com este formato a pesquisa de livros e temas de acordo com as preferências de cada um de nós, encontras-se mais facilitada. (3)
Mas como tenho de dar notícia, o mais imparcial possível, aqui vos deixo algumas dessas preciosidades... claro que não vou deixar aqui as imagens de todas, para isso temos os preciossimos catálogos excelentemente elaborados pelo estimado e competente livreiro Herculano Ferreira – mais um marco obrigatório para a consulta da nossa bibliografia – mas apenas algumas das obras que mais me cativaram e que julgo serem de maor procura.
Como já foi referido, várias vezes, a Literatura do séc. XIX e, sobretudo, do séc. XX, tem uma manifesta maior procura nos últimos leilões, pois aqui ela está muito bem representada.
Pois bem, temos, logo no volume I, alguns dos autores mas emblemáticos da nossa literatura: Teixeira de Pascoaes, António Pedro, Camilo Pessanha (consulte-se o que aqui se escreveu sobre ele), Fernando Pessoa (pois claro!), José Cardoso Pires, Eça de Queirós, Antero de Quental – destaque para a raríssima 1ª edição de “Sonetos” (4) – , Alves Redol, José Régio, Garcia de Resende (com vários edições do seu “Cancioneiro Geral”), Aquilino Ribeiro e Bernardim Ribeiro (ainda se lembram de “Menina e Moça” ?)
As revistas “Presença”, “Renascença” e a “Revista Occidental”, também aqui representadas, serão seguramente peças bastante disputadas!
O Volume II da III Parte do Catálogo abre praticamente com um dos nomes mais sonantes do modernismo português: Mário de Sá-Carneiro.
Ainda não refeitos da análise destes preciosos lotes, surge-nos Mário Saa, Mário de Sacramento, Abel Salazar, Albino Forjaz de Sampaio, José Pereira de Sampaio (Bruno), Bernardo Santareno, José Saramago (pois claro!), Jorge de Sena, António Sérgio, Alberto de Serpa, Joel Serrão, João Gaspar Simões, António de Sousa, Amadeo de Sousa Cardozo, Miguel Torga, Mário Cesariny de Vasconcelos, Cesário Verde (e o seu livro), Gil Vicente (edições modernas), Afonso Lopes Vieira, Padre António Vieira, entre os muitos outros que aqui figuram.
Também as revista têm aqui o seu lugar. Refira-se a “Sema” publicação trimestral do movimento surrealista com direcção e propriedade de João Miguel Barros e Maria José Freitas, que se publicou entre 1979 e 1982 (4 números), a revista “Sinal”, publicação literária dirigida por Adolpho Rocha (Miguel Torga) e Branquinho da Fonseca, que resultou da sua dissidência com a revista “Presença” e da qual se publicou apenas este número único!, a revista “Sintese” e o jornal literário quinzenal “Sol Nascente”, entre outras publicações de interesse relevante.
Quando acabarem de ler a última página destes catálogos terão folheado seguramente o repertório de uma da mais completas bibliotecas reunidas por um bibliófilo português nos últimos anos.
Foram 6445 lotes que agora terminarão por se dispersar, mas que enriqueceram algumas bibliotecas, que com as aquisições efectuadas ficaram muito mais completas, ou outras, que estando ainda nos primeiros passos, com algumas destas aquisições, encetaram duma maneira segura a sua construção.
A memória do seu ex-proprietário permanecerá para sempre ligada a muitos destes livros, quer pelas muitas dedicatórias nos livros que a compunham, pelo punho dos seus autores ou amigos, e que lhe eram endereçadas, quer mesmo por algumas anotações suas, que deixou noutros exemplares.
Saudações bibliófilas.
(1) Neste leilão está presente para venda um dos maiores, e mais completos, conjuntos da vasta bibliografia deste autor.
(2) Refira-se que estas obras se encontram à venda neste leilão. Consulte-se o Catálogo da III Parte – Volume II.
(3) Mas como já expressei aqui, e em minha opinião, será fundamental que se consiga reunir o conjunto dos 6 volumes respeitantes a este excepcional leilão, pois irá constituir um marco notável para o estudo bibliográfico do livro em Portugal.
(4) Trata-se da edição de Dezembro de 1861, publicada por Sténio, e que de acordo com opiniões, ainda que nem sempre concordantes, não deverá contar com mais de uma dezena de exemplares conhecidos (e, mesmo assim, este número pode pecar por excesso para alguns estudiosos!)
Boa tarde amigo Rui
ResponderEliminarTenho outra dúvida para lhe colocar.
Tenho manuscritos quinhentistas portugueses, cuja letra não consigo decifrar com exactidão. Como e onde puderei obter ajuda?
Obrigado pela atenção
Um abraço
Jorge
P.S. Infelizmente não possuo o seu e-mail.
Caro amigo,
ResponderEliminarPoderá consultar a Torre do Tombo, sempre problemático.
Ou solicitar a avaliação dos mesmos pelos livreiros: Alfredo Gonçalves da Nova Ecléctica ou o filho, Nuno Gonçalves, da Otium, José Vicente da Olisipo, Luís Gomes da Artes e Letras, a Livraria Antiquária do Calhariz (todas em Lisboa), Herculano Ferreira da Livraria Manuel Ferreira (Porto) ou Miguel de Carvalho da Livraria Alfarrabista Miguel de Carvalho (Coimbra), por serem aqueles, que conheço, que mais vocacionados estão para os manuscritos.
Espero que lhe tenha sido útil.
Quanto ao e-mail está inserido nos “Dados Pessoais” no Blog, é só consultar.
Esteja à vontade se tiver dúvidas.
Um abraço
Caro amigo,
ResponderEliminarJá depois da minha resposta, descobri esta obra, no Blog da Oficina Miríade, que lhe poderá interessar:
Livros de Horas manuscritos: uma abordagem codicológica
http://www.oficinamiriade.com/2010/07/livros-de-horas-manuscritos-uma-abordagem-codicologica/
Tente contactar o Prof. Fabiano Cataldo da Oficina Miríade (acessível a partir do meu Blog). Claro que está no Brasil, mas envie-lhe uma ou duas fotografias dos manuscritos.
Pelo conhecimento que tenho dele, estou certo que o vão interessar.
Um abraço
Boa noite amigo Rui
ResponderEliminarMuito obrigado pela preciosa ajuda.
Um abraço
Jorge
P.S. Já lhe enviei um e-mail.