D. Luís I, O Popular,
31 ° rei de Portugal
Retrato por Augusto Bobone, 1885
D. Luís I, O Popular, foi o
31 ° rei de Portugal. Segundo filho da rainha D. Maria II e do rei D. Fernando.
WALTON, C. W., fl. ca. 1850
[D. Luis I, Rei de Portugal]
[Visual gráfico / drawn by C. W. Walton. - London : Morris
[entre 1861 e 1862]
1 gravura : litografia, p&b
(PURL.PT / BNP)
Nasceu em Lisboa, no paço das
Necessidades em 31 de Outubro de 1838, faleceu em Cascais a 19 de Outubro de
1889. Foi baptizado na capela do referido paço, pelo patriarca de Lisboa D.
Patrício da Silva, capelão mor da rainha, a 14 de Novembro do mesmo ano, sendo
padrinho o rei de França Luís Filipe. O seu nome completo era D. Luís Filipe
Maria Fernando Pedro de Alcântara António Miguel Rafael Gabriel Gonzaga Xavier
Francisco de Assis João Augusto Júlio Volfrando Saxe-Coburgo-Gota de Bragança e
Bourbon.
D. Luís, enquanto Infante de Portugal
Até à morte de seu irmão, o rei
D. Pedro V, foi infante de Portugal, 1.° duque do Porto e duque de Saxónia.
Recebeu uma educação esmeradíssima, como todos os filhos de D. Maria II.
Sentado El-Rei Dom Pedro V de Portugal,
inclinado sobre a mesa Dom Luís e de costas, com xaile,
Sua Majestade a Rainha Vitória do Reino Unido
A
soberana destinava-o à vida marítima, não simplesmente como oficial de marinha
honorário, mas como prático, porque entendia que os príncipes, apesar do seu
elevado nascimento, assim o deviam ser tanto na marinha como no exército,
partilhando os mesmos trabalhos e fadigas dos marinheiros e soldados.
Pedro V, O Esperançoso, por W. Corden
(Palácio Nacional da Ajuda)
D. Pedro V assumiu o governo do Reino, sendo aclamado em 16 de
Setembro de 1855, dia em que justamente completava dezoito anos de idade.
D. Pedro V tornou-se muito popular; o povo adorava-o, e chamava-lhe o
rei santo. A sorte protegia-o, porque expondo-se com tanta afoiteza, com tanta
coragem ao perigo do tenebroso contágio, não teve o menor sinal de doença
naqueles meses de Agosto, Setembro, Outubro e Novembro de 1857, em que mais se
pronunciaram os efeitos da epidemia. Pouco a pouco foram rareando os casos, que
até então eram numerosos todos os dias, e quando chegou o fim de Dezembro
estava a febre-amarela completamente debelada, restando os choros e os lamentos
das pessoas que tinham perdido parentes queridos, e crianças órfãs, que se viam
sós entregues à mais profunda tristeza e saudade.
D. Pedro V, rei de Portugal (1837 - 1861)
Retratos de Portugueses do séc. XIX. (1859 - 1865)
de Joaquim Pedro de Sousa
Biblioteca Nacional de Portugal
Chegou depois o ano de 1858, que trouxe para Portugal dias mais
sossegados e mais felizes. Para suavizar as angústias dos dois anos anteriores,
tratou-se do casamento do jovem monarca, que se tornara o ídolo do povo.
SM a Rainha D. Estefânia de Hohenzollern-Sigmaringen de
Portugal (1837-1859)
Casa Real: Hohenzollern-Sigmaringen
Essa notícia foi recebida com o maior entusiasmo sendo a esposa
escolhida a princesa de Hohenzollern-Sigmaringen, D. Estefânia Josefina
Frederica Guilhermina Antónia, segunda filha do príncipe soberano do
Hohenzollern-Sigmaringen, Carlos António Joaquim, e de sua mulher D. Josefina
Frederica.
D. Pedro V e SM a Rainha D. Estefânia
O casamento realizou-se por procuração em Dresden a 29 de Abril de
1858, e em pessoa, em Lisboa, a 18 de Maio, na igreja de S. Domingos, um
formoso dia de primavera, que parecia vir também saudar os régios noivos,
reunindo-se ao entusiasmo que se notava por toda a parte, à alegria e satisfação
que reflectia em todos os semblantes. As aclamações e os vivas, que o povo
soltava durante o trânsito do Terreiro do Paço, onde a jovem rainha
desembarcou, até à igreja de S. Domingos, chegaram ao delírio.
Este foi talvez o último rei
amado, e idolatrado, por todo o povo.
Em 1861 saiu de Lisboa com o
infante D. João, em viagem pela Europa, e estava em Londres quando recebeu a
notícia de que D. Pedro V adoecera gravemente, o que tornava de grande urgência
o seu regresso a Portugal. Os dois infantes embarcaram logo na corveta
Bartolomeu Dias, e desembarcaram em Lisboa pouco depois do fatal dia 11 de
Novembro de 1861, em que falecera o monarca.
A primeira notícia do lamentável
sucesso, logo a recebeu a bordo, dada indirectamente pelo marquês de Loulé, presidente
do Conselho de Ministros, tratando-o pelo título de Majestade.
D. Luís e D. Maria Pia
(Fotografia com carimbo de Photo American, Thesouro Velho
Lisboa)
Os pais, D. Luís e D. Maria Pia, com o seu primogénito, o
pequeno Carlos
Em seguida pensou-se no casamento
do rei, e sendo escolhida a filha mais nova do rei de Itália Vítor Manuel II, a
princesa D. Maria Pia de Sabóia,
deu-se começo ao respectivo contrato, vindo o casamento a realizar-se por
procuração em Turim a 27 de Setembro de 1862, sendo ratificado em Lisboa a 6 de
Outubro seguinte, com sumptuosas festas e brilhantes iluminações.
Gravura do Palácio de Cristal publicada em 1864 no
Archivo Pittoresco
Em 1865 houve no Porto uma exposição internacional no
Palácio de Cristal, que se construíra para esse fim.
O projecto do Palácio de Cristal foi, na época, destaque na
Illustrated London News
(Imagem: Wikipedia)
A grande Exposição Internacional
do Porto, inaugurada em 18 de Setembro de 1865 pelo rei D. Luís (1838-1889),
foi a primeira exposição internacional da Península Ibérica.
A grande Exposição Internacional do Porto de 1865
Organizada pela antiga Associação
Industrial Portuense, na exposição foram expostas as inovações e conquistas
industriais e comerciais, divididas em quatro grandes ramos de produtos:
matérias-primas, máquinas, manufacturas e belas-artes. A exposição ficou
patente até Janeiro de 1866.
O êxito foi enorme, causando
entusiasmo em todo o país tão notável empreendimento.
D. Luís e D. Maria Pia
O rei D. Luís era um espírito culto; além da sua especial instrução
científica, falava correctamente sete ou oito dos principais idiomas da Europa;
dedicava-se às belas artes, desenhando e pintando, compondo música, e
executando-a em diversos instrumentos, com especialidade no violoncelo e no
piano.
Rei e Músico
Tinha profundo amor às letras,
estudando os clássicos e os sábios. Era considerado um dos monarcas mais
instruídos e estudiosos da Europa. O teatro entusiasmava-o, e tinha por
Shakespeare um verdadeiro culto. Quis empreender a tradução de algumas das suas
obras, e como lhe dissessem aqueles a quem lia os seus escritos, que as
traduções estavam excelentes, resolveu publicá-las, sem lhes pôr o seu nome.
Gabinete de Trabalho de El-Rei D. Luís I
Aguarela de Henrique Casanova
© Palácio Nacional da Ajuda
A primeira que se imprimiu, foi a
tradução do Hamlet, em 1877; edição
muito nítida em papel superior, destinada para brindes; em 1880 fez-se a 2.ª
edição, em que se lia a nota seguinte: «propriedade cedida por sua majestade o
rei à Associação das Creches.» O rei, permitindo que o dito instituto fizesse a
nova impressão, foi para que o produto da venda revertesse em produto do cofre
que protege a infância indigente. Em seguida publicou o Mercador
de Veneza, em 1879; desta edição cedeu o rei 300 exemplares a favor
da Sociedade das Casas de Asilo da Infância Desvalida de Lisboa. Também
traduziu Ricardo III, publicado em
1880; depois apareceu o Otelo,
em 1885, trazendo o nome do tradutor. Começou as traduções, que não concluiu,
do Romeu e Julieta, Estupro
de Lucrécia, Vénus e Adonis,
A Esquiva domada. Traduziu também várias
poesias de Rollinat, alguns trechos
da Fille de Rolland, de Bernier, e a comédia de Pailleron Le Monde ou l’on s'ennuie que
Gervásio Lobato traduziu com o título de Sociedade onde a gente se aborrece.
Academia Real das Ciências – brasão
Como presidente da Academia Real das Ciências instituiu o
prémio de 1.000$000 réis destinado à obra mais notável que se tivesse publicado
nesse ano.
Sessão inaugural na Academia Real das Ciências
Gravura de Alberto Macedo
In O Ocidente,
1880, vol. 3, p. [165]
BN J. 3113 M.
Era presidente da Academia Real das Ciências, e
presidente honorário e protector de várias corporações científicas, literárias
e de beneficência do Reino.
Mas vem tudo isto, a propósito
das traduções do rei D. Luís I das obras de Shakespeare de que a Frenesi Loja apresentou recentemente
para venda estas edições:
SHAKESPEARE, William – Hamlet [junto com] O Mercador de Veneza.
[Trad. D. Luís]. Lisboa, Imprensa Nacional, 1877 e 1879. 1.ª edição
(ambos). 2 livros enc. 1 volume. 24 cm x
16,5 cm. 150 págs. + 114 págs.
Impressos sobre papel de gramagem
superior.
Luxuosa encadernação em
meia-francesa, gravação a ouro na lombada. Corte carminado, sem capas de
brochura. Exemplar estimado; miolo limpo.
Augusto Forjaz redigiu e assinou
a seguinte comunicação na pág. 2 do primeiro livro: «As traduções de
Shakespeare contidas neste volume foram feitas por El-Rei Dom Luiz. No rosto de
cada volume encontra-se a sua firma.»
Carimbo do Ministério do Reino
lixiviado em ambos os frontispícios e nas respectivas págs. 11
VALORIZADO PELA ASSINATURA DO REI D. LUÍS EM AMBOS OS FRONTISPÍCIOS
Peça de colecção
300,00€ (IVA e portes incluídos)
Espero que este apontamento tenha
sido do vosso agrado e resta-me despedir com votos de bom fim-de-semana.
Saudações bibliófilas.
Para saber mais:
D. Luís I,
rei de Portugal – Portugal – Dicionário Histórico
D. Luís I de Portugal - Wikipédia
D. Pedro V, rei de Portugal – Portugal
– Dicionário Histórico
Pedro V de Portugal – Wikipédia
Exposição Internacional
do Porto (Palácio de Cristal, 1865)
(https://seculos.wordpress.com/2015/09/30/exposicao-internacional-do-porto-palacio-de-cristal-1865/)
Instituto Camões:
Academia Real das Ciências de Lisboa – Ciência em Portugal
As Aguarelas de
Henrique Casanova – Parques de Sintra | Monte da Lua
Existe alguma reedição da tradução de Hamlet, de D. Luís de Bragança?
ResponderEliminarExiste.
EliminarA Lello, que tinha uma colecção das obras de Shakespeare, tinha reeditdas todas as traduções feitas pelo monarca português (curiosamente, nessa data — anos 60/70 — ligeiramente mais caras que a tradução "vulgar" (com as minhas desculpas ao tradutor por utilizar este termo)
Cumprimentos.
Muito ha para contar.
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