quarta-feira, 12 de abril de 2017

Livraria Manuel Ferreira – 100º Catálogo de livros raros e esgotados



Manuel Ferreira

Nada melhor do que para comemorar a 500º postagem do blogue do que me associar a outro evento de elevada importância o lançamento do 100º Catálogo de livros raros e esgotados pela Livraria Manuel Ferreira |R. Dr. Alves da veiga, 89 | 4000-073 Porto | Portugal.



Na sua apresentação escreve-se:

“Há 50 anos Manuel Ferreira distribuiu entre os seus clientes aquele que foi o primeiro CATALOGO DE LIVROS RAROS E ESGOTADOS publicados pela sua livraria, fundada no Porto em 1958. Os seus verbetes, ainda hoje preservados em papel, ultrapassam em larga medida os publicados nos catálogos da nossa livraria, uma vez que a par destas publicações se dedicou também à organização de catálogos de bibliotecas particulares destinadas a leilão. Verdadeiramente foi assim que nosso pai e avô começou a sua actividade como bibliógrafo. Em 1951 organizou o seu primeiro catálogo de uma biblioteca particular, sem que nunca mais tenha interrompido esta actividade que afinal foi uma das suas grandes paixões. Conscientes do contributo que o seu trabalho empresta ao património bibliográfico português, com a publicação do nosso 100.º catálogo e sensibilizados com o seu exemplo, estamos empenhados em continuar e desenvolver esta actividade. Julgamos assim prestar a merecida homenagem ao grande bibliógrafo que foi Manuel Ferreira.”


"Tesouros de capa e lombada" in Guia Porto 2001 - Público

Vejamos alguns dos destaques seleccionados pelos autores deste muito interessante catálogo.



13688 - A ÁGUIA. Revista Quinzenal. Director e Proprietário, Álvaro Pinto. Porto. [a partir da 2.ª série, conheceu diversos directores: Teixeira de Pascoaes, António Carneiro, José de Magalhães, Leonardo Coimbra, Hernâni Cidade, Teixeira Rêgo, Sant’Anna Dionísio, Delfim Santos e Aarão de Lacerda]. 1910-1932. In-4.º e In-8.º gr. E. e B.
5.000 €

«A Águia», orgão da “Renascença Portuguesa” publicado na sequência da Implantação da República, foi das revistas que maior influência exerceram na cultura nacional, a mais importante do seu tempo e uma das mais notáveis de toda a bibliografia periódica portuguesa. Daniel Pires no «Diccionário da Imprensa Periódica Literária Portuguesa do Século XX» faz pormenorizada descrição deste periódico, de onde destacamos o seguinte texto: “A luta contra o obscurantismo, contra as trevas da ignorância, foi efectivamente a pedra de toque da Renascença Portuguesa: fundou cinco Universidades Populares, agitou culturalmente o país, editou profusamente, contando com os melhores autores da época: Afonso Duarte, António Baião, António Sérgio, Jaime Cortesão, Leonardo Coimbra, Raul Brandão, Teófilo Braga, Wenceslau de Moraes, entre muitos outros. “De uma cisão na Renascença Portuguesa, formou-se o grupo da Seara Nova, que só se constituiu em revista em 1921. Colaboração em prosa e verso da maior parte dos grandes vultos da literatura portuguesa da época, dos quais se destacam, entre muitos outros, Fernando Pessoa, Antero de Figueiredo, Augusto Casimiro, Afonso Duarte, Afonso Lopes Vieira, Alfredo Guimarães, António Carneiro, António Corrêa de Oliveira, António Nobre, António Patrício, António Sérgio, Jaime Cortesão, Leonardo Coimbra, Mário Beirão, Raul Brandão e Teixeira de Pascoaes. Revista ilustrada com numerosas estampas impressas em separado, cuja colaboração plástica se deve a António Carneiro, Cervantes de Haro, Correia Dias, Cristiano Cruz, Cristiano de Carvalho, Jaime Cortesão, J. Augusto Ribeiro, João de Deus, Júlio Ramos, Luís Filipe, Miguel de Unamuno, Raul Lino, Sanches de Castro e Virgílio Ferreira. Para mais desenvolvida informação acerca desta importante revista ainda Daniel Pires a leitura de «A Renascença Portuguesa - um movimento cultura portuense» de Alfredo Ri- beiro dos Santos ou, de Paulo Samuel «A Renascença Portuguesa - um perfil documental». Colecção constituída pelas seguintes séries: 1.ª série (de maior formato), 10 números; 2.ª série, 120 números; 3.ª série, 60 números; 4.ª série, 12 números (com o raríssimo 10-11); 5.ª série, 3 números. Colecção bastante rara e valiosa, especialmente quando acompanhada pelo raríssimo número 10-11 da 4.ª série na sua tiragem original, então apreendido pela serviços de censura. A primeira série encontra-se encadernada, estando os restantes números em brochura.



19727 - CERVANTES SAAVEDRA (D. Miguel de) – O ENGENHOSO FIDALGO DOM QUICHOTE DE LA MANCHA. Traductores Viscondes de Castilho e de Azevedo [e M. Pinheiro Chagas]. Com os desenhos de Gustavo Doré gravados por H. Pisan. Porto. Imprensa da Companhia Litteraria. MDCCCLXXVI-M DCCC LXXVIII. 2 vols. In-fólio máx. de XXXIV-II-415-I e IV-502-II págs. E.
800 €

Edição verdadeiramente monumental e primeira portuguesa com as admiráveis ilustrações do genial artista que foi Gustavo Doré, ilustrações que se apresentam estampadas à parte em muito branco e encorpado papel, apresentando ainda muitas outras gravuras e vinhetas do mesmo artista disseminadas pelas páginas do texto. Frontispícios estampados a negro e vermelho.

“Se Lisboa foi a primeira terra do mundo que reimprimiu D. Quixote, seria o Porto a que o reimprimiria em mais esplêndida e mais honrosa edição”, são palavras de Manuel Pinheiro Chagas no muito importante e erudito prefácio a esta edição.
Belas encadernações editoriais, cuidadosamente decoradas a negro, prata e ouro.



11384 - COCTEAU (Jean) –  JEAN MARAIS. Calmann-Lévy, Éditeurs. Paris. [1951]. In-8.º de 121-VII págs. B.
100 €

Primeira edição deste trabalho sobre o grande actor, pintor e escultor, Jean Marais, amante e grande amigo de Jean Cocteau que colaborou em muitos dos filmes por ele dirigidos, entre os quais se destacam L’Eternel Retour, La Belle et la Bête, L’Aigle à deux têtes, Les Parents terribles, ou Orphée.
Livro integrado na «Collection Masques et Visages» dirigida por Roger Gaillard.
Edição cuidada, ilustrada com um retrato fotográfico de Marais, assinado por Roger Corbeau e com um desenho de Cocteau na sobrecapa.
EDIÇÃO LIMITADA A 112 EXEMPLARES NUMERADOS, IMPRESSOS SOBRE PAPEL VERGÉ DES PAPETERIES DE RUYSSCHER.



35184 - CORREIA (Natália) – PASSAPORTE. Poemas de Natália Correia. Lisboa. 1958. [Editora Gráfica Portuguesa, Lda]. In-8.º de 60-IV págs. B.
200 €

Um dos primeiros e mais raros livros de poesia de Natália Correia, ligado à “tendência surrealista da poesia portuguesa”, como assinala M. Helena Ribeiro da Cunha na rubrica que lhe dedicou na «Enciclopédia Verbo das Literatura de Língua Portuguesa».

Boa encadernação inteira de pele negra, com nervuras e ferros a ouro na lombada. Com um filete gravado também ouro nos topos das pastas. Com as margens intactas, as capas da brochura e a respectiva lombada conservadas.



33273 - FORTE (António José) – UMA FACA NOS DENTES. [Edição & etc produzida por Publicações Culturais Engrenagem, Lda. Lisboa. 1983]. In-8.º quadrado de 64-IV págs. B. 
75 €

Uma das muito estimadas edições dirigidas por Vitor Silva Tavares — fundador das edições «&etc.». Com um prefácio intitulado «Nota Inútil» de Herberto Helder.

Capa da brochura ilustrada com um desenho de Carlos Ferreiro e desenhos nas páginas do texto de Aldina.

EXEMPLAR PERSONALIZADO COM DEDICATÓRIA DO AUTOR A VITOR SILVA TAVARES.



10177 - HELDER (Herberto) – COBRA. [Coovaforme - Cooperativa Operária Gráfica de Antero de Quental. Porto. 1977]. In-8.º de 79-V págs. B. 
400 €

Primeira edição de que se imprimiram apenas 1200 exemplares. Uma das originais edições “& etc” de Vitor Silva Tavares. Com um desenho impresso à parte de Carlos Ferreiro.



113 - HELDER (Herberto) – PHOTOMATON & VOX. Assírio e Alvim. [Lisboa. 1979]. In-8.º de 185-III págs. B.
125 €

Primeira e muito invulgar edição de um dos mais representativos livros do poeta e ficcionista, por muitos considerado uma das mais marcantes e originais figuras da poesia portuguesa do séc. XX.



34803 - KADERNOS. [Tip. Bélita. 3-57]. In-8.º gr. de IV págs. inums. B.
 300 €

Publicação tão curiosa quanto difícil de descrever, em papel azul, de influência surrealista, sem nome de autor ou autores, integralmente reproduzida a págs. 143 a 146 do volume IV da importante e útil obra de Pedro Veiga intitulada «Os Modernistas Portugueses». Conserva a “Cinta de Garantia Da Verdade Existencialista”. Publicação muito frágil, intacta [os cantos são picotados tendo impressas as palavras “bem-me-quere, mal-me-quere, muito pouco”]. Declarada tiragem de 501 exemplares, hoje raríssimos.



32090 - MEURSIUS (Joannes) – NOUVELLE TRADUCTION // DU // MURSIUS // connu sous le nom // d’ALOÏSIA // ou de // L’ACADÉMIE DES DAMES; // Revûe, corrigée & augmentée de près de moi- // tié, par la restitution de tout ce qui en avoit // été tronqué dans toutes les Editions qui ont // paru jusqu’à présent; & aussi délicatement // renduë qu’elle l’avoit mal été dans toutes // les précédentes: purgée des termes obscê- // nes dont elles fourmilloient, sans cependant // avoir énervé en rien la force des pensées. // Le tout orné de quantité de jolies figures en // taille-douce sur des desseins nouveaux. // DIVISÉE EN DEUX PARTIES. // (...) // A CYTHÉRE, // Dans l’Imprimerie de la Volupté. // — // M. DCCXLIX. 2 vols. In-8.º de VIII-XX-191-I; IV-XII-312 págs. E.
1250 €

Rara tradução deste clássico da literatura erótica, ilustrada com 11 gravuras alegóricas, lavradas em chapa de metal.

Frontispícios impressos a negro e vermelho.

Da descrição feita de um exemplar vendido pela Leiloeira «CHRISTIE’S» a 11 de Maio de 2011 transcrevemos: “Bien que l’on ait attribué cette traduction à l’abbé Terrasson, en raison de la lettre à l’abbé T.... qui figure en tête de l’ouvrage, l’auteur de cette “refonte” de l’Aloisia Sigeae reste ce jour inconnu. Selon Jacques Duprilot, cette édition aurait été commanditée par Xavier d’Arles de Montigny et imprimée à Auxerre, par Fournier, en 1749.

Encadernações de pele inteira, da época, gravadas a ouro na lombada e com pequenos defeitos. Com vestígios de humidade de pequena gravidade.



5550 - SÁ-CARNEIRO (Mário de) – A CONFISSÃO DE LÚCIO. Narrativa. 1914. Em casa do autor. 1, Travessa do Carmo. Lisboa. [No fim: Acabado de imprimir para o Autor nos prelos da Tipografia do Comercio em 1 de Novembro de 1913]. In-8.º gr. de 206-II págs. E.
750 €

É a primeira edição desta obra notável de Mário de Sá-Carneiro, obra que marca um lugar de grande destaque no movimento modernista da literatura portuguesa. Edição de muito restrito número de exemplares.

Boa encadernação inteira de pele, com nervuras e ferros a ouro na lombada, tendo na pasta da frente, também gravado a ouro, o nome do autor, o respectivo título e uma gravura [flor] decorativa, tudo circundado por um fino fio de ouro que se repete na pasta posterior. Exemplar com as margens intactas mas com falta da capa da brochura.



34495 - SETE POEMAS PARA JULIO. Sophia de Mello Breyner Andresen, Mário Cesariny, António Ramos Rosa, Alberto de Lacerda, Eugénio Lisboa, Pedro Tamen, Bernardo Frey. [JÚLIO. Um Álbum Poético]. [Composto e impresso por Soc. Gráfica Telles da Silva, Lda. 1988]. In-fólio E.
1500 €

Edição de magnífica qualidade e extraordinário bom gosto de sete serigrafias de belos desenhos de Júlio reproduzidos a cores e a negro, medindo 50 x 82 cm., cuja tiragem foi confinada a 230 exemplares numerados e assinados pelo serígrafo António Inverno e autenticados com o selo branco de Júlio. As poesias dos autores acima referidos vêm num elegante volume, com a justificação da tiragem assinada por Maria Augusta Reis Pereira.

O conjunto está conservado num portfólio em tela azul, com atilhos, especialmente concebido para a edição.



35150 - VERNEY (Luís António) – PARECER // DO DOUTOR // APOLONIO PHILOMUSO // LISBONENSE, // Dirigido a um grande PRELADO do Reino // de Portugal, // Àcerca de um papel intitulado Retrato de Mortecor, seo // Autor D. Alethophilo Candido de Lacerda. [No fim: SALAMANCA // Na Officina de Garcia Onorato 1750. Com Licensa dos Superiores.]. In-4.º peq. de 102 págs. E.
500 €

Publicação muito rara, com interesse para a bibliografia da importante polémica criada ao redor da publicação do Verdadeiro Método de Estudar, onde Verney, sob anonimato, de forma respeitosa mas implacável analisa os livros e os métodos de ensino da Companhia de Jesus, confrontando a situação do ensino em Portugal com o conhecimento Europeu iluminista.

António Alberto Banha de Andrade no seu monumental trabalho «Vernei e a Cultura do seu Tempo», acerca do Parecer do Doutor Apolonio Philomuso Lisboense (...) confirma a existência de duas distintas edições supostamente publicadas em 1750, ambas com 102 páginas, mas que facilmente se distinguem uma vez que uma — a que agora apresentamos — tem registo tipográfico no cólofon [SALAMANCA // Na Officina de Garcia Onorato 1750// Com Licensa dos Superiores] e a outra termina com uma ADVERTENCIA, sem qualquer registo tipográfico.

A págs. 456 do seu importantíssimo trabalho, Banha de Andrade recolhe alguns elementos respeitantes aos verdadeiros editores que imprimiram de forma recatada com receio das perseguições e castigos do Santo Ofício, onde atribui a Generoso Salomão, que nas sua oficina em Roma, terá dado à luz da imprensa o opúsculo supostamente impresso em Salamanca. Já relativamente à impressão que termina com uma ADVERTÊNCIA e sem qualquer indicação de registo tipográfico, reporta a impressão para o Convento dos Lóios, considerando-a 2.ª edição. Diz ainda o Prof. Banha de Andrade crer que a indicação do ano não seja exacta e que o folheto se não terá estampado antes de 1751, confirmando ainda a informação dada por Barbosa Machado e Inocêncio no que diz respeito à revelação do verdadeiro autor deste opúsculo publicado sob pseudónimo. Atribui assim, e de forma inequívoca, a autoria deste Parecer a Luis António Vernei. Refere, no entanto, os «Subsídios para um Diccionário de Pseudónimos» de Martinho da Fonseca, onde diz que, talvez influenciado por Téofilo Braga [no texto preliminar dos Subsídios intitulado «Poucas Palavras], inventa um pseudónimo que julgamos não ter existido.

Banha de Andrade continua, dizendo que Martinho “Atribui o Parecer a Apolónio Filomeno, que identifica com Luis Vernei, mas que a seguir se refere a Apolonio Philomuso Lisbonense [Lisboense ?] imaginando tratar-se de Alexandre de Gusmão (...)”. Conclui assim Banha de Andrade: “Ora, nos próprios Subsídios para um Dicionário de Pseudónimos, se encontram elementos para deslindar o equívoco — no título das «Advertências criticas sobre o juizo (...) que formou o Dr. Apolónio Filomuso e comunicou ao público em a resposta ao «Retrato de Morte-Còr (pág. 9). Esta resposta é o Parecer. Ficamos, pois, sem saber se Martinho da Fonseca pretende atribuir este panfleto a Vernei, se a Alexandre de Gusmão.”

De seguida transcrevemos as primeiras linhas do opúsculo que apresentamos, onde o autor começa por justificar as motivações que o levaram a redigir este opúsculo ou, de forma encoberta, procura desviar as atenções do Santo Ofício, sem deixar de entrar na contenda criada com a publicação do Verdadeiro Método de Estudar:
“Excelentisimo, e Reverendisimo Senhor. Manda-me V. E. dizer o meo parecer sobre o papel composto por *** debaixo do nome de D. Alethophilo Candido de Lacerda, [Joaquim Rebelo, autor do Retrato de mortecor], em que pertende impugnar o Autor do Verdadeiro Metodo e me-ordena lhe diga, 1. que fim se-propoz este autor: 2. que doutrina e metodo tem: 3. que utilidade pode rezultar a quem o-ler. (...)”.

Encadernação inteira de pele, da época.


Gravura

Aqui fica esta minha singela homenagem a uma das grandes figuras da nossa bibliofilia – Manuel Ferreira.

Saudações bibliófilas


Livraria Manuel Ferreira – logótipo

Os descritivos e as fotografias são da inteira responsabilidade do livreiro e seu copyrigth.

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