sábado, 4 de fevereiro de 2017

Livraria do Adro de Miguel de Carvalho – uma raridade bibliófila




CRUZ, Fr. Bernardo da – CHRONICA DE ELREI D. SEBASTIÃO, publicada por A. Herculano e o Dr. A. C. Paiva. Na Impressão de Galhardo e Irmãos, Lisboa: 1837. In-8º de XVI-466- (35) págs. Encadernação não contemporânea meia inglesa em pele com dizeres a ouro na lombada sobre rótulo de pele vermelha. Exemplar muito limpo e muito fresco, levemente aparado à cabeça.
Referência: 13588
Preço: 195,00€

PRIMEIRA EDIÇÃO do primeiro livro publicado por Alexandre Herculano (Inocêncio I, 377 - RARO).

No Catálogo dos livros do mês de Janeiro, Miguel de Carvalho da Livraria do Adro em Coimbra, entre muitas preciosidades bibliófilas – como um rico acervo de obras do Padre José Agostinho de Macedo e de José Daniel Rodrigues da Costa, não esquecendo a primeira obra publicada por Alexandre Herculano (mostrada acima) – escolhi este entremez pela sua raridade e pela valorização das anotações de Almeida Garrett.

Senão vejamos:



MAIA, Manoel Rodrigues – NOVO ENTREMEZ O DOUTOR SOVINA composto por... (2) para se representar no Real Theatro de S. Carlos. Na Officina de Simão Thaddeo Ferreira, Lisboa, s.d. In-8º de 16 págs. 



Encadernação moderna em papel marmoreado com dizeres a ouro em rótulo de pele na lombada. Algumas páginas com restauro marginal, não aparadas.

[A 1º edição data de 1790 e foi impressa igualmente em Lisboa: Na officina de Simão Thaddeo Ferreira, 16 p. (3)
Encontrei também referência a estas edições Lisboa: Typographia do Diario Illustrado, c. 1884. 16 p.; Lisboa: Tipografia Rollandiana, impr., 1899. 16 p.]


Quanto ao facto de esta obra ser ou não a PRIMEIRA EDIÇÃO, bem sabia que a minha afirmação era polémica, por pouco fundamentada e documentada (ainda que me tentasse informar o melhor que consegui)!

No entanto, como sempre com a sua pertinácia e sabedoria destas andanças livrescas, o Miguel de Carvalho, esclareceu os erros nesta questão.

Ora vejamos então o que escreveu:

Quanto ao verbete do folheto do NOVO ENTREMEZ OU O DOUTOR SOVINA em questão existem aqui problemas, tanto da minha parte assim como da sua, no que diz respeito ao rigor da informação. Vamos por partes que passo a explicar:

1) - eu tenho erradamente indicado a data de 1839 pois o folheto não tem data impressa. Tem apenas uma data manuscrita pelo punho do Garrett que foi a que erradamente (repito) usei no verbete (só para situar a edição, mas que não o deveria ter feito e disso me desculpo). Assim sendo, irei de seguida no verbete on-line da minha página proceder à correcção e colocar "s.d.”

2) Albino Forjaz de Sampaio no seu "tratado" sobre Literatura de Cordel (1925) refere as edições do DOUTOR SOVINA E DO NOVO ENTREMEZ DO DOUTOR SOVINA e indica a minha edição (impressa na Oficina de Tadeo Ferreira sem data) e coloca-a cronologicamente como sendo a primeira das que não têm indicação/impressão de data. As com indicação/impressão de data são todas posteriores à data manuscrita pelo punho do Garrett.

3) na tese Andreia Amaral (2007) ela não é clara quanto à referência da data fazendo uma seriação de edições. Há uma confusão que não se consegue resolver as cronologias pois ainda anexa as edições de outro título do mesmo autor.

4) a Biblioteca Nacional de Austrália refere uma edição de Simão Tadeu Ferreira não sendo também muito clara mas que aponta a data de 1790 (?).
Mediante estes factos todos e seguindo a linha de Forjaz Sampaio e esta da BN Autrsaliana, eu aponto a minha sendo a primeira tendo em consideração também o tipo de impressão e o papel tão característico do final do século XVIII.

Reconheço que o único problema foi o facto de eu ter escrito a data de 1839 (data do manuscrito) quando na realidade o folheto não tem data.

É caso para dizer “abençoado erro”, pois que com ele fique a saber muito mais!


Litografia de Almeida Garrett por Pedro Augusto Guglielmi
(Biblioteca Nacional de Portugal).

Valorizado pela nota de apreciação manuscrita de Almeida Garrett (1) enquanto censor do Teatro S. Carlos.





[Almeida Garrett foi um grande impulsionador do teatro em Portugal, uma das maiores figuras do romantismo português, foi ele quem propôs a edificação do Teatro Nacional de D. Maria II e a criação do Conservatório de Arte Dramática].

PRIMEIRA EDIÇÃO e RARO. PEÇA DE COLECÇÂO.

Observações:   

"é o Doutor Sovina de Manoel Rodrigues Maia, que a escreveu para ser repre- sentada no Theatro de Sam Carlos ; a acção é bastante simples, e só se sustem pela chulice da linguagem e pelas anecdotas que Maia dramatisou incidentemente. O Doutor Sovina é uma espécie de Manoel Mendes, menos bem entretecido; tem uma filha em casa, chamada D. Lépida, que se apaixona pelo praticante de escriptorio Silvério; O Doutor Sovina vive com a mais restricta parcimonia, sáe pela manhã para ajuntar folhas de couve na praça da Figueira, tempera a agua da fonte com a de um poço que tem em casa para não dispender com o aguadeiro, faz com que um pão dure para quatro diaâ, mas é bastante rico. Silvério quer casar com D. Lépida, e sabendo que o Doutor é eminente nos conselhos da rabolice, consalta-o acerca ào seu projecto, mas sem personificar a noiva"
In "História do Theatro Portuguez" de Teofilo Braga

Referência: 13584
Preço: 250,00€


Plaisirs d'amateurs - Le bibliophile

Quem foi afinal Manuel Rodrigues Maia?

Segundo O Dicionário Cronológico da Autores Portugueses – Organizado pelo I.P.L.L. / Eugénio Lisboa. Mem Martins: Publicações Europa-América, 1989. 2ª edição. Pag. 644:
“ [N?? – m. Lisboa, 1804]
Autor de composições poéticas e farsas que se publicaram em edições “de cordel” (4), muitas delas anonimamente, e se representaram com aplauso popular nos teatros de Lisboa durante a segunda metade do século XVIII. A mais conhecida, O Doutor Sovina, ficou em reportório como um perfeito modelo do género.

Obras principais: O Doutor Sovina; O Aprendiz de Ladrão; As Desgraças Graciosas do Feirante; A Madrinha Prussiana; O Periquito no Ar; A Curandeira por Vício ou os Amantes Embuçados; Os Três Rivais Enganados, farsas: A Inauguração da Estátua de D. José I; écloga, 1755; Raio Poético sobre a Desordens e Abusos Que os Libertinos Têm Introduzido no Dia de S. Martinho, 1786; Dicionário de Elipses, 1790; Arte da Gramática Latina, 1805.”

Com este esboço sumário deixo-vos este apontamento sobre os primórdios da renovação do teatro em Portugal de que Almeida Garrett foi grande impulsionador.

Saudações bibliófilos e até amanhã (pois vai haver mais…)

Notas:



(1) O texto pode ser lido aqui:

(2) Almeida Garrett – Wikipédia




(4) Sobre este tema leia-se: Folhetos de Cordel e Folhas Volantes da colecção particular de Paulino Mota Tavares – Catálogo | Projecto Cultura Para Todos 

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