sábado, 5 de novembro de 2016

Ecléctica – Livraria Alfarrabista: Leilão de Biblioteca Particular - Parte V



7. ARQUIMEDES DE INSIDENTIBUS Aquæ Liber primus [- secundus].
Venetiis: Apud Curtium Troianum, 1565


A Eclética – Livraria Alfarrabista vai realizar mais um dos seus leilões de livros. Trata-se do Leilão de Biblioteca Particular – Parte V.



A Exposição decorrerá a partir de 1 de Novembro nos dias úteis das 11h00 às 13h00 e das 15h00 às 19h00 (no dia de leilão até às 17h30).

O Leilão decorrerá no dia 9 de Novembro com início às 19h00 na Sala de Leilões | Tv. André Valente, 26 | Lisboa.

Trata-se basicamente de um leilão de livro antigo e onde vamos encontrar algumas raridades que o próprio organizador Nuno Gonçalves destaca:



2. ALCALÁ (Pedro de) — ARTE para ligeramente saber la lengua rauiga emendada y añadida y segundamente imprimida. [VOCABULISTA arauigo en letra castellana]. Granada: Juan Varela de Salamanca, 1505. 2 partes em 1 v.; a-f8, a-z8, A-K8, L6; [48], [270] ff.; 200 mm. € 15000,00 — 20000,00



Bom exemplar, encadernação inteira de chagrin moderno; dourado por folhas; alguma acidez; ocasionais notas manuscritas.



¶ PRIMEIRA GRAMÁTICA ÁRABE IMPRESSA. PRIMEIRA edição da segunda parte, segunda edição da primeira parte. Obra extremamente rara foi impressa 13 anos depois da tomada de Granada, último enclave árabe em Espanha, tendo desempenhado um papel importante na conversão e evangelização dos mouros que permaneceram na Península. Depois da capitulação dos mouros de Granada em 1492, Hernando de Talavera, confessor de Fernando e Isabel, foi nomeado o primeiro arcebispo da cidade e encarregue da evangelização do povo. Homem tolerante, o arcebispo e os seus companheiros começam a aprender árabe tendo ganho o respeito do povo árabe através do seu bom testemunho. É então chamado à cidade Pedro de Alcalá para ajudar o arcebispo nesta tarefa e que resultou na primeira gramática árabe alguma vez publicada. 


Os dois volumes foram impressos por Juan Varela de Salamanca que viajou de Sevilha, onde estava instalado, para Granada a pedido do arcebispo. O frontispício da primeira parte está adornada com as armas de Hernando de Talavera, tendo no verso uma grande gravura em madeira representando o autor a entregar a obra ao arcebispo, encontrando-se estas duas gravuras reproduzidas também no 'Vocabulista...'. 



Encontram-se também impressos vários caracteres árabes e um alfabeto. Os primeiros seis fólios do caderno f da primeira parte foram impressos a preto e a vermelho. No verso da última folha da primeira parte encontra-se uma gravura, também em madeira, representando o Rei David. 



O último fólio da segunda parte apresenta a marca do impressor e as armas de Espanha no verso. Raríssimo e valioso. bib: Norton, 349 [segunda parte] e 352 [primeira parte]; Salvá, 2190 e 2191; Palau, 5697



17. CALADO (Manuel) — O VALEROSO Lucideno, e Triumpho da Liberdade. Em Lisboa: por Paulo Craesbecck, 1648. []8, A-Z, Aa-Ff6, Gg4; [8], 356 pp.; 295 mm. € 5000,00 — 8000,00

Encadernação inteira de pele da época restaurada em caixa; restauros marginais; restauro no último fólio afectando ligeiramente o texto; carimbos a óleo da Quinta das Lágrimas.



¶ PRIMEIRA EDIÇÃO descrito por Borba de Moraes como um dos melhores livros sobre a guerra com os Holandeses e considerado por Boxer como absolutamente indispensável sobre o tema. Escrito pelo Fr. Manuel Calado, natural de Vila Viçosa, a obra é um relato vivo dos acontecimentos na guerra contra os Holandeses. Como personagem do próprio drama da guerra, Fr. Calado chegou a organizar guerrilhas populares, o texto assemelha-se bastante a um relato de um correspondente de guerra no local. Escrito entre Setembro de 1645 e Julho de 1646, o livro pretendia recolher apoio popular e oficial aos Pernambucanos e serviu de fonte para dois outros importantes trabalhos sobre o tema, o 'Castrioto Lusitano' de Fr. Rafael de Jesus e a 'História da guerra de Pernambuco' de Diogo Lopes de Santiago. 



O texto foi impresso pela primeira vez em 1648, mas em 1655 foi listado nos livros proibidos e apreendido apenas recebendo novas licenças em 1668. Então o impressor aproveitou o que mantinha impresso, tendo-lhe apenas acrescentado um novo frontispício e as novas licenças. Segundo Borba de Moraes, de todos os livros impressos em Portugal sobre o Brasil no século XVII, este é o mais dificil de encontrar. Raríssimo e valioso. bib: Inocêncio, v.5, 384 e v.16, 146; Sabin, 9868; Pinto de Matos, p. 96; Palha, 4250; Boxer, C.R., The Dutch in Brazil, Oxford, 1957, pp. 298-299.



32. CATALDO SÍCULO ou CATALDO PARÍSIO — EPISTOLE et Orationes. Lisboa: Valentim Fernandes, 1500, 21 de Fevereiro. a-h6, i8; [56] ff.; 300 mm. € 8000,00 — 12000,00
Bonito exemplar, desencadernado em caixa inteira de pele, reproduzindo o título do primeiro fólio do incunábulo a seco na pasta anterior; pequenos furos de traça ao longo do volume não afectando a legibilidade; anotações marginais e sublinhados da época; fol. c5 com pequena perda de suporte afectando o texto; fol. d4 com rasgão a meio sem perda de suporte; fol. i8 facsimilado.



¶ PRIMEIRA EDIÇÃO deste precioso e importante incunábulo português. "Este precioso incunábulo é, certamente, um dos livros mais raros da nossa Bibliotheca" [D. Manuel, v. 2, p. 51]; "una raritá bibliografica e costituiscono uno dei più preziozi cimeli della tipografia portoguese del secolo XV" [Guido Battelli, p. 4] A biografia de Cataldo não é de fácil elaboração. Segundo Costa Ramalho [cf. Epistolæ..., Univ. Coimbra, 1988] o humanista é natural de Sciacca na Sicilia, tendo nascido por volta do ano de 1455. Graduou-se em Direito em Ferrara em Fevereiro de 1484 e chegou a Portugal no ano de 1485 ou 1486, a convite de D. João II. Foi entre nós que "o seu contributo para a introdução do humanismo e para a actualização do nosso País com a cultura literária da Europa mais adiantada, a partir da fonte que era então a Itália, o seu papel na europeização cultural dos portugueses foi de grande significado" [Ramalho, p. 11]. Chegou a Portugal por convite de D. João II com a tarefa de educar o filho D. Jorge. Não restringindo a sua actuação a esse discípulo, ensinou, directamente ou por correspondência, variadíssimos nobres da corte, entre eles D. Manuel enquanto Duque de Beja [cf. Bibliografia Geral, p. XLVII]. Tal o seu trabalho como formador que Carolina Michaelis de Vasconcelos lhe dá o título de "præceptor Portugaliæ" [cf. Notas Vicentinas, p. 28]. Neste ano de 1500, Valentim Fernandes fez sair mais duas obras do autor, 'Poemata' e 'Visiones' [cf. Bibliografia Geral n. 27 e 28], mas é este seu Epistolæ a maior e mais interessante. A obra contém várias cartas tanto a D. João II como a D. Manuel I, bem como às principais figuras da nobreza, "cheias de curiosos informes sobre a vida portuguesa naquele período do Renascimento" [Bibliografia Geral, p. XLVII]. E é também neste livro que se publica uma celebrada carta do Conde de Alcoutim a Valentim Fernandes. Sobre o valor do epistolário de Cataldo escreve Guido Battelli: "Se in giorno qualcuno penserá a ripubblicare l'epistolario di lui, quanta luce sulle relazioni culturali dell'Italia col Portogallo! Egli é in corrispondenza con tutti gli uomini più colti del suo tempo; e noi possiamo facilmente immaginarci che gioia e che festa ognuna delle lettere da lui ricevute dall'Italia acranno destato a Corte" [p. 11]. Saiu uma segunda parte das cartas de Cataldo, também por Valentim Fernandes por volta do ano de 1513. RARÍSSIMO, valioso e muito importante. bib: Hain, 4678; Haebler, 136; D. Manuel, 274 [com frontispício e último fólio facsimilado] e v. 2pp. 51-52; Bibliografia Geral, v. 1, 26 e pp. XLV-LI; Biblios, v. 5, c.14; BATTELLI, Guido, Cataldo Siculo, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1930; SICULO; Cataldo Parisio, Epistolæ et Orationes, Edição fac-similada, introdução de Américo da Costa Ramalho, Coimbra, Universidade, 1988.



43. [COLONNA (Francesco)] — HYPNEROTOMACHIA Poliphili, ubi humana omnia non nisi somnium esse docet atque obiter plurima scitu sanequam digna commemorat. Veneza: Alde Manuce, 1499, Dezembro. []4, a-y8, z10, A-E8, F4; [234] ff.: il.; 290 mm. € 50000,00 — 80000,00
EXTRAORDINÁRIO EXEMPLAR, encadernação inteira de marroquim vermelho, dourado por folhas, ex-libris de Charles Filippi; sem qualquer defeito de maior.



¶ PRIMEIRA EDIÇÃO de um dos mais belos e curiosos livros publicados na renascença, conhecido também como "Canto de Polifilo", está ilustrado com 172 gravuras, 11 delas de página inteira de vários artistas. Porventura o mais enigmático livro alguma vez publicado, a Hypnerotomachia Poliphili é ao mesmo tempo um romance em prosa de quatrocentos, uma viagem alegórica e espiritual ao universo da beleza feminina, da natureza e dos jardins, uma aventura amorosa, um elogio aos prazeres amorosos. O livro começa com Polifilo, que passou uma noite intranquila por causa da sua amada Polia, transportado em sonho para uma floresta onde se perde. Acorda do primeiro sonho para um segundo, sonhado no primeiro, em que é levado por várias nifas até à sua raínha onde lhe é pedido que declare o seu amor por Polia, sendo depois encaminhado para três portões. Escolhendo o terceiro encontra a sua amada com quem é levado para se unirem. No caminho atravessam cinco procissões celebrando a união dos amantes e daí, para uma ilha. A narrativa é interrompida e uma segunda voz aparece, descrevendo os acontecimentos pelo olhar de Polia. Depois de Polifilo reiniciar a sua descrição, Polia rejeita-o, aparecendo depois Cupido e Vénus que convencem Polia a receber Polifilio e o seu amor é celebrado finalmente. Quando Polifilio está prestes a receber Polia nos braços, Polia desaparece e Poliphilo acorda. Desconhecendo-se o verdadeiro autor da obra, é consensual que o seu nome está escondido nas primeiras letras de cada capítulo que juntas formam a frase "Poliam frater Franciscus Columna peramauit" (Frei Francesco Colonna amou Polia intensamente). A obra foi impressa por Aldus Manatius, também conhecido como Aldus, o Velho para se destinguir do seu neto, e é reconhecida como uma das mais importantes obras saídas dos seus prelos pela novidade da arte tipográfica empregue. Ao contrário do que era costume na época, a obra é impressa em caracteres romanos de uma enorme legibilidade. É de realçar também o arranjo tipográfico de vários títulos arranjados em forma de brasão ou cálice, únicos no seu tempo. Ainda que não se saiba ao certo quem foram os autores das 172 gravuras impressas no texto, actualmente é reconhecido como seu autor Benedetto Bordone (1460-1531) como o seu autor. As ilustrações representam personagens hebraicos e orientais, tendo como temas a beleza feminina, o desejo, a arquitectura, a ourivesari e os costumes. Particularmente célebre é a gravura de página inteira constante no fólio m6. Obra raríssima, de extraordinária importância para a cultura e história da tipografia universal. bib: Hain, 5501; Sotheby's, Bibliotéque Carlo de Poortere, 4



45. CONSTITUYÇÕES da jurisdiçam ecclesiastica da Villa de Tomar, e dos mays lugares que pleno iure pertençem aa ordem de nosso senhor Jesu Christo. [Lisboa]: [Germão Galharde], [depois de 12 de Janeiro de 1555]. +6, A-E6, F3; [6], XXXII, [1] ff.; 295 mm. € 2000,00 — 3000,00
Encadernação inteira de pele moderna decorada a seco nas pastas com pequenos defeitos e perdas; alguma acidez.

¶ RARÍSSIMA edição das constituições de Tomar. José dos Santos, no momento da realização do catálogo da biblioteca de Azevedo-Samodães afirmava apenas conhecer dois exemplares, não sendo descrita na biblioteca de D. Manuel. Estas constituições de Tomar, editadas sem nome de impressor, lugar ou data, foram as primeiras e as únicas a serem publicadas, sendo a sua compilação devida a Cristóvão Teixeira, prelado de Tomar. Segundo o prólogo da obra, até então eram usadas as constituições do Funchal, que haviam sido adoptadas pelo seu bispo de então D. Diogo Pinheiro, quando era ao mesmo tempo bispo de Tomar. Anselmo atribui a impressão da obra a Germão Galharde identificando o seu trabalho pelos tipos usados e características da portada. bib: Anselmo, 656; Samodães, 868; Pinto Matos, p. 185; Inocêncio, v.9.



65. GODINHO (Manuel) – COLLECÇÃO dos Costumes Servis da Cidade de Lisboa. Lisboa: s.n., 1806 frontispício, 20 gravs., folha de subscritores (no fascículo 2); 255x340 mm. Brochado, com as capas de brochura de cada um dos 4 fascículos publicados. € 1.800 — 2.500



92. MANUSCRITO - ILUMINURA MEDIEVAL — [CALENDÁRIO & REGRA DE S. BENTO]. 1273 [?]. Manuscrito sobre pergaminho, 82 ff., calendário; 47 ff., Regra S. Bento em Latim; 50 ff., Regra de S. Bento português; 290 mm. Com falta dos primeiros fólios, correspondendo às calendas de Janeiro; primeiro fólio do manuscrito com perda de suporte, afectando o texto; pequenos defeitos menores em poucos fólios. € 20000,00 — 30000,00



¶ LINDÍSSIMO Manuscrito tardo-medieval, composto numa primeira parte com o calendário religioso, uma segunda parte com a Regra de S. Bento, esta iniciada com uma bonita iluminura e, finalmente, a Regra de S.Bento em português. No final das duas primeiras partes que compõem o manuscrito podemos ler, a vermelho: "Frat petrus salamantinº monachº vallis paradisi scripsit [et] perfecit kalendariu[m] [et] utam regulam ad honore[m] fillij dei [et] bte virginis marie [et] [ilegível] ad utilitate[m] monastij Sti iohis de tharauca. [...] Era m.ccc.xi". Portanto, o manuscrito será de 1273 e, segundo esta inscrição, foi executado pelo Frei Pedro de Salamanca para o convento de S. João de Tarouca em Viseu. Documento de grande valor e raridade.



101. MANUSCRITO — ARQUIVO DO PAÇO DE GOMINHÃES. € 2500,00 — 3000,00
¶ Arquivo proveniente do Paço de Gominhães, em Caldas de Vizela, paço senhorial que remonta ao século XIII e hoje património de interesse público. A construção do Paço senhorial remonta ao reinado de D. Sancho I, conforme é descrito numa inquirição de 1280 tendo uma rica história desde esse momento até ao presente. O Paço de Gominhães, inicialmente ligado à família dos Carvalhos do Poço, Lamego, é, ao longo dos séculos, lugar de encontro das mais nobres famílias portuguesas daquela região do país. "A meio do terreiro, no Paço de Gominhães, está plantado um robusto carvalho, nome deta Família, representante dos Carvalhos do Poço. O vento, ao fazer dansar os ramos, falta também nos Cirnes, de Gominhães, casa hoje sua, a vir pela bisavó, e nos Viscondes de Peso da Régua, a varonia actual. Diz dos Condes de Vila Pouca, dos da Feira e dos Arcos, dos de Avintes. Murmura mais nomes: os Pereiras, de Bertiandos, os Ferreira d'Eça de Cavaleiros, os de Ribalonga e Espinhosa, os do Arco, em Vila Real. Sussurra os Rebelos da Beira, os Menezes do Morgadio de Paredes a figurarem nos seus apelidos. As rajadas traz mais casas: as dos Soares de Albergaria, dos Silveiras, dos Lemos da Trofa. E vínculos: o de Celeirós, o de Ramalde, o da Pena e o da Torre de Azevedo. Não pára de cantar do vento: são os de Minotes, os Silvas de Alcobaça, os Guedes, os Leites de Tagilde. Os Lancastres de varonia real, (D. João II) os dos Marquês de Vila Real da Praia Grande, os Viscondes de Asseca. Encontra também os Condes de Castro, os de S. Martinho. E todos os outros, entre a ramagem, emaranhados" [Moraes, pp. 316-317]. O arquivos é constituído por 37 pergaminhos que remontam a 1405, e outros documentos do século XVIII, na sua maioria relativos a propriedades e heranças pertencentes ao morgado. Pergaminhos, alguns de legibilidade muito difícil pelo seu estado de conservação, mas a grande maioria com boa legibilidade. Importante e valioso.





O Paço de Gominhães está situado na Freguesia de Caldas de Vizela (São João), vulgarmente conhecida por Quinta do Paço, encontramos esta maravilha de Vizela. É um edifício isolado, numa situação perfeitamente rural, mas próximo da cidade.



99. ANTÓNIO PRIOR DO CRATO (D.) – CARTA AUTÓGRAFA dirigida a D. Diogo Botelho. [1581(?) ou 1589 (?)], 15 de Setembro, assinada, 4 ff. em bifólios de papel, 6 pp. de texto; 320 mm.  € 1.500 — 2.000

Caixa em veludo vermelho com títulos a ouro na pasta anterior; carta em perfeito estado de conservação apenas com pequeno restauro para reforço das margens, sem afectar qualquer linha de texto; letra bastante legível e sem manchas; lacre em belíssimo estado de conservação; papel protegido com folha de pergaminho antigo que não lhe pertence.

MAGNÍFICO DOCUMENTO. CARTA ESCRITA POR D. ANTÓNIO PRIOR DO CRATO A D. DIOGO Botelho, provavelmente no ano de 1589, logo após a tentativa falhada de desembarque das tropas inglesas em Lisboa, comandadas por Francis Drake. D. António havia já tentado o apoio da Raínha Isabel I sem sucesso, refugiando-se na corte francesa para o apoio necessário à resistência na Ilha Terceira. Fracassado este, D: Isabel manda chamar D. António a Inglaterra e aí se procurou organizar uma ofensiva, apenas retardada pela tentativa de conquista das ilhas britânicas por Filipe II e a sua Invencível Armada. Enfim em 1589 é encarregue Francis Drake, famoso corsário, da ofensiva que fracassou estrondosamente, regressando ao porto de Plymouth junto com D. António. A carta começa por relatar um encontro entre D. António e alguém não identificado a quem D. António expressa o desejo de se encontrar com a Raínha para cumprir com o “devido oficio de fazer reverência”, de manifestar de forma clara que os portugueses não eram a causa de um insucesso — “apos iso [do oficio de reverência] para lhe desfazer com razões de que se elaa notase a mera enformação que tinha de averem procedido mal a nação portuguesa et se esa a causa do mao sucesso et de lhes porem nome de traidores” —, e de pedir alguma ajuda financeira. Mas se o pedido de audiência não pudesse ser satisfeito por algum impedimento da soberana, suplica D. António por esmola nos seguintes termos: “lhe pidia me fizese esmola de com q podesse desempenhar meus criados et mandalos et se ma quisese também fazer de ma dar algum entretenimento p.a poder esperar milhor tempo et com ese crédito ir buscar algum remedio me faria mui grande [..]”. Estes dois assuntos da carta — o insucesso dos portugueses e a súplica por ajuda financeira — fazem crer como mais provável datação 1589, podendo o insucesso referir-se à incursão da armada inglesa nesse ano a Lisboa e a situação financeira e de desobrigação dos criados de D. António uma consequência desse facto. Outros sinais existem que podem ajudar a corroborar esta possibilidade, nomeadamente junto ao sinete lacrado, vem uma indicação manuscrita em língua francesa, com letra do século seguinte, que afirma “Lettre originale que le Roy Don Anthoine a escrit au Seigr. Dom Dieguo Bouttellio”. D. Diogo Botelho esteve com D. António até à sua morte em 1595 em Paris. No entanto, também é verdade que já antes D. António havia estado em Inglaterra para tentar um primeiro apoio da coroa Inglesa em vez de França. Em 1581, por influência de D. Diogo, D. António tentou que a raínha Isabel I lhe prestasse auxílio na guerra contra D. Filipe II. Segundo a cronologia indicada por Veríssimo Serrão, que terá regressado a França a 30 de Setembro de 1581, mês que é o mesmo desta missiva. É também referido que D. Manuel, filho de D. António, partiu “com tenção de se valler do Conde de Essex”. O Conde de Essex chegou a estar na expedição comandada por Francis Drake desobedecendo a Isabel, mas foi mandado regressar pela soberana. É verdade que o Conde manteve influência junto da raínha até 1599, mas parece pouco provável que D. António tentasse obter daí qualquer apoio tão próximo do fracasso de 1589. Mantemos por isso a ressalva quanto à data da missiva que só uma crítica mais apurada, impossível neste contexto, pode dissipar.

Além de D. Manuel e do Conde de Essex, são referidos outros nomes na carta, em particular Francisco António, Francisco Gomes - “de ser preso Francisco Gomes me pesa eu procurarei de mandar as provisões que disseis” —, Manuel Fernandes, tesoureiro mor de D. António; Fr. José Teixeira, que havia estado preso em Lisboa depois da campanha da Terceira, tendo conseguido fugir em 1583 para França. Carta bastante interessante, e com algumas notas que podem ser interessantes para o estudo daquele período da história portuguesa. Ӭ SERRÃO, Joaquim Veríssimo, História de Portugal, v. 4, p23 e seguintes.



117. NORONHA (D. Leonor de) – CORONICA Geral de Marco Antonio Locio Sabelico des ho começo do mundo at nosso tempo. Tresladada de latim em lingoage Portugues por Dona Lianor filha do Marques de Vila real Don fernando [...]. Coimbra: João Alvarez e João de Barreira, 1550-1553. 2 v.: ¶4, A-X8, Y6, Z7; [8], ccclxiii pp.; *4, A-Z8, a-d8, e7; [8], ccccxliii pp.; 285 mm. € 1.500 — 2.000

Encadernações modernas inteiras de pele grená, decoradas a ouro nas pastas e lombadas; guardas em papel de ceda; roda decorativa a ouro nas seixas; corte superior dourado por folhas, restantes cortes carminados; carimbo de posse “T. Norton”; frontispício do primeiro volume restaurado com pequena perda de suporte, aparado; manchas de acidez e humidade com maior intensidade no primeiro volume; segundo volume um pouco aparado por vezes afectando notas marginais.

RARÍSSIMA EDIÇÃO QINHENTISTA PORTUGUESA COM A TRADUÇÃO DA ENEIDA DE MARCO António Sabelico realizada por D. Leonor de Noronha, filha de D. Fernando, marquês de Vila Real e natural de Évora no ano de 1488. Segundo António Caetano de Sousa (História Genealógica, v. 5, p. 204) foi discípula de André de Resende, facto de que alguns autores duvidam, mas seguramente discípula de Cataldo sobre quem o próprio humanista dizia ter sido uma das suas mais brilhantes alunas. No final da primeira Eneida, vem um capítulo sobre Job que alguns autores intitulam “Tratado da historia de Job”, um original de D. Leonor de Noronha de que Inocêncio chegou a duvidar a sua existência. Obra raríssima e valiosa. Ӭ Inocêncio, v. 5, p. 179; Samodães, 2223; Anselmo, 271 e 294; Pinto de Matos, 423.




140. SCHEDEL, Hartmann — [LIBER Chronicarum]. Registrum huius operis libri cronicarum cu[m] figuris et ymagibus ab initio mu[n]di. Nuremberg: Anthon Koberger, 1493, 12 de Julho. 325 [de 326] ff.; frontispício xilogravado; [19] ff. de índice; CCXCIX de texto, ff. CCLVIIII-CCLXI em branco excepto títulos; mapa da Alemanha no fol. CCXCIX(vo) e fol. seguinte; [5] ff. finais; com falta de ff. final branco. € 18000,00 — 25000,00

Encadernação inteira de pergaminho do século XVII, decorada com motivos florais nas pastas; corte das folhas pintado; assinatura de posse (John Mimo?) numa folha branca final datada de 1663; folhas de guarda recentes; excelentes restauros junto ao festo, ocasionalmente chegando próximo da mancha tipográfica. Bom exemplar.

¶ PRIMEIRA EDIÇÃO de um dos mais importantes livros alguma vez impressos, também conhecido por 'Crónica de Nuremberg' ou 'Liber Cronicarum'. Impressa em Nuremberg por Anton Koberger em 1493, a Crónica de Nuremberg apresenta a primeira descrição histórico-geográfica do mundo acompanhada de mais de 1800 gravuras em madeira. O texto é uma história universal do mundo cristão desde o princípio dos tempos até cerca de 1490, escrito em latim pelo médico e humanista Hartmann Schedel sob o patrocínio dos mercadores Sebald Schreyder e Sebastian Kammermeister. Escrito a partir de fontes medievais e renascentistas, a Crónica trata também de aspectos geográficos e históricos sobre algumas cidades e países europeus. Está dividida em 11 partes e está ilustrada com imagens bíblicas, acontecimentos hsitóricos e vistas de várias cidades da Europa e do Médio Oriente, entre as quais Jerusalém e a sua destruição e Bizâncio. Quase simultaneamente Georg Alt traduziu o original latino para alemão, tendo sido impressa a respectiva edição em vernáculo entre os meses de Janeiro e Dezembro de 1493, tendo-se completado a 23 de Dezembro de 1493. A impressão da obra ficou a cargo de Anton Koberger, proprietário da maior imprensa alemã do s. XV, trabalho que desenvolveu entre Maio de 1492 e Outubro de 1493. Descendente de uma antiga família de conhecidos artesãos, Koberger terminou a impressão do seu primeiro livro a 24 de Novembro de 1472. Imprimiu durante o s. XV cerca de 200 trabalhos e praticamente até ao final do século foi o mais importante impressor da época. Entre os mais notáveis trabalhos destaca-se uma Bíblia, publicada em 1483 ilustrada com 109 vinhetas, trabalho que abriu um caminho importante para a técnica empregue para a impressão da Crónica de Nuremberg, obra que influenciou decisivamente a gravura em madeira, especialmente o trabalho de Dürer que havia trabalhado com Michael Wolgemut, um dos gravadores da Crónica, de 1486 a 1489. Quer a edição latina, quer a alemã estão ilustradas com mais de 1800 gravuras em madeira com trabalhos de Michael Wolgemut e Wilhelm Pleydenwurff, um mapa do mundo mostrando o Golfo da Guiné descoberto pelos portugueses em 1470 e um mapa da Europa Central e Nórdica por Hieronymous Münzer. Alguns exemplares foram coloridos na época por artistas alemães. Trata-se, sem sombra para dúvidas, de um dos mais belos exemplos da tipografia de 400 e um dos grandes legados culturais deixados à humanidade. bib: Hain, 14508; Harley, J.B. & Woodward, David ed., History of Carthography, v.3, p.2, pp.1193-1194; sobre o impressor veja-se Wallau, Heinrich. "Anthony Koberger." The Catholic Encyclopedia. Vol. 8. New York: Robert Appleton Company, 1910. 4 Out. 2016



144. SOUSA (João de) – CADERNO de Todos os Barcos do Tejo, tanto de carga e transporte como d’pesca . S.l.: s.n., 1785 frontispício, 20 gravs.; 160x210 mm. Brochado; boas margens. € 1.000 — 1.500

Proponho, como sempre, uma boa consulta e leitura atenta deste interessante e importante catálogo.

Nunca se sabe o que poderemos encontrar – talvez um dos muitos exemplares que procuramos há tanto tempo!


Edmond Rudaux, illustrateur (1902)

Para coleccionadores na temática do livro antigo tem exemplares que poderão satisfazer as exigências de muitos de vós, daí a consulta, sempre importante do catálogo, até para podermos comparar com os nossos próprios exemplares, pois o descritivo é bem elucidativo e esclarecedor.

Saudações bibliófilas e boa sorte.

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