Almanaque 23
Se infelizmente uma geração de
livreiros-antiquários está a fechar as portas – a Barateira, a Livraria
Luís Burnay (só tem página web), a Livraria Camões e a Ulmeiro
está periclitante… entre outros; outros tentaram diversificar as suas
actividades, caso do Miguel de Carvalho da Livraria do Adro (Coimbra) e do Luís
Gomes da Livraria Artes & Letras (Lisboa) e, houve mesmo alguns, que
tiveram a coragem de abrir uma Livraria!
Neste caso refiro-me ao Francisco
Brito da Cólofon Livros Raros Edições, que decidiu abrir a 6 de
Fevereiro de 2016 um novo espaço a Almanaque
23. A loja fica nas Galerias do Toural, nº 23 - ou se preferirem, na viela
da Arrochela (ou dos Caquinhos)!
“Nesta
loja cabem histórias. Histórias essas que viajam da banda desenhada para umas
t-shirts, ouvindo uns vinis antigos e a ver postais ilustrados da cidade de
Guimarães. A ideia de três amigos, Francisco Brito, Zé Teibão e Ricardo “Kafka”
Couto é de “não abrir uma loja, mas sim um espaço de lazer”
Com
as prateleiras preenchidas, a Almanaque tem as ilustrações do artista
vimaranense Zé Teibão, livros históricos do Francisco Brito e ainda umas BD’s
obscuras do “Kafka”. “E também há peluches”. (1)
Obviamente que desejo o maior
dos êxitos a este novo espaço, que parece reunir um conjunto de temáticas capaz
de atrair vários tipos de clientes e, como tal, conseguir sobreviver, mas como
bibliófilo é a parte de “livraria” que mais me interessa (não esquecendo é
claro os outros heróis desta aventura).
E é com as últimas novidades que
deixo aqui o convite para uma visita a este espaço e quem sabe se irão
descobrir alguma peça para as vossas colecções.
Voltando aos livros aqui ficam
alguns apontamentos:
657 - Noydens, Bento Remígio (Padre) – PRACTICA//DE//EXORCISTAS//E MINISTROS//DA IGREJA. Coimbra. Na
officina de Joam Antunes. 1694. 433-VII págs. 14cm. Enc. RESERVADO.
Primeira edição portuguesa desta
obra dada à estampa pelo padre espanhol Bento Noydens, da Sagrada Religião dos
Clérigos Regulares Menores. A primeira edição desta obra data de 1660 e, muito
embora se destaque pela sua especificidade e por se definir como um manual, vem
de uma linha já antiga de livros sobre este obscuro tema, dos quais se destaca
o Fuga Satanae Exorcismus de 1619, entre outros. Esta Practica de Exorcistas
conheceu ainda outras edições em Espanha, nomeadamente a de 1666 de Madrid e a
de 1668 de Barcelona. Ao longo dos séculos esta obra de Noydens permaneceu
popular, tendo novas edições ao longo do século XVIII...Em Portugal, da mesma
officina de Joam Antunes, saiu ainda uma segunda edição desta obra em 1718.
Esta tradução, da autoria do
Padre Manuel Rodrigues Martins, Bacharel em Teologia, é enriquecida com uma
nova parte intitulada Acrescentamento dos Novos Exorcismos.
Exemplar encadernado. Encadernação da época em
carneira. Miolo em bom estado.
658 - Santo António, Frei Manuel de – ESCUDO//BENEDICTINO//Em defesa dos injustos golpes//Da Crisis
Doxologica, Apologetica e Jurídica (...). Salamanca. En la Officina de
la Viuda de Antonio Ortiz Gallardo. 1736. XXXVI - 316 págs. 29cm. Enc. [280
euros]
Sobre esta obra diz-nos
Innocêncio Francisco da Silva no V volume do seu Diccionario Bibliographico
Portuguez (págs. 359-60): “A extensa e demorada controvérsia a que este livro
diz respeito, suscitada, entre os monges benedictinos e jeronymos por motiva de
precedências de lugar na procissão de Corpus Christi, e n'outros actos a que
concorriam as ordens regulares deu azo a vários escriptos, com que uns e outros
interessados pretenderam sustentar seu direito, levando aliás a causa aos
tribunaes, onde nunca obteve resolução definitiva. Estes escriptos começaram
por uma Crisis doxologica apologetica e jurídica de Fr. Manuel Baptista de
Castro, em lingua castelhana; a que se seguiram suecessivamente em portuguez a
Analysis benedictina de Fr. Manuel dos Sanctos; Notas da Aualysis por Fr.
Jacinto de S. Miguel; Escudo beneditino por Fr. Manuel de Sancto Antonio; e
(...) Carta-critica por Fr. Marcelliano d'Ascensão etc.”
O seu autor, Frei Manuel de Santo António,
monge Beneditino, nasceu em Lisboa no ano de 1676, tendo vivido em Coimbra,
onde foi Lente de Teologia, reitor dos Colégios de S. Bento em Coimbra e
Lisboa. Morreu em Coimbra em 1749.
Exemplar encadernado.
Encadernação inteira de pele, com algum desgaste na pasta anterior. Miolo em
bom estado de conservação
661 –
Pimentel, Alberto – HISTÓRIA DO CULTO DE
NOSSA SENHORA EM PORTUGAL. Lisboa. Livraria Editora Guimarães, Libanio
& Ca. s.d. 1889. 501 págs. 25,5cm. Enc. [48 euros]
Estudo histórico sobre o culto de Nossa
Senhora em Portugal que trata dos
diversos aspectos desse culto, desde das suas origens até à segunda metade do
século XIX.
Obra enriquecida com ilustrações e fotografias
ao longo do texto e extra texto. Exemplar encadernado. Miolo em geral bom
estado. Papel do miolo amarelecido.
E, por fim, a última novidade
Albuquerque, José Osório Cabral de – OSMIA. CONTO HISTÓRICO-LUSITANO. Lisboa. Na Imprensa Nacional.
1845. 133 págs. 21.5cm.Enc. [60 euros]
Osmia, versando o conflito entre
o amor e o dever pátrio em tempos lusitanos, alinha-se na busca de temas que se
entendia constituir uma tradição nacional; o argumento vinha sendo cultivado há
décadas, desde o século anterior, com lugar especial à 4ª Condessa do Vimieiro,
Dona Teresa de Melo Breyner, em trabalho premiado pela Academia das Ciências e
que conheceu várias edições.
As “outras poesias”, desde a página 51,
referem, por vezes em epígrafe, Garrett, Castilho, Camões e, também em epígrafe
ou em tradução, Chateaubriand, Delavigne, Lamartine, Byron.
De notar ainda as poesias “à insigne Rossi
Cacia” – Giovanna Rossi-Cacia, que então fez furor em São Carlos aonde
regressaria na década seguinte, em 52-53 (Mário Moreau, O teatro de São Carlos,
2 v., 1999) – e Impressões de Cintra.
O volume, que houve crítica
favorável de António Serpa Pimentel (Inocêncio V, 85), é bom exemplo dos
esmerados trabalhos saídos da Imprensa Nacional por esses anos.
Exemplar encadernado.
Encadernação da época inteira de pele, com trabalho a ouro nas pastas. Lombada
cansada com ligeiros sinais de desgaste e defeito (ver imagem). Miolo em bom
estado.
Impressão em papel de boa gramagem e qualidade
Aqui ficam estas sugestões e,
para o meu amigo Francisco Brito, os meus reiterados votos de grandes êxitos
pessoais e profissionais.
Saudações bibliófilas.
Notas:
(1)
In Free Pass – Guimarães
/ 15
Realmente es un problema el de la contiuidad de las librerias de viejo. En Barcelona este problema también está pero tambien empiezan a aparecer de nuevas de una gran profesionalidad. Supongo que han de ser los cambions necesarios de otras épocas. Un saludo.
ResponderEliminarCaro Galderich
ResponderEliminarCom efeito os novos livreiros-antiquários deverão ter um papel importante na revitalização do comércio bibliófilo.
Face às novas condições resultantes dos vários tipos de colapso das principais economias, que determinou uma mudança no perfil do bibliófilo clássico, e com a forte concorrência do mercado virtual da internet (sob múltiplas formas) perdeu-se o contacto directo cliente-bibliófilo e vendedor-livreiro, que terá de ser renovado e reformulado.
É precisamente essa a tarefa dos novos livreiros em minha opinião.
Um forte abraço.