domingo, 3 de junho de 2012

Livraria Castro e Silva – Catalogo nº 135 / Rare Books Catalog



A Livraria Castro e Silva localizada na Rua do Norte, 44 - 1º andar em Lisboa também lançou o seu catálogo n.º 135 para Junho.





Deste catálogo onde o livro antigo tem sempre um lugar privilegiado, destaco alguns livros que me despertaram o interesse. (1)

Começo com estes exemplares dessa famosa casa impressora que nos colocou entre os melhores na Europa nos primórdios do séc. XIX – a Tipografia Calcográfica, Tipoplástica e Literária do Arco Cego. (2)





15. CASTEL. (Ricardo de) AS PLANTAS, POEMA DE… PROFESSOR DE LITTERATURA NO PRYTANEO FRANCEZ. TRADUZIDAS DA II. EDIÇÃO, VERSO A VERSO, DEBAIXO DOS AUSPICIOS E ORDEM DE SUA ALTEZA REAL O PRINCIPE REGENTE NOSSO SENHOR, POR MANOEL MARIA DE BARBOSA DU BOCAGE. LISBOA. NA TYPOGRAPHIA CHALCOGRAPHICA, TYPOPLASTICA, E LITTERARIA DO ARCO DO CEGO. M. DCCCI. [1801] In 8.º de 19,5x12,5 cm. Com [iv], 181,[iii] pags. Encadernação da época inteira de pele com rotulo vermelho e ferros a ouro na lombada. IIustrado com 1 frontispício gravado e 4 gravuras no início de cada um dos quatro cantos do poema com jardins e cenas bucólicas. 1ª edição impressa na famosa e inovadora impressão do Arco do Cego que em apenas dois anos de existencia produzio tantas obras primas da nossa bibliografia cientifica. Obra bilingue - francês e português - com uma nomencaltura lineana no final de cada capítulo, em que constam os nomes vernáculos portugueses da flora e da fauna mencionada no poema e a ocorrência geográfica das espécies. Esta obra pertence à bibliografia elmaniana. Inocêncio VI, 49 [Manuel Maria Barbosa du Bocage] “As Plantas poema de Ricardo Castel, traduzido, etc. Ibi, na dita Offic. 1801. 4.º de 181 pag. com estampas, e o original francez em frente. Reimpresso no Rio de Janeiro, 1811;-e Lisboa, na Imp. Regia 1813. 4.º de 192 pag”. Arco do Cego, 16.

Temos este outro título, que nos revela todo o rigor do processo de impressão e da grande qualidade das ilustrações desta casa impressora, deixo aqui algumas imagens do Volume I, precisamente aquele que falta na obra apresentada no catálogo:





49. MARIANO VELOSO, Fr. José. DESCRIPTIO ET ADUMBRATIO PLANTARUM CLASSE CRIPTOGAMICA LINNEI, LICHENES DICUNTUR. VOLUMEN SECUNDUM. AUCTORE D. GEORG. FRANC. HOFFMANN MED. DOCT. MEDC. PROFES. PUBL. ORDINAR. HOR. R. BOTAN. PRAEFECTO, SOC SCIENT. GOTTING. LUG. PHYSIOGR. LUND. HIST. NAT. PARIS. ALIARUMQUE MEMER. LUSITANORUM BOTANICORUM IN USUM, CELSISSIMI AC POTENTISSIMI LUSITANIAE PRINCIPIS REGENTIS DOMINI NOSTRI, ET JUSSU, ET AUSPICIS DENEO TYPIS MANDATUM CURANTE Fr. JOSEPHO MARIANO VELOSO. ULYSIPONE, TYPOGRAPHIA DOMUS CHALCOGRAPICAE, TYPOPLASTICAE AC LITTERARIAE AD ARCUM CAECI. M. DCCCI. [1801] In 8.º de 19,5x14 cm. Com [iv], 93, [iii] pags. Encadernação da época com lombada e cantos em pele, um pouco cansada. Ilustrado com magnifico frontispício aberto a buril com putti analisando fungos com instrumentos de óptica, em moldura oval, assinado “Romão Eloy Sculp. No Arco Cego” (folha de rosto adornada com gravura xilográfica com o escudo das armas reais de Portugal) e 24 gravuras com vários tipos de fungos, todas elas coloridas manualmente e assinadas “Almda. F. no Arco Cego” numeradas de 25 a 48. Trata-se apenas do 2.º volume de dois, o primeiro volume foi publicado em 1800. Curiosamente em bibliotecas publicas de portuguesas, apenas existe um exemplar do primeiro volume na BNP, que pode ser consultado em formato digital em: http://purl.pt/11990. Obra publicada originalmente em 3 volumes em Leipzig na Alemanha, entre 1790 e 1801. A edição portuguesa foi impressa na efémera, mas famosa, artística e inovadora impressão do Arco do Cego, que em apenas dois anos de existência (1800-1801) produziu 83 obras-primas da nossa bibliografia científica, esforço notável que mesmo com tiragens muito reduzidas nos colocou entre os primeiros países com tipografia científica de referência internacional. Exemplar com tenue assinatura de posse do Eng. Agrónomo Romão dos Passos na folha de rosto. Blake 5, 69.

Segue-se este exemplar saído dos prelos da casa impressora da “dinastia craesbeeckiana”:



18. CEITA. (Fr. João de) SERMÕES DAS FESTAS DA VIRGEM SANTISSIMA, E DE CHRISTO SENHOR NOSSO, COM OITO DO Sacramento, & de algus Santos, & oito de diffuntos. Dedicado ao glorioso S. Antonio, [vinheta com Santo António e o Menino] COMPOSTOS PELO PADRE FR. IOAM DE CEITA, Frade menor da Regular observância da Provincia dos Algarves, natural da Cidade de Lisboa, & Leitor jubilado em Sancta Theologia. Com licença. Em Lisboa. Por Lourenço Craesbeeck Impressor delRey. Anno MDC.XXXIV. [1634]. In 8º gr. (de 20x14 cm). Com viii-340 fólios. Encadernação da época em pergaminho flexível. Impressão a duas colunas ilustrada com uma gravura de S. António na folha de rosto. Inocêncio III, 348: “Fr. João de Ceita, Franciscano da província dos Algarves; bom poeta latino, orador e teólogo. Foi natural de Lisboa, e morreu no convento de Setúbal com 55 anos, no de 1633. Sermões das festas da Virgem Sanctissima e de Christo Senhor nosso, com oito do Sacramento, e de alguns Sanctos, e oito de defuntos. Lisboa, por Lourenço Craesbeeck 1634. 4.º De VIII-340 folhas”.

Nem sempre se consegue uma edição original, pelo que um bom fac-simile, terá muitas vezes de ocupar o seu lugar:





37. GONÇALVES. (Estevão) MISSAL PONTIFICAL. [Fac-simile integral]. Pontificales Missae ex missali romano, iuxta decretum sacrosancti Concilij Tridentini restituto. 1610. Lith. F. Appel. Paris. S/d [193?]. De 45x32 cm. Com 48 fólios inumerados. Ilustrado com o fac-simile reproduzido em similigravuras coloridas. BNP não menciona.

Os livros de viagens sempre fascinam qualquer coleccionador. Aqui fica este exemplo:



38. GRAHAM, Maria. JOURNAL OF A RESIDENCE IN CHILE, DURING THE YEAR 1822. AND A VOYAGE FROM CHILE TO BRAZIL IN 1823. BY.. LONDON: PRINTED FOR LONGMAN, HURST, REES, ORME, BRWN, AND GREEN PATERNOSTER-ROW; AND JOHN MURRAY. 1824. In 4.º de 26,5x21 cm. Com [viii], 512 pags. Encadernação da época inteira de pele com ferros a ouro na lombada. Ilustrado com 14 gravuras a água-tinta desenhadas pela autora e gravadas por Eduard Finden. 1ª edição. Não existe exemplar na BNP. Trata-se de uma excelente e detalhada descrição do Chile depois da independência e sob o governo de Bernardo O’Higgins. O apendix VI contem uma descrição das árvores e arbustos do Chile compilada em 1792. Maria Graham (1785-1843) foi esposa de um oficial britânico que faleceu durante a viagem de ambos ao Chile. Maria Graham passou vários meses no Chile, a maior parte deles em Valparaiso, como governanta de D. Maria Gloria do Brasil. Enamorou-se do Chile e suas gentes. Contactou com a alta sociedade chilena e acompanhou o comandante da armada chilena Lord Cochrane numa viagem à ilha de Juan Fernadez. Maria Graham foi uma das primeiras mulheres a descrever a vida na América do Sul.



[illustrated with 14 aquatint plates and 10 wood-engravings in the text. First edition. A perceptive, well-informed early and detailed account of Chile after independence under the dictatorship of Bernardo O'Higgins. The Appendix Vi contains an account of Chilean trees and shrubs compiled in 1792. Maria Graham (1785-1843) was married to a British naval officer who had died during their voyage to Chile. She spent several months, mostly at Valparaiso, as governess to D. Maria Gloria of Brazil. She liked Chile and its people, met O'Higgins as well as royalist supporters, and accompanied Lord Cochrane (then commander of the Chilean fleet) on a voyage past the Island of Juan Fernandez. Graham was one of the first English women to describe life in South America.]
 Abbey 714; Sabin 28234. Borba de Moraes 374 (apenas para o outro livro da autora sobre só Brasil, importante nota biográfica).

E temos este exemplar,  em castelhano (não esquecer que nesta data Portugal e Espanha eram um reino unido sob o domínio filipino), mas impresso em Lisboa:



45. LUMBIER. (Raymundi) NOTICIA DE LAS SESENTA Y CINCO PROPOSICIONES nuevamente condenadas POR N. SS. P. INNOCENCIO XI. mediante su Decreto de 2 de Mayo del Año 1679. PUBLICALA EL REVERENDISSIMO P. M. Fr. RAYMUNDO LVMBIER, Cathedratico de Prima de la Vniversidad de Saragoça, Examinador Sinodal de su Arçobispado, Calificador de la Santa Inquisicion de Aragon, y de la Suprema, Predicador de su Magestad, y dos vezes Exprovincial de la Provincia de Aragon, del Orden de Nuestra Señora del CARMEN. RECONOCIDA POR SU AUTOR: DE NUEVO condenadas, y en muchas partes nuevamente añadidas. SETIMA IMPRESSION, AÑADIDAS LAS QVArenta, y cinco Proposiciones de Alexandro VII. LISBOA. Na Officina de Domingos Carneyro. Anno de 1683. In 4º (de 20x14 cm) com xii-336 pags. Encadernação da época em pergaminho flexível. Obra impressa a duas colunas, folha de rosto a duas cores com cercadura decorativa. Exemplar com títulos de posse coevos rasurados na folha de rosto, apresentando manchas de humidade entretanto já desvanecidas pelo tempo. Trata-se provavelmente da primeira edição de duas publicadas em castelhano. Palau e Samodães referem ambos a obra com [xii] pags. preliminares inumeradas e 316 pags. de texto numeradas. O único exemplar existente na BNP apresenta menos 2 fólios preliminares inumerados [viii] mas confere com o nosso nas 336 pags. numeradas de texto. Palau 1990, IV, 299. Monteverde 3235. Samodães 1, 1866. Arouca L 386.

De interesse para qualquer bibliófilo ou simples estudioso da história do livro encontramos este exemplar:





55. PEDROSO. (João) A GRAVURA DE MADEIRA EM PORTUGAL. Estudos em todas as especialidades e diversos estylos. Por… com artigos descritivos por Brito Aranha. Lisboa. 1872. Empreza Horas Romanticas editou. 2 volumes in Fólio (de 36x26,5) [Volume I] (1ª série) com 8 páginas de texto. Ilustrado com 26 fólios com litografias (algumas são cromolitografias). [Volume II] 2ª serie… Lallemant Frères. Lisboa. 1876. Com 26 fólios de texto e ilustrado com 26 litografias (algumas são cromolitografias). Encadernações editoriais com ferros a seco e a ouro nas pastas. Corte das folhas dourado no primeiro volume. Obra única no seu género e importante para a história da tipografia portuguesa, profusamente ilustrada com litografias executadas por J. Pedroso representando monumentos, localidades e personagens célebres, etc, etc. do século XIX. Exemplar em excelente estado de conservação.

E termino com este exemplar saído dos prelos de Simão Tadeu Ferreira, que tantos volumes imprimiu com boa qualidade tipográfica, pela sua curiosidade temática:





77. VENTURA DA SILVA, Joaquim José. REGRAS METHODICAS PARA SE APRENDER A ESCREVER O CARACTER DA LETRA INGLESA, ACOMPANHADAS DE HUMAS NOÇÕES DE ARITHEMETICA. COMPOSTAS POR JOAQUIM JOZÉ VENTURA DA SILVA, PROFESSOR DE ESCRITA, E ARITHEMETICA. Lisboa M. DCCCIII. [1803] Na Officina de Simão Thaddeu Ferreira. In 8.º com 273, [I] pags. Encadernação da época inteira de pele. 1.ª edição. Ilustrado com uma gravura com o retrato do autor. Inocêncio IV, 114. “JOAQUIM JOSÉ VENTURA DA SILVA, Professor de instrucção primaria e secundaria, e um dos melhores calligraphos portuguezes, n. em Lisboa a 14 de Março de 1777, e m. a 5 de Setembro de 1849. E. Regras methodicas para se aprender o caracter da letra ingleza, acompanhadas de umas noções de arithmetica. Offerecidas ao Serenissimo Senhor D. Pedro, principe da Beira. Lisboa, na Offic. de Simão Thaddêo Ferreira. 1803. 8.º de 273 pag. Com o retrato do auctor desenhado por seu irmão Henrique José da Silva, um dos mais distinctos pintores, que tivemos n'este seculo. Esta obra sahiu mais correcta e accrescentada em segunda edição, com o rosto seguinte: Regras methodicas para se aprender a escrever todos os caracteres de letras, acompanhadas de uma completa Arithmetica, e de um appendice de Geographia. Lisboa, na Imp. Regia 1819. 8.º de 370 pag. Ha ainda uma ultima edição, feita na mesma Imp. 1841. 8.º”.

Como podem ver as nossas edições são bastante cuidadas, tanto sob o ponto de vista tipográfico como pela qualidade das suas ilustrações, pena é que nem sempre se lhes dê o merecido valor.

Boa leitura deste catálogo onde irão descobrir muitas mais obras de inegável interesse.

Saudações bibliófilas.


Notas:

(1) Tive o cuidado de mencionar obras que considero, apesar de tudo, ainda serem acessíveis para a maioria de nós.
(Claro que se exceptua o lote 38, mas este tipo de livros são sempre muito valiosos - aliás nem é  uma impressão portuguesa embora seja de interesse para a história do Brasil e de Portugal.)



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