O livro antigo
Ainda a propósito deste acontecimento biblófilo, deixo aqui a informação de três catálogos, que me foram enviados, de livrarias presentes neste Salão do Livro Antigo, mas muitas outras livrarias devem merecer igualmente uma visita atenta.
Começo pela Librairie Le Feu Follet que preparou dois excelentes catálogos para o Salão do Livro Antigo no Grand Palais.
Deste catálogo, que inclui algumas obras já nossas conhecidas, destaco estas duas (opção altamente suspeita pelas minhas preferências!):
17. CAMUS Albert. La chute.
Gallimard, Paris 1956, 13x19cm, relié.
Edition originale, un des 35 exemplaires numérotés sur Hollande, tirage de tête.
Reliure janséniste en plein maroquin souris, dos à cinq nerfs, date en queue, gardes et contre-gardes d'agneau lie-de-vin, couvertures et dos conservés, tête dorée sur témoins, étui bordé de maroquin souris, plats de papier souris à fins lisérés lie-de-vin, ensemble signé de Patrice Goy.
Rare exemplaire du tirage de tête parfaitement établi.
31. FLAUBERT Gustave. "La dictature de Sylla" : Manuscrit autographe complet inédit.
S.n., s.l. s.d., 20x31cm, 6 pages en feuilles.
Précieux manuscrit autographe complet de 6 pages in-4, inédit, évoquant cet épisode de l'histoire de Rome.
Ce récit, très documenté, semble autant une compilation de notes historiques que l'élaboration d'une toile de fond au destin épique de Sylla.
Flaubert y évoque succinctement, bien qu'avec précision, les événements majeurs de l'Histoire et s'attarde plus volontiers sur les épisodes moins significatifs mais plus évocateurs de la démesure du personnage.
Ainsi remarque-t-on, dès le début, une attention prêtée aux déplacements géographiques des différents protagonistes et la mise en exergue de leurs fins tragiques : "Catilina (…) lui creva les yeux, lui arracha la langue, les oreilles, les mains, lui rompit les bras et les jambes et lui coupa la tête enfin qu'il porta toute sanglante à Sylla puis il se lava les mains dans l'eau lustrale d'un temple voisin. Le cadavre du vainqueur des Cimbres fut exhumé, livré aux outrages et jeté dans l'Anio."
Plusieurs références bibliographiques : "Mr D. n'a pas remarqué cela" ; "Selon Pline XXXVI 186" ; "v. p. 296 est-ce cela ? " soulignent la réflexion de l'auteur au-delà de la simple relation des événements. Il conclue d'ailleurs ainsi : "Sylla homme du passé voulant rétablir une société morte (...) se mit lui-même au dessus des lois (…) caractère commun à tous les acteurs de ce même rôle."
Le manuscrit évoque bien évidemment l'intérêt de Flaubert pour l'Antiquité après le procès de Mme Bovary, "le besoin de sortir du monde moderne, où ma plume s'est trop trempée et qui d'ailleurs me fatigue autant à reproduire qu'il me dégoûte à voir" (lettre à Mlle Leroyer de Chantepie, 18 mars 1857). L'absence totale de mention de Carthage dans ce texte semble plutôt témoigner d'un écrit antérieur aux recherches historiques qu'il effectua pour Salammbô, d'une recherche encore ouverte, mais l'intérêt porté au potentiel "tragique" de personnages hors norme, aux antipodes de la "dramatique" actualité de Mme Bovary évoque son grand roman orientaliste.
Depuis longtemps, le personnage exerçait une fascination certaine sur Flaubert : "Nous remarquerons d'abord le crime grand, politique et froid, dans la personne de Sylla : il accomplit sa mission fatalement, comme une hache, puis il abdique la dictature et s'en va au milieu du peuple ; c'est là un orgueil plein de grandeur, ce sont là les crimes d'un homme de génie." (Rome et les Césars, 1839). Paul Bourget évoque également cette passion de l'auteur : "Ses amis se rappellent encore avec quel frémissement il récitait tel morceau de prose, le dialogue de Sylla et d'Eucrate, par exemple : « Sylla, lui dis-je...» puis, s'arrêtant là de sa citation, il ajoutait : « Toute l'histoire romaine est là dedans...» et il l'y voyait, tant l'ensorcellement des syllabes agissait sur ses nerfs tendus." (Journal des débats politique et littéraire, 10 février 1884).
Mais aussi épique fût-elle, l'histoire de Sylla manquait sans doute, à l'instar du manuscrit, d'une figure essentielle aux grandes oeuvres de Flaubert : une femme.
Do seu Catalogue 66 – Livres Anciens, refiro estas duas obras:
A Livraria Castro e Silva que, como já referi estará presente neste evento, preparou um catálogo especial: Catálogo de Livros Raros – Salon International du Livre Ancien - Paris 2012.
Ainda que já se conheçam algumas das obras incluidas neste catálogo destaco estas duas, a primeira por ser um almanaque francês, livros que têm sempre algum procura, e a segunda como representativa da nossa excelente bibliofilia:
5. ALMANACH DÉDIÉ AUX DAMES pour l’An 1826. À Paris chez Le Fuel, Lib edi. Et Delaunay, Palais Royal. In 12.º de 12x8 cm. com [xiv] 152 pags. Encadernação da época em seda estampada com desenhos neoclássicos coloridos. Ilustrado com dezenas de gravuras em extratexto.
49. LUCENA, João de. HISTORIA DA VIDA DO PADRE FRANCISCO XAVIER, E do que fizerão na India os mas Religiosos da Companhia de Iesu, Composta pelo Padre Ioam de Lucena da mesma Companhia Portugues natural da Villa de Trancoso. Impresso per Pedro crasbeeck Em Lisboa. Anno do Senhor 1600. In fólio de 26x16 cm. Com [iv], 908, [xxxviii] pags. Encadernação recente ao gosto da época inteira de pele com ferros a seco nas pasta. Ilustrado com frontispício gravado; uma gravura com o túmulo de S. Francisco Xavier; e dois retratos do mesmo apóstolo. Impressão a duas colunas. Exemplar com leves restauros marginais e falta da folha com a licença régia (que foi retirada da maioria dos exemplares na época) adicionada em fac-simile. Primeira edição. Obra muito rara e importante para a história da expansão portuguesa na Ásia. Azevedo e Samodães, 1856. «Obra de muito merecimento para a história das missões e do nosso domínio nas Índias Orientais durante a segunda metade do século xvi. Seu autor é considerado como um dos melhores clássicos da nossa língua, e isso muitíssimo contribui para a grande e justificada fama bem justificada estima que o livro desfruta, não só nos escritores e bibliófilos nacionais, mas também estrangeiros. Os exemplares desta edição primitiva, bela e primorosamente impressa, são raríssimos.» Inocêncio III, 399. ―P. JOÃO DE LUCENA, Jesuita, natural da villa de Trancoso, n. em 1550, e m. em Lisboa na casa professa de S. Roque em 1600, contando por conseguinte 50 annos d'edade. Historia da vida do Padre Francisco de Xavier, Pedro Craesbeeck. Em Lisboa. Anno do Senhor 1600. fol. Tem, afóra o frontispicio, mais dous retratos gravados em chapas de metal, os quaes todavia faltam em varios exemplares que tenho visto. Foi traduzida em italiano, e sahiu impressa em Roma, por Zannetti 1613. 4.º, e em castelhano, Sevilha, por Francisco de Lyra 1619. 4.º Ibi, 1699; e dizem que o fôra tambem em latim. A edição portugueza de 1600 é pouco vulgar, e assás estimada. D'ella fez Bento José de Sousa Farinha uma segunda edição, que elle dá por mui fiel, e sahiu: Lisboa, na Offic. de Antonio Gomes 1788. 8.º 4 tomos. Com esta historia o P. Lucena abriu-se praça entre os mestres mais insignes da pureza da nossa lingua. Suave no estylo, loução e polido no dizer, grave nas sentenças, e escrupuloso na escolha das palavras, tem sido universalmente respeitado pelos nossos criticos e philologos, todos concordes em reconhecerem e apreciarem o seu grande merecimento. Para confirmar este juizo, transcreverei aqui dous testemunhos cuja competencia não deve ser contestada. Seja o primeiro o do P. Francisco José Freire, nas Reflexões sobre a Ling. Portug., parte 1.ª Diz elle: «O P. João de Lucena merece occupar logar na classe dos mestres da primeira nota: porque a sua vida de S. Francisco Xavier é escripta com tal propriedade, energia, e pureza de lingua, que os muitos elogios com que os sabios honram a sua memoria não são os que bastam para quem tanto honrou com a sua pura locução aquella linguagem portugueza, que a critica só reconhece por genuina. Foi injustamente arguido de usar de diversos termos destituidos de classica auctoridade, mas o certo é que de todos os que lhe arguem ha exemplos seguros, como facilmente mostrariamos, se fosse nosso assumpto fazer aqui a apologia do P. Lucena.» Seja o segundo o do P. José Agostinho de Macedo, no seu opusculo Os Frades, ou reflexões philosophicas, etc., a pag. 67, onde fallando de Lucena se exprime nos termos seguintes: «É um dos nossos melhores classicos, e muito seguro texto; e sendo por este lado tão digno do nosso respeito e reconhecimento, ainda o considero mais por outro lado, e vem a ser: pelas noções que nos dá, e pelas noticias que só elle, entre todos os viajantes, nos dá dos costumes, das leis, da religião de muitos povos do ultimo oriente, isto é, dos habitantes das ilhas que formam o imperio do Japão, e de muitas outras do Oceano Pacifico, por onde S. Francisco Xavier levado pelos portuguezes, estendeu a sua vastissima e apostolica missão. São dignos do verdadeiro philosopho os maravilhosos quadros daquellas disputas e altercações, em que o sancto com os sagacissimos bonzos de continuo entrava, onde estão expostos os principios da theologia natural, por onde sempre começava a convencel-os da necessidade da divina revelação. E estão estas grandes cousas como escondidas e ignoradas no mundo, no canto incognito de um livro portuguez, e o peior é, que de todo ignoradas, ou não attendidas pelos mesmos portuguezes.... Se os francezes tivessem feito aquelle livro, teria mais edições do que tem uma folhinha, ou de porta ou de algibeira; e ha quasi trezentos annos tem tido duas em Portugal!»‖ History of the life of Father Francisco Xavier and the religious fathers of the Society of Jesus. Lisbon. 1600. In folio (26x16 cm) with [iv], 908 [xxxviii] pags. Binding: a beautiful full calf replica tooled bind at covers and gilt at spine. Illustrated with one engraved frontispiece; one engraved plate from the tomb of St. Francis Xavier; and two portraits of the same apostle. Printed in two columns. Copy with minor renovations, and lacking page with the royal license (which was withdrawn from most of the copies at the time) which is added on a facsimile. First edition of a very rare and important history of Portuguese expansion in Asia. Azevedo e Samodães, 1856: 'Work of much merit for the history of our field missions and the East Indies during the second half of the sixteenth century. Its author is considered one of the best classics of our language, and this greatly contributes to the large and well-justified reputation justified estimates that enjoys the book, not only in national writers and bibliophiles, but also foreigners. The original copies of this edition, beautiful and exquisitely printed, are very rare'. Inocêncio III, 399. 'Padre João DE LUCENA, was born in 1550, and died in Lisbon in 1600. This work was translated into Italian, and printed by Zannetti in 1613; in Spanish, Seville, by Francisco de Lyra, in 1619 and 1699, and also in Latin. The Portuguese edition of 1600 is unusual and fairly estimated. Smooth style, and polished in the telling, in severe sentences, and careful choice of words, has been universally respected by our critics and philologists, all agreed to recognize and appreciate their great merit. P. Francisco José Freire says: 'Fr João de Lucena deserves to occupy a place among the masters because his life of S. Francis Xavier is written with such property, energy, and purity of Portuguese language. He was unjustly accused of using various terms devoid of classical authority. Worthy of our respect and appreciation for the notions that gives us, and the news that he alone among all travelers, gives us the customs, laws, and religion of many peoples of the Far East, and the inhabitants of the islands that form the Empire of Japan, and many others from the Pacific Ocean. They are worthy of the true philosopher the beautiful paintings of those disputes and altercations with the holy gurus and bonzes, exposing the principles of natural theology, which began convincing them of the necessity of the divine revelation. And these are big things hidden and ignored in the World, contained in a unknown corner of a Portuguese book - at all ignored or missed by the Portuguese themselves. If the French had done that book, would have more issues than a pocket leaflet; and nearly three hundred years after it had just two editions in Portugal.
Um bibliófilo
Para aqueles que ali se deslocarão deixo o convite para uma visita e apreciação das obras apresentada, e de muitas outras, pois que de todas será quase impossível.
Boa visita … nunca será tempo perdido!
Saudações bibliófilas.
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