O leilão realiza-se nos dias 21, 22 e 23 de Novembro de 2011, pelas 21H00, no Palácio da Independência, Largo de S. Domingos 11 (ao Rossio) em Lisboa.
1ª Sessão: lotes - 1 a 500
2ª Sessão: lotes – 501 1010
3ª Sessão: lotes 1011 a 1513
Os livros estrão em exposição, no local do evento, nos dias 20, 21, 22 e 23 de Novembro das 15h às 20h
O catálogo do mesmo, inclui livros de arte, literatura, poesia, história,livros ilustrados, pintura, gravura, desenho, serigrafia, fotografia, África, livros dos séculos XVII a XIX, genealogia e heráldica entre outros temas.
Este leilão inclui como uma das principais fontes do seu acervo livros da Biblioteca de António Barata (que se estende até ao lote 687/A). Foi o proprietário da Livraria Barata durante muitos anos, a qual constituiu para algumas gerações, na qual se inclui a minha, uma das grandes referências culturais lisboetas no que dizia respeito aos livros.
Quem com ele privou não pode ter ficado alheio à sua personalidade.
António Barata
Mas afinal quem foi António Barata?
Para os mais novos, deixo o que sobre ele escreveu, na Introdução do Catálogo, José F. Vicente:
“António Barata, 1925-1983, foi um distinto livreiro, fundador da Livraria Barata, na Avenida de Roma, em Lisboa. Dedicou mais de meio séculode vida ao livro. Começou a actividade na pequena livraria e tabacaria,dando mais tarde lugar ao espaço ampliado que hoje conhecemos. A biblioteca, com escolha criteriosa é composta de livros de arte, descobrimentos, história, regionalismo, literatura e poesia, muitos em tiragens especiais acompanhados de desenhos ou serigrafias, de que destacamos a importante obra de André Malraux - Roi, Je T’Attends à Babylone, ilustrada com 14 pontas secas de Salvador Dali e assinada pelo autor, por Dali e pelo editor Skira, publicada em Genève, em 1973. Compreende ainda muitos livros de oferta, com as dedicatórias dos respectivos autores.
Para melhor compreendermos esta figura da cultura portuguesa, seleccionamos algumas frases suas e de personalidades da cultura incluídas na obra - António Barata – Um perfil.
“… Da vária e intensa colaboração que Barata, a seu modo, deu à cultura portuguesa é supérfluo falar. Retenhamos apenas a anotação breve de que, na sua dedicação á actividade que exerceu, António Barata contribuiu para que nós, os escritores, pudéssemos existir…” Vergílio Ferreira
“… Tal como o próprio livro que «só se abre se o alguém o abre», como escreveu João Cabral de Melo Neto, António Barata, no natural retraimento da sua personalidade, a ninguém desejava impor-se – e antes pacientemente aguardava que o «folheassem», que o consultassem, para só então entre mostrar todo o imenso tesouro da sua sensibilidade e da sua inteligência….”. David Mourão-Ferreira
Em 1964, António Barata foi preso pela PIDE na sequência de imensas buscas à Livraria e á sua residência. Permaneceu um mês na cela 11 do Aljube.
«Estive preso, não por pertencer a algum movimento, como muita gente pensava, mas por causa dos livros.»
«O fim do negócio é sempre o lucro, mas neste ramo, é um pouco diferente, a paixão já é uma quota-parte desse lucro.»
Após a sua morte, a esposa D. Zélia Barata mandou proceder ao inventário da biblioteca. A empresa encarregada da catalogação, colocou no frontispício dois carimbos distintos: um com o nome de D. Zélia e outro com uma minúscula barata. Este último carimbo aparece também em algumas folhas do texto.
Uma biblioteca que ficará disponível para ser disputada por bibliófilos, comerciantes e coleccionadores. Cumpre-se o círculo: Os livros são pertença da humanidade e pagamos para os ter durante um período da nossa vida.”
Propositadamente hoje não me vou pronunciar sobre nenhum dos lotes em particular, o leilão vale pelo seu conjunto e sobretudo pela personalidade do seu propriétário.
Deixo apenas algumas fotografias, como ilustrativo do seu conteúdo, e convido-os ao prazer da sua descoberta pela leitura do mesmo.
Melhor do que a leitura, seria a presença no leilão, ou apenas na sua exposição, para sentirem o carinho que António Barata, como qualquer um de nós, pôs na forma como foi construindo a sua biblioteca.
Boa sorte nas vossas licitações, pois que ficarão com um exemplar recheado de “história” nas vossas bibliotecas.
Saudações bibliófilas.
Cuando contemplamos una biblioteca a la venta siempre pensamos en la nuestra... pero es cierto que los libros los poseemos como préstamo y por ellos pagamos un importe para que nos acompañen en nuestra vida.
ResponderEliminarLo mejor de la semblanza esta frase:
«Estive preso, não por pertencer a algum movimento, como muita gente pensava, mas por causa dos livros.»
Gracias una vez más por ofrecernos el catálogo.
Caro Galderich,
ResponderEliminarO que nós não fazemos "por causa dos livros"?
E para aqueles que viveram sob ditadura, o que sofreram para conseguirem obter e manter certas obras.
(Aliás se não fossem eles, como seus fiéis guardiões, muitas destas obras teriam desaparecido.)
Desde sempre que o livro foi perseguido e os seus autores vitimas de diversas medidas coercivas, mas lá estava o coleccionador, ou alguém com um espírito mais "iluminado", para o salvar da fogueira!
Um abraço