segunda-feira, 16 de maio de 2011

Otium Leilões – Leilão da Biblioteca do Dr. Fernando Tomaz





Otium Leilões

Este importante leilão com organização da Otium Leilões, de Nuno Gonçalves, decorrerá no Hotel Fénix na Praça Marquês de Pombal, 8 em Lisboa.

Os livros estarão em exposição nos dias de leilão 5.ª e 6.ª feira das 15h às 19h e sábados das 11h às 13h.

A I parte do leilão decorrerá 5.ª e 6ª feira – 19 e 20 de Maio pelas 21h15 e no sábado – 21 de Maio pelas 15h00.

A II parte do leilão decorrerá 5.ª e 6ª feira – 26 e 27 de Maio pelas 21h15 e no sábado – 28 de Maio pelas 15h00.


Catálogo do Leilão da Biblioteca do Dr. Fernando Tomaz (1)

Trata-se de um excelente Biblioteca, criteriosamente seleccionada e recheada de raridades, e onde vamos encontrar obras de todos os grandes escritores portugueses, com maior relevância para os dos séc. XIX e XX, mas onde o livro antigo também tem uma boa representação.

Deixo apenas alguns breves exemplos de obras que têm aparecido menos frequentemente.


25 ÁGUIA (A) Revista Quinzenal ilustrada de literatura e crítica / Director e Proprietário Alvaro Pinto. - 1.ª Série, 10 números, Dezembro de 1910 - Julho de 1911; 2.ª Série, 120 números, Janeiro de 1912 - Outubro de 1921; 3.ª Série, 60 números, Julho de 1922 - Dezembro 1927; 4.ª Série, 12 números, Janeiro de 1928 – Dezembro de 1929; 5.ª Série, 3 números, Janeiro - Junho de 1932. - Porto: 1910-1932. - 28 v.; 310 mm. 245 mm.

Brochado em caixas com lombada e cantos em chagrin vermelho, decorada a ouro com a reprodução do logótipo da revista; n. 10/11 da 4.ª série da edição fac-similada da Livraria Nova Ecléctica e outras. Revista lançada no Porto, A Águia foi publicada no seguimento da implantação da república, transformando-se na principal publicação intelectual da primeira metade do século XX. Ao longo de mais de duas décadas de existência, conheceu como directores nomes de vulto, entre os quais: Álvaro Pinto, Teixeira de Pascoaes, António Carneiro, José de Magalhães, Leonardo Coimbra, Hernâni Cidade; Teixeira Rego, Sant’Anna Dionísio, Delfim Santos e Aarão de Lacerda. Se na sua primeira série a vemos apostada em dar à revolução republicana um “conteúdo renovador e fecundo” nos seus múltiplos contributos, é só na série seguinte que a revista se apresenta como porta-voz da sociedade cultural e editorial «Renascença Portuguesa», sobre a qual Pascoaes declarou que os seus dois fins seriam a “educação nacional” e o “advento da Era Lusíada”. Sucedendo-se à sua fase mais característica, a terceira série expõe uma fase de indefinição intelectual e literária do projecto e as breves quarta e quinta séries põem a manifesto os esforços de sobrevivência do projecto original. Nos seus diversos números, a publicação ganha o seu lugar de destaque pela colaboração em prosa e verso de grande parte dos vultos da literatura e intelectualidade portuguesa da época (Fernando Pessoa, Antero de Figueiredo, Afonso Lopes Vieira, Teixeira de Pascoaes, Alfredo Guimarães, Augusto Casimiro, António Nobre, Jaime Cortesão, Leonardo Coimbra, António Corrêa de Oliveira, entre outros) e pela publicação de um número apreciável de inéditos das maiores figuras da literatura portuguesa do século XIX. Também a quantidade e qualidade dos retratos e ilustrações ao longo dos seus números emprestam um valor insubstituível a esta públicação. Daniel Pires, 40-49  Biblos, I, col. 85-90  Biblioteca Alfredo Ribeiro dos Santos, 31.


404 CASTELO BRANCO (Camilo). - AMOR de Perdição (Memorias d’uma Familia): Romance / por [...]. - Porto: Em Casa de N. Moré, 1862. - XII, 250 pp.; 200 mm.

Belíssimo exemplar; apenas ligeiramente aparado à cabeça, conservando ascapas de brochura; em bonita encadernação assinada Victo Santos, ricamente decorada a ouro nas seixas, lombada e pastas. Primeira edição.

Escrito na Cadeia da Relação do Porto durante o ano de 1861, Camilo inspirou-se numa lenda de família em que se contava que um seu Tio, Simão Botelho, teria acabado degredado para a Índia por “crimes amorosos”. Também ele preso por iguais razões, aguardando julgamento com a sua mulher de sempre, Ana Plácido, ao mesmo tempo procurando a reconciliação com uma sociedade ainda incapaz de compreender o que se designava por “direitos do coração”, Camilo escreve a que é considerada a sua mais importante e magistral obra, ou, pelo menos, com toda a certeza, a que maior audiência recolheu.

Centrada no tema dos amores contrariados em nome de rivalidades nobiliárquicas, encontramos no desenvolvimento da acção elementos fundamentais da temática ficcional camiliana como o encerramento forçado no convento, perseguição, prisão, desterro e morte do herói. Ao mesmo tempo, as personagens possuem traços de grande propriedade, ajudadas pela enorme mestria com que Camilo estrutura o discurso narrativo e maneja os vários recursos estilísticos da língua portuguesa, construindo-se assim um texto “de grande densidade poética, numa singular sinfonia de vozes que vão desde o linguajar campesino do ferrador João da Cruz às exaltações do lirismo romântico patente nas cartas de Simão e de Teresa, passando pelo recorte aliteratado e arcaizante dos fidalgos provincianos [...]” (Biblos, I, col. 330). O “Amor de Perdição” foi escrito, como já ficou dito, na Cadeia da Relação do Porto enquanto Camilo aguardava julgamento pelo crime de adultério, em 1861, estando a dedicatória a Fontes Pereira de Melo datada de Setembro desse mesmo ano. A data apresentada no frontispício da obra indica o ano seguinte, 1862, mas segundo Alexandre Cabral no seu “Dicionário de C.C.Branco” (p. 30), o periódico “Revolução de Setembro” dá-o, em 1 de Janeiro de 1862, como estando já em circulação, pelo que é possível que a obra se encontrasse à venda ainda antes do fim de 1861. A reforçar esta ideia, está o facto de Camilo ter saído da prisão em Outubro de 1861, pelo que, no momento, mais que a sua constante necessidade de reconhecimento público, a sua nova situação familiar carecia de forma de sustento regular. Curiosidade bibliográfica é também a existência de uma tiragem muito reduzida em papel inglês cartridje de que nos dão conta Henrique Marques e Manuel dos Santos nas suas Bibliografia Camiliana e Revista Bibliográfica Camiliana, respectivamente. Muito Raro.



2277 VERDE (Cesário). - O LIVRO de Cesário Verde 1873-1886. - Lisboa: Typographia Elzeviriana, 1887. - XX-104-[4] pp., 1 ret.: il.; 195 mm.

Encadernação com lombada e cantos em pele; corte superior das folhas dourado; conserva as capas de brochura; retrato fac-similado. Primeira edição do livro de poemas de “umas das personalidades mais originais, mais renovadoras da poesia portuguesa do séc. XIX” (Dic. Literatura). Publicado e organizado postumamente por Silva Pinto, reúne dispersos e autógrafos dividindo-os em duas secções, não respeitando a ordem cronológica. Oriundo de uma família burguesa abastada, Cesário Verde ocupava o seu tempo em duas actividades familiares – a agricultura e o comércio – dedicando apenas uma parte às letras. Chegou a frequentar o Curso Superior de Letras, sem o concluir. Em 1873, publica a sua primeira composição no Diário de Notícias, fazendo um interregno na publicação de 1880 a 1884, época em que aparece o poema “Nós”, escrito em 1881 ou 1882, revelando já uma enorme maturidade literária. É o real que interessa a Cesário Verde - “a mim o que me rodeia é o que me preocupa”, escreve a Silva Pinto – carregando a sua poesia de um amor do real, do que observa à sua volta, do que lhe transmitem os sentidos, sendo esta a característica mais original dos seus textos. “A sua poesia é a dum artista plástico, enamorado do concreto, que deambula pela cidade ou pelo campo e descreve de modo vivo, exacto, as suas experiências” ( J.Prado Coelho, Dicionário de Literatura Portuguesa, p. 1140). Pelos ensaístas que se têm ocupado da sua obra é tido como o precursor de dois heterónimos de Pessoa – Álvaro de Campos, o poeta citadino, e Alberto Caeiro, o camponês – na dupla dimensão urbana e camponesa, sem ser bucólica, que se encontra patente nas suas poesias. O único livro publicado do autor é «O Livro de Cesário Verde». Ao contrário do que o organizador afirma, parece que a organização da obra não obedeceu a nenhum outro critério que não o seu, e não a um plano deixado por Cesário Verde e que o seu irmão, Jorge Verde, terá facultado a Silva Pinto. É bastante procurada pelos coleccionadores de Literatura Portuguesa contemporânea. Raríssimo e valioso. Dic. Literatura, 1139.

Agora vejam com atenção o catálogo e preparem-se para participar, pois existem obras e autores para todos os gostos … assim a bolsa possa “acompanhar o apetite bibliófilo”!


Saudações bibliófilas


Nota:
(1) Catálogo ainda não disponível para download (trata-se do Catálogo S007), pelo que se estiverem interessados devem contactar o livreiro-antiquário Nuno Gonçalves no e-mail:
enquanto não estiver disponível na página da Internet da Livraria Otium Cum Dignitate:

Atenção que a ligação colocada por debaixo do catálogo já garante o acesso directo ao mesmo. Agora é mesmo só folheá-lo e fazer a sua consulta.

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