Instituto Moreira Sales (IMS)
(Dezembro de 2006)
O feiticeiro da palavra escrita
Os seus primeiros textos foram jornais feitos à mão, escritos quase sempre em folhas de papel de embrulho da loja do pai, dos quais era o director e único redactor. Cada número trazia artigo, conto, noticiário, secção humorística e critica de costumes sociais. Nenhum exemplar foi guardado.
Também escrevia cartas para os irmãos, com charadas cheias de logogrifos, desenhos hieroglíficos que irá manter por toda a vida, dando posteriormente as indicações para Poty, o ilustrador de seus livros.
“Desde menino, muito pequeno, eu brincava de imaginar intermináveis estórias, verdadeiros romances; quando comecei a estudar Geografia – matéria de que sempre gostei – colocava os personagens e cenas nas mais variadas cidades e países. Mas, escrever mesmo, só comecei foi em 1929, com alguns contos, que naturalmente, não valem nada. Até essa ocasião (21 anos), eu só me interessava, e intensamente, pelo estudo da Medicina e da Biologia”.
Os seus contos, que “não valiam nada”, valeram-lhe um prémio em dinheiro e a publicação na Revista O Cruzeiro, em 1929.
António Cândido foi o primeiro a observar, nos seus artigos pioneiros e seminais sobre o escritor, o amplo espectro de olhares possibilitado pela obra de Guimarães Rosa. Nessa perspectiva, pode-se abordar na sua obra diversos aspectos interpretativos: linguísticos, teórico-literários, históricos, geográficos, psicológicos, antropológicos e filosóficos.
"A experiência documentária de GR, a observação da vida sertaneja, a paixão pela coisa e o nome da coisa, a capacidade de entrar na psicologia do rústico - tudo se transformou em significado universal graças à invenção, que subtrai o livro da matriz regional, para fazê-lo exprimir os grandes lugares-comuns, sem os quais a arte não sobrevive: dor, júbilo, ódio, amor, morte, para cuja órbita nos arrasta a cada instante, mostrando que o pitoresco é acessório, e na verdade, o Sertão é o Mundo." (António Cândido)
O ambiente rural fornecia, desde há muito tempo, material para a literatura brasileira.
Camponês com cavalo, 1948
José Marques Campão (Brasil, 1892-1949).
Óleo sobre tela, 54 x 65 cm. Colecção Particular
No Romantismo, Alencar, Taunay e Bernardo Guimarães produziram narrativas em que o homem e o espaço sertanejos são idealizados, em oposição ao homem da corte.
Durante o Realismo/Naturalismo, Domingos Olímpio e Manuel de Oliveira Paiva debruçaram-se sobre o sertão, agora para revelar aspectos ignorados pelos românticos. No Pré-Modernismo, a realidade rural transformou-se em matéria literária para Euclides da Cunha, Monteiro Lobato e Simões Lopes Neto.
A década de 1930 marca o surgimento do romance do Nordeste, com Graciliano Ramos e Rachel de Queiroz, entre outros.
Guimarães Rosa retoma a temática e transforma-a de uma forma radical.
João Guimarães Rosa irá revelar-se, com suas características fundamentais: um realismo mágico, regionalismo, liberdades e invenções linguísticas e neologismos, mas que, no entanto, não são suficientes para explicar todo o seu sucesso.
Efectivamente, Guimarães Rosa irá provar a importância de colocar a linguagem ao serviço da temática, e vice-versa, uma potencializando a outra. Nesse sentido, o escritor mineiro inaugura uma metamorfose no regionalismo brasileiro que o irá trazer de novo ao centro da ficção brasileira.
Somente renovando a língua é que se pode renovar o mundo.
Isso se deve ao facto de ter criado toda uma individualidade quanto ao modo de escrever e criar palavras, transformando e renovando radicalmente o uso da língua.
Nas suas obras, estão presentes os termos coloquiais típicos do sertão, aliados ao emprego de palavras que já estavam praticamente em desuso.
Há também a constante criação de neologismos nascidos a partir de formas típicas da língua portuguesa, denotando o uso constante de onomatopeias e aliterações.
O resultado disso tudo é a beleza de palavras como "refrio", "retrovão", "levantante", "desfalar", etc., ou frases brilhantes como: "os passarinhos que bem-me-viam", "e aí se deu o que se deu – o isto é".
A linguagem toda caracterizada de Guimarães Rosa reencontra e reconstrói o cenário mítico do sertão tão marginalizado, onde a economia agrária já em declínio e a rusticidade ainda predominam. Os costumes sertanejos e a paisagem, analisada sob todos os seus aspectos, são mostrados como uma unidade, cheia de mistérios e revelações em torno da vida.
Criador de uma língua inédita e surpreendente, Rosa considera a sua como a “língua da metafísica”. Mas se esta aponta para o transcendente também mantém com a língua uma relação amorosa e carnal:
“A língua e eu somos um casal de amantes que juntos procriam apaixonadamente, mas a quem até hoje foi negada a benção eclesiástica e científica. Entretanto, como sou sertanejo, a falta de tais formalidades não me preocupa. Minha amante é mais importante para mim”.
Numa longa carta, de 11 de Maio de 1947, para Vicente Guimarães, escreve:
“A língua portuguesa, aqui no Brasil, está uma vergonha e uma miséria. Está descalça e despenteada;.... É preciso distendê-la, destorcê-la, obrigá-la a fazer ginástica, desenvolver-lhe músculos. Dar-lhe precisão, exatidão, agudeza, plasticidade, calado, motores. E é preciso refundi-la no tacho, mexendo muitas horas. ... A nossa literatura, com poucas exceções, é um valor negativo, um cocô de cachorro no tapete de um salão. Naturalmente palavrosos, piegas, sem imaginação criadora, imitadores, ocos, incultos, apressados, preguiçosos, vaidosos, impacientes, não cuidamos da exatidão...... Quem pode, deve preparar-se, armar-se, e lutar contra esse estado de coisas. É uma revolução branca, uma série de golpes de estado.”
Na entrevista a Günter Lorenz, em 1965, dirá:
“Escrevo, e creio que este é o meu aparelho de controle: o idioma português, tal como o usamos no Brasil; entretanto, no fundo, enquanto vou escrevendo, eu traduzo, extraio de muitos outros idiomas. Disso resultam meus livros, escritos em idioma próprio, meu, e pode-se deduzir daí que não me submeto à tirania da gramática e dos dicionários dos outros.
Se tem de haver uma frase feita, eu preferia que me chamassem de reacionário da língua, pois quero voltar a cada dia à origem da língua, lá onde a palavra ainda está nas entranhas da alma, para poder lhe dar luz segundo a minha imagem.
Eu quero tudo: o mineiro, o brasileiro, o português, o latim, talvez até o esquimó e o tártaro. Queria a linguagem que se falava antes de Babel”.
“amo a língua, realmente a amo como se ama uma pessoa”. Isto é importante, pois sem esse amor pessoal, por assim dizer, não funciona.
Quando escrevo, repito o que já vivi antes. E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente.”
A sua obra alcançou uma dimensão talvez até hoje desconhecida na literatura brasileira. Quando morreu, em 19 de Novembro de 67, Guimarães Rosa tinha 59 anos. Tinha-se dedicado à medicina, à diplomacia, e, fundamentalmente às suas crenças, descritas na sua obra literária. Fenómeno da literatura brasileira, Guimarães Rosa começou a escrever aos 38 anos. Depois desse volume – Magma, escreveria apenas outros quatro livros.
No entanto, pelo conjunto da sua obra, atingiu a glória, como poucos escritores brasileiros.
Guimarães Rosa, com as suas inovações linguísticas, a sua técnica e o seu mundo ficcional renovou o romance brasileiro, concedendo-lhe caminhos até então inéditos.
Guimarães Rosa também se revelaria internacionalmente, a partir do “boom” da literatura latino-americano pós-1950. De facto, a partir de Cem anos de solidão (1967), do colombiano Gabriel García Márquez, a ficção latino-americana torna-se a representação de uma vitalidade artística e de uma capacidade de invenção ficcional que pareciam, naquele momento, perdidas para sempre. São desse período os imortais Vargas Llosa (Peru), Carlos Fuentes (México), Julio Cortázar (Argentina), Juan Rulfo (México), Alejo Carpentier (Cuba).
Nos Estados Unidos, o romance entrara em decadência e só o cinema mostrava ainda a sua vitalidade. E, sobretudo, após a morte de Céline (1951), Thomas Mann (1955), Albert Camus (1960), Ernest Hemingway (1961), William Faulkner (1962), que eram alguns dos escritores mais importante nessa época, criara-se um “certo vazio” que seria ocupado pela pujança deste conjunto de nomes que fizeram irromper a nova literatura latino-americana.
A sua obra impôs-se não apenas no Brasil, mas alcançou o mundo.
A sua obra literária:
João Guimarães Rosa – Magma. Poesia. (1936)
Livro só publicado em 1997. (Veja-se adiante)
(1ª edição)
João Guimarães Rosa – Sagarana. Rio de Janeiro, Editora Universal, 1946. 1ª edição. Capa de Geraldo de Castro. Encadernação original brochura. 340 pp.
Prémio Sociedade Felipe d’Oliveira
“O livro foi escrito – quase todo na cama, a lápis, em cadernos de 100 folhas – em sete meses; sete meses de exaltação, de deslumbramento. (Depois, repousou durante sete anos; e. em 1945 foi “retrabalhado”, em cinco meses, cinco meses de reflexão e de lucidez)”
Sagarana teve uma primeira versão, que foi inscrita por Guimarães Rosa, no Concurso Humberto de Campos, da Livraria José Olympio Editora, sob o título de Contos, em 1938, e que assinou sob o pseudónimo de Viator. O júri era formado por Graciliano Ramos, Marques Rebelo, Prudente de Morais Neto, Dias da Costa e Peregrino Júnior.
Ficaria em segundo lugar no Concurso, perdendo para Maria Perigosa de Luís Jardim.
Em Abril de 1946, Sagarana é publicado pela Editora Universal, de Caio Pinheiro, alcançando sucesso imediato, como uma “revolução” na chamada literatura regional brasileira.
Foi a primeira publicação que não foi posteriormente renegada pelo autor.
Os textos exemplificam bem o estilo do autor, a sua linguagem inovadora e os seus temas, ligados à vida rural de Minas Gerais.
Sagarana introduziu a "metafísica regionalista" na literatura brasileira – a concepção de mundo do autor que surge através de relato/criações sobre homens sertanejos em confronto com o seu sentir e do outro. O livro, porta de entrada para a obra de João Guimarães Rosa, é um dos mais conhecidos e adaptados para outras linguagens estéticas, caso dos contos A hora e a vez de Augusto Matraga, Duelo, Sarapalha e Corpo fechado. Guimarães conta que ao escrevê-lo pensou numa série de "histórias adultas da carochinha".
Para criar a sua fábula, o autor trancou-se no seu quarto, onde passou horas e dias cantando cantigas sertanejas, conversando com vaqueiros imaginários, até o conceber após sete meses de "exaltação" e "deslumbramento".
O título, Sagarana é formado por um hibridismo: "saga", radical de origem germânica que significa "canto heróico", "lenda"; e "rana" palavra de origem tupi que significa "que exprime semelhança ".
Assim Sagarana significa “algo próximo a uma saga".
João Guimarães Rosa combina e recombina habilmente as informações do meio, confundindo lugares e paisagens, misturando o real, o imaginário e o lendário na obra. Não se trata de um livro regionalista já que não se limita a uma localidade específica.
Em minha opinião, e doutros estudiosos da obra rosiana, para os desconhecedores desta mesma obra, este deve ser o primeiro livro a ser lido, para se poder começar a embrenhar na forma linguistica que este utiliza, possibilitando uma transição, nem sempre fácil, para a sua obra-prima – Grande Sertão: Veredas.
(2ª edição)
João Guimarães Rosa – Sagarana. Rio de Janeiro, Editora Universal, 1946. 2ª edição. Publicada no mesmo ano em que foi publicada a primeira edição. Encadernação original brochura. 333 pp.
(3ª edição)
João Guimarães Rosa – Sagarana. Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 1951. 3ª edição, revista. Capa de Santa Rosa. Primeira edição por esta editora. Encadernação original brochura. 344 pp.
(Edição Comemorativa)
João Guimarães Rosa – Sagarana. Rio Janeiro, Editora Nova Fronteira, 2006. Encadernação em capa dura. Inclui uma “colectânea” de várias capas que já ilustraram anteriormente o livro. 416 pp.
A Editora Nova Fronteira comemorou os 60 anos de Saragana, primeiro livro de Guimarães Rosa, lançando uma edição comemorativa. É uma edição em capa dura, com acabamento italiano, em tecido. Impresso em cor especial, o livro recupera as capas de algumas edições da obra. Sagarana reúne nove novelas: O burrinho pedrês, A volta do marido pródigo, Sarapalha, Duelo, Minha gente, São Marcos, Corpo fechado, Conversa de bois e A hora e vez de Augusto Matraga. Algumas delas foram adaptadas para peças teatrais e filmes. Todas essas narrativas decorrem no interior de Minas Gerais, região onde Guimarães Rosa nasceu e com a qual manteve, durante toda a sua vida, uma ligação estreita e fundamental.
(1ª edição em Portugal)
João Guimarães Rosa – Sagarana. Lisboa, Livros do Brasil, s.d. 1ª edição portuguesa. Capa de Infante do Carmo. Encadernação original brochura. 350 pp.
(1ª edição)
(Foto: Estante Virtual –Letícia Livros)
João Guimarães Rosa – Com o vaqueiro Mariano (1947)
Classificado como reportagem poética por Renard Pérez, a estória trata do seu encontro, em Julho de 1947, em Nhecolândia, no Pantanal, com um pantaneiro, um homem “denso, presente, almado, bom-condutor de sentimentos, (...) governador de si mesmo; e inteligente. Essa pessoa, este homem, é o vaqueiro José Mariano da Silva, meu amigo.”
Estruturalmente consta de três partes.
Na primeira parte, o narrador relata a conversa tida certa noite com o vaqueiro, revelando querer “saber mais sobre a alma dos bois” e instiga o vaqueiro a falar sobre as suas aventuras.
Na segunda parte, o narrador retoma o contar, falando sobre sua experiência na fazenda durante o frio da madrugada e destacando os sons típicos do amanhecer no campo. Relata igualmente os momentos vividos por ele ao lado do vaqueiro na sua faina matinal com o gado.
Na terceira parte, além de descrever poeticamente a beleza do pantanal, o narrador prossegue contando os factos vivenciados junto com o sertanejo, na sua longa cavalgada pelos pastos, para observar de perto a sua lida rotineira.
A primeira parte foi publicada, originalmente, no Correio da Manhã de 26 de Outubro de 1947 e as duas restantes no início de 1948.
Em 1952, Rosa publica, em tiragem restrita e em pequeno livro, o conto Com o vaqueiro Mariano, que integrará o livro póstumo Estas estórias de 1969, com o título Entremeio: com o vaqueiro Mariano.
É considerado com Meu Tio o Iauaretê uma das duas obras míticas de João Guimarães Rosa.
João Guimarães Rosa – Com o Vaqueiro Mariano. Niterói, Hipocampo, 1952.
É o décimo primeiro livro das Edições Hipocampo. Trata-se de uma edição composta à mão impressa em 10 de Maio de 1952, em Niterói. Tiraram-se 116 exemplares em papel ingre autenticados pelo autor: de 1 a 100 para subscritores, de I a X para o poeta, de A a F para os editores Geir Campos e Thiago de Mello.
A ilustração (água forte) é de Darel Valença Lins. O livro está protegido em estojo de pele. (1)
(1ª edição)
João Guimarães Rosa – Grande Sertão: Veredas. Rio de Janeira Livraria José Olympio Editora. 1956. 1ª edição. Encadernação original brochura. 594 pp.
No mês de Maio de 1956, é publicado o romance Grande Sertão: Veredas (no meio da rua, no redemoinho)
Grande Sertão: Veredas é o único romance escrito por Guimarães Rosa e um dos mais importantes livros da literatura brasileira e da literatura lusófona. Pensado inicialmente como uma das novelas do livro Corpo de Baile, lançado nesse mesmo ano de 1956, cresceu, ganhou autonomia e tornou-se num dos mais importantes livros da literatura de língua portuguesa.
“livro diferente, terrível, consolador e estranho”, diz Rosa. É uma “autobiografia irracional ou melhor, minha auto-reflexão irracional.”
Grande Sertão: Veredas é um romance que encena uma fala e uma escuta. Quem fala é Riobaldo, um jagunço aposentado, “com azías e reumatismos”, que conta o que foi a sua vida. Quem ouve é o “doutor”, um “senhor” da cidade que visita o sertão, e que permanece com Riobaldo durante três dias.
Riobaldo fala do que não sabe, e conta para saber, na esperança de uma resposta. Como a fala do doutor não aparece, o sentido da vida de Riobaldo não se finaliza, permanecendo como uma interrogação ao infinito, exposta numa linguagem inédita, que é prosa e poesia, que é oral, mas é escrita, que se constrói de arcaísmos e neologismos, de regionalismos e estrangeirismos.
O livro causou enorme impacto e o seu autor passou a ser visto como caso único na literatura brasileira.
Em 2006, o Museu da Língua Portuguesa realizou uma exposição sobre a obra no Salão de Exposições Temporárias.
Na obra de Guimarães Rosa, o sertão não se limita ao espaço geográfico, mas simboliza o próprio universo. Como afirma Riobaldo, personagem de Grande Sertão: Veredas: "O senhor tolere, isto é o sertão. Uns querem que não seja: que situado sertão é por os campos-gerais a fora a dentro, eles dizem (...) O sertão está em toda a parte."
Quanto ao processo narrativo, geralmente as suas histórias (ou estórias, como queria Rosa) concentram-se em torno de "casos" que sustentam os enredos. Grande Sertão: Veredas provocou um impacto sem precedentes na literatura brasileira. Quando foi lançada a obra, percebeu-se que estava ali algo diferente de tudo o que até então se fizera. Guimarães Rosa levara a efeito a mais radical experiência linguistica pela qual o romance brasileiro tinha passado. Como um imenso caleidoscópio constituído de casos, histórias curtas, páginas de diário, anedotas, a obra sustenta-se numa narrativa relativamente fácil.
Alguns estudiosos vêm semelhança entre esta obra e uma novela de cavalaria. A travessia, palavra-chave em Grande Sertão: Veredas, representa o obstáculo a ser superado pelo "cavaleiro" (jagunço) e que dará sentido à sua existência. Paralelamente a essas aventuras e indagações metafísicas, tem lugar a forte atracção (correspondida) que o narrador-personagem começa a sentir por Reinaldo, um dos jagunços do grupo, que Riobaldo trata de Diadorim. Naquele universo, uma atracção dessa ordem fatalmente despertaria enormes conflitos em Riobaldo. Efectuada a travessia do Liso, ocorreu o combate em que o grupo de Riobaldo venceu o bando inimigo. Sucedeu também a morte de Reinaldo/Diadorim e, em seguida, a chocante cena em que Riobaldo assiste à preparação do corpo de Diadorim para o enterro.
Prémio Machado de Assis, do Instituto Nacional do Livro, Prémio Carmen Dolores Barbosa em 1956 e o Prémio Paula Brito em 1957.
Parece-me interessante deixar aqui a opinião de um leitor brasileiro sobre esta obra:
“Qualquer que ler o Grande Sertão: Veredas até à página 40 aproximadamente, sentirá grande desejo de rasgar ou queimar o livro dada a sua complexidade, mas se o leitor tiver paciência e prosseguir na leitura começará a entender um pouco da linguagem e hábitos do “Sertanejo” do interior de Minas e Goiás, para abstrair o sentido da obra.
Rosa adota expressões, até então em literaturas jamais usadas, tais como tutameia, (tuta-e-meia), nonada, baga, ninha, ossos de borboleta, quiquiriqui, mexinflório, chorumelanica, por exemplo.” (Marco Pedrosa)
(1ª edição)
João Guimarães Rosa – Corpo de Baile. Rio de Janeira Livraria José Olympio Editora. 1956. 1ª edição. 2 volumes. Encadernação original brochura. Capa de Poty. 1204 pp. juntando os dois volumes
(Esta edição existe com encadernação de capa dura da editora)
O título Corpo de Baile foi dado pelo autor que defendia que todos os personagens percorriam e se entrecruzavam pelas histórias, como numa dança.
A imagem da capa é sugestão preparada pelo próprio Guimarães Rosa, com um curioso recado: "dois meninos, um deles de 7 e o outro de 8 anos, e uma cachorra". Desistiu disso depois, bem como cortou a indicação de duas novelas.
Foi, originalmente editado em 1956, em dois volumes e composto por sete novelas.
Volume I: Campo geral, Uma história de amor e A história de Lélio e Lina
Volume II: O recado do morro, Dão-Lalalão (o devente), Cara-de-bronze e Buriti
A partir da 3ª edição, Corpo de Baile desdobra-se em três volumes independentes, um pouco a contragosto do autor:
Volume I: Manuelzão e Miguilim, com as novelas Campo geral e Uma história de amor;
Volume II: No Urubuquaquá, no Pinhém, com as novelas O recado do morro, Cara-de-bronze e A história de Lélio e Lina. (Em Portugal foi lançado com o título de Aventura nos Campos Gerais);
Volume III: Noites do Sertão, com as novelas Dão-Lalalão (o devente) e Buriti.
Corpo de Baile cujo título é, na definição de Guimarães Rosa, para uma literatura que saia do papel e enfrente o leitor. Essa proposta é identificada com as expressões pós-modernistas que "experimentam" o espectador ao desviá-lo de sua passividade. Em Guimarães, que não se insere exactamente numa linha de literatura pós-moderna, no entanto, esse desafio é linguístico e filosófico. Com os seus neologismos contribui para provocar a surpresa e inquietação no leitor.
A oralidade da narrativa, repleta de expressões das "gerais" e justaposições correntes na língua falada da região, é responsável pela "saída" do livro de sua condição de papel para ser lido. Os temas presentes em Corpo de Baile e Sagarana levam também a uma outra dimensão da percepção e sensibilidade a começar pelo seu conceito.
As sete estórias de Corpo de Baile são apresentadas como poemas. Na verdade, elas estão situadas entre os géneros conto e novela mas são longas demais para o primeiro e curtas demais para o outro.
(1ª edição)
João Guimarães Rosa – Primeiras Estórias. Rio de Janeira Livraria José Olympio Editora, 1962. 1ª edição. Capa e desenhos de Luís Jardim. Encadernação original brochura. 176 pp.
Prémio do PEN Clube do Brasil em 1963
Primeiras Estórias é um livro constituído por 21 contos que se desenrolam, na sua maioria, num ambiente rural não específico.
As suas personagens apresentam sempre dons fora da normalidade como crianças paranormais, santos, loucos e bandidos. Dentre os contos mais importantes estão A Menina de Lá e A Terceira Margem do Rio, que veio a ser encenado em filme, homónimo, junto com mais outras quatro estórias do livro.
O primeiro conto intitula-se As Margens da Alegria e pode ser entendido como o conhecimento da vida por um menino que viaja pela primeira vez de avião, descobre a vida rural e se afeiçoa a um peru que mais tarde será morto para o jantar. Deve-se ficar atento ao menino que é personagem principal tanto do primeiro conto quanto do último, Os Cimos.
O segundo conto – Famigerado – roda em torno desta palavra. Um temido jagunço descobriu ter sido chamado de famigerado por um moço do governo e vai ao farmacêutico, pessoa letrada do lugar, descobrir o que significa essa palavra. Neste conto Guimarães Rosa serve-se do anticlímax. Senão vejamos este apontamento de leitura:
“O termo “famigerado” é o título de um conto em que Guimarães Rosa indiretamente salva um roceiro da morte certa. Apenas explicando ao potencial assassino o significado da expressão que na concepção do matador era ofensa imperdoável, que julgava ser algo como gerado da fome, faminto ou “passa fome”. Seu ódio é aplacado ao saber que era gerado da fama, famoso, prodigioso.” (Marco Pedrosa)
Deve-se ter em atenção a organização dos contos existentes no livro, pois não é por acaso que está organizado daquela maneira. Com efeito, o conto O Espelho encontra-se no meio destes contos ou seja, como são 21 contos, O Espelho é o 11º conto, pelo que tem 10 contos na sua frente, e outros 10 contos a seguir. Isto porque a função do espelho é reflectir.
João Guimarães Rosa – Campo geral. (1964)
Campo geral é um romance que se ambienta no leste de Minas Gerais, mais precisamente em Mutum, lugar cercado por um relevo relativamente alto, o que o torna "isolado" do resto do mundo. A história (estória na linguagem de Guimarães Rosa) centra-se em torno de um garoto chamado Miguilim, desde a data em que é crismado até a perda de sua inocência, e a caminhada de sua vida junto com seu irmão Dito.
Não tenho conhecimento da sua publicação isoladamente em livro.
(1ª edição)
João Guimarães Rosa – Manuelzão e Miguilim. Rio de Janeira Livraria José Olympio Editora, 1964. 3ª edição. Esta é a primeira edição do livro com este título, quando o Corpo de Baile foi dividido em três volumes. Encadernação original brochura. 202 pp.
1º volume de Corpo de Baile, após a revisão do numero de volumes, com as novelas Campo geral e Uma história de amor.
As novelas que integram este volume foram publicadas originalmente no livro Corpo de Baile, que depois foi dividido em três pelo autor. As duas histórias complementam-se, como um começo e um fim de vida – a constante e dolorosa descoberta do mundo pelo menino Miguilim, de Campo geral, e o relembrar por vezes também doloroso do vaqueiro sessentão Miguelzão, de Uma estória de amor.
(1ª edição)
João Guimarães Rosa – No Urubuguaguá, no Pinhém. Rio de Janeira Livraria José Olympio Editora, 1965. 3ª edição. Esta é a primeira edição do livro com este título, quando o Corpo de Baile foi dividido em três volumes. Encadernação original brochura. 246 pp.
2º volume de Corpo de Baile, após a revisão do numero de volumes, com as novelas O recado do morro, Cara-de-bronze e A história de Lélio e Lina.
(Em Portugal foi lançado com o título de Aventura nos Campos Gerais)
(1ª edição)
João Guimarães Rosa – Noites do Sertão. Rio de Janeira Livraria José Olympio Editora, 1965. 3ª edição. Esta é a primeira edição do livro com este título, quando o Corpo de Baile foi dividido em três volumes. Encadernação original brochura. 251 pp.
3º volume de Corpo de Baile, após a revisão do numero de volumes, Dão-Lalalão (o devente) e Buriti.
As duas novelas que formam Noites do Sertão, Dão-Lalalão (o devente) e Buriti, têm em comum a sensualidade como força empolgante, que se sobrepõe a convenções e preconceitos, dominando totalmente o homem e a mulher.
(Edição Comemorativa)
(Edição Comemorativa)
João Guimarães Rosa – Corpo de Baile. Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 2006. Edição comemorativa dos 50 anos de Corpo de Baile. Num estojo com dois volumes, recuperando a estrutura original da obra, com um livreto com o seu histórico. A edição comemorativa é coordenada por Isabel Aleixo, vem com texto do diplomata e escritor Alberto da Costa e Silva (que acompanhou os trabalhos originais de edição da obra), texto de Paulo Ronái e uma nota editorial. 832 pp.
(1ª edição)
(Foto: Sebo do Messias)
João Guimarães Rosa – Tutaméia: Terceiras estórias. Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 1967. 1ª edição. Encadernação original brochura. 192 pp.
Tutameia – Terceiras Estórias é um conjunto de 44 estórias curtas, das quais 4 são “prefácios”. O estilo concentra-se ainda mais, em 3 ou 4 páginas, em parte devido ao facto destas estórias terem sido escritas para um jornal, Acabam, de certo modo, por romper com o estilo até então cultivado pelo escritor. Os títulos “fora da ordem”, e existem dois, compõem as iniciais JGR. Os prefácios / estórias de Tutaméia contém muito do credo poético de Rosa, que neles responde aos críticos que acusavam sua escrita de “não-engajada”:
“A estória deve ser contra a História...” é uma de suas respostas.
Estes contos / estórias estão dispostos por ordem alfabética e representam uma enorme capacidade de síntese pelo autor
Chamo a atenção para o facto de Tuteméia ter como sub-título Terceiras Estórias, quando não existe um livro de Segundas Estórias, A ideia foi propositadamente de Guimarães Rosa para criar perplexidade nos críticos.
“Já a palavra “tutameia” (tuta-e-meia), significa: quantidade pequena, irrisória ou porção miserável, insignificante ou ainda valor irrisório, mixaria. Era uma expressão desconhecida até mesmo da maioria dos brasileiros antes de ser popularizada por Guimarães Rosa.” (Marco Pedrosa)
(1ª edição)
João Guimarães Rosa – Estas estórias. Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 1969. 1ª edição. Capa de Poty. Encadernação original brochura. 231 pp. Obra póstuma.
Trata-se de um livro de contos, organizado por Paulo Rónai, e onde figura o conto Meu Tio o Iauaretê já referido anteriormente.
Páramo, escrito aquando da sua estadia em Bogotá, Colômbia, de cunho autobiográfico, refere-se à experiência de "morte parcial" vivida pelo protagonista (provavelmente o próprio autor), experiência essa induzida pela solidão, pela saudade dos seus, pelo frio, pela humidade e particularmente pela asfixia resultante da rarefacção do ar (soroche – o mal das alturas) é outro dos contos aqui incluídos.
(1ª edição)
João Guimarães Rosa – Ave, palavra. Rio de Janeiro, Livraria José Olympio Editora, 1970. 1ª edição. Nota introdutória de Paulo Rónai. Encadernação original brochura. 274 pp. Obra póstuma.
Prémio Jabuti de Produção Gráfica (menção honrosa) em 2002.
Ave, Palavra é um livro de contos, poemas, notas de viagem, diário, flagrantes, reportagens poéticas e meditações de Guimarães Rosa, publicado postumamente, em 1970.
Trata-se dum dos livros mais variados do autor, que o próprio considerava como uma miscelânea formal e temática.
(1ª edição)
João Guimarães Rosa – Correspondência com o tradutor italiano. S. Paulo, Instituto Cultural Italo-Brasileiro, 1972. 1ª edição. Tiragem limitada e numerada de 1.000 exemplares. Encadernação original brochura. 274 pp. Obra póstuma.
(1ª edição)
João Guimarães Rosa – Jardins e Riachinhos. Rio de Janeiro, Salamandra, 1983. 1ª edição. Edição comemorativa, fora do comércio, dos 75 anos do autor. Contos de Guimarães Rosa ilustrados com fotografias em cores de Luiz Claudio Marigo. Encadernação original da editora com sobrecapa. Formato grande. 79 pp. Obra póstuma.
(1ª edição)
João Guimarães Rosa – O Burro e o Boi no Presépio. Rio de Janeiro, Salamandra, 1983. 1ª edição. Poesia. Poemas do autor inspirados em quadros de grandes mestres da pintura, cuja temática é a Natividade. Cada poema vem acompanhado da reprodução da referida pintura. Prefácio de Geraldo França de Lima. Encadernação original capa dura com sobrecapa. 70 pp. Obra póstuma.
(1ª edição)
(Foto: Marco Pedrosa)
(Foto: Marco Pedrosa)
João Guimarães Rosa – Magma. Poesia. Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 1997. 1ª edição. Com desenhos de Poty. Encadernação original brochura. 146 pp. Obra póstuma.
Magma é um livro de poesia de Guimarães Rosa, publicado postumamente pela Editora Nova Fronteira. Apesar de ter ganho, em 1936, o Prémio da Academia Brasileira de Letras, o livro sempre foi considerado uma obra menor pelo autor de Grande sertão: veredas. Durante a sua vida, Guimarães Rosa não demonstrou qualquer interesse em publicá-lo, chegando a dizer em entrevista: "[...]escrevi um livro não muito pequeno de poemas, que até foi elogiado. [Depois] passaram-se quase dez anos, até eu poder me dedicar novamente à literatura. E revisando meus exercícios líricos, não os achei totalmente maus, mas tampouco muito convincentes". Só muitos anos após a morte de seu autor, em 1997, é que Magma veio a público.
Curt Meyer-Clason (1958-1967)
(1ª edição)
João Guimarães Rosa – Correspondência com Seu Tradutor Alemão Curt Meyer-Clason (1958-1967). São Paulo, Nova Fronteira / UFMG, 2003. 1ª edição. Encadernação original brochura. 447 pp. Obra póstuma.
João Guimarães Rosa e Curt Meyer-Clason corresponderam-se activamente entre 1958 e 1967, período em que o alemão traduziu para sua língua materna as principais obras de Guimarães Rosa. O livro reúne as cartas trocadas durante essas traduções, que entusiasmavam especialmente Rosa. Ao elucidar as dúvidas de Clason, Rosa explica, minuciosamente, as origens das palavras, expressões e personagens, apresentando um valioso painel de seu processo criativo. Esta é uma das raras oportunidades, para compreender a escrita e o cuidado que ele punha nas suas traduções, ao lermos Guimarães Rosa a falar da sua própria obra e a revelar segredos da sua escrita.
Colaborações em jornais e revistas:
Colaborou no suplemento Letras e Artes de A Manhã (1953-54), em O Globo (1961) e na revista Pulso (1965-66), divulgando contos e poemas.
Bibliografia sobre o Autor:
Da vastíssima bibliografia sobre Guimarães Rosa refiro apenas alguns dos seus títulos.
Bosi, Alfredo (org.) – O conto brasileiro contemporâneo. São Paulo, Cultrix, 1994. Encadernação original brochura. 293 pp.
Este livro inclui uma selecção de 18 obras deste género literário – o conto – que possui muitos mestres.
Principais contistas desta colectãnea: Guimarães Rosa, Moreira Campos, José J. Veiga, Bernardo Élis, Murilo Rubião, Otto Lara Resende, Lygia Fagundes Telles, Osmar Lins, Nelida Piñon, Dalton Trevisan, com notas bibliográficas e um ensaio de Bosi como introdução.
Cadernos de Literatura Brasileira n.º 20 e 21: João Guimarães Rosa – Instituto Moreira Sales (IMS) (Dezembro de 2006)
Boa parte das publicações utilizadas na elaboração dos Cadernos de Literatura Brasileira sobre João Guimarães Rosa, como livros, revistas, artigos de periódicos, recortes de jornais e demais documentos que compõem a extensa bibliografia pesquisada, foi extraído dos acervos reunidos nas Bibliotecas IMS.
Cândido, António – Tese e Antítese. Companhia Editora Nacional, 1964. 1ª edição. Encadernação original brochura. 167 pp.
Tese e antítese contém seis textos, cinco dos quais abordam o problema da personalidade dividida na obra de romancistas que pertencem a diferentes literaturas; inglesa, francesa, portuguesa, brasileira. Para terminar, algo intencionalmente diverso; uma espécie de levantamento das preferências musicais de Stendhal. O ensaio que abre o livro, Da vingança, focaliza o desdobramento da personalidade em craveira romântica n’O conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas. A dimensão histórico-social é mais acentuada no ensaio Entre campo e cidade, sobra a obra de Eça de Queirós.
Faraco, C.E. & Moura, F.M. – Língua e literatura. São Paulo, Ática, 1996. vol.3.
Macedo, Tânia – Guimarães Rosa. São Paulo, Ática, 1996. (Ponto por Ponto).
Martins, Nilce Santanna – O Léxico de Guimarães Rosa. São Paulo, Edusp, 2001. Encadernação original brochura. 536 pp.
Perez, Renard – Em Memória de João Guimarães Rosa. Rio de Janeiro, José Olympio, 1968. 1ª edição. Encadernação original brochura. 255 pp.
Este livro contém: Discursos na Academia: de posse (Guimarães Rosa) - de recepção (Afonso Arinos) - de adeus (Austregésilo de Athayde); poesia de Drummond; perfil de Rosa (Renard Perez); crónica de Graciliano Ramos (sobre Sagarana); parecer de Guilherme de Almeida sobre Magma; crónicas de Josué Montello (Rosa na Academia - Grande Rosa: Saudades); os 19 discursos pronunciados nas sessões de homenagem da ABL e do CFC; crónica de Geraldo França Lima (A Última Semana de Rosa); bibliografia de e sobre Guimarães Rosa (Plínio Doyle); Nota da Editora e 140 ilustrações variadas.
Rosa, Vilma Guimarães – Relembramentos, Guimarães Rosa, meu pai. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983. 1ª edição. Encadernação original brochura. 457 pp.
Vilma G. Rosa, filha de João Guimarães Rosa, traça neste livro uma biografia completa e detalhada, acompanhada por reproduções de cartas e manuscritos do escritor (homem afectivo, dedicado e muito religioso). A genialidade inerente a Guimarães Rosa é narrada não apenas no tocante à sua bibliografia, mas à sua vida de eterno estudante. Inclui muitas fotografias do escritor.
Rosenfield, Kathrin Holzermayr – Grande Sertão: Veredas – Roteiro de Leitura. São Paulo: Ática, 1992. Encadernação original brochura. 111 pp.
(Foto: Estante Virtual – Mundo dos Livros)
Santos, Wendel – A Construção do Romance em Guimarães Rosa. São Paulo: Ática, 1978. Colecção Ensaios n.º 18. 1ª edição. 231 pp.
A Construção do Romance em Guimarães Rosa propõe ao leitor uma investigação da forma e do tema do Buriti e pretende demonstrar como Guimarães Rosa produz uma literatura regional – porque ligada a um espaço e a um temo determinados – e, ao mesmo tempo, uma literatura universal – porque narra a história mais necessária do homem: a história de suas emoções básicas. Ao mostrar como Guimarães Rosa produz sua literatura, o ensaio discute, consequentemente, como a forma do romance se constrói a partir da intenção do escritor. Sobretudo mostra como há uma energia no ertico que facilita a construção do dramático.
Sperber, Suzi Frankl – Guimarães Rosa: Signo e Sentimento. São Paulo, Ática, 1982. Colecção Ensaio n.º 90. Encadernação original brochura. 152 pp.
O livro da autora acompanha, na obra do autor mineiro, a progressiva consciência da linguagem e das potencialidades criativas. Um cuidadoso trabalho de comparação entre a versão editada e os rascunhos e manuscritos originais, os quais foram postos à disposição da autora, com exclusividade, pelos herdeiros de Guimarães Rosa. Permitiu acompanhar a génese dos textos, rastrear a presença de múltiplas influências intertextuais e demarcar o âmbito do desenvolvimento da linguagem rosiana. A partir daí, encontram-se respostas para uma série de questões, muitas vezes levantadas diante da obra rosiana: qual é a forma de recepção pelo leitor? qual é a relação entre a dificuldade de recepção e o sentido das obras?
A Marco Pedrosa, amigo sempre disponível e incansável, que muito contribuiu para me ajudar a esclarecer algumas das minhas dúvidas nos pontos mais obscuros e, com os seus comentários oportunos de conhecedor da obra deste autor, deu uma achega importante que muito pode contribuir para o prazer da descoberta da sua leitura.
Com este segundo artigo sobre a vida e a obra de João Guimarães Rosa espero ter contribuído de algum modo para a sua redescoberta ou para cativar alguns novos leitores para a sua obra. Quanto ao estudo mais aprofundado deixo apenas algumas pistas para os mais afoitos avançarem no trabalho.
Saudações bibliófilas.
(1) É a obra mais rara de toda a bibliografia de João Guimarães Rosa. Encontrei apenas este exemplar em venda por R$ 12.000,00.
Zilberman, Regina – A Leitura e o Ensino da Literatura. São Paulo, Contexto, 1989. Encadernação original brochura. 146 pp.
Acervo:
Os arquivos do autor, abrangendo o período de 1908 a 1971, com aproximadamente 12.000 documentos, foram adquiridos pelo Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da Universidade de São Paulo (USP).
Museu:
Museu Casa Guimarães Rosa, Avenida Padre João, 744, 35780-000, Cordisburgo, Minas Gerais. Tel.: (31) 3715-1425
Outras Fontes:
Agradecimentos:
A Marco Pedrosa, amigo sempre disponível e incansável, que muito contribuiu para me ajudar a esclarecer algumas das minhas dúvidas nos pontos mais obscuros e, com os seus comentários oportunos de conhecedor da obra deste autor, deu uma achega importante que muito pode contribuir para o prazer da descoberta da sua leitura.
Com este segundo artigo sobre a vida e a obra de João Guimarães Rosa espero ter contribuído de algum modo para a sua redescoberta ou para cativar alguns novos leitores para a sua obra. Quanto ao estudo mais aprofundado deixo apenas algumas pistas para os mais afoitos avançarem no trabalho.
Saudações bibliófilas.
(1) É a obra mais rara de toda a bibliografia de João Guimarães Rosa. Encontrei apenas este exemplar em venda por R$ 12.000,00.
(2) Organizado pelo Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) que guarda o Acervo João Guimarães Rosa. Refira-se, como curiosidade, que José Mindlin participou neste Seminário.
(3) XI Congresso Internacional da ABRALIC – Tessituras, Interações, Convergências. 13 a 17 de Julho de 2008 na USP – São Paulo, Brasil.
Rui, parabéns por essa belíssima segunda parte de sua análise da obra de Guimarães Rosa. É mais um trabalho de fôlego que merece um destino muito mais elevado do que apenas o blog.
ResponderEliminarAbraços do Brasil,
Angelo
Angelo,
ResponderEliminarMais uma vez o meu obrigado pelo seu comentário.
De facto, foi um trabalho que me tomou algum tempo quer na pesquisa como na publicação, mas Guimarães Rosa é fascinante, tanto como homem como escritor.
Curioso que depois de escrito, já descobri mais alguns apontamentos interessantes.
No entanto, para uma eventual publicação, esta segunda parte, teria de sofrer algumas revisões na sua estruturação
Um abraço de Portugal
Rui,
ResponderEliminarMuy interesante artículo sobre Guimaraes Rosa que acaba de perfilar lo que ya nos has contado anteriormente de él.
Me gustó mucho la apología de las lenguas y su final: "Queria a linguagem que se falava antes de Babel". ¡Qué más se puede esperar de un intelectual comprometido con el juego de la lengua!
En fin, otro buen post en el que las ilustraciones con las diferentes ediciones acaba de completar lo que se anota.
PD. Angelo,
Discrepo de tu frase "merece um destino muito mais elevado do que apenas o blog" porque los blogs son accesibles a todos y muchas vetustas revistas son de acceso restringido por lo que sus artículos no tienen difusión, al revés de los blogs. Este es un caso claro.
Um abraço de Catalunya
Galderich
ResponderEliminarComo tu bem sabes estes pequenos “estudos” sobre autores portugueses, ou brasileiros, que muitas vezes nem são muito bem conhecidos nos nossos países, ou tendem a cair no esquecimento, visam precisamente relembrar o que de muito bom eles escreveram e fazer o seu enquadramento nos acontecimentos da época.
Ainda que mais “bibliómanos” do que “bibliófilos” estes artigos, julgo terem algum interesse para quem queira abordar um destes autores sobre a perspectiva bibliófila ao apresentar algumas anotações por onde se possam guiar: raridade de cada obra e qualidade das mesmas numa perspectiva crítica da sua construção, por exemplo.
É essa a razão de escrever sempre duas partes: na primeira o escritor e na segunda a obra.
Repara, que mesmo eu, em jovem li quase todas estas obras sem ligar às edições, só agora reparo no significado de ter, por exemplo a 1ª edição de Grande Sertão: Veredas ou uma outra qualquer.
Que alegria, se me depara, quando descubro que a tal edição que já li, e tenho, é uma 1ª edição!
Conheço quem compre uma 1ª edição para POSSUIR e uma edição vulgar para LER... e olha que não são tão poucos como se possa julgar.
Um abraço
Inicialmente, meus efusivos cumprimentos por este maravilhoso e documentado trabalho. Como bibliófilo e admirador de G.Rosa sei valorizar um estudo dessa qualidade. Caberia, no entanto, uma pequena correção. Sobre o “Campo Geral” o seu trabalho registrou:
ResponderEliminar"Não tenho conhecimento da sua publicação isoladamente em livro."
Todavia, existe uma edição raríssima e artística do Campo Geral, publicada pelo Clube dos Cem Bibliófilos do Brasil, no ano de 1964 , ilust. de Djanira Silva (trata-se do exemplar n. 18, entre os 23 títulos publicados por aquela entidade). Um abraço e mais uma vez meus cumprimentos pelo seu trabalho de bibliofilia.
Carlos F. Diniz
Caro amigo Carlos Diniz
ResponderEliminarAntes de mais, os meus agradecimentos pelo seu comentário e, sobretudo, pela paciência de ter lido este artigo.
Fico-lhe grato pela sua preciosa informação sobre esta edição de “Campo Geral”, que para mim era desconhecida.
É esta a grande vantagem do blogue: permitir uma divulgação mais alargada e, como tal, poderem-se fazer correcções oportunas e esclarecimentos complementares, o que uma publicação em texto não admite.
Um abraço de amizade e mais uma vez os meus agradecimentos pela sua colaboração.
Olá Rui. Gostei muito do seu texto, e venho fazer um pedido de sugestões. Tenho em mãos o exemplar autografado de número 96 de "Com o Vaqueiro Mariano", de Guimarães Rosa. Na primeira página há a inscrição: "Composto a mão, este é o décimo primeiro livro das Edições Hipocampo e acabou de imprimir-se a 10 de maio de 1952, em Niterói: tiraram-se cento e dezesseis exemplares em papel ingre autenticados pelo autor: de 1 a 100 para subscritores, de I a X para o poeta, de A a F para os editores Geir Campos e Thiago de Mello; A ilustração (água forte) é de Darel Valença Lins;".
ResponderEliminarApesar de grande apreciador da obra de Guimarães Rosa, sinto que não sou o melhor guardião de tão raro exemplar, e gostaria de compartilhá-lo com todos através de uma doação a alguma entidade sem fins lucrativos que tenha interesse em receber este volume. Caso você tenha uma indicação sobre algum acervo que carece deste exemplar, por gentileza deixe-me saber, pois estou buscando alternativas. Um grande abraço.
O meu e-mail é discosbr@yahoo.com.br.
ResponderEliminarCaro Pedro MP
ResponderEliminarComo resido em Portugal, não tenho um conhecimento das instituições brasileiras que se possam enquadrar dentro do seu perfil de selecção, mas como português, permita-me sugerir-lhe o Real Gabinete Português de Leitura, pois julgo saber, pelos meus conhecimentos, que não possui este exemplar.
Mais uma vez lhe agradeço a sua gentileza pelo comentário e pela sua consulta.
Com amizade
Rui Martins
PS: não consigo enviar a resposta para o seu e-mail (está correcto?), que seria mais detalhada.
guimaraes e um nome imortal na literatura brasileira e internacional com seus clássicos e sua narrativa que era e sempre é capaz de prender o leitor.
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