Casa onde nasceu Bocage
Continuando na apresentação deste poeta deixo aqui alguns dos seus muitos "Sonetos".
Este ainda durante a sua vida, conheceu grande popularidade da sua criação poética, visível na procura dos seus escritos, mas também na aura de poeta génio, irreverente e improvisador, que se ia, progressivamente, colando à sua imagem de singular criador.
Estabelece-se igualmente a distinção – depois reafirmada amplamente pela crítica romântica – entre “elmanistas” (1) e “filintistas” (2), não se podendo falar rigorosamente de “escolas literárias”, mas antes de distintas concepções poéticas, cada uma delas com seus seguidores e admiradores..
Eis Bocage, pela sua pena ...
Este ainda durante a sua vida, conheceu grande popularidade da sua criação poética, visível na procura dos seus escritos, mas também na aura de poeta génio, irreverente e improvisador, que se ia, progressivamente, colando à sua imagem de singular criador.
Estabelece-se igualmente a distinção – depois reafirmada amplamente pela crítica romântica – entre “elmanistas” (1) e “filintistas” (2), não se podendo falar rigorosamente de “escolas literárias”, mas antes de distintas concepções poéticas, cada uma delas com seus seguidores e admiradores..
Eis Bocage, pela sua pena ...
Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno;
Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura,
Bebendo em níveas, por taça escura,
De zelos infernais letal veneno;
Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades;
Eis Bocage em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades,
Num dia em que se achou mais pachorrento.
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno;
Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura,
Bebendo em níveas, por taça escura,
De zelos infernais letal veneno;
Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades;
Eis Bocage em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades,
Num dia em que se achou mais pachorrento.
E, continuando, com esta escolha, um pouco ao acaso, pois não nos move qualquer critério, critico ou estilístico, mas unicamente divulgar a sua obra:
Improvisos de Bocage na sua mui perigosa enfermidade, dedicados a seus bons amigos.
Lisboa, Na Imp. Regia, 1805
Incultas produções da mocidade
Exponho a vossos olhos, ó leitores ;
Vede-as com mágoa, vede-as com piedade;
Que elas buscam piedade, e não louvores;
Ponderai da Fortuna a variedade
Nos meus suspiros, lágrimas e amores ;
Notai dos males seus a imensidade,
A curta duração dos seus favores ;
E se entre versos mil de sentimento
Encontrardes alguns, cuja aparência
Indique festival contentamento,
Crede, ó mortais, que foram com violência
Escritos pela mão do Fingimento,
Cantados pela voz da Dependência.
Assim cantava “Marilia” objecto de vários dos seus sonetos
Oh, tranças, de que Amor prisões me tece,
Oh, mãos de neve, que regeis meu fado !
Oh tesouro ! oh mistério ! oh par sagrado ,
Onde o menino alígero adormece !
Oh ledos olhos, cuja luz parece
Tênue raio de sol ! oh gesto amado,
De rosas e açucenas semeado,
Por quem morrera esta alma, se pudesse !
Oh ! lábios, cujo riso a paz me tira,
E por cujos dulcíssimos favores
Talvez o próprio Júpiter suspira !
Oh perfeições ! oh dons encantadores !
De quem sóis ?...Sois de Vênus ? - é mentira
Sois de Marília, sois de meus amores.
Como já se escreveu, Bocage sonhava assemelhar o seu destino com o de Camões, de quem só invejava a imorredoura glória do grande épico, comparava a sua mocidade livre com a que ele tivera, e pensava que também este na corte compunha e recitava versos, requestava donzelas, e cantava a Natércia. (Bocage a Marilia). Eis o que ele escreveu sobre este épico:
Camões, grande Camões, quão semelhante
Acho teu fado ao meu, quando os cotejo!
Igual causa nos fez, perdendo o Tejo,
Arrostar co'o sacrílego gigante;
Como tu, junto ao Ganges sussurrante,
Da penúria cruel no horror me vejo;
Como tu, gostos vãos, que em vão desejo,
Também carpindo estou, saudoso amante.
Ludíbrio, como tu, da Sorte dura
Meu fim demando ao Céu, pela certeza
De que só terei paz na sepultura.
Modelo meu tu és, mas... oh, tristeza!...
Se te imito nos transes da Ventura,
Não te imito nos dons da Natureza.
Espero que fiquem com vontade de outras leituras para um melhor conhecimento deste poeta tão falado, mas cuja obra está um pouco (ou mesmo muito mais do que isso) no nosso esquecimento
Saudações bibliófilas
(1) Refere-se ao pseudónimo de Bocage – Elmano Sadino.
(2) Referência a Filinto Elísio.
Nasceu em Lisboa a 23 de Dezembro de 1734 e faleceu em Paris a 25 de Fevereiro de 1819. Era sacerdote e foi um poeta, e tradutor, português do Neoclassicismo. O seu verdadeiro nome era Francisco Manuel do Nascimento e o seu pseudónimo, Filinto Elísio, ou também Niceno, foi-lhe atribuído pela Marquesa de Alorna (a quem ensinou latim quando esta se encontrava reclusa no Convento de Chelas), visto Francisco Manuel do Nascimento ter pertencido a uma sociedade literária – “Grupo da Ribeira das Naus” –, cujos membros adoptavam nomes simbólicos.
Nasceu em Lisboa a 23 de Dezembro de 1734 e faleceu em Paris a 25 de Fevereiro de 1819. Era sacerdote e foi um poeta, e tradutor, português do Neoclassicismo. O seu verdadeiro nome era Francisco Manuel do Nascimento e o seu pseudónimo, Filinto Elísio, ou também Niceno, foi-lhe atribuído pela Marquesa de Alorna (a quem ensinou latim quando esta se encontrava reclusa no Convento de Chelas), visto Francisco Manuel do Nascimento ter pertencido a uma sociedade literária – “Grupo da Ribeira das Naus” –, cujos membros adoptavam nomes simbólicos.
Rui.
ResponderEliminarGracias a ti vamos conociendo la obra de Bocage. Me gusto la composición dedicada al gran poeta Luis de Camoens.
Saludos bibliófilos.
Poeta estupendo debió ser Bocage, de los que vivieron épocas turbulentas y se dejaron arrastrar por el romanticismo.
ResponderEliminarMuy interesante su figura.
Saludos bibliófilos.
Me gustaron las poesías. Gracias a ti acabarem sabiendo portugués! Sólo hace falta un poco de concentración y paciencia... y los versos fluyen, un buen poeta.
ResponderEliminarBocage tem sido um desafio para mim.
ResponderEliminarComo a maioria dos portugueses, conhecia-o mais pelo anedotário em seu redor do que pela sua poesia.
Viveu numa época de mudança e sob assumir-se como um interveniente activo. Pela sua “inconveniência” em relação ao poder instituído sofreu as consequências, mas os seus versos continuaram livres. Pena foi que a morte o arrebatasse tão precocemente.
Espero que tenha conseguido (re)despertar o interesse por este poeta.
Eu cá vou divagando e divulgando a sua obra e, sobretudo, a sua personalidade ... a ele voltarei.
Saudações bibliófilas
(Galderich o português, como o catalão, requer concentração e paciência para se ir aprendendo, aliás como tudo na vida. Fico contente por ser o teu “professor”. Um abraço)