domingo, 31 de janeiro de 2010

Bibliofilia – uma reflexão


No decurso de uma pesquisa em Catálogos de Livrarias e Leilões, para um estudo que estou a efectuar, deparou-se-me este texto no «Catálogo do Leilão de Parte da Biblioteca do Dr. Guilherme Goldegel de Oliveira Santos - Escritor e Bibliófilo» realizado em 16 e 17 de Junho de 2008:


«Catálogo do Leilão de Parte da Biblioteca do
Dr. Guilherme Goldegel de Oliveira Santos - Escritor e Bibliófilo»
http://renascimento-sa.pt/uploads/Catalogos/catalogo_Jun_08.pdf (1)


“Parafraseando Roberto Browning: O que é difícil
não é escrever um livro; é saber ler um livro.

Por um livro único, o bibliómano “rejeitaria a coroa das Índias,
o Papado, todos os museus da Itália e da Holanda, se os
houvesse de trocar por esse único exemplar”.
Machado de Assis

DUAS PALAVRAS

Estou muito velho e já não tenho espaço para os livros.
Resolvi, por isso desfazer-me de parte da minha biblioteca.

(...)

Quando vi levarem os livros, acudiu-me ao espírito o episódio d’A Morgadinha dos Canaviais em que o herbanário assiste com o coração apertado ao corte das suas árvores.

É com uma saudade imensa que me despeço de amigos de todas as minhas horas, mas espero que quem adquirir as obras - sejam ou não as mais cotadas comercialmente - as estimem tanto como eu as estimei.


Lisboa, Fevereiro de 2008
Guilherme Goldegel de Oliveira Santos


Este, pelo seu sentido bibliófilo, fez-me meditar pelo que decidi publicá-lo aqui como objecto de reflexão para todos nós.


Alegoria da Imprensa. Gravura a buril,
«Bibliotèque des Artistes et des Amateurs», por Abbé Petity, 1766

Como já se disse, mas é sobretudo bem demonstrado nos Blogs de bibliofilia franceses, a leitura dos escritos dos grandes bibliófilos é sempre uma fonte inesgotável de informação para todos nós, mas também uma forma de se fazer um historial da própria evolução da bibliofilia. Pelo seu testemunho, podemos avaliar toda uma estrutura e concepção de coleccionismo bem como da cotação das obras ao longo do tempo e, evidentemente, das suas flutuações.

Espero que esta reflexão seja do vosso agrado.

Saudações bibliófilas


(1) Ainda que já se tenha realizado coloquei o link para a sua consulta, pois reúne uma colecção “Cervantina fora do comum e que conta espécimes preciosos e raríssimos - por exemplo, uma edição do D. Quixote publicada em Lisboa em 1605 e saída da oficina de Pedro Crasbeeck e que é, talvez, exemplar único.”


quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

«Livraria Castro e Silva» - Catálogo 119 – Janeiro de 2010






Como já vem sendo hábito este livreiro-antiquário editou mais um dos seus catálogos – o Catálogo 119.



Com um conjunto de obras que cobrem uma temática vasta não posso, no entanto. de realçar o seu «Suplemento» onde se encontram as obras mais “queridas” aos bibliófilos.

Deste acervo destaco, como sempre ao acaso, alguns títulos:


335. ALVAREZ DE COLMENAR. (Don Juan) LES DELICES DE ESPAGNE & DU PORTUGAL, où on voit UNE DESCRIPTION EXACTES DES Antiquitez, des Provinces, des Montagnes, des Villes, des Rivieres, des Ports de Mer, des Fortesses, Eglises, Academies, Palais, Bains, &c. DE LA RELIGION, DES MOEURS, des habitants, de leurs fêtes, & généralment de tout ce quíl y a de plus remarquable. Le tout enrichi de Cartes Geographiques, trés-exactes & de figures en Taille-douce, deffinées sur les lieux mêmes, Par... Nouvelle Edition, revûe, corrigée & beaucoup augmantée.ALEIDE, Chez PIERRE VANDER Aa, Marchand Libraire, Demeurant dans l'Academie. MDCCXV (1725). TOME PREMIER, qui comprend, outre l'etat de l'ancienne Espagne, les Provinces de Biscaye, d'Asturie, de Galice, de Leon, & de la vielle Castille. TOME SECOND Qui contient la Castille Nouvelle. TOME TROISIEME Qui comprend, les Provinces d'Andalousie, & de Grenade, & de lÍle de Cadix. TOME QUATRIEME, Qui comprend le reste de Grenade, les Provinces de Murcie, de Valence, de Catalogne, d'Aragon & de Navarre, & les Iles de Majorque, & de Minorque, &c. TOME CINQUIEME Qui comprend, les six Provinces du Royaume du Portugal. TOME SIXIEME Qui contient, une Description générale & abrégée de toute l'Espagne & du Portugal, des qualitiez de l'air & du terroir, des moeurs des Espagnols & des Portugais, de Leur Réligion, de leur Gouvernement, &c. 6 tomos em 5 de 17x10 cm. Encadernações inteiras de pele da época. Livro de viagens em Portugal e Espanha profusamente ilustrado com 5 frontispicios e 158 mapas e gravuras muitas de página dupla. [E] The present work on Spain and Portugal was richly illustrated with maps and engraved plates.


338. BARTOLOZZI. (Francisco) MISSALE ROMANUM EX DECRETO SACROSANCTI CONCILII TRIDENTINI RESTITUTUM; S. PII V. PONT. MAX. JUSSU EDITUM. CLEMENTIS VIII. ET URBANI VIII. AUCTORITATE RECOGNITUM; Cum omnibus aliorum Sanctorum Missis novissimè per Summos Pontifices enarratis, ac universis Ditionibus Fidelissimorum Lusitaniae Regum hucusquè pro utroque Clero concessis Iocupletatum. OLISIPONE. EX TYPOGRAPHIA REGIA. ANNO M. DCC. XX. (1720) In fólio de 38x25 cm. Com lix, 624-ccxxiv-71 pags. Encadernação artística da época inteira de marroquim vermelho calandrada, muito fresca, com decoração a ouro nos planos (idênticos e lombada talhada nos sete entre-nervos. Trabalho a ouro na espessura das pastas e seixas. Cortes dourados por folhas. Conserva o fitilho, os marcadores e dois fechos em metal dourado. Tranchefila da coifa superior a necessitar de restauro. Edição de excelente qualidade gráfica, impressa a duas colunas a preto e vermelho, com notação musical, ilustrada com oito magnificas gravuras de página inteira abertas a talhe-doce, da autoria de Francisco Bartolozzi (3) e do seu discípulo Francisco Tomás de Almeida (5); inclui ainda vinheta alegórica no rosto. O exemplar, muito limpo e com grandes margens, inclui 38 inserções de fólios de menor formato, publicados entre 1919 e 1947, actualizando a liturgia, na maioria dos casos no Próprio dos santos portugueses. O que denota que esteve ao uso eclesiástico até cerca de 1950. Francisco Bartolozzi, (1728-1815) famaso gravador de origem italiana. Contratado no ano de 1768 em Londres, por D. João VI, veio para Portugal, terminar em gloria a sua longa carreira artística (cerca de 2000 gravuras) Dirigiu uma “Escola de Gravura”, com o fim de “promover o adiantamento da Impressão Regia”. Introduziu entre os seus discípulos portugueses (entre eles destacam-se Gregório Francisco de Queiroz e Viera Portuense) uma nova técnica de abrir gravuras, o ponteado (ou pointillé) engenhoso processo que combina a água-forte com leves acabamentos a buril. Para a biografia deste insigne artista provavelmente o último chamado a Portugal para maior gloria das nossas artes, na linha histórica dos primitivos impressores e dos ilustradores como Debrie entre outros. Ernesto Soares, vide a obra Francisco Bartolozzi e os seus discípulos em Portugal, por ..., 1930. “Missais; Entre as numerosas produções artísticas saídas dos prelos da antiga Imprensa Régia, avultam, entre as mais notáveis os Missais e os Breviários. Ilustrados com estampas, reprodução de gravura a buril, a ponteado ou litografadas, os exemplares ainda existentes aparecem, geralmente, incompletos ou conservam-se ainda hoje destinados ao culto.” O presente Missal Romanum terceiro (1793, 1808 e 1820) e último é descrito no número 79: “Missal Romanum ex Decreto... Contém as seguintes estampas: a) No frontispício – Vinheta aberta a buril, ostentando de um lado a figura do Papa e do outro uma mulher personificando a Fé. Aberta a ponteado. Subs. T. A. Lima gravou. b) Anunciação. Subs. F. T. de Alm.ª Descip. D’ F. Bartolozzi sculp. 1809. c) Nascimento. Subs. Conca pinxit. – F. Bartolozzi sculp. em Lisboa em 1810, tendo de idade 84 annos. d) Ascenção. Subs. F. Bartolozzi, Sculp. Em Lx.ª em 1813 de idade de 86 annos. e) Ressurreição. Subs. F. T. d’Almª Descp. D’F Bartolozzi sculpt. 1808. f) Assunção da Virgem. Subs. Bartolozzi sculpt. Lisboa 1811. g) Descida do Espirito Santo. Subs. – F. T. de Alm. ª Descipulo F. Bartolozi sculpt. 1809. h) Ceia. Subs. F. T.
de Alm.ª descp. De Bartolozzi sculp. em Lx.ª em 1811. Posteriormente a este Missal, que deve ter sido o último ilustrado com estampas abertas em chapa de cobre, aparecem ainda dois, datados de 1860 e 1867, mas com ilustrações litográficas.”



356. MENDES DE CASTRO. (Manuel) REPERTORIO DAS ORDENACOES DO REYNO DE PORTUGAL novamente Recopiladas. Com as Remissões dos Doutores do Reyno, que as declarão, & concordia das Leis de partida de Castella. Composto pelo Licenciado MANVEL MENDEZ de Castro Aduogado nos Conselhos de sua Magestade na Corte de Castella. Dirigido ao Excellentissimo Senhor DOM Francisco de Rojas, y Sandoual, Duque de Lerma, Marques de Denia, do Conselho de Estado del Rey nosso Senhor. COM PRIVILEGIO REAL. Impresso com licença Em Lisboa por Jorge Rodriguez. Anno de M.DCIIII (1604). De 27x20 cm. Com 138 pags. Encadernação da época em pergaminho flexível. Página de rosto impressa a duas cores e texto com anotações marginais impressas. Exemplar com pequena assinatura de posse na página de rosto. 1ª edição de quatro mencionadas por Inocêncio até ao ano de 1725. INOCÊNCIO VI, 59. “MANUEL MENDES DE CASTRO, Doutor em Direito Civil pela Univ. de Salamanca, e incorporado depois na de Coimbra onde regeu por vezes algumas cadeiras como Substituto. Foi Advogado em Madrid e Lisboa, e Procurador da Corôa na Casa da Supplicação, gosando em seu tempo do credito de abalisado jurisconsulto. - N. em Lisboa, ignora se o anno da nascimento, bem como o do obito; mas parece que já era finado em 1623. A multiplicidade das edições prova a utilidade e prestimo da obra durante mais de um século.”


Boa consulta, e, como podem constatar, encontram-se livros com boa qualidade, e raridade, nos nossos livreiros-antiquários.
Com um pouco de paciência, e muita persistência, conseguimos ir formando uma biblioteca bastante interessante ... assim a nossa bolsa consiga suportar a nossa paixão.

Saudações bibliófilas.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Os "Sonetos" de Bocage




Casa onde nasceu Bocage

Continuando na apresentação deste poeta deixo aqui alguns dos seus muitos "Sonetos".
Este ainda durante a sua vida, conheceu grande popularidade da sua criação poética, visível na procura dos seus escritos, mas também na aura de poeta génio, irreverente e improvisador, que se ia, progressivamente, colando à sua imagem de singular criador.
Estabelece-se igualmente a distinção – depois reafirmada amplamente pela crítica romântica – entre “elmanistas” (1) e “filintistas” (2), não se podendo falar rigorosamente de “escolas literárias”, mas antes de distintas concepções poéticas, cada uma delas com seus seguidores e admiradores..

Eis Bocage, pela sua pena ...


Manuel Maria Barbosa du Bocage


Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno;

Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura,
Bebendo em níveas, por taça escura,
De zelos infernais letal veneno;

Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades;

Eis Bocage em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades,
Num dia em que se achou mais pachorrento.


E, continuando, com esta escolha, um pouco ao acaso, pois não nos move qualquer critério, critico ou estilístico, mas unicamente divulgar a sua obra:


Improvisos de Bocage na sua mui perigosa enfermidade, dedicados a seus bons amigos.
Lisboa, Na Imp. Regia, 1805


Incultas produções da mocidade
Exponho a vossos olhos, ó leitores ;
Vede-as com mágoa, vede-as com piedade;
Que elas buscam piedade, e não louvores;

Ponderai da Fortuna a variedade
Nos meus suspiros, lágrimas e amores ;
Notai dos males seus a imensidade,
A curta duração dos seus favores ;

E se entre versos mil de sentimento
Encontrardes alguns, cuja aparência
Indique festival contentamento,

Crede, ó mortais, que foram com violência
Escritos pela mão do Fingimento,
Cantados pela voz da Dependência.



Assim cantava “Marilia” objecto de vários dos seus sonetos


Sois de Marília, sois de meus amores


Oh, tranças, de que Amor prisões me tece,
Oh, mãos de neve, que regeis meu fado !
Oh tesouro ! oh mistério ! oh par sagrado ,
Onde o menino alígero adormece !

Oh ledos olhos, cuja luz parece
Tênue raio de sol ! oh gesto amado,
De rosas e açucenas semeado,
Por quem morrera esta alma, se pudesse !

Oh ! lábios, cujo riso a paz me tira,
E por cujos dulcíssimos favores
Talvez o próprio Júpiter suspira !

Oh perfeições ! oh dons encantadores !
De quem sóis ?...Sois de Vênus ? - é mentira
Sois de Marília, sois de meus amores.

Como já se escreveu, Bocage sonhava assemelhar o seu destino com o de Camões, de quem só invejava a imorredoura glória do grande épico, comparava a sua mocidade livre com a que ele tivera, e pensava que também este na corte compunha e recitava versos, requestava donzelas, e cantava a Natércia. (Bocage a Marilia). Eis o que ele escreveu sobre este épico:


Luis de Camões


Camões, grande Camões, quão semelhante
Acho teu fado ao meu, quando os cotejo!
Igual causa nos fez, perdendo o Tejo,
Arrostar co'o sacrílego gigante;

Como tu, junto ao Ganges sussurrante,
Da penúria cruel no horror me vejo;
Como tu, gostos vãos, que em vão desejo,
Também carpindo estou, saudoso amante.

Ludíbrio, como tu, da Sorte dura
Meu fim demando ao Céu, pela certeza
De que só terei paz na sepultura.

Modelo meu tu és, mas... oh, tristeza!...
Se te imito nos transes da Ventura,
Não te imito nos dons da Natureza.



Espero que fiquem com vontade de outras leituras para um melhor conhecimento deste poeta tão falado, mas cuja obra está um pouco (ou mesmo muito mais do que isso) no nosso esquecimento

Saudações bibliófilas


(1) Refere-se ao pseudónimo de Bocage Elmano Sadino.
(2) Referência a Filinto Elísio.
Nasceu em Lisboa a 23 de Dezembro de 1734 e faleceu em Paris a 25 de Fevereiro de 1819. Era sacerdote e foi um poeta, e tradutor, português do Neoclassicismo. O seu verdadeiro nome era Francisco Manuel do Nascimento e o seu pseudónimo, Filinto Elísio, ou também Niceno, foi-lhe atribuído pela Marquesa de Alorna (a quem ensinou latim quando esta se encontrava reclusa no Convento de Chelas), visto Francisco Manuel do Nascimento ter pertencido a uma sociedade literária – “Grupo da Ribeira das Naus” –, cujos membros adoptavam nomes simbólicos.


domingo, 17 de janeiro de 2010

400º Aniversário das descobertas de Galileo Galilei




Discorsi e dimostrazioni matematiche, intorno à due nuoue scienze Attinenti alla Mecanica & i Movimenti Locali del Signor Galileo Galilei linceo, Filosofo e Matematico primario del Serenissimo Gran Duca di Toscana. Con una Appendice del centro di grauità d’alcuni Solidi

Este 2010, celebra-se o 400º aniversário das descobertas de Galileo Galilei (1), astrónomo de Pisa considerado um dos pioneiros do pensamento científico moderno e de sua metodologia.

Foi há 400 anos, em 1610, quando publicou as suas descobertas, observadas através do telescópio, sobre o universo na sua obra Sidereus Nuncius em que afirmou que a Lua não era uniforme como se acreditava, mas que estava cheia de crateras e montanhas, afirmou também que Júpiter tinha satélites que giravam em seu redor e que a Via Láctea era formada por uma infinidade de estrelas. Como consequência destas investigações, começou a promover a teoria heliocêntrica, definida anteriormente por Copérnico, e com estas afirmações, começaram também os confrontos e ataques dos defensores da teoria geocêntrica, sobretudo a Igreja e, obviamente, a Inquisição.


Dialogo sopra i due Massimi sistemi del mondo e Tolemaico Copernico

Posteriormente, em 1632, e sem cumprir com todos os quesitos exigidos para a publicação duma obra, deu à estampa a sua grande obra prima Dialogo sopra i due Massimi sistemi del mondo e Tolemaico Copernico onde comparava as duass visões do mundo, defendendo o heliocentrismo como válida frente ao geocentrismo mencionado nas Sagradas Escrituras.
Com estas afirmações abriu de novo a brecha entre ciência e religião. Foi perseguido, processado e sentenciado a prisão domiciliária permanente pela Inquisição, onde negou as suas teorias para salvar a sua vida.

Faleceu em Arcertri em 1642, mas nem a sua prisão, nem a sua cegueira posterior o impediram de continuar a investigar, observar e publicar.

Fica aqui o repto para aqueles, bem mais conhecedores da matéria, tanto cientifica como bibliófila, e aqui interessa mais esta do que aquela, para com o seu contributo perpetuarem a memória deste homem da Ciência e Cultural, pois ele bem o merece,

Saudações bibliófilas.

IberLibro.com

(1) Artigo baseado numa “newsletter” de IberLibro.com.

(2) Leia-se aqui:
«Poema para Galileo» – António Gedeão
Exposições bibliográficas na Biblioteca Nacional de Portugal.

«Librairie Le Feu Follet» – Catalogue Janvier 2010




«Librairie Le Feu Follet»

Aqui fica o link para a consulta, em versão pdf, deste Catálogo de livros sempre interessante.
Este Catálogo, com o n.º 32, reúne um conjunto de obras, que estão divididas em:

I. LIVRES ANCIENS : N°I À XVII
II. FONDS DES POÈTES SUISSES ROMANDS D’ALBERT-LOUIS NATURAL: N° a À at
III. LITTÉRATURE XIXe ET XXe SIÈCLES : N°1 À 273



Desta importante listagem destaco, pela sua raridade:

36. CAMUS Albert Introduction aux Maximes et Anecdotes de Chamfort. Incidences, S.l. (Monaco) 1944,
14x19,5cm, broché.
Edition originale de l’introduction par Albert Camus.
Les couvertures de l’ouvrage ainsi que le texte de la préface ont été retirés d’un exemplaire et remontés sous forme de tiré à part à l’aide d’une bande adhésive probablement par le dédicataire.
Précieux envoi d’Albert (Camus) à Maria (Casarès): ‘Pour toi, Maria, par dessus tous les temps,
Albert’.


208. NERVAL Gérard de Billet autographe signé de 5 lignes présenté sous encadrement. 13x20cm (hors cadre) -27,5x22cm (encadré).
Rare lettre adressée (à Victor Lecou) lui demandant de bien vouloir remettre un ‘Illuminé’ à Armand Baschet.
Belle signature ‘Gérard de Nerval’ en bas à droite.
Cette lettre est répertoriée sous le numéro 220 dans la correspondance générale de Gérard de Nerval,volume I de la Pléiade page 1049.
Provenance : catalogue Saffroy, n°14 (8547), juillet 1923, d°, catal. 40 (599), mai 1929.
Le billet a été malheureusement contrecollé sur un support, et comporte marginalement des traces debande adhésive et d’infimes déchirures, il mériterait une restauration.
Les autographes de Gérard de Nerval sont très : rares.



Refira-se que o século XX, ainda tão perto, começa a ter uma grande preponderância nos Catálogos ultimamente publicados com peças de inegável interesse bibliófilo e literário, as quais atingem valores elevados.
Questão de moda ou será para se manter?

Saudações bibliófilas

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Bocage e o Café Nicola – Apontamentos para uma “estória”





Café Nicola em Lisboa

Lugar de intercâmbio de ideias, debates literários e propaganda de opiniões, é assim que podemos definir um dos cafés mais frequentados do séc. XVIII – o Café Nicola.

O Café Nicola pertence a tipo de estabelecimentos com o seu charme característico, que marcaram diferentes épocas, foram ponto de encontro e, muitas vezes, de partida para movimentos sociais, políticos e culturais. Pela porta de Cafés como este, “A Brasileira”, o “Marare”, o “Martinho da Arcada”, entre tantos outros, passaram algumas das mais emblemáticas figuras públicas. Hoje, alguns vão subsistindo, constituindo-se como verdadeiros refúgios onde ainda se consegue imaginar o seu passado vibrante.


Praça D. Pedro IV
LEGRAND, Charles, fl. ca 1838?-1850
Praça de D. Pedro em Lisboa / Legrand; lith. De Mnauel Luiz
In: Universo Pittoresco. – Lisboa. – N. 10 (1839), extratexto entre p. 144 e 145

O Café Nicola é por excelência um dos cafés mais literários de Lisboa.. Existe desde finais do século XVIII. Fundado em 1787, no Rossio por um italiano, Nicola Breteiro, é um dos estabelecimentos mais antigos de Lisboa. É referenciado na «Gazeta de Lisboa» nesse mesmo ano e, o mesmo periódico, menciona uma «liquidação da loja grande de bebidas do Café Nicola», em Julho de 1794. Neste botequim vendiam-se cafés e refrescos e era um local frequentado por jacobinos e maçónicos.

Tendo como alcunha “Academia”, devido ao largo leque de intelectuais que o frequentavam, o Nicola teve um frequentador que se destacava por entre todos outros. Esse homem era Manuel Maria Barbosa du Bocage.


Cara com semelhanças de besbelho [...]
Quadro de Fernando Santos - «Café Nicola»

No Nicola, Bocage amaldiçoou o seu inimigo ex-padre José Agostinho de Macedo e aí ditou a um amigo «Pena de Talião», uma sátira ao mesmo. Terá sido, também, no Nicola que Nuno Pato Moniz redigiu o poema cómico “Agostinheida”, que ridicularizava o mesmo padre. Bocage declamava neste estabelecimento sonetos improvisados, atraindo uma pleiade de intelectuais e políticos. Era um local de tertúlia. Mesmo depois da morte de Bocage, o seu grupo de amigos continuou a frequentá-lo e aí se prosseguiram as tertúlias.


Olha Marília as flautas dos pastores [...]
Quadro de Fernando Santos - «Café Nicola»

Tinha um empregado, José Pedro da Silva, que ajudava em tudo o que podia os poetas e que muito valeu a Bocage nas horas de necessidade, pois, já doente e pobre, nos seus últimos anos de vida, a ele ficou a dever a sua subsistência tendo inclusivamente sido este benfeitor quem pagou o seu funeral.

José Pedro da Silva, que cuidadosamente servia os poetas e intelectuais, resolveu entrar no negocio da restauração abrindo ele próprio um café cujo nome também faria história: “O Botequim das Parras”.

Um dos episódios mais engraçados da vida deste autor aconteceu precisamente à frente do Nicola: conta-se que um polícia lhe perguntou quem era, donde vinha e para onde ia, ao que o espirituoso poeta respondeu:

“Eu sou Bocage
Venho do Nicola
Vou p’ro outro mundo
Se dispara a pistola”.



Sou o poeta Bocage, venho do café Nicola [...]
Quadro de Fernando Santos - «Café Nicola»

Em 1825, o botequim foi trespassado por Nicolau Breteiro a Rosa Maria de Athayde, mas o negócio não lhe correu bem e em 1829, mais uma vez a «Gazeta de Lisboa» anuncia o trespasse do estabelecimento com o seu recheio «de líquidos, bilhar e jogo de gamão».

Devido à pressão política que se fazia sentir, e aos constantes confrontos dos seus frequentadores com a polícia, o Café Nicola é obrigado a encerrar em 1834.

A loja foi trespassada ao sombreireiro Dias. No início do século XX, aí foi instalada a Ourivesaria Xavier de Carvalho. Ocuparam também o local a Livraria de Francisco Arthur da Silva, em 1837, e o "Sallon de la Mode" de Francisco Salles Ramos.

Joaquim Fonseca Albuquerque, um dos antigos sócios do “Café Chave d’Douro”, adquiriu o espaço, em 2 de Outubro de 1929. Tornou, então a ser um Café, de nome Nicola para evocar a sua tradição e manter a aura do estabelecimento frequentado por artistas e intelectuais.
Malhoa, entre outros, por aqui também passou.

A nova fachada do Café, executada em 1929, é do traço de Norte Júnior. A decoração do interior era neoclássica. As telas foram executadas pelo pintor Fernando Santos e a estátua de Bocage foi esculpida por Marcelino Norte d’Almeida.


Café Nicola
(na actualidade)

Em 24 de Dezembro de 1935, foi encomendada ao arquitecto Raul Tojal uma redecoração interior. Este deu-lhe um estilo moderno, déco e geométrico fazendo a transição dos anos 30 para os anos 40, aspecto que ainda mantém.
As telas nas paredes do interior foram substituídas pelos actuais quadros a óleo do mesmo pintor, Fernando Santos, que descrevem cenas da vida de Bocage. Só a escultura de Bocage e a fachada se mantiveram intactas.
Retornaram as tertúlias ao café, entre as quais se podem destacar as tertúlias de Cassiano Branco.

Os seus novos proprietários, a família Albuquerque, decidem marcar a diferença criando o seu próprio café. Tal foi a ligação de Bocage com este Café, que estes empresários utilizaram a sua imagem como o símbolo da marca de cafés Nicola.

Hoje, essencialmente frequentado por turistas, é pontualmente palco de lançamentos de livros e tertúlias. Recentemente remodelado, o restaurante localizado na cave, cuja decoração ficou a cargo de Graça Viterbo, mantém mobiliário original de 1935 e oferece serviço de almoços e jantares.

De Bocage perdura a memória da sua passagem por aqui, imortalizada pelos quadros das suas paredes no interior, enquanto a sua eloquência, de resposta sempre pronta e mordaz, deu origem a múltiplas anedotas que o tornaram tanto, ou mais célebre, que a sua própria poesia.


Vida e anecdotas de Bocage.
Lisboa, Emp. Literária Universal, 1937
Capa de Alfredo Morais

Com este artigo pretendo divulgar a faceta mundana de Bocage e recordar as tertúlias que fizeram história em Lisboa; quanto a Bocage, a ele voltaremos, para vermos como era mordaz, senão mesmo “venenoso”, nas suas diatribes com os outros confrades que não lhe “caiam em graça”.

Saudações bibliófilas


Bibliografia
DIAS, Marina Tavares - Os cafés de Lisboa, 2.ª ed., Lisboa, Quimera Editores, 1999.
MASCARENHAS, João Mário e RÊGO, Manuela (Coord.) - O sabor dos cafés, Lisboa, Câmara Municipal de Lisboa, 2000, p. 33.

domingo, 10 de janeiro de 2010

Biblioteca do Dr. Laureano Barros – Leilão





Dr. Laureano Barros

Como já deixei uma notícia sumária, a «Livraria Manuel Ferreira» vai leiloar a II Parte desta importante biblioteca.

Em Maio, conforme aqui deixei notícia Livreiros-Antiquários: Divulgação realizou-se o Leilão da I Parte desta biblioteca, com inegável sucesso, conforme se pode concluir pela nota que aqui ficou, Leilão da “Biblioteca do Dr. Laureano Barros” (Primeira Parte)

Mas quem era afinal o Dr. Laureano de Barros? Para aqueles que não conheçam muito bem este ilustre bibliófilo, e sobretudo homem de elevado caracter moral e cívico, sugiro que leiam: http://www.publico.clix.pt/Cultura/laureano-barros-o-homem-que-fugiu-com-uma-biblioteca_1390333, artigo saído a lume no jornal «Público» de 05/07/2009 por Paulo Moura.

O «Catálogo», em formato digital, já se encontra disponível, o que facilita a pesquisa de livros e temas de acordo com as nossas preferências. Dos dois volumes, que constituem os catálogos desta venda, deixo aqui os respectivos links:



Estes «Catálogos», pela excelente qualidade informativa e pormenorizada dos descritivos do conteúdo desta biblioteca, constituirão seguramente uma fonte de consulta obrigatória no futuro para o estudo da nossa bibliofilia, pelo que sugiro que os tentem conseguir obter e guardar para consultas posteriores.

Fica aqui parte do “press release” enviado à imprensa, pela «Livraria Manuel Ferreira», onde se destacam as referências deste importante Leilão:


«Livraria Manuel Ferreira»

LEILÃO DA IMPORTANTE BIBLIOTECA DO DR. LAUREANO BARROS, ORGANIZADO PELA LIVRARIA MANUEL FERREIRA

Porto, 7 de Janeiro de 2010

A Livraria Manuel Ferreira anuncia neste início de novo ano a realização da segunda parte do leilão da Biblioteca do Dr. Laureano Barros, uma das mais valiosas bibliotecas particulares constituídas no século XX.

Este leilão, a decorrer entre os dias 21 a 23 e 27 a 30 e Janeiro, realizar-se-á no Salão Nobre da Junta de Freguesia do Bonfim, no Porto, com início às 21 horas. A terceira parte, com data a definir, será oportunamente anunciada.

Nesta segunda parte destacamos o excepcional espólio de manuscritos e edições de Luiz Pacheco, que apresentaremos para venda em exclusivo no último dia; as
«Leis Extravagantes» de Duarte Nunes de Leão, datadas de 1569; a edição original de «Só» de António Nobre: de Almada Negreiros salientamos a polémica edição do «Manifesto Anti-Dantas», «K4 Quadrado Azul», «Bailados Russos em Lisboa», assim como a muito esclarecedora edição d’«A Questão dos Painéis»; entre outras, as revistas «Orpheu» e «Manifesto» estarão disponíveis nesta segunda parte; de Almeida Garrett, «Viagens na Minha Terra», «Folhas Caídas», o semanário «O Chronista» totalmente redigido por Garrett; de Herberto Helder, a raríssima edição publicada por Luiz Pacheco nas edições Contraponto, «O Amor em Visita», «A Colher na Boca», segundo livro do autor, assim como o raríssimo catálogo de uma exposição de pintura de Maria Paulo, com texto em prosa de Herberto Helder.

Entre muitos outros, salientamos ainda autores incontornáveis da cultura portuguesa como Frei Bartolomeu dos Mártires, Francisco Rodrigues Lobo, Francisco Manuel de Melo, António de Sousa Macedo, Francisco Sá de Miranda, Damião de Gois, Fernão Lopes, António Pereira de Figueiredo, Tomás António Gonzaga, Agostinho de Macedo, Alexandre Herculano, Guerra Junqueiro, Oliveira Martins, Ramalho Ortigão, Gomes Leal, Wenceslau de Moraes, Manuel Laranjeira, Egas Moniz, Vitorino Nemésio, Fernando Namora, Pedro Homem de Mello, Vergílio Ferreira, Alexandre O’Neill, António Maria Lisboa, António Gedeão, Ana Hatherley.

Do espólio desta admirável biblioteca. A leiloar na terceira parte do leilão, ficam a aguardar as primeiras edições de «Peregrinação» de Fernão Mendes Pinto, as primeiras edições dos «Sermões» do Padre António Vieira e do raríssimo «Livro de Cesário Verde»; as edições originais das obras de Verney e a dos autores que se vincularam à polémica que o seu «Verdadeiro Método de Estudar» trouxe a lume; outras referências da literatura portuguesa do século passado como Teixeira de Pascoaes, Camilo Pessanha, Fernando Pessoa, António Pedro, José Cardoso Pires, Eça de Queiroz, Antero de Quental, José Régio, Aquilino Ribeiro, José Saramago, Jorge de Sena, Miguel Torga, Carolina Michaelis de Vasconcelos, Mário de Sá Carneiro, Leite de Vasconcelos, Mário Cesariny de Vasconcelos, Cesário Verde. (...)

Boa leitura e consulta dos Catálogos. Encontrarão certamente um, ou vários títulos, de interesse, a questão dependerá apenas do gosto e das potencialidades financeiras de cada um ... boa escolha!

Saudações bibliófilas.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Alguns livros Antigos disponíveis na In-Libris





O ano ainda mal começou e já surgiram as primeiras novidades.

Será no final deste mês que irá decorrer o Leilão da Biblioteca do Dr. Laureano Barros, a realizar pela «Livraria Manuel Ferreira» no Porto.
São mais dois preciosos volumes, e vamos só na II Parte, com a descrição de livros, de grande qualidade e raridade, que encerram a grande paixão pelos mesmos deste bibliófilo eminente. Um leilão a não perder!

Entretanto, quero aqui dar notícia da «Lista de Alguns livros Antigos disponíveis na In-Libris». Trata-se de um lote de 100 livros usados e antigos de temática variada (Literatura, Poesia, História, Botânica, Arte, Teatro, Sociologia, Antropologia, etc...) que pode ser consultada em: http://www.in-libris.pt/os-nossos-livros-2/os-livros-antigos/index.html

Desta destaco estes dois títulos pelo seu interesse e por representarem dois nomes fundamentais do Modernismo em Portugal.



NEGREIROS (José de Almada).— A ENGOMADEIRA. Novela Vulgar Lisboeta. [1917. Tipografia Monteiro & Cardoso. Lisboa]. In-8º gr. de 30 págs. E.É, sem dúvida, uma das mais raras obras de Almada-Negreiros, bem como uma das mais raras e procuradas de toda a bibliografia representante do modernismo português. Encadernação inteira de pele com títulos gravados na lombada, e pastas, tendo na da frente a reprodução do desenho de Almada estampado na capa da brochura. Preserva as capas de brochura. Por abrir.



PESSOA (Fernando).— LIVRO DO DESASSOSSEGO. Páginas escolhidas. Arte & Cultura. Porto. S.d. 17x22 cm. VIII-94-II págs. B.“O Livro do Desassossêgo findou aqui, deixando-nos na saudade duma obra que o autor sonhou e jamais realizou em plenitude. Florilégio breve das nuances de espírito de Fernando Pessoa, neste banquete aparecem como interlocutores quatro personagens que viveram no palco dramático da sua alma, incluindo sua própria pessoa. A reunião destes textos contribui mesmo assim para uma melhor compreensão da sua personagem, fazendo a passagem entre o homem cerebral e o homem sensível, entre o pensador e o poeta. (...)”. Restrita edição, preparada e editada por «Petrus», pseudónimo de Pedro Veiga.


Boa consulta com votos de boas descobertas. Espero que este ano seja vivido com entusiasmo por todos nós e que consigamos fortalecer, sempre mais, o intercâmbio dos nossos livros, opiniões e ideias para que a bibliofilia saia mais enriquecida.

Saudações bibliófilas