Livraria D. Pedro V
Rua D. Pedro V - Lisboa
Rua D. Pedro V - Lisboa
Num apontamento, que escrevi há pouco tempo, sobre os meus primórdios bibliófilos, veio-me logo à memória a «Livraria D. Pedro V» e, sobretudo, a personagem, para mim incontornável, do seu fundador – o Sr. Magalhães.
Era, na altura, um autêntico "oásis" no panorama dos Livreiros-Antiquários (e, infelizmente, não só para mim).
Claro que outros existiam, dos quais conheci alguns e outros não. mas falo deste por ser aquele que mais me marcou e pelo facto, para mim importante, de me ter ensinado só pelo seu gosto pelos livros que não para cativar um cliente que não o era nem tinha possibilidades para isso (pelo menos a curto prazo)
Fui sua visita assídua, enquante estudante, nos finais dos anos 60 e durante quase toda a década de 70, praticamente durante o início da sua actividade como livreiro alfarrabista, mas por razões pessoais e profissionais, que me afastaram de Lisboa, deixei o seu convívio.
Considero o Sr. Magalhães como o meu primeiro “professor” e, talvez o principal, nestes meandros bem intrincados que é a bibliofilia.
Recordo, ainda hoje, com saudade, as tardes que passava a falar com ele sobre livros e autores e a ver livros que, pacientemente, me mostrava.
Foi muito importante para mim, e fazem falta mais “Magalhães” (não só os computadores do nosso governo), mas livreiros, com a sua paciência e gosto pelos livros, para saberem incutir nos principiantes, como eu era na altura (e ainda sou...), as primeiras luzes e lhe guiarem os primeiros passos, pois que poucos livros me podia vender .. e ele bem o sabia!
Aliás, era frequente encontrar-se sempre mais alguém, pois o Sr. Magalhães, apesar do seu ar um pouco circunspecto, gostava bastante de conversar e de transmitir os seus conhecimentos. Tinha-se era falta de espaço, pois a Livraria era pequena e estava bem recheada ... aquela prateleira à esquerda que tentação!
Retenho também que, embora sendo de longe o mais jovem e o de “bolsa mais curta” (tinha de contar os tostões ... na altura nem se sonhava com o euro!), era usual encontrar jovens e não só os clássicos bibliófilos de meia a terceira idade, bem instalados e de aspecto sempre um pouco fechado (se calhar também já estou assim!...).
Considero o Sr. Magalhães como o meu primeiro “professor” e, talvez o principal, nestes meandros bem intrincados que é a bibliofilia.
Recordo, ainda hoje, com saudade, as tardes que passava a falar com ele sobre livros e autores e a ver livros que, pacientemente, me mostrava.
Foi muito importante para mim, e fazem falta mais “Magalhães” (não só os computadores do nosso governo), mas livreiros, com a sua paciência e gosto pelos livros, para saberem incutir nos principiantes, como eu era na altura (e ainda sou...), as primeiras luzes e lhe guiarem os primeiros passos, pois que poucos livros me podia vender .. e ele bem o sabia!
Aliás, era frequente encontrar-se sempre mais alguém, pois o Sr. Magalhães, apesar do seu ar um pouco circunspecto, gostava bastante de conversar e de transmitir os seus conhecimentos. Tinha-se era falta de espaço, pois a Livraria era pequena e estava bem recheada ... aquela prateleira à esquerda que tentação!
Retenho também que, embora sendo de longe o mais jovem e o de “bolsa mais curta” (tinha de contar os tostões ... na altura nem se sonhava com o euro!), era usual encontrar jovens e não só os clássicos bibliófilos de meia a terceira idade, bem instalados e de aspecto sempre um pouco fechado (se calhar também já estou assim!...).
Um livro com uma bela encadernação
... só para repousar da leitura!
Apresentou-me o Alexandre Herculano e falou-me da famosa polémica de "Eu e o Clero" sobre o discutível "milagre" da Batalha de Ourique, sempre fui um grande apaixonado pela História, mostrou-me o Almeida Garrett, falou-me do Joaquim Martins de Carvalho, do Luz Soriano e de tantos outros...
Mostrou-me as impressões da Typographia Rollandiana, que tinham grande procura pela homogeneidade do conjunto dos livros impressos – tinham todos a mesma altura (a chamada “colecção rolandiana”)
Foi, também pela sua mão que vi o primeiro exemplar de uma 1ª edição de «Clepsidra», era visita assídua um grande admirador de Camilo Pessanha, (outra das minhas paixões – a poesia)
Nunca esquecerei, no entanto, uma 1ª edição de «O Crime do Padre Amaro» que vi, desconjuntado, mas com um miolo muito limpo, quase sem picos de acidez, e que ele fez reencadernar, em inteira de pele verde escuro com o corte das folhas dourado e com excelentes gravados de ferros dourados na lombada e nas pastas! O problema é que já nessa altura pediu cinquenta contos (é verdade!) e vendeu-o rapidamente.
Curiosamente nunca mais vi este livro (há poucos exemplares no circuito comercial). Encontrei há uns anos outro exemplar que foi vendido por cerca de mil contos (um excelente investimento ... só que eu não invisto em livros!)
Editava regularmente os seus Catálogos, em folhas A4 verdes policopiados, mas com grande qualidade informativa.
(Recordo de ele se auto-criticar por apresentar o mesmo dividido por temas, pois isso não obrigava à sua leitura completa. O leitor procurava só os temas preferidos. Talvez tivesse razão...)
(Recordo de ele se auto-criticar por apresentar o mesmo dividido por temas, pois isso não obrigava à sua leitura completa. O leitor procurava só os temas preferidos. Talvez tivesse razão...)
Deixo aqui um apelo: se alguém tiver ainda algum destes catálogos que o divulgue. Pois eu infelizmente, com as minhas vária andanças, não guardei nenhum exemplar.
Durante estas “tertúlias” e, talvez, desta recordação o nome que decidi dar a este espaço, a sua esposa, sempre mais retraída, se entretinha a tricotar, enquanto nós íamos conversando. Ainda que menos conversadora, tinha intervenções oportunas e encorajadoras.
Quando voltei um dia, já nos finais dos anos 80, tinha mudado de dono e de visual. Confesso que isto constituiu um choque para mim. Senti um certo vazio dentro de mim ... tinha perdido o “mestre”.
Vim a saber que, desde o final de 1988 e até final de 1999, pertenceu ao prestigiado livreiro Luís Burnay que aí desenvolveu uma importante actividade leiloeira
Nos três anos seguintes foi gerida por Catarina Rodrigues, filha do conhecido livreiro e leiloeiro José Manuel Rodrigues.
Voltei a passar por lá, trata-se de um percurso “tradicional nas andanças bibliófilas” – da Rua D. Pedro V até ao Chiado – há pouco e, ao não encontrar qualquer referência, pensei que tivesse fechado, mas qual não foi o meu espanto, quando ao pesquisar na Internet, descobri que tinha mudado novamente de dono e que se encontrava encerrada para obras.
Desde Setembro de 2003 é dirigida por Carla Teixeira.
Para os interessados fica aqui o link para acederem: http://www.livrariadpedrov.com/
Fica aqui a promessa para uma visita após a conclusão das referidas obras ... será como que uma romagem de saudade!
Dois reparos finais:
1) Ao contrário do habitual, não ilustrei este artigo pois trata-se de uma homenagem a um “mestre” e nada pode substituir “a palavra”.
2) Não me move nada contra os posteriores proprietários e, nomeadamente, a actual proprietária desta Livraria. Aliás tenho óptimo relacionamento com o estimado livreiro Luís Burnay, e lamento não conhecer a Sr.ª Carla Teixeira.
Saudações bibliófilas.
Durante estas “tertúlias” e, talvez, desta recordação o nome que decidi dar a este espaço, a sua esposa, sempre mais retraída, se entretinha a tricotar, enquanto nós íamos conversando. Ainda que menos conversadora, tinha intervenções oportunas e encorajadoras.
Quando voltei um dia, já nos finais dos anos 80, tinha mudado de dono e de visual. Confesso que isto constituiu um choque para mim. Senti um certo vazio dentro de mim ... tinha perdido o “mestre”.
Vim a saber que, desde o final de 1988 e até final de 1999, pertenceu ao prestigiado livreiro Luís Burnay que aí desenvolveu uma importante actividade leiloeira
Nos três anos seguintes foi gerida por Catarina Rodrigues, filha do conhecido livreiro e leiloeiro José Manuel Rodrigues.
Voltei a passar por lá, trata-se de um percurso “tradicional nas andanças bibliófilas” – da Rua D. Pedro V até ao Chiado – há pouco e, ao não encontrar qualquer referência, pensei que tivesse fechado, mas qual não foi o meu espanto, quando ao pesquisar na Internet, descobri que tinha mudado novamente de dono e que se encontrava encerrada para obras.
Desde Setembro de 2003 é dirigida por Carla Teixeira.
Para os interessados fica aqui o link para acederem: http://www.livrariadpedrov.com/
Fica aqui a promessa para uma visita após a conclusão das referidas obras ... será como que uma romagem de saudade!
Dois reparos finais:
1) Ao contrário do habitual, não ilustrei este artigo pois trata-se de uma homenagem a um “mestre” e nada pode substituir “a palavra”.
2) Não me move nada contra os posteriores proprietários e, nomeadamente, a actual proprietária desta Livraria. Aliás tenho óptimo relacionamento com o estimado livreiro Luís Burnay, e lamento não conhecer a Sr.ª Carla Teixeira.
Saudações bibliófilas.
Mi estimado Rui.
ResponderEliminarQue emotivo recuerdo, cuanta falta hacen esos raros libreros de antaño, verdaderos apasionados de los libros, más maestros que comerciantes. Ahora ya sólo quedan en el recuerdo.
Saludos bibliófilos
Estimado Marco Fabrizio
ResponderEliminarEso es el problema de nuestros tiempos.
Se perdió el gusto por el diálogo. Hay una deshumanización de las relaciones comerciales…y non solamente, todo se hace visando el lucro, si olvida el hombre.
Gracia por tu comentario
Emotiva remembranza de los tiempos, los libros y los libreros que se fueron.
ResponderEliminar¡Me gusta mucho la nueva composición fotográfica que anuncia el blog!
Saludos bibliófilos.
Rui,
ResponderEliminarEs curioso como todos hemos tenido libreros que nos han dado la mano y otros que casi nos sacan a puntadas de las librerías.
Afortunadamente sólo recordamos los que nos dieron la mano y este homenaje es el mejor tributo de amistad.
Sobre la nueva fotografia sólo te recomendaría (me gusta mucho como a Diego!) las letras un poco más claras (no hace falta blancas) para contrastar un poco más. És una sugerencia y felicidades por la innovacación.
Obrigado Rui,
ResponderEliminarRealmente a encadernação tem um aspecto do século XIX.
Também gosto da sobriedade nos meus trabalho. Concordo que para este livro do Lorca seria mais adequada uma encadernação moderna,
Contudo, há uma preferência dos bibliófilos pelo estílo clássico, e como minha intenção era pôr este livro à venda, optei por faze-lo assim, Talves não tenha sido muito feliz na escolha da cor da pele.
(Acabei desistindo de vendê-lo!).
Quem sabe no futuro troco a encadernação!.
Mas, muito obrigado pelo seu comentário, é muito interessante e equilibrado. gostei!
Estimados Diego y Galderich
ResponderEliminarGracias por vuestros comentarios y, me hacen feliz, por gustaren de la nueva composición fotográfica que anuncia el blog.
Galderich yo intenté no contrastar mucho, es esta la razón de la color de la descripción del blog, hizo apenas para se leer bien pero mantener una uniformidad con la color del fondo (es esto lo mi propósito) pero voy pensar se debo o no cambiar... gracias por tu sugerencia.
Yo también hay tenido muy malas experiencias con los libreros, pero a estos los olvidé ayer y sobretodo hoy. Los que me dieran la mano los recuerdo con un grande sentimiento de amistad… es esta la razón de esta homenaje.
Saludos
Marco Pedrosa
ResponderEliminarÈ com prazer que registo o seu comentário e lhe agradeço a leitura desta “recordação”.
No que se refere às suas encadernações, apenas não gostei muito da de «Lisboa reedificada», por ser muito do século XIX para uma obra bem do século XVIII.
Pode discutir-se a cor, mas o classicismo da encadernação do livro de Lorca é bem bonita ... pelo menos eu gostei.
Mais uma vez lhe dou os meus parabéns e aproveito para convidar os meus leitores a espreitarem os seus trabalhos
Felicidades, para os novos trabalhos, e cumprimentos.