sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro


A propósito de um comentário que fiz ao meu amigo Marco Fabrizio, onde referia o interesse e o estudo que os brasileiros dedicam ao livro impresso em Portugal bem como à história das suas impressões deixo aqui uma informação sobre a Biblioteca Nacional do Brasil, que poderá explicar em parte esse mesmo interesse.
Outros factos podem, e devem, ser equacionados, mas esses deixo para uma discussão posterior se ninguém se quiser pronunciar sobre eles ...
Que me desculpem os leitores brasileiros por, ao trazer a público uma das suas preciosidades culturais tão bem conhecida, cometer algum erro de informação.


A Biblioteca Nacional, também chamada de Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, é a depositária do património bibliográfico e documental do Brasil, considerada pela UNESCO como a oitava biblioteca nacional do mundo e, também, é a maior biblioteca de língua portuguesa e da América Latina.

A história da Biblioteca Nacional inicia-se antes de sua fundação propriamente dita, pois em 1 de Novembro de 1755, Lisboa sofreu um violento terremoto, que marcou a sua história, e que deu origem a um grande incêndio que atingiu, entre outros edifícios, o da Real Biblioteca, também conhecida como Real Livraria, considerada uma das mais importantes bibliotecas da Europa, àquela época. A esta perda quase irreparável para os portugueses seguiu-se um movimento para sua recomposição, que foi prevista entre as tarefas principais e mais urgentes para reconstruir Lisboa após o incidente de 1755.

Para levar a cabo essa missão, o rei D. José I de Portugal e o ministro Marquês de Pombal empenharam-se em juntar o pouco que sobrara da Real Livraria e a organizar, no Palácio da Ajuda, uma nova biblioteca, que se tornou importante pela composição de seu acervo que, em 1807 reunia cerca de sessenta mil peças, entre livros, manuscritos, incunábulos, gravuras, mapas, moedas e medalhas.

Este acervo foi aquele trazido ao Brasil após a vinda da família real em 1808, em consequência da invasão de Portugal pelas tropas francesas comandadas por Junot.

O acervo, na mudança para o Rio de Janeiro, foi trazido em três etapas, sendo a primeira em 1810 e as outras duas em 1811. A biblioteca foi acomodada, inicialmente, nas salas do andar superior do Hospital da Ordem Terceira do Carmo (de acordo com o Alvará de 27 de julho de 1810), localizado na antiga rua de trás do Carmo, actual rua do Carmo, próximo ao Paço Imperial. As instalações, no entanto, foram consideradas inadequadas e poderiam por em risco tão valioso acervo assim, em 29 de Outubro de 1810, data que ficou atribuída à fundação oficial da Biblioteca Nacional, o príncipe regente editou um decreto que determinava que, no lugar que havia servido de catacumbas aos religiosos do Carmo, se erigisse e acomodasse a "minha Real Biblioteca e instrumentos de física e matemática, fazendo-se à custa da Real Fazenda toda a despesa conducente ao arranjamento e manutenção do referido estabelecimento".


Vista aérea da Biblioteca

As obras para nova edificação da Biblioteca só terminaram em 1813, quando foi transferido o acervo. Enquanto se efectuava o processo de instalação dos livros, que se iniciou em 1810, a consulta ao acervo da Biblioteca já podia ser realizada por estudiosos, mediante consentimento régio e, em 1814, após o término da organização do acervo, a consulta foi franqueada ao público.

Oficialmente estabelecida, a Biblioteca continuou a ter o seu acervo ampliado de maneira significativa, através de compras, doações, principalmente, e de "propinas", ou seja, pela entrega obrigatória de um exemplar de todo material impresso nas oficinas tipográficas de Portugal (Alvará de 12 de Setembro de 1805) e na Impressão Régia, instalada no Rio de Janeiro.
Essa legislação relativa às propinas foi sendo aperfeiçoada ao longo dos anos e culminou no Decreto n.º 1.825, de 20 de Dezembro de 1907, chamado vulgarmente Decreto de Depósito Legal, ainda em vigor.

Com a morte de D.ª Maria I, em Março de 1816, teve início o reinado de D. João VI, que permaneceu no Brasil até 1821, quando circunstâncias políticas o fizeram retornar a Lisboa com a Família Real, à excepção de seu filho primogénito. Aqui também permaneceu a Real Biblioteca. Nessa época ela já crescera muito e, após a Independência, em 1822, passou a ser propriedade do Império do Brasil, pois sua compra consta da Convenção Adicional ao Tratado de Amizade e Aliança firmado entre Brasil e Portugal, em 29 de Agosto de 1825. Pelos bens deixados no Brasil a Família Real foi indemnizada em dois milhões de libras esterlinas, desse valor, oitocentos contos de réis destinavam-se ao pagamento da Real Biblioteca, que passou, então, a chamar-se Biblioteca Imperial e Pública da Corte.

Em 1858, a Biblioteca foi transferida para a rua do Passeio, número 60, no Largo da Lapa, e instalada no prédio que tinha por finalidade abrigar de forma melhor o seu acervo. (Actualmente, com algumas modificações, esse edifício abriga a Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro).

Como seu acervo continuava a ampliar-se com as doações, aquisições e através de contribuição legal, compra de colecções de obras raras em leilões e em centros livreiros de todo o mundo, em breve tornou-se necessária a sua mudança para outro edifício, mais adequado às suas necessidades presentes.

Escadaria interior

O crescimento constante e permanente do seu acervo foi fundamental para a realização deste projecto de construção de uma nova sede que atendesse a todas as necessidades da biblioteca, para poder acomodar de forma adequada as suas colecções.
Com base neste pressuposto, foi projectado o seu actual edifício, que teve a sua primeira pedra lançada em 15 de Agosto de 1905, durante o governo de Rodrigues Alves. A inauguração realizou-se em 29 de Outubro de 1910, durante o governo Nilo Peçanha.

O edifício da Biblioteca Nacional, cujo projecto é assinado pelo engenheiro Sousa Aguiar, tem um estilo ecléctico, no qual se misturam elementos neoclássicos e "art nouveau", e contém ornamentos de artistas como Eliseu Visconti, Henrique e Rodolfo Bernardelli, Modesto Brocos e Rodolfo Amoedo. Fica situado na Avenida Rio Branco, número 219, praça da Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro, e compondo com o Museu Nacional de Belas Artes e o Teatro Municipal um conjunto arquitectónico e cultural de grande valor.


Em 23.05.2007 foi publicado no «PORTUGAL DIGITAL» um artigo sobre o riquíssimo acervo da Biblioteca Nacional Brasileira, no Rio de Janeiro, o qual deixo aqui, na sua integra, para leitura:

“Brasília - A Fundação Biblioteca Nacional (BN) é uma das mais antigas instituições públicas brasileiras. Foi instalada oficialmente no Rio de Janeiro em 1810, a partir do acervo da Real Biblioteca de Portugal, trazido pela corte do príncipe regente Dom João, em 1808. É hoje a maior fonte de pesquisa em livros, jornais e periódicos do país e tem a função de ser a depositária da memória bibliográfica e documental do Brasil.

Toda obra publicada no país precisa ter pelo menos um exemplar arquivado na BN. Com um património superior a 9 milhões de itens foi considerada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) como a 8ª maior biblioteca do mundo.

Instalada em um imponente prédio estilo ecléctico (onde se misturam elementos neoclássicos), na Avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro, abriga verdadeiras raridades da literatura. Obras impressas nos primórdios da invenção da imprensa, como a Bíblia Mongúncia (Bíblia Latina), publicada por Gutenberg e seus sócios, em 1462, é considerada pela chefe da Divisão de Obras Raras (Diora), a bibliotecária Ana Virgínia Pinheiro, como uma das peças mais raras da divisão. Existem apenas outros 60 exemplares conhecidos desta bíblia em todo o mundo.

Há na Biblioteca Nacional obras ainda mais antigas, escritas a mão sobre pergaminho, como O Livro dos Evangelhos, do século XI, escrito em grego e considerado o livro mais antigo na América Latina. O conjunto de obras impressas mais antigas datam do século XV, são os 'incunábulos', livros publicados nos primeiros 50 anos da invenção da tipografia por Gutenberg, e publicados até o ano de 1500.

A maior parte deles está depositada na Diora, onde podem ser consultados por pesquisadores especializados. “A Biblioteca não estimula visitas às colecções especiais (Obras Raras, Manuscritos, Cartografia, Iconografia e Música). Recebe o pesquisador que tem interesses de pesquisa bem definidos e que traga carta de apresentação assinada pela instituição onde desenvolve a pesquisa ou de próprio punho, a título de declaração de idoneidade para consulta a acervo tão precioso”, informou Ana Virgínia.

Obras raras

A Divisão de Obras Raras guarda livros publicados entre os séculos XV e XVII e tem a missão de salvaguardar o acervo precioso da Biblioteca Nacional. Calcula-se que existam hoje mais de 70 mil obras na secção, em dois quilómetros de prateleiras. Na apreciação do acervo realizada em 1946, foram identificados 18 mil volumes na Diora. Os livros, alguns em pergaminho, são escritos em grego, latim, árabe, hebraico e línguas arcaicas ou mortas.

O acesso restrito ao acervo da Diora se explica pela necessidade de proteger e preservar documentos únicos, datados, alguns deles, antes mesmo do descobrimento do Brasil. Os estudos são feitos através de microfilmes e material digitalizado, na falta destes, a consulta é directo no original.

O Depósito Legal é a principal fonte de captação de obras para a BN, mas as peças mais antigas e de grande valor histórico foram obtidas por meio de doações. A maior delas foi a colecção Dona Tereza Cristina Maria doada pelo imperador Dom Pedro II, quando estava no exílio em Portugal, em 1891. São mais de 48 mil peças, entre livros, manuscritos, partituras, gravuras, desenhos, fotografias e mapas. As colecções doadas à BN são privilegiados instrumentos de pesquisa sobre a história do Brasil.

Colecções

Na colecção Barbosa Machado é possível encontrar folhetos raros sobre as relações entre Brasil e Portugal, no período da colónia.

A colecção De Angelis é uma grande fonte de informação sobre a Província Jesuíta do Paraguai e sobre os limites dos países na região do Prata.

A colecção Salvador de Mendonça destaca-se como o conjunto de material referente ao domínio holandês no país, com peças impressas no século XVII.

Na colecção José António Marques formada por livros e manuscritos da época colonial estão incluídos 323 volumes de obras de Luís de Camões, entre elas a primeira edição de “Os Lusíadas”, de 1584, considerada raríssima.

A colecção Wallenstein possui um importante acervo sobre a história económica, política e social do Brasil do século XIX, sobretudo no período da Regência.

A colecção Casa dos Contos contém documentos sobre a administração de Minas no Brasil do século XVIII e XIX, com material para estudo sobre a história da mineração, quintos, contrabando de ouro e diamantes, bandeiras e a inconfidência mineira.

A colecção Alexandre Rodrigues Ferreira possui farta documentação (ilustrada com desenhos aquarelados) sobre a fauna e a flora do país, realizada pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira, durante sua expedição pelas capitanias de Grão Pará, Rio Negro, Mato Grosso e Cuiabá, nos anos de 1783 e 1792. Entre outras.”


Saudações bibliófilas.

5 comentários:

  1. Desconocía, como desconozco muchas cosas de la cultura portuguesa, la historia de la Biblioteca Nacional de Rio de Janeiro.
    Curiosos los traslados y los problemas con la monarquia muy paralelos a los acontecimientos de España con Napoleón. En el caso español jamás pisaron suelo americano.
    Es una suerte para Brasil el oportuno traslado y una lástima para Portugal la pérdida de todo este tesoro bibliográfico. La parte positiva es que esta bien conservado.
    Gracias por documentarnos esta biblioteca de referencia para la cultura portuguesa.

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  2. Rui.

    Con la interesante noticia que nos proporcionas, ahora es que comprendo mejor el hecho que refieres en entradas anteriores.
    Contar con ese maravilloso acervo es motivo suficiente para realizar todo tipo de estudios.

    Debo reconocer mi absoluta ignorancia con respecto a tan inusual acontecimiento, que necesariamente obliga a reconsiderar muchos supuestos con respecto al patrimonio bibliográfico en el continente.

    Muchísimas gracias por la importante aportación.

    Saludos bibliófilos.

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  3. Amigos Galderich y Marco

    Gracias por vuestros comentarios.
    Lo que escribí yo creo no ser conocido muy bien de todos, mismo para los portugueses.
    Pueden por esto enlace http://www.bn.br/portal/
    ver un poco mejor los programas y actividades de la BNB y sobre su historia veían esto otro enlace con un video: http://recantodaspalavras.wordpress.com/2008/01/08/a-origem-da-biblioteca-nacional-do-rio-de-janeiro/

    Saludos

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  4. Rui, las bibliotecas, a lo largo de su historia, van acompañadas de multitud de sucesos que de una manera o de otra les influyen en su vida. Generalmente les suelen influir negativamente, como la "Real livraria"y tantas otras destrucciones de bibliotecas.
    Hoy nos muestras una bonita historia de bibliotecas con final feliz. Y me gustaría apuntar que para para mi, la cultura portuguesa es una de las que consigue crear algunas de las bibliotecas mas hermosas del mundo, entre la que se encuentra la de Rio de Janeiro o la de la Universidad de Coimbra.
    Te adjunto este enlace para que las admiren tus lectores. http://curiousexpeditions.org/?p=78

    En Internet, resulta muy interesante la biblioteca digital de obras raras de la universidad de Sao Paulo, que podeis encontrar en este enlace. http://www.obrasraras.usp.br/

    Gracias por tu aportación

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  5. Lamberto, hay sido un grande placer registrar tu aporte, como siempre de grande interese y de conocimiento.
    Intenté tan simplemente demostrar una de las razones, en mi opinión, de los estudios tan importantes que los brasileros hicieran sobre la historia de la imprenta portuguesa.
    Esta entrada es también una homenaje a los mi lectores brasileros.
    ¡Es con grande expectativa que aguardo la tu próxima entrada!

    Saludos bibliófilos

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