quarta-feira, 24 de junho de 2009

José Agostinho de Macedo



Com base na obra, «Biographia do Padre José Agostinho de Macedo» por Joaquim Lopes Carreira de Mello, vou apresentar-vos um dos escritores mais controversos da literatura portuguesa do século XIX, como preâmbulo de um artigo sobre um folheto que adquiri recentemente: «O Novo Argonauta» (mas a ele voltaremos na altura).

Trata-se de um escritor controverso, pois foi elogiado por uns, como se pode ver pela simpatia que transparece desta obra, e combatido, ferozmente, por outros.
Homem de uma grande instabilidade, tanto literária, pois com Bocage, de quem mais tarde foi inimigo figadal, fundou a Nova Arcádia e usou o nome de Elmiro Tagideu, transformou-se num autor panfletário em defesa dos ideais absolutistas, ainda que com uma conduta de vida pessoal bastante questionável. tinha também, no campo literário, como uma das suas características, o contínuo trabalho de refundição dos textos; assim como nas opiniões políticas, mas cedo aderiu ao miguelismo e defendeu em muitos panfletos violentos as doutrinas absolutistas.
Talvez esta instabilidade se enquadre no contexto geral da História de Portugal pois ele viveu a ida da Corte para o Brasil, as Invasões Francesas, a intromissão inglesa na governação do Reino, a Revolução Liberal de 1820 e a Guerra Civil. Só para citar os factos mais salientes.
No tocante à obra referida, se o texto deve ser lido com cuidado, pela posição parcial do autor, o «catalogo alfabético de todas as suas obras», que o completa, é de uma importância inquestionável.
Mas passemos ao texto em questão.



José Agostinho de Macedo

José Agostinho de Macedo natural de Beja, onde nasceu no dia 11 de Setembro de 1761, e foi baptizado na Igreja Paroquial do Salvador, no dia 1 de Outubro do mesmo ano, foi o filho primogénito de Francisco José Tegueira, primeiro marido de Angelica dos Serafins Freire, o qual era filho de Pedro Nogueira Sobrinho, e Rosa Maria, naturais da cidade de Beja, a mãe era filha de Manuel Baptista Freire, e Ana Rosa, naturais da cidade de Lisboa.
Seu pai, que era ourives, queria que este filho, dando-lhe uma boa educação, não precisasse de seguir a mesma vida, segundo os usos, ou mania em Portugal, e como descobrisse nele uma extraordinária vivacidade, e sinais de talento, procurou dar-lhe os primeiros rudimentos da língua materna, pelo que o entregou a um seu amigo, de apelido Mendes, também ourives, quando José Agostinho já contava onze anos de idade.
Os progressos de José Agostinho causaram assombro nos mestres, e nos condiscípulos inveja, não deixando algumas vezes de excitar a indignação dos primeiros, e o ódio dos segundos com suas respostas, e ditos impróprios daquela tenra idade, principalmente um dia, em que se fazia a leitura de Camões, ele, cheio de ousadia, disse — Camões não presta — O seu mestre repreendeu-o, mas como ele insistisse, castigou-o, por tamanha blasfémia literária.

Como era usual na altura, a clausura monástica era um seguro asilo, onde a mocidade podia servir a Deus, a si, e aos outros, e facilmente subir ás mais altas dignidades, fosse qual fosse o berço em que o homem nascesse; ou, quando menos, um meio de fugir aos perigos, e incómodos da vida, pensou o pai, que tal vida convinha ao seu filho, cujos talentos cada dia se manifestavam de um modo extraordinário, e por isso, após frequentar em Beja os estudos necessários, para entrar na religião, tomou o habito de Santo Agostinho, dos Eremitas Calçados no Convento de Nossa Senhora da Graça, na cidade de Lisboa.
Nesta Ordem professou; e foi sacerdote com o nome de Fr. José de Santo Agostinho. Ali fez admirar os seus talentos, e algumas vezes tirou os padres de certos embaraços, como foi na ocasião da morte do conde de Vila Verde, que era descendente do grande Afonso de Albuquerque, ao determinar que este fosse enterrado na mesma sepultura do seu imortal ascendente, na Igreja do Convento onde este jazia, mas que pela nova forma que se lhe dera em consequência dos danos sofridos pelo terremoto do 1 de Novembro de 1755, tinha-se perdido a sua localização; declarando José Agostinho, onde esta se achava.
Pregava na sua Ordem com grande aplauso dos religiosos, e admiração de todos, mas, fazia-se admirar mais pelos seus talentos naturais, do que pelo seu estudo assíduo, também se fazia aborrecer pelo seu desmedido orgulho, e pelas suas leviandades e travessuras, praticadas, tanto no Convento da Graça em Lisboa, como no Colégio de Coimbra.

Como em toda a parte, se encontra quem alimente o maledicência, Fr. José encontrou na sua Ordem um companheiro, que se não tinha o seu talento, tinha contudo mais ideias para fomentar os tumultos com que constantemente afligiam a comunidade.
Tão indigno confrade, foi Fr. Francisco, natural da Vacariça; porém, como tais excessos não se poderiam tolerar numa casa particular quanto mais numa corporação religiosa, o prelado, que tinha estrita obrigação de os reprimir foi por isso obrigado, por vezes, a aplicar a estes perturbadores da comunidade as penas consignadas no Estatuto da Ordem; mas tais castigos aplicados a um caracter orgulhoso pelo talento como o de Fr. José, levaram este mancebo ao extremo de não poder suportar o jugo daquele sagrado Instituto; infeliz, porque nem mesmo aquelas cadeias, poderam prender o seu génio inquieto, que o levaram ao excesso de deixar a sua Santa Comunidade apostatando.
A apostasia não podia livrar Fr. José duma justa perseguição dos seus confrades, a quem faltava um irmão que era preciso conduzir ao seio da família pelos laços da religião, e que poderia ainda corrigir-se, e assim aproveitarem-se os talentos superiores dum mancebo, que poderia ser um dia o emblema da Ordem e da Pátria.
Mas melhores conselhos, ou pelo menos mais prudentes, prevaleceram nos conselhos da Comunidade. Deixaram de perseguir Fr. José de Santo Agostinho e deram-lhe a sentença de expulsão perpetua da Sagrada Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho.
Quanto a Fr. Francisco não se sabe se foi também expulso, é porem certo que apareceu secularizado e que até o fim da sua vida, foi um homem duma vida muito desregrada.

Na vida secular. Fr. José de Santo Agostinho, tomou o nome de Padre José Agostinho de Macedo.
Macedo já não sofria a justa perseguição que se fazia ao apostata, mas sofria a perseguição da indigência, com que lutava, indigência que emanava do desprezo publico. Tão severa lição, dada pela Providencia a um indivíduo que conhecia o seu talento, mas que acabava de ser assim levado á humilhação, fê-lo pensar, e mudar de vida; para deste modo, poder entrar na sociabilidade dos homens. Mudou efectivamente de sistema, e começou a ser mais considerado. Durante o período de grande miséria foi socorrido pelas Religiosas Trinas do Rato, que foram quase exclusivamente, quem lhe mataram a fome, pelo que se compreende a razão porque ele tinha tanta afeição por aquela Casa; era em dever de gratidão, e a que só uma alma totalmente pervertida poderia faltar.

Mais comedido, Macedo começou a ser aceite no círculo dos homens de letras, e como era dotado de muita finura, e via que para não voltar á indigência, não tinha remédio se não aproveitar o seu engenho, devorou quantos Santorais, e Sermonarios encontrou, leu os Escritores Eclesiásticos, os Concílios, Historia Eclesiástica, Santos Padres, Escritura etc., tornou-se num bom pregador.
Mas sobretudo o meio mais eficaz que empregou para adquirir os conhecimentos sólidos com que enriqueceu o seu espírito, foi a amizade, e relações com distintos oradores, poetas, sábios, e literatos do seu tempo, que eram alguns, e com grandes méritos, pois bem sabia que valia mais uma conferencia com tais homens; do que muitos anos de estudo; e como tinha grande memória nada lhe escapava do que eles diziam, e consultava os autores por eles citados, correndo todas as bibliotecas de Lisboa; ouvia os grandes oradores, com muita atenção, com maior desejo de os exceder do que de os imitar.


                                                                        Vinheta tipográfica - Armas do Reino - na página de título
 MELLO, Joaquim Lopes Carreira de – BIOGRAPHIA DO PADRE JOSÉ AGOSTINHO DE MACEDO.
Seguida d'um catalogo alfabetico de todas as suas obras.
Porto, Typ. De Francisco Pereira d’Azevedo, Rua d'Almada n.º 388, 1854

Deste forma e, ajudado pelo seu engenho e arte, despido de todo o acanhamento em publico, começou a subir ao púlpito com tanta prontidão, e falar com tanto aplauso do auditório, que em breve se tornou célebre pelos seus discursos sagrados, que causavam mais admiração por serem improvisados do que pelo desempenho.
Na Quaresma, chegou a pregar seis, sete, e oito vezes, no mesmo dia, de forma inteiramente diferente, e, às vezes, sobre o mesmo assunto.
Quando o elogiavam nalguma Igreja, costumava dizer: “são fornadas”; como tais se podem chamar os sermões que pregou em 1820, e depois em 1823 e seguintes.
Um orador de mérito tão elevado não podia ficar no esquecimento dos homens protectores dos génios transcendentes, e Monsenhor Rebelo obteve-lhe do Príncipe Regente – o futuro D. João VI – a nomeação de Pregador Régio, por carta de 8 de Novembro de 1802.
No espaço de vinte e nove anos, muitas vezes teve a honra de pregar diante de Suas Majestades e Altezas.

Foi também nomeado Censor Régio do Patriarcado, lugar de grande consideração e respeito. A ultima graça régia que teve foi a de substituto do Cronista-Mor do Reino por decreto de 21 de Junho de 1830, como se pode ver do seguinte documento:

«Eu El-Rei. Faço saber aos que este Alvará de assentamento virem que por parte do Padre José Agostinho de Macedo Me foi apresentado um Alvará passado pela Meza do Dezembargo do Paço em 14 de Junho do corrente anno, pelo qual Fui servido Nomeal-o Substituto Chronista do Reino com o ordenado de 300$000, o qual Alvará lhe foi dado pela dita Meza em vista do Decreto de 21 de Junho do anno proximo passado. E pedindo-Me o sobredito agraciado lhe mandasse passar o presente a fim de poder haver aquelle vencimento pela estação competente: Em consideração, pois, e Attendendo ao que Me foi presente em informação do Escrivão da minha Fazenda, sobre o que respondeo o Conselheiro Procurador da mesma; Hei por bem que o sobre-mencionado Padre José Agostinho de Macedo tenha e haja, com o logar de Substituto Chronista do Reino, de seu assentamento em cada um anno 300$000, assentados e pagos pela Folha dos ordenados da Alfandega Grande d'esta cidade, com o vencimento do dia da mercê em diante. Pelo que mando aos Ministros Conselheiros do Conselho da Fazenda lhe façam assentar nos competentes Livros a referida addição, para annualmente hir na respectiva Folha, e ser-lhe pago como dito fica. Por quanto pagou de Novos Direitos 30 reis que foram carregados ao Thesoureiro d'elles a fl. 61 do livro 4.º da sua Receita, como constou d'um Conhecimento em forma registado a fl. 136 V.º do Livro 104 do Registo geral dos mesmos direitos, que se rompeo ao assignar d'este que valerá posto que seu effeito haja de durar mais d'um anno, sem embargo da ordenação em contrario e se cumprirá, indo por Mim assignada, tendo passado pela Minha Chancellaria, e sendo registada nos livros d'ella, Mercês e Fazenda. Lisboa 18 de Agosto de 1831.—REI—Doutor Diogo Vieira de Tovar e Albuquerque—João Manoel Guerreiro d'Amorim. Manoel Xavier da Gama Lobo o fiz escrever.—Domingos Antonio Barboza Torres a fez. De feitio e registo 800 reis. Passou-se por Despacho do Tribunal do Conselho da Fazenda de 11 de Agosto de 1831. Antonio Gonçalves Ribeiro. Gratis. Pagou 30 reis e aos officiaes nada por quitarem. Lisboa 10 de Setembro de 1831. Como Vedor José Bravo Pereira.»

Se o Padre Macedo não tivesse saído da sua Ordem, talvez tivesse feito melhor figura, onde tinha todos os elementos para a elevação, que na vida secular, e apesar de todos os seus esforços, sempre se lhe mostrou avessa. Os monarcas tiveram-no em toda a consideração, e premiaram o seu talento até onde a moral permitia que fosse, mas nunca o propuseram para o episcopado, que eram os desejos de José Agostinho.

O desembargador João da Cunha Neves e Carvalho Portugal, que, aquando da sua estadia em França, ouvira dizer ao cura de S. Tomas de Aquino (que aprendeu o português para ler as obras do bispo D. Jerónimo Osório), que o poema filosófico «A Meditação» era obra acabada, opinião partilhada por muitos outros literatos franceses.

Esta obra não foi uma produção de momento, como aquelas tão frequentemente saídas da pena de José Agostinho, e assim o parece demonstrar o original do dito poema, que existe na Torre do Tombo, e que tem no fim a seguinte nota, com a mesma letra, e que é a do autor:

«Foi começado este poema em 2 de Dezembro de 1793, e concluido n'este estado de possivel perfeição em que aparece a 5 de Janeiro de 1810»—Dedicado á Universidade de Coimbra com a data de 13 de Janeiro de 1810.

José Agostinho de Macedo, faleceu em Pedrouços, depois de uma doença prolongada de bexiga, ás 11 horas da manha do dia 2 de Outubro de 1831, tendo sido assistido pelo padre Manuel Barreiros, prior de S. Domingos de Benfica.

Jaze na Capela de S. Nicolau de Tolentino, da Igreja do Convento de Nossa Senhora dos Remédios das Religiosas Trinitárias, no sitio do Rato, em Lisboa.

D. Miguel, que então ocupava o Trono Português, mandou-lhe fazer o enterro e que este fosse em coche da Casa Real.
Este monarca, por quem Agostinho Macedo tanto dirimiu em polémicas em sua defesa, recebeu a chave do seu caixão, e, por sua ordem, se lhe tirou o molde em cera, para se lhe levantar um busto.

Ricardo Raimundo, que tinha sido o censor das obras de José Agostinho, escreveu o seu elogio necrológico.


                                                                                        José Agostinho de Macedo

Mas se por um lado, houve quem quisesse deprimir o seu talento como homem que pertence á nossa Historia política e cultural, também houve quem lhe fizesse justiça, entre estes citaremos o Dr. António Manuel do Rego Abranches, homem, que em política foi oposto a Macedo, mas que na pequena biografia que serve de introdução ao Catalogo das obras do padre diz:

"Hum sentimento de patriotismo em fazer conhecer as muitas obras impressas de José Agostinho de Macedo nos incitou a imprimir o presente Catalogo por não haver impressa alguma noticia exacta das suas producções litterarias, nem ao menos Catalogo das que correm impressas, de que o titulo mesmo de muitas d'ellas he ignorado existindo apenas essa diminuta resenha publicada na nova edicção do Motim Litterario pelo auctor da Biographia historica e Litteraria, que não quiz dar-se a trabalho pensando talvez não tornar elle o Traductor da Batrachomyomachia alguma cousa mais em Philologia nem mais lhe auctorisou o vislumbre de renome, e d'aura popular.1 Com o nome de Fr. José de Santo Agostinho foi sacerdote professo da Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho calçados, da qual secularisando-se voltou ao seculo. Foi Prégador Regio, Censor do Ordinario, Academico da Arcadia de Roma com o nome entre os seus Alumnos de Elmiro Tagideo, homem de talento, grande memoria, e vasta erudição, em fim um sabio, de que seus escriptos são o elogio."

Além de muitos panfletos como o famoso «Os Burros» (1827), escreveu toda uma série de poemas de tema filosófico, de que se destacam: «Contemplação da Natureza» (1810), «O Novo Argonauta» (1809), «O Motim Literário em forma de Solilóquios» (1811), «A Meditação» (1813), «Newton» (1813), «Cartas Filosóficas a Ático» (1815), «Viagem Extática ao Templo da Sabedoria» (1830) «A Criação» (1845)
O seu grande cometimento literário foi o poema épico «Gama» (1811), cuja 2ª edição, em 1814, se intitulou «O Oriente». É uma tentativa confessada de emendar aquilo que considerava errado em «Os Lusíadas», de Camões, e de fazer justiça a certos heróis que este deixara na sombra.

Para os mais curiosos deixo aqui o “link” para uma das suas obras mais famosas «Newton»:

Saudações bibliófilas

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Carta a Lamberto Palmart


Foi com grande expectativa, como sempre, que ontem, ao ver que tinhas publicado um novo artigo no teu Blog, que me liguei de imediato ao mesmo, para ter o privilégio de desfrutar de mais uma bela obra acompanhada de toda uma descrição e historial perfeitos da mesma.




Tu consegues transmitir, na mensagem, todos os pormenores que nos permitem ter a sensação, quase real, de estarmos a folhear o livro como se o tivéssemos nas nossas mãos.
Que repositório de magníficos exemplares tu nos tens oferecido ao longo destes anos, cheguei tarde, mas tive a curiosidade de ver tudo o que já tinhas publicado !

Mas, foi com certo desgosto, e emoção, que ao chegar ao fim da leitura do mesmo se me deparou o teu ”Epílogo”!
Quando li que talvez tivesses que fechar o teu Blog, por não teres mais obras desta qualidade para compartilhar-lhas connosco...pois a tua aquisição “marcha à velocidade de tartaruga” (nós dizemos a “passo de caracol”) enquanto o teu Blog as consumia mais rapidamente, e, como acontece com todos nós, por vezes, temos de abdicar de alguns prazeres comuns aos outros mortais para as adquirirmos.


Mis Libros Antiguos
Una ventana anónima de mi colección de libros, encuentros y desencuentros con el mundo de la bibliofilia.

Mas só, um outro “louco” bibliófilo, e felizmente, que tu tens muitos amigos com a mesma paixão, pode compreender estes aspectos.
Como eu costumo dizer, a bibliofilia é uma paixão, e como tal, sendo um amor, tem razões que a razão desconhece!

Não querendo questionar a veracidade da tua afirmação (a nossa bolsa tem limites que trava os desejos da nossa paixão), estou certo que tens muitos outros livros, de séculos mais recentes, que tu podes compartilhar connosco. Têm também a sua beleza, assim como, uma importância na cultura e evolução do pensamento do teu país.
Se olhares bem, hás de reparar naquele canto da prateleira onde guardaste um livro que compraste, se calhar com bastante entusiasmo, há algum tempo mas, por não ter as qualidades tipográficas das edições que nos deliciam (séc. XVI e XVII), tu quase te esqueceste dele. Pega nele e repara bem.
Vais perceber de novo as razões da tua aquisição, e, porque não, transmitir-nos essas mesmas impressões que tu voltaste a sentir ?

Não posso acreditar que tu encerres o teu Blog.
Para mim era a “janela” mais bonita pela qual gostava de espreitar! Que belezas encontrava do outro lado e que prazer eu sentia em ler tudo o que escrevias.




Não tenho o direito, nem é isso que pretendo, de te obrigar a manter algo que não te dê prazer.
A decisão será sempre tua, e só tua, mas julgo, que com estas singelas palavras transmitir o que neste momento sentem muitos dos teus leitores fiéis, como é o meu caso.
Restará, podes estar certo, a nossa amizade, que será sempre mais forte que todos os outros pormenores.
Amor librorum nos unit.”

Com um forte abraço deste teu amigo
Rui

PS: Propositadamente não inseri quaisquer imagens de livros, apenas algumas paisagens relaxantes, para te permitirem reflectir, com tranquilidade durante o Verão, na reformulação do teu Blog.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Conversa bibliófila: o prazer de viver.



Nem só de livros vive o bibliófilo! Há toda uma vida para se viver!


Sobretudo, nestes dias quentes, em que apetece mais ir para a praia (para os felizardos em férias) ou estar numa esplanada a ver o mar...e, porque não acompanhado de um bom livro ?...enquanto se aguarda o pôr do Sol.
Ou, à noite, dar um passeio para se sentir no rosto a brisa fresca que nos bate na face, à beira-mar, a ouvir o marulhar das ondas na praia enquanto se aprecia o reflexo da Lua na vasto lençol que é o mar.


Claro, que o “bichinho” nos pica sempre um pouco! Como, no meu caso, que estou a tentar deslindar um enigma bibliófilo, só que posso fazer tudo isso neste ambiente, ou, quando chegar a casa, na fresquidão da noite, a ouvir um pouco de música, e ler alguns apontamentos ou livros de consulta...





Por isso hoje vou propor-vos que se deliciem a ouvir um pouco de música...escolhi uma da minha juventude...enquanto lêem, ou, simplesmente, convivem com quem esteja junto de vós.
Espero que gostem...



Bom fim de semana (e já agora sem livros...estão apenas dispensados os que tiveram o privilégio de se deslocar a Paris ao Grand Palais para o Salão do Livro!)

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Octave Uzanne: a outra face.


Louis Octave Uzanne, nasceu em Auxerre a 14 de Setembro de 1851 e morreu em Saint-Cloud a 31 de Outubro de 1931. Foi um homem de letras, bibliófilo, editor e jornalista.


Depois dos estudos no Colégio de Auxerre, muda-se para Paris para se consagrar à bibliofilia. A partir de 1875, colabora no Conseiller du Bibliophile e funda, em seguida, sucessivamente quatro revistas : Miscellanées bibliographiques, Le Livre, Le Livre moderne e L'Art et l'Idée.
Em 1889, com mais 160 pessoas, funda uma sociedade para edição de escritores franceses, La Société des bibliophiles contemporains, que se tornou, mais tarde, na Société des bibliophiles indépendants. Dá a volta ao mundo em 1893. Foi uma das testemunhas de Jean Lorrain, aquando do seu duelo, em Meudon, com Marcel Proust a 6 de Fevereiro de1897. Passa os seus últimos anos no seu apartamento de Saint-Cloud, sempre rodeado de livros e sempre a escrever, e aonde os seus fiéis vinham « entendre Octave Uzanne remuer les cendres tièdes encore de ce passé qu'il aimait»


Deixou uma vasta bibliografia. (1)





Louis Octave Uzanne



A sua assinatura


Creio que quase todos conhecerão o Uzanne bibliófilo, o autor de «Nos amis les livres. Causeries sur la littérature curieuse et la librairie», «Les Caprices d’un bibliophile», «Physiologie des quais de Paris, du Pont Royal au Pont Sully» «Contes pour les bibliophiles» com Albert Robida, o qual contem: «La Fin des livres» e das revista «Le Livre», «Le Livre moderne» e «L'art et l'Idée» que é. um pouco, como nosso “patrono”, pois que com ele, muitos de nós aprendemos a amar os livros e nos iniciámos na bibliofilia.

Com o seu estilo de escrita simples e de leitura extremamente agradável, consegue-nos transmitir, com grande sensibilidade, os ambientes bibliófilos parisienses, possibilitando-nos transmitir o cheiro e a sonoridade do papel dos livros como se os estivéssemos a manusear, consegue fazer-nos sentir o prazer da “caça ao nosso livro”. Com ele conversamos com os “bouquinistes” das margens do Sena e aprendemos a distinguir os diversos personagens que o povoaram. Sentimos o Sol quente no Verão e o vento frio e a chuva no Inverno...
Como nos deliciamos com as suas histórias e anedotas bibliofílicas!
E quanto aprendemos com os seus estudos mais eruditos

Deste Uzanne deixo-vos esta ilustração do seu conto «La Fin des Livres»


Loisirs Littéraires au XXème Siècle



Para os mais curiosos fica aqui o “link” para a leitura do mesmo:




Mas há um “outro” Uzanne, menos apreciado pelos bibliófilos, o qual escreveu diversos livros sobretudo sobre moda feminina.
É precisamente deste que vos quero apresentar aqui um livro, da minha biblioteca, que espelha bem o seu estilo, trata-se de «La Française du Siècle», livro onde descreve as modas, hábitos e usos da mulher francesa ao longo do século XIX.





UZANNE, Octave - La Française du siècle. Modes - Mœurs - Usages.
Quantin, Paris, 1886. Formato : 18,5 x 26,5 cm (gr. in-8. º). Brochado.
Capas, com dobras internas, ilustradas. Ilustrações com aguarelas de Albert LYNCH gravadas, a água-forte, coloridas por Eugène Gaujean. [E.O.]


Não sendo uma raridade bibliófila, nem tão pouco um livro muito procurado, trata-se de um livro com algum interesse para os estudiosos do século XIX, pois podemos apreciar a evolução da moda e o mundanismo cosmopolita, o qual se reflectiu nos diversos países europeus. Não esqueçamos que a França ditava a moda!







Frontispício





E, no caso de Portugal, da França vieram, para além da moda, muito dos ideais de estilos literários, assim como, muitos dos princípios ideológicos pelo qual se orientaram alguns dos nossos escritores e políticos. A Alemanha teve forte influencia em alguns ideais filosóficos, por exemplo Antero de Quental era um “germanófilo” assumido. Enquanto a Inglaterra interferia na nossa política e controlava a nossa economia... (mas a estes assuntos voltaremos um dia)

Ficam aqui as duas páginas finais onde, em jeito de resumo, o autor descreve o conteúdo da sua obra.







Página 272 de “La Française du Siècle”






Página 273 de “La Française du Siècle”



Para avaliarem da beleza das suas ilustrações, aqui ficam alguns exemplos:







O cuidado da impressão, a qualidade do papel e, sobretudo, as ilustrações dos livros de Uzanne tornam-nos, em minha opinião, um objecto de atenção para os coleccionadores de livros ilustrados do século XIX.




Para aqueles que não conheçam muito bem a sua obra, aqui fica o “link” para uma consulta mais detalhada deste mesmo livro:




Agradeço-vos a vossa paciência na leitura deste artigo um pouco longo, mas julgo que a estética das suas imagens o justifica.

Saudações bibliófilas.

(1)
Obras principais :

Caprices d'un bibliophile (1878)
Le Bric-à-brac de l'amour (1879)
Le Calendrier de Vénus (1880)
Les Surprises du cœur (1881)
L'Éventail (1882)
L'Ombrelle, le gant, le manchon (1883)
Son Altesse la femme (1885)
Nos amis les livres. Causeries sur la littérature curieuse et la librairie (1886)..
La Française du siècle : modes, mœurs, usages (1886)
La Reliure moderne artistique et fantaisiste (1887)
Le Miroir du Monde, notes et sensations de la vie pittoresque (1888)
Les Zigzags d'un curieux : causeries sur l'art des livres et la littérature d'art (1888) Le Paroissien du célibataire, observations physiologiques et morales sur l'état du célibat (1890)
L'Art et l'Idée. Revue contemporaine ou Dilettantisme littéraire et de la curiosité (2 volumes, 1892)
Physiologie des quais de Paris, du Pont Royal au Pont Sully (1892)
Bouquinistes et bouquineurs. Physiologie des quais de Paris du Pont royal au pont Sully (1893)
Les Ornements de la femme : l'éventail, l'ombrelle, le gant, le manchon(1892).Réédition de L'Éventail et de L'Ombrelle, le gant, le manchon
Vingt jours dans le Nouveau Monde (1893)
Contes pour les bibliophiles (1894). Avec Albert Robida. Contient : La Fin des livres.
Parisiennes de ce temps en leurs divers milieux, états et conditions : études pour servir à l'histoire des femmes, de la société, de la galanterie française, des mœurs contemporaines et de l'égoïsme masculin (1894)
La Femme à Paris : nos contemporaines, notes successives sur les Parisiennes de ce temps dans leurs divers milieux, états et conditions (1894)
Coiffures de style : la parure excentrique, époque Louis XVI (1895)
Contes pour les bibliophiles (1895)
Dictionnaire bibliophilosophique, typologique, iconophilesque, bibliopegique et bibliotechnique à l’usage des bibliognostes, des bibliomanes et des bibliophilistins (1896)
Féminies : huit chapitres inédits dévoués à la femme, à l'amour, à la beauté (1896). Com Gyp, Abel Hermant, Henri Lavedan et Marcel Schwob.
L'École des faunes, fantaisies muliéresques, contes de la vingtième année : Bric-à-brac de l'amour, Calendrier de Vénus, Surprises du cœur (1896)
La Bohème du cœur, souvenirs et sensations d'un célibataire (1896)
Les Évolutions du bouquin. La nouvelle bibliopolis, voyage d'un novateur au pays des Néo-icono-bibliomanes (1897)
L'Art dans la décoration extérieure des livres en France et à l'étranger : les couvertures illustrées, les cartonnages d'éditeurs, la reliure d'art (1898)
Monument esthématique du XIXe siècle : les modes de Paris, variations du goût et de l'esthétique de la femme, 1797-1897 (1898)
La Panacée du Capitaine Hauteroche (1899)
La Cagoule. Visions de notre heure : choses et gens qui passent, notations d'art, de littérature et de vie pittoresque (1899)
Sports et transports en France et à l'étranger : la locomotion à travers l'histoire et les mœurs (1900)
L'Art et les artifices de la beauté (1902)
Les Deux Canaletto, biographie critique (1907)
Le Spectacle contemporain ; sottisier des mœurs : quelques vanités et ridicules du jour, modes esthétiques, domestiques et sociales, façons de vivre, d'être et de paraître, bluffs scientifiques et médicaux, évolution des manières, de l'esprit et du goût (1911)
Le Célibat et l'amour : traité de vie passionnelle et de dilection féminine (1912)
Jean Lorrain : l'artiste, l'ami, souvenirs intimes, lettres inédites (1913)
Instantanés d'Angleterre : Londres et sa vie sociale, spectacles mondains, sportifs et militaires, l'art et les artistes, types populaires, la femme à Londres, mœurs britanniques, paysages et pèlerinages (1914)
Barbey d'Aurevilly (1927)
Les Parfums et les fards à travers les âges (1927)


Revistas :

Miscellanées bibliographiques (1878-1880). Avec Édouard Rouveyre.
Le Livre, revue du monde littéraire, archives des écrits de ce temps, bibliographie moderne (1882-1889)
Le Livre moderne, revue du monde littéraire et des bibliophiles contemporains (1890-1891)
L'Art et l'Idée (1892)

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Ana Augusta Vieira Plácido


Trago-vos hoje o retrato de Ana Plácido, que todos identificarão, de imediato, como a grande paixão de Camilo Castelo Branco, mas só alguns associarão o seu nome a uma escritora portuguesa.

Ana Augusta Vieira Plácido, mais conhecida por Ana Plácido, era filha de António José Plácido Braga e de Ana Augusta Vieira, nasceu a 28 de Setembro de 1832 no Porto e faleceu em 1895 em S. Miguel de Seide.
Com dezanove anos casou-se com o capitalista brasileiro, e rico negociante do Porto, Manuel Pinheiro Alves, de quarenta e três anos.


 
Raquel, neta de Ana Plácido

Em 1856 iniciou um relacionamento amoroso com Camilo Castelo Branco.
Abandonou o marido para viver com Camilo, A história destes amores tumultuosos abalou a sociedade puritana da época, dividindo a opinião pública entre os valores burgueses tacitamente aceites e os ideais e fantasias românticas que o episódio suscitava.
Após queixa do marido contra a mulher e o amante, Ana Plácido é presa, por adultério, em 6 de Junho de 1860 na Cadeia da Relação do Porto.
Camilo foge à justiça durante algum tempo, mas acaba por entregar-se em Outubro. Fica detido na mesma Cadeia da Relação, no Porto.

Depois de absolvidos do crime de adultério em 16 de Outubro de 1861, Camilo e Ana Plácido passam a viver juntos. Dessa relação resultaram três filhos (embora o primeiro seja oficialmente filho do primeiro marido de Ana): Manuel Plácido Alves, nascido em 1859, Jorge Camilo Castelo Branco, nascido a 28 de Junho de 1863, em Lisboa e Nuno Plácido Castelo Branco, nascido a 15 de Setembro de 1864 em São Miguel de Seide
Com a morte do primeiro marido em 1863, a herança passa para o primeiro filho do casal, sendo Ana a administradora dos bens. Passam a viver na propriedade do primeiro marido em São Miguel de Seide, que mais tarde ficaria conhecida como Casa de Camilo Castelo Branco.

Em 9 de Março de 1888 finalmente casam-se. Faleceu em 1895 com o título de Viscondessa de Correia Botelho.


Senhora de espírito e com alguns dotes literários, colaborou em numerosos jornais e revistas (Gazeta Literária, Revista Contemporânea, O Nacional, O Futuro, A Revolução de Setembro, etc.), com artigos e romances em folhetins, que assinava com os pseudónimos de Lopo de Sousa, Gastão Vital de Negreiros ou, simplesmente, A. A.
Foi abandonando, pouco a pouco, os seus sonhos de glória literária, transformando-se de “mulher fatal” em esposa e mãe dedicada. Colaborou diligentemente com Camilo, a quem ajudava, investigando manuscritos que lhe serviam de base a muitos romances ou fornecendo-lhe enredos da vida aldeã, colhidos da sua convivência com os camponeses.
“D.ª Ana Plácido continuou a ser (...) uma sombra de si própria, a visão fugitiva do passado diluída prosaicamente aos cuidados e canseiras de uma dona de casa” Alberto Pimentel (amigo do casal) in “Os Amores de Camilo”
O seu primeiro texto, na Revista Contemporânea, foi “Martírios obscuros”, enviado ainda da prisão.
A sua obra mais importante é “A Luz Coada por Ferros”, que reúne, além dos artigos publicados em periódicos, algumas novelas originais e divagações em prosa, a maior parte dos quais escrita na prisão, publicado em 1863.Publicou ainda: “Regina” em 1868 e “Herança de Lágrimas” em 1871
Traduziu de Amédée Achard e Benjamin Constant alguns romances, como, por exemplo: “Como as Mulheres se Perdem”, “Vergonha Que Mata”, “Aprender na Desgraça Alheia”.

Para complemento, veja-se:
Camilo Castelo Branco

Saudações bibliófilas.



 Ana Plácido



Carta de Ana Plácido, 188?, s.l.,
a Bernardina Amélia Castelo Branco de Carvalho, Porto
da Biblioteca Nacional de Portugal



Casa onde viveu Ana Plácido e Camilo Castelo Branco
(Actual Casa Museu de Camilo Castelo Branco)



Ana Plácido e Camilo Castelo Branco


Leilão da “Biblioteca do Dr. Laureano Barros” (Primeira Parte)

Quero aqui deixar uma breve notícia sobre o leilão da “Biblioteca do Dr. Laureano Barros” (Primeira Parte) efectuado pela Livraria Manuel Ferreira do Porto.

Para reflexão, sobre as tendências do mercado, refiro que as obras mais licitadas neste leilão foram:

Lote 570BERNARDES (Diogo).- O LYMA. // DE DIOGO BER- // NARDEZ: // EM O QVAL SE CONTEM AS // Suas Eglogas, & Cartas. // Deregido por elle ao Excellente Prin- // cipe, & Serenissimo Senhor // Dom Aluaro D’allem- // Castro, // Duque D’aueyro. &c.// [vinheta em madeira] // Foy impresso em Lisboa, em casa de Simão // Lopez Mercador de Liuros //Com Licença da Sancta Inquisição // Anno do Senhor 1596, In 8.ªgr. IV ff prels. inums e de 163 [aliás 163] num na frente. E.
Exemplar da valiosa e raríssima primeira edição deste notabilíssimo clássico da literatura portuguesa. Trata-se do exemplar anunciado por J. A. Telles da Sylva no seu precioso Catálogo de “Manuscritos & Livros Valiosos” de 1972, que sobre a obra e o seu autor traz uma desenvolvida notícia.
Exemplar reencadernado com aproveitamento do pergaminho antigo.
[5750€]


Lote 280ANDRADE (Eugénio de).- NARCISO. 1940. [Imprensa Boroeth, Lisboa] In 8.º de XVI págs inums. B.
Primeiro livrinho de poesia de Eugénio de Andrade, extremamente raro, não reeditado e muito valioso.
Com dedicatória de Eugénio de Andrade: “ Ao Laureano, com amizade que chega ao ponto de lhe oferecer um Eugénio – 53”. Exemplar acompanhado de uma bela carta de Eugénio de Andrade falando de vários assuntos e desta oferta: “Só a minha amizade acaba por explicar que você acabe por ter isso, e das minhas próprias mãos. Só agora tem razão (e nunca mais a terá!) para dizer a sua lindíssima frase: “Não seja tão generoso comigo!”
[4000€]


Lote 1979EH REAL! Panfleto semanal de critica e doutrinação política. Propriedade da Empresa do Eh Real! Director e Editor: João Camoezas. [Lisboa, 1915]. In 8.º gr. De 145-I págs. B.
[3100€]


Lote 1550CONTEMPORANEA. Grande Revista Mensal. Director José Pacheco – Editor Agostinho Fernandes. Oficinas: Imprensa Libânio da Silva. [1915-1926}13 números. In 4.º gr. E. e B.
[1900€]

(Aos preços atingidos incide a respectiva comissão e sobre esta a taxa de IVA).
Podem consultar a versão pdf dos Catálogos em:

Podem consultar a versão pdf dos Catálogos em:

Saudações bibliófilas

quinta-feira, 11 de junho de 2009

João de Deus: "Cryptinas"


Trago-vos hoje, uma das mais raras obras de João de Deus: “Cryptinas”.
Não é, de modo algum o título mais conhecido deste autor, mas é um género da sua poesia pouco conhecida.


João de Deus (in O Ocidente, 1878)

João de Deus de Nogueira Ramos, mais conhecido por João de Deus, nasceu em s. Bartolomeu de Messines, a 8 de Março de 1830 e faleceu em Lisboa a 11 de Janeiro de 1896. Foi o quarto de catorze irmãos, filho de Isabel Gertrudes Martins e de Pedro José dos Ramos, modestos proprietários dali naturais e residentes.
O pai, comerciante, era conhecido entre os seus patrícios por Pedro Malgovernado, não que merecesse o cognome pelo mau governo da sua casa, mas pela facilidade em satisfazer as vontades dos filhos, com os quais gastava mais do que podia.
Foi um eminente poeta lírico, considerado à época o primeiro do seu tempo. O seu nome ficará para sempre ligado à “Cartilha Maternal”, que é uma obra de natureza pedagógica, publicada em 1876. que se destinava a servir de base a um método de ensino da leitura às crianças.



A “Cartilha Maternal” é uma das obras mais vezes reimpressas em Portugal, tendo sido extensivamente usada nas escolas portuguesas por quase meio século, ainda mantendo alguns seguidores.
Gozou de extraordinária popularidade, foi quase um culto, sendo ainda em vida objecto das mais variadas homenagens e, aquando da sua morte, foi sepultado no Panteão Nacional.
Foi considerado o poeta do amor.



DEUS, João de - CRYPTINAS (folha avulsa gratuita). Sem indicação de lugar nem data (188?).
In-8º de 16 págs. Encadernação meia francesa, em pele, dourado com dizeres e florões decorativos na lombada.
Trata-se de um folheto de poesia erótica.





As folhas do meu exemplar encontram-se bastante amarelecidas pela acção do tempo. Não se conhecem capas de brochura para este título. De toda a bibliografia de João de Deus, este título é o mais raro. Conheceu nova edição em 1981 pela editora &etc na colecção "Contra-Margem".




Do opúsculo, transcrevo ainda, este soneto:

“Arripiar Carreira”

Eu buscava editores portugueses
Quando supunha em Portugal leitores;
Mas hoje apenas leio aos meus amores
Os pobres versos que componho às vezes.

Por uma coisa que escrevia em mezes
Levar annos à busca de editores
Só me rendia ávidos credores,
E não me fazem conta taes freguezes.

Mudei de officio agora, os mais que apprendam:
Já ninguém de juízo me lastima,
De gastar tempo em coisas que não rendam.

Agora, sim, que o publico se anima!
Trabalho em pentes, que elas me encomendam,
E elles fornecem-me a matéria prima

Esta soneto, faz-nos meditar, para além da sua licenciosadade, no aspecto de a escrita não ser um bom “oficio”, como aconteceu com vários escritores desde sempre!

Traz-me à lembrança Balzac, que durante a noite, bebia as suas chávenas de café turco, bem forte e espesso, para se manter acordado e poder escrever...mas, de manhã, tinha os credores à porta!

Como complemento para uma melhor compreensão desta obra, deixo aqui alguns apontamentos, gentilmente facultados pelo amigo M. C., sobre as “Cryptinas”, extraídos da reedição do folheto na colecção “Contra-Margem” (nº8) da editora &etc.:
“... João de Deus Ramos, que ainda hoje se impõe na surpresa de muitos metros e rimas capazes, só eles, de nos fazer esquecer tanta “estrela”, tanto “perfume”. As “aves do céu”, as “ondas do mar” ... Foi boémio, desenhador e tocador de viola em Coimbra (num curso de Direito “tão demorado como a Guerra de Tróia” compara o próprio), construtor sereno de uma posteridade encenada atrás das suas barbas de bondade, de um campo de flores, da Cartilha (maternal) onde soletraram, respeitosas, algumas gerações de portugueses.
Lisboa – que adversa foi ao poeta e a muito o obrigou, inclusive a trabalhos de costura – fez-lhe uma Homenagem antes de ele morrer (não esquecendo o regresso a casa numa carruagem puxada a entusiasmo, por estudantes) e já morto ofereceu-lhe, de prémio, o Panteão dos Jerónimos.
Quanto ao seu lírico “ascende do peito redondo de Maria à curva do céu infinito”, diz avisadamente Afonso Lopes Vieira; ou então é “uma agua mineral com a sua agulha no sabor” e, “no meio da braçada mais fresca” revela “sempre uma crola capitosa de aroma seminal”, diz Vitorino Nemésio quando lhe estudo o erotismo. Erotismo neste poeta, de facto, ainda que distraído da Cultura e de olhar posto na Flora (“a memória é-me infiel desde que às folhas dos livros preferi as das árvores”, palavras suas, como estas: “mais coração e menos dicionário”, algures nas Prosas). Erotismo à medida do salão, ou, guinando para a brejeirice, a correr o risco de uma que outra alusão “mais directa”, ou palavra “crua” (exactamente nestas “Criptinas” que Teófilo Braga coligiu) e sem se atrever tanto que engane o juízo de Régio: “inocente, nenhum poeta amoroso o foi mais do que João de Deus”.
Esta musa underground condenou-a Gomes Monteiro, assim: “Que diria se, ao enaltecermos João de Deus, puséssemos de parte o Campo de Flores para citar apenas, como documento comprovativo do valor do poeta, o exíguo e felizmente ignorado folheto das suas poesias criptinas que nada aquecem nem arrefecem à glória do grande poeta lírico do séc. XIX?” - Poeta mais pobre, convenhamos; mas felizmente ignorado (nesta ou noutra faceta) só em Gomes Monteiro que gostava, talvez, da Censura. Ester de Lemos, essa é mais justa para a contingência de tal inspiração: “(...) declaradamente jocoso, satírico, João de Deus tem muito menos graça, perde a alada pureza habitual; cai às vezes na vulgaridade, na grosseira inestética – mas não deixa de se manter mergulhado nas correntes ancestrais da graça portuguesa, fábula sentenciosa, piada grossa, anedota de sabor popular, realista”.
Por isto mesmo as “Criptinas” agora reeditadas, na sua globalidade, desde a primeira divulgação que tiveram nos anos de fim do século. Todos referem figuras ou factos com certa popularidade em Lisboa, nos tempos do poeta. Procurar-se-á identificá-los, sempre, exceptuando os dois ou três casos resistentes às fontes consultadas.“
Saudações bibliófilas.

Camilo Castelo Branco: um catálogo para consulta


Antes de vos falar, e mostrar, alguns títulos de Camilo Castelo Branco, gostaria de vos apresentar, a alguns, pois penso que a maioria já deverá conhecer, o Catálogo de uma “Descrição Bibliográfica Camiliana” de Miguel de Carvalho, do qual possuo o exemplar n.º 20, assinado e com dedicatória do autor.
Trata-se, em minha opinião, de uma das mais importantes descrições de livros, com comentários e anotações sobre os mesmos, publicado ultimamente, e, como tal, do maior interesse de consulta, para aqueles que se interessam pelo coleccionismo da vasta e multifacetada obra de Camilo.
Ficam algumas imagens, escolhidas ao acaso, do mesmo para demonstrar a sua riqueza descritiva.



CARVALHO, Miguel de - DESCRIÇÃO BIBLIOGRÁFICA CAMILIANA, de uma importante e valiosa colecção de bibliografia activa e passiva de Camillo Castello Branco

Coimbra, Miguel de Carvalho, 2003. In-4º de 141-(1) págs. Brochado. EXEMPLAR DA EDIÇÃO ESPECIAL limitada a 40 EXEMPLARES, numerados e rubricados pelo autor.

Impressão em papel de qualidade superior, com os cadernos por abrir e cosidos manualmente. Ricamente ilustrado com reproduções de frontispícios e encadernações. Apresenta também reproduções fieis de diversas páginas das 3 primeiras edições do livro Caleche para distinção editorial.



Camilo Castelo Branco (1861)
Do prefácio, da mesma, deixo aqui o comentário do seu autor:
"Esta colectânea de obras camilianas é das mais completas que se tem apresentado para venda em Livrarias ou Leiloeiras nas últimas décadas. Ordenado ao longo de 500 lotes em Bibliografia Activa e Bibliografia Passiva, nela figuram primeiras tiragens de excepcional raridade que têm sobre o valor do livro sensus lacto,



BRANCO, Camillo Castello – Agostinho de Ceuta.

Drama em 4 Partes. Typographia de Bragança, 1847. In 8.º de 80 págs.

o valor intrínseco bibliofílico em continuada valorização. Não faltam à chamada o Bico de Gaz na edição original de 1854, a tão cobiçada Infanta Capellista (1872), o Caleche, as Horas de Luta, a folha solta de setim de Laura Geordano, os raríssimos folhetos Hossana, Maria não me mates que sou tua mãi, Folhas cahidas apanhadas da lama e o Folhetim do Nacional em primeira reprodução (1861). Um exemplar único da especialíssima tiragem em papel japão do Cancioneiro Alegre, exemplar como que um quase livro-mito das importantes bibliografias camilianas em que todas elas o refereciam mas nunca o viram. Um folheto de poesia desconhecido pelos bibliógrafos e




BRANCO, Camillo Castello (atribuído a)– As Duas Actrizes.

Poema. Porto, Typographia de S. J. Pereira, Praça de Santa Thereza, n.º 28, 1849 In 8.º de 16 págs.

da autoria de Camilo As duas actrizes (1849). Entre os romances cujas primeiras edições são de excepcional raridade figuram o Amor de Perdição (1862), Carlota Angela (1858), o Anathema (1851) e as Scenas Contemporâneas (1855). Entre as muito raras obras as produções poéticas e teatrais de Camilo figuram o Juizo Final (1845), as Inspirações (1851), a Murraça (edição de Freitas Fortuna), os Pundonores



BRANCO, Camillo Castello – Revelações.

Porto, Typographia de J. S. Pereira, Largo do Corpo da Guarda, n.º 106, 1852. In-8.° de 64 págs

Desagravados (tiragem de 5 exemplares), as Revelações (1852), o Agostinho de Ceuta (1847), o Marquez de Torres Novas (1849), as Abençoadas Lágrimas (1861) etc… Um exemplar da edição original com 2 frontispícios de Um Volume que custa 400 reis (1858). Nas traduções de Camilo, algumas raras, enfileiram-se diversas obras primas desde a Formosa Lusitania, Fanny e as obras de Chateaubriand. Para arrematar em grande a descrição desta colecção camiliana, modéstia à parte, apresentamos o manuscrito original devidamente autenticado com a assinatura do romancista, do raríssimo folheto Nacional de segunda feira 26 de Fevereiro de 1850, Folhetim do Nacional. Utilizando as palavras de Matos Sequeira que enchem os prefácios das bibliografias de José dos Santos “ … tem o público à farta onde dessedentar-se de passadas e mal contidas securas (…) É uma maré cheia de Camilianismo"

Fica aqui o “link” para o pdf do respectivo Catálogo
http://www.livro-antigo.com/site/upload/Camilo.pdf


Desejo-vos uma boa consulta e leitura do mesmo. Para os menos informados ficarão surpreendidos com a sua vastíssima produção literária englobando todos os géneros, para os já conhecedores, poderão encontrar referência a uma obra que procuram avidamente...mas nunca a viram ainda.

Saudações bibliófilas

domingo, 7 de junho de 2009

Conversa bibliófila: uma reflexão em torno do blog



Após fazer uma análise estatística das visitas ao meu blog, posso constatar, com alguma tristeza, que a maioria dos visitantes não é nacional, ronda os 25%, mas sim estrangeiro (e sobretudo dos E.U.A), não faço referência a Espanha, dado os laços de amizade, que me ligam a alguns bibliófilos, que têm a gentileza de o visitarem, e deixarem comentários no mesmo.
Esta baixa estatística de visitas a sites da especialidade por parte da nossa geração bibliofílica cibernauta, deve-se em parte, ao desconhecimento da definição de bibliofilia e das suas implicações práticas no património cultural.
Em conversa com um amigo livreiro antiquário, ele apontou-me alguns pontos, com os quais estou de acordo, pelo que os passo a referir para que nós portugueses, possamos avaliar de uma forma mais interessada a riqueza da nossa bibliofilia tão cobiçada por outros, e, para os quais deixamos escapar muitas vezes obras bem preciosas!


1) O universo norte-americano é muito maior do que o português no que diz respeito aos livros (e claro a tudo o resto na vida...)

2) Os livros portugueses são um “produto” apetecível aos americanos pela sua raridade quando comparados com as suas tiragens.
Repare-se que as nossas edições comuns de livros antigos até o século XVIII eram da ordem das poucas centenas de exemplares. Em casos excepcionais eram de dezenas. “Os Lusíadas” na sua edição “princeps” teve uma tiragem que ultrapassou a centena, dos quais chegaram aos nossos dias apenas alguns exemplares. Quando entramos nos livros de tiragens reduzidas, os que chegaram aos nossos dias, contam-se pelos dedos de uma mão.
E, mesmo obras dos século XIX, como, por exemplo “Sonetos de Anthero” Editor Sténio. Coimbra, Imprensa Litteraria, 1861, In 8º de XII e 23 pags., da qual só se conhecem entre 4 a 6 exemplares!
A raridade faz a procura!



3) O facto de o meu blog não está inserido num motor de busca de livros antigos, o que dificulta o seu conhecimento no universo bibliófilo português.
Foi o que o meu amigo já fez, e de um dia (média de 20 visitantes diários) deu um salto de cerca de 4 vezes superior, a partir do momento em que foi indexado num motor de busca de livros antigos portugueses.

4) O bibliófilo português “da pesada” ou vinda da geração de 60/70 (automaticamente hoje com uma posição familiar e económica estável) desconhece as ferramentas (porque já não quer nem tem paciência para pegar nelas) que são exemplo a Internet.
Prefere aplicar o dinheiro do valor de um computador em adquirir livros nos livreiros ou em feiras de livro antigo.
(Os seus clientes mais assíduos, não sabem utilizar a Internet. Consultam-no para os ajudar a localizar um livro por esta via!).

5) Para os jovens bibliófilos portugueses cibernautas, que ainda não apresentam uma saúde económica e uma maturidade bibliofílica que lhes permita adquirir obras de maior valor, compram livros de menor valor pela Internet, por razões de segurança e grande disponibilidade da oferta.
Como tal, adquirem livros de consumo imediato e de veloz e definitivo arrumo na estante.
Perdendo-se aqui um pouco o habito de consultar regularmente, este ou aquele livro, e de o manusear, e, evidentemente o contacto e a conversa com o livreiro antiquário, que, quando bom profissional, é um dos motores, e talvez o mais importante, para atrair a nova geração para a paixão bibliofílica!...




6) A bibliofilia portuguesa em voga adquire hoje padrões que fogem aos clássicos. E pela sua experiência e constatação das flutuações do mercado, refere que se assiste a uma procura de livros em brochura de autores do século XX, menosprezando os tipos de papel empregues e a encadernação, para não falar de outras características que deliciam o bibliófilo clássico: o cheiro e a sonoridade do papel utilizado e, evidentemente, toda a beleza de uma encadernação de época!.

Obrigado pela vossa leitura e espero que me acompanhem na reflexão sobre estes pontos, cuja ultrapassagem se torna bastante importante, para uma maior divulgação daquilo que é a bibliofilia e o que é ser um bibliófilo, que, como já disse muitas vezes, é um pessoa como qualquer outra, apenas tem a paixão pelos livros antigos...mas está no meio de nós e connosco convive!


Saudações bibliófilas.

sábado, 6 de junho de 2009

Jean-Pierre Camus: teólogo e romancista


Vamos hoje falar de um tema religioso, que levantou muita polémica no século XVII, as ordens mendicantes, e de um dos seus principais protagonistas: Jean-Pierre Camus, bispo de Belley, e amigo de S. Francisco de Sales, que fez uma guerra obstinada às mesmas.
Apresento, como exemplo, uma das suas obras, que embora não sendo uma das suas obras principais, resume o seu pensamento sobre o tema em questão.


Jean-Pierre CAMUS, Bispo de Belley

Jean-Pierre Camus, nasceu a 3 novembro 1582 em Paris e morreu a 25 abril 1652, foi um teólogo e romancista francês.

Bispo de Belley, Camus mostrou uma grande hostilidade contra os frades mendicantes e atacou frequentemente a sua preguiça e a sua falta de bons costumes nos seus escritos e no púlpito. Não se vendo apoiado por Richelieu, entregou-lhe a sua demissão, depois de ter dirigido durante vinte anos a sua diocese e ter sido deputado pelo clero nos Estados Gerais de 1614 , retirou-se para a sua abadia de Aunay, perto de Caen, onde colocou o seu zelo piedoso ao serviço dos pobres.
Duma grande actividade intelectual, escreveu mais de duzentos volumes.


O seu grande amigo S. Francisco de Sales, queixando-se um dia da sua fraca memória, Camus respondeu-lhe: «Vous n’avez pas à vous plaindre de votre partage, puisque vous avez la très bonne part, qui est le jugement. Plut à Dieu que je pusse donner de la mémoire, qui m’afflige souvent de sa facilité, et que j’eusse un peu de votre jugement ; car de celui-ci je vous avoue que j’en suis fort court ! »A que S. Francisco de Sales retorquiu: « En vérité, je connais maintenant que vous y allez tout à la bonne foi. Je n’ai jamais trouvé qu’un homme avec vous qui m’ait dit n’avoir guère de jugement, car c’est une pièce de laquelle ceux qui en manquent davantage pensent en être les mieux fournis. »

As obras de Camus, do ponto de vista literário, são bastante numerosas e tratam-se de romances piedosos, que escreveu em contrapartida aos romances de amor então em voga, como : « Astrée », « Clélie ». etc. e que lhe valeram o alcunha de « Lucien de l’épiscopat»

Referimos : Dorothée (Paris, 1621) ; Alexis (Paris, 1622, 3 vol. in-8°) ; Spiridion (Paris, 1623, in-12) ; Alcime (Paris, 1625, in-12) ; Daphnide (1620, in-12) ; Hyacinthe (Paris, 1627, in-8°) ; Les Événements singuliers (Lyon, 1628, in-8°) ; Les Spectacles d’horreur (Paris, 1630, in-8°) ; Le Banquet d’Assuère (Paris, 1637, in-8°) ; Hermiante (Rouen, 1639, in-8°).

Dos seus escritos contra os frades destacamos: L'Antimoine bien préparé (1632, in-8°) ; Le Rabat-Joie du triomphe monacal ; La Désappropriation claustrale, etc.


 
Página de título do livro de Jean-Pierre Camus,
«Moiens de réunir les Protestants à l'Église romaine»,
editado em 1603 por Guillaume Vandive et Louis Coignart.

As suas melhores, e mais conhecidas obras teológicas, são : L'Avoisinement des protestants de l’Église romaine (Paris, 1640, in-8°); L’Esprit de saint François de Sales ; (Paris, 1641, 6 vol. in-8°)


CAMUS (Bispo de Belley, Jean-Pierre)
DE LA MENDICITE LEGITIME DES PAUVRES SECULIERS.
Par I. P. C. E. D. Belley. [E.O.]
A Douay, de l’imprimerie de la veuve Marc Vyon, 1634.
1 volume pequeno in-12 (13 x 8 cm) de 162-(6) páginas.
Encadernação inteira de pergaminho, lombada sem título (encadernação da época).
Carimbo do bispo na página de título.

Na Introdução da mesma ele afirma :

 

Mais adiante :
« Le nombre presque infiny des pauvres Lazres, c'est-à-dire des Miserables, &mendiants, se plaint de la dureté inexorable des Riches, qui ne se laissent toucher à la compassion. Et d’autre part entre les plus Riches ceux que ont plus de propension à la misericorde, s’estonnent tellement de l’innombrable quantité de miserables qui leur tombent tous les jours sur les bras, qu’ils en redoutent en accablement. Les mouches en Esté tourmentent plus par leur multitude & leur importunité que par leur violence, & la playe des mouscherons ne fut pas celle qui affligea le moins les Egyptiens »



 
E termina :
« Qui si en quelque lieu de ces Questions vous rencontres ces parolles, (de quelque condition qu’ils soient,) sçachez qu’elles ne sont pas de moi, mais de S. Thomas, de qui avançant la doctrine, ie n’ay pas deu retenir les termes. Mais ie voy bien qu’il est temps que ie satisface a vostre curiosité par les suivantes resolutions. »

O tema é desenvolvido, sob a forma de perguntas-questões, ao longo de: ”XXVIII Questões”.

Boa leitura e que o tema nos faça reflectir sobre o papel do livro na evolução do pensamento humano.

Saudações bibiófilas.