sábado, 28 de maio de 2016

Livraria Ecléctica Leilão – Surrealismo Português | Biblioteca Dr. René Souto



António Domingues, Fernando Azevedo, António Pedro, Vespeira, Moniz Pereira – Cadavre Exquis, 1948
[óleo sobre tela, 150 x 180 cm]

Este leilão é um verdadeiro “hino” ao surrealismo português!
(Quanto ao surrealismo voltarei em breve depois de falar sobre o neo-realismo que está em preparação…)

Mas a propósito do Surrealismo não será demais chamar a e atenção para esta obra inserida no Catalogue de Littérature du mois de Mai 2016 da Librairie Le Feu Follet:



26. BRETON André. Manifestes du surréalisme. Jean-Jacques Pauvert, Paris 1962, 13,5 x 21 cm, broché. [450€]



Nouvelle édition collective pour laquelle il n’a pas été tire de grands papiers.



Envoi autographe signé d’André Breton à madame Renoux.



Coins et mors frottés.


Livraria Ecléctica

A exposição decorrerá a partir de 1 de Junho dias úteis (nos dias de leilão até às 17h30) e o leilão terá lugar a 6, 7 e 8 de Junho pelas 19h00 na Sala de Leilões na Travessa André Valente, 26 | 1200-025 Lisboa | Portugal.

Nuno Gonçalves, organizador do catálogo deste leilão, afirma a propósito das obras nele incluídas:

"De entre as obras, destacam-se, pela sua extrema raridade, Kodak de Herberto Helder e João Vieira, o primeiro a aparecer em leilão no nosso mercado; as obras de António Pedro, em especial 15 pomes au Hasard ou Cidade; os muitos papéis surrealistas publicados por Mário Cesariny, alguns deles originais; de António Maria Lisboa Aviso a Tempo por Causa do Tempo, a verdadeira primeira edição recebe todo o destaque; ou de Luiz Pacheco como autor e editor com obras tão raras quanto Caca, Cuspo e Ramela, apenas para destacar uma."



Face à grande riqueza e diversidade das obras presentes vou apresentar apenas alguns dos exemplares mas apelativos, que não forçosamente os mais raros:



43. ARQUIPÉLAGO. Funchal: Editorial Eco do Funchal, 1952. 112 pp.; 190 mm. Extensa dedicatória de Rogério Correia, principal impulsionador da publicação. Brochado em caixa inteira de pele com uma belíssima decoração evocativa assinada Mário Silva. ¶ Publicação colectiva onde se apresenta pela primeira vez ao público o poeta Herberto Helder. Possui ainda colaboração de Aragão Correia, Carlos Cristovão, Florival de Passos, Jorge Freitas, Rebelo de Quental, Rogério Correia e Silvério Pereira. Muito raro. [100,00 — 150,00]



107. CADERNOS de Livre Expressão: publicação não periódica. Coordenadores Egídio Álvaro e José Carlos Gonzalez. — N. 1 (Jan 1972). Lisboa: s.n., 1972. 98 pp.: il.; 240 mm. Brochado em caixa inteira de pele decorada com embutidos reproduzindo a capa de brochura; exemplar com falta da serigrafia de Jorge Martins que foi publicada numa edição limitada. ¶ Único número publicado desta revista considerada por Melo e Castro como surrealista. Segundo José Carlos Gonzalez os Cadernos “foram uma iniciativa de emigrados e/ou exilados políticos em Paris, e noutros países europeus, com o objectivo de transmitir sobretudo a Portugal as preocupações e estado actividade de um grupo heteróclito de escritores [...]. Não teve linhas doutrinárias, limitando-se os responsáveis a contribuir com o que mais adequado julgaram na altura.” Raro. ¶ bib: Daniel Pires, v. 2, t. 1, p. 126. [ 40,00 — 60,00]



206. CORREIA (Natália) — RIO de Nuvens: Livro de Poesias de [...]; Prefácio de Campos de Figueiredo. Coimbra: Atlântida, 1947. 40 pp.; 230 mm. Encadernação inteira de pele com títulos a ouro na pasta anterior e lombada; dedicatória de autora a Júlio. ¶ Primeira edição. Natália Correia reconhecida escritora portuguesa
de enorme versatilidade em vários estilos literários. Iniciando a sua obra na literatura infantil e no romance, inaugura a sua incursão na poesia com o presente título. Podem divisar-se aqui os primeiros traços daquilo que se manifestaria a partir de 1957 como uma marca surrealista na sua obra da década de 50. Raro. [100,00 — 150,00]



284. & etc.... Magazine das Artes, das Letras e do Espectáculo publicado pelo Jornal do Fundão. — N.1 (26. Fev.1967) — n. 26 (11.Abr.1971). S.l.: Jornal do Fundão, 19671971. 26 n.ºs: il.; 355 mm. Brochado em caixa inteira de pele decorada a ouro e embutidos nas pastas e lombada. ¶ Colecção completa de uma das mais raras revistas publicadas nos finais dos anos 60. Revista de contracultura, foi este suplemento que mais tarde deu origem à revista independente. Segundo Vitor Silva Tavares, que fala brevemente deste primeiro projecto e é citado na entrada de Daniel Pires para a publicação com o mesmo nome a partir de 1973, o primeiro objectivo era claro, iludir a censura, publicando nos limites do possível e por vezes superando-os, procurando iludir os censores. Assim publicaram-se textos de Herberto Helder, Luís Paheco, Vitor Silva Tavares, Virgilio Martinho, José Blanc de Portugal, Alves Redol, Liberto Cruz, Manuel de Lima, Ana Hatherly, Luísa Neto Jorge, António Ramos Rosa, Pedro Oom, Alexandre O’Neill, Melo e Castro, entre muitos outros. [300,00 — 500,00]



307. FOLHAS de Poesia. Organização de António Salvado, Helder Macedo [n. 2] e Herberto Helder [n.3]. — N. 1(Jan. 57) - n. 4 (Jun 59). Lisboa: s.n., 1957-1959. 4 n.ºs.; 220 mm. Brochado em caixa com lombada e cantos em pele. ¶ COLECÇÂO COMPLETA, muito rara, desta importante revista de poesia. Segundo António Salvado, “não possuíam os jovens poetas das Folhas de Poesia uma doutrina a formular, uma filosofica poética a defender. O futuro mostrou bem claramente aliás que as afinidades se desenhavam débeis se, em conjunto, avaliarmos as obras que, ao longo das mencionadas décadas, cada um foi publicando. Surgidas numa época de incisivo cançaso da poesia portuguesa, as Folhas de Poesia, procurando a revelação e a insinuação de novas vozes no panorama poética nacional, mostravam-se fiéis ao preceito de um estilo total que buscava as suas raízes no ‘alheamento existencial’ de poetas do passado [...]” [citado de Daniel Pires]. Com colaboração de Herberto Helder, Afonso Duarte, Alfredo Margarido, Ângelo de Lima, Aniel Jannini, António Maria Lisboa, António Salvado, Branquinho da Fonseca, Carlos de Oliveira, David Mourão Ferreira, Edmundo de Bettencourt, Fernando Pessoa, Jorge de Sena, José Carlos Gonzalez, José Sebag, entre muitos outros. ¶ bib: Daniel Pires, v.2, t.1, p. 226; Laureano Barros, 2308 [200,00 — 300,00]



499. LEAL (Raul) — SODOMA DIVINISADA. Lisboa: “Olisipo” Editores, 1923. 26-[4] pp., ; 235 mm. Encadernação inteira de chagrin ricamente decorada a ouro nas pastas e lombada, assinada Vitor Santos em estojo decorado com papel pintado à mão. ¶ Primeira edição deste livro que deu origem a uma grande polémica com o jornal católico A Época. Raul Leal esteve quase desde o princípio envolvido com o movimento da Presença (primeira colaboração no n.º 4), colaborando também na Sudoeste. [120,00 — 150,00]



550. LISBOA (António Maria) — ERRO Próprio: Conferência Manifesto. Lisboa: ed. autor, 1952. 32 pp.; 215 mm. Brochado em caixa inteira de pele com títulos e ferros a ouro nas pastas e lombada; cremos que a este exemplar falta uma folha preliminar, mas consultada a ¶ bibliografia e dado o carácter sempre difícil deste tipo de publicações não nos foi possível assegurar quer uma, quer outra hipótese. ¶ PRIMEIRA Edição do manifesto tido como um dos principais do surrealismo português. Raro. ¶ bib: Laureano Barros, 3171 [80,00 — 100,00]



737. PACHECO (Luiz) — MEMORANDO Mirabolando. Setúbal: Contraponto, 1995. 288 pp.; 200 mm. Encadernação inteira de pele decorada com ferros e embutidos que reproduzem a capa de brochura. ¶ Edição limitada, numerada e assinada. [20,00 — 30,00]



755. PACHECO (Luiz)  — OS NAMORADOS: novela neoabjeccionista. Lisboa: Contraponto, s.d. [1966]. 21 ff.; 275 mm. Brochado em caixa com cantos e lombada em pele. ¶ PRIMEIRA edição, impressa só de um lado das folhas, em edição policopiada. Muito raro. ¶ bib: Luiz Pacheco, 56 [100,00 — 150,00]



796. PEDRO (António) — ONZE Poemas Líricos de Exaltação. s.l.: s.n., 1938. [22] pp.: il.; 150 mm. Brochado em caixa inteira de chagrin verde, decorada a ouro nas pastas e lombada. Exemplar n. 2 ¶ Raríssima primeira edição desta lindíssima obra de António Pedro numa tiragem de apenas 140 exemplares, numerados e assinados pelo autor. ¶ bib: Laureano Barros, 4412 [200,00 — 300,00]



866. REIMPRESSOS cinco textos colectivos de surrealistas em português de que são autores / António Maria Lisboa, Mário Cesariny, Henrique Risques Pereira, Mário Henrique Leiria, Pedro Oom, Cruzeiro Seixas. Lisboa: Mário Cesariny e Cruzeiro Seixas, 1971. [9] ff.: il.; 325 mm.  ¶ JUNTO COM: PASCOAES (Teixeira de)  — AFORISMOS. Lisboa: Mário Cesariny de Vasconcelos e Cruzeiro Seixas, 1972. [14] ff.: il.; 325 mm.  ¶ JUNTO COM: CONTRIBUIÇÃO ao Registo de Nascimento, existência e extinção do Grupo Surrealista de Lisboa.. Lisboa: Mário Cesariny e Cruzeiro Seixas, 1973. [28] pp., 2 ff.: il.; 325 mm. Primeiro título com dedicatória autógrafa de Cruzeiro Seixas; segundo título com autógrafo do mesmo autor; brochados em caixa inteira de pele com títulos a ouro na pasta anterior e lombada. ¶ COLECÇÃO COMPLETA destas três edições de Mário Cesariny e de Cruzeiro Seixas relacionadas com o Surrealismo Português. O primeiro é uma antologia de textos organizada por Cesariny e Cruzeiro Seixas incluindo «A Afixação Proibida»; «Surrealismo e Manipulação»; «Aviso a Tempo por Causa do Tempo»; «Para bem Esclarecer as Gentes...»; «Não Há Morte na Morte de André Breton» e «Para bem esclarecer as gentes que ainda estão à espera» (Horstexte colado à badana). Os “Aforismos” de Teixeira de Pascoaes, foram recolhidos por Mário Cesariny e inclui como extra texto a famosa licença de isqueiro do poeta. A “Contribuição...” é uma publicação comemorativa do 50.º aniversário do Grupo Surrealista de Lisboa. Tiragens limitadas de 250, 350 e 300, respectivamente. [200,00 — 300,00]



937. VASCONCELOS (Mário Cesariny de) — CORPO Visível. Lisboa: ed. autor, 1950. [16] pp.; 235 mm. Dedicatória do autor a João Villaret. Brochado em caixa inteira de pele decorada com títulos e ferros a ouro nas pastas e lombada. ¶ RARÍSSIMA Primeira edição da obra de estreia de Mário Cesariny subsidiada por Eugénio de Andrade que junto com “Discurso sobre a Reabilitação do Real Quotidiano” publicado dois anos depois, é a primeira obra possuidora de muitos traços próprios da estética surrealista (cf. ¶ biblos, I, col. 1110). [400,00 — 600,00]



1000. VASCONCELOS (Mário Cesariny de) — ALGUNS Mitos Maiores Alguns Mitos Menores à Circulação com uma carta do Editor. S.l. [Lisboa]: s.n. [Luíz Pacheco], [1958]. [5] ff.; 340 mm. Brochado em caixa inteira de pele com títulos a ouro e a carmim na pasta anterior e lombada. ¶ RARÍSSIMA PRIMEIRA EDIÇÃO. Editada mais ou menos clandestinamente por Luíz Pacheco os poemas que constituem “Alguns Mitos Maiores...” foram aqui publicados pela primeira vez, em tiragem muito restrita e em edição policopiada com uma capa em papel kraft. Na carta que faz publicar no final da obra o Editor justificase: “E edição pobrezinha, confesso. Não houve massa para mais. O texto sai anónimo — não apócrifo. É teu. É do melhor que fizeste.” Segundo declaração de Cesariny “trata-se de um ensaio de descoberta por cabala fonética, há anos iniciado e longe ainda do seu termo, sendo os ‘Mitos’ apenas um seu signo inicial” [cf. Modernistas]. Sobre a obra escreve Fátima Marinho: “Se em ‘Manual de Prestidigitação’ e em ‘Pena Capital’ Cesariny tenta lançar as bases da sua arte poética, em ‘Alguns Mitos Maiores [...]’, ele refere-se-lhe de uma forma indirecta mas indubitável. Já não se trata de alusões mais ou menos precisas a técnicas ou a influências literárias, mas de uma decomposição sistemática de pequenos mitos da sociedade burguesa, decomposição que constitui uma das bases da sua poética e um dos fins da sua obra”. Valioso. ¶ bib: Modenris Portugueses, v. 5, p. 21ss; Marinho, p. 386 [600,00 — 800,00]


Ex-Libris A Nova Ecléctica

Quem vai conseguir resistir a tantas propostas de grande raridade e qualidade, para além de muitas delas, terem excelentes encadernações ou estojos de protecção?

É uma colecção de facto notável, que lamentavelmente se vai dispersar, mas irá permitir que alguns de nós possam enriquecer as suas bibliotecas.

Aconselho vivamente uma leitura atenta do catálogo, pois a decisão de compra é muito difícil …e boa sorte nas vossas apostas. (Já o li e reli e ainda estou indeciso…)

Saudações bibliófilas.

sábado, 21 de maio de 2016

Livraria Antiquária do Calhariz – 27º Boletim Bibliográfico



Livraria Antiquária do Calhariz

Catarina Rodrigues da Livraria Antiquária do Calhariz | Largo do Calhariz, 14 | 1250-086 Lisboa editou o seu 27º Boletim Bibliográfico.


É sempre muito difícil descrever-se, em pormenor este tipo de boletins em que se apresenta apenas a ficha bibliográfica da obra em causa e algumas pequenas anotações sobre o seu estado.

No entanto, pela forma de estar no mercado e pela sua extrema simpatia, vou traçar um esboço do seu conteúdo, centrando-me na literatura e citando obviamente as obras que melhor conheço.

Vou socorrer-me, para ilustrar os descritivos, de imagens guardados na minha listagem pessoal de descritivos de várias obras que vou encontrando um pouco por toda a parte na Internet.



Sendo assim estas imagens devem ser interpretadas como meramente ilustrativas e não como imagens contratuais da livraria!

(Agradeço aos seus autores pela utilização das mesmas, e se não os cito, é por nem sempre ter registado a sua fonte)


Natália Correia


Vejam-se algumas obras de Natália Correia.



117. CORREIA (Natália) – ERROS MEUS, MÁ FORTUNA, AMOR ARDENTE. Peça em três actos. Edições Afrodite. Maia, 1981. In-4º peq. 232-XXII pp. B. [35 €]


1ª Edição, cuidada e impressa em papel de cor. Ilustrações de Ângelo de Sousa, Carlos Calvet, Cruzeiro Seixas, Francisco Relógio, Júlio Resende e Lima de Freitas, sendo 6 desdobráveis e 18 extra texto.



118. CORREIA (Natália) - O SURREALISMO NA POESIA PORTUGUESA. Organização, prefácio e notas de... Lisboa, Publicações Europa-América, 1973. In-8º 418-II pp. B. [22 €]

Edição original, integrada na Série "Antologias" da colecção «Estudos e Documentos». Capa ilustrada. Dedicatória de Natália Correia ao jornalista José de Freitas



119. CORREIA (Natália) - SOMOS TODOS HISPANOS. Lisboa, O Jornal, 1988. In-8º gr. 78 pp. B. [10 €]

Edição original na colecção «Ideias & Figuras». Assinatura da época. Capa ilustrada.


Também vamos encontrar o primeiro livro de Augusto Gil:



211. GIL (Augusto) – MUSA CERULA. Livraria Portugueza e Estrangeira. Lisboa, 1894. In-8º peq. 100-IV pp. B. [30 €]

Edição original da 1ª obra de Augusto Gil, poeta consagrado. Cuidada impressão em papel de linho.


Vitorino Nemésio

De Vitorino Nemésio temos:



312. NEMÉSIO (Vitorino) - POEMAS BRASILEIROS. 9 Romances da Bahia, Violão de Morro, Ode ao Rio. ABC do Rio de Janeiro / Livraria Bertrand. Lisboa, 1972. In-4º 113-II pp. B. [22 €]

Edição original, pouco vulgar.


Luandino Vieira, foto JC Venancio

E, por fim refira-se esta obra de José Luandino Vieira:



476. VIEIRA (José Luandino) – MACANDUMBA. Estórias. Edições 70. Lisboa, 1978. In-8º 194-X pp. B. [18 €]

Edição original composta por três histórias: Pedro Caliota, sapateiro-andante; Cangundos, verdianos, santomistas, nossa gente; como assim, nos musseques. Capa ilustrada por António P. Domingues.

Julgo ter deixado nesta breve “pincelada” os traços deste Boletim com o convite para a sua leitura.

Claro, que uma vista à Livraria será igualmente bastante interessante pois que encontrarão, para além de uma boa conversa, muitos outros títulos que aqui não figuram.


Saudações bibliófilas.

sábado, 14 de maio de 2016

Conversa bibliófila – Maio e a sagração da Primavera



Claro que não se vai falar de A Sagração da Primavera, de Igor Stravinsky, que subverteu a estética musical do século XX, dando origem ao Modernismo., até porque apesar de ser um apreciador de música e bailado não passo disso mesmo.

Refira-se apenas que esta célebre composição musical deste artista irreverente do século passado é hoje considerada um símbolo da musicalidade erudita, mas na época causou polémica ao encenar o ballet em dois actos criado pelo não menos rebelde Vaslav Nijinsky, coreógrafo também originário da Rússia.

E claro que também não vou falar dessa outra  obra-prima, esta na pintura, de Botticcelli igualmente chamada A Sagração da Primavera.


A Sagração da Primavera de Sandro Botticelli (1482)
Técnica   têmpera sobre madeira
Galeria Uffizi, Florença

Mas será que finalmente vamos ter Primavera e com ela os nossos jardins floridos com o chilrear dos pássaros e o esvoaçar das borboletas? (bucolismo sentimental assumido….gosto da vida no campo e que mal há nisso?)
Numa qualquer cidade pode apreciar-se à noite, com a devida nitidez, um céu bem estrelado com a Lua na sua plenitude e tentar descobrir as constelações que nos ensinaram nos bancos da escola?
Claro que não!
Sou lisboeta – “alfacinha” como se diz por cá – e tenho muito orgulho nisso e, para mais, sou um apaixonado pela minha cidade, mas para viver gosto muito mais do campo e dos espaços livres de betão – são gostos e estes não se discutem.
Mas vamos lá a falar daquilo que nos interessa.
Ao receber esta listagem Bauman Rare Books – First Editions to Celebrate Spring não consegui resistir a partilhar convosco as obras nela contidas, pela sua raridade mas especialmente pela elevada qualidade e beleza das suas ilustrações.



ANONYMOUS. Ten [i.e. Forty] – Lithographic Coloured Flowers with Botanical Descriptions. Drawn and Coloured by a Lady. Edinburgh: David Brown (R.H. Nimmo, lithographer), 1826-[1828]. Four parts in one. Folio, early 20th-century full dark blue straight-grain morocco, raised bands, elaborately gilt-decorated spine and covers, watered silk doublures, all edges gilt. Housed in custom cloth slipcase. [$9800].



First edition of this splendid celebration of flora, boasting 40 magnificent, hand-colored botanical plates—"a delightful work, very carefully drawn and colored… An early example of the successful use of lithography," a beautiful copy from the library at Hawthornden, the ancestral home of an original subscriber as well as celebrated Scots poet William Drummond. Beautifully bound by Bayntun-Riviere in full straight-grain morocco gilt.





This collection of brilliant, detailed botanical plates instructs British gardeners in the history, cultivation and chief virtues of 40 varieties of flora, from the Two-Colored Begonia ("This magnificent Plant… when grown to perfection, is a most ornamental one") to the Common Jasmine ("There is an elegance in the Jasmine, which added to its fragrance, renders it an object of universal admiration"). The splendid lithographs, accompanied by often enjoyably effusive commentary, also depict such flowers as the Splendid Sage, the Side-Saddle Flower, the Middlemists Red Carnillia ("the greatest ornament of the Green-House"), the Large-flowered Trumpet Flower ("magnificent, elegant and highly ornamental… worthy of a place in every Conservatory"), the Mexican Tiger Flower ("Nothing can be more superb"), the Three-Colored Crane's Bill and the American Crinum. This work, executed by an unknown artist but "delightful… [and] very carefully drawn and colored… [and] an early example of the successful use of lithography" (Dunthorne 19), appeared in four fascicules of ten plates each over a period of two years, sold by subscription. This copy bears the title page for the first issue, dated 1826, containing the first ten plates. "The work was evidently extended after the title page was printed. On the left-hand page, facing each plate is a description of the flower shown; both Latin and English names are given, also class and order, and a brief written description of country of origin" (Dunthorne 19). Four lists of plates printed on labels are tipped in at the front and the list of subscribers is bound at the rear. Copies have been found with paper watermarked "1828." Twyman, Early Lithography I, 131. Not in Nissen, Plesch or De Belder. Contemporary mark of ownership, "Hawthornden, 1829," being the ancestral home of famous Scots poet William Drummond, as well as that of original subscriber to this collection of prints, Mrs. F. Drummond. The 19th-century generation of Drummonds included James and Thomas, both botanists and plant collectors.

A fine copy, beautifully bound, with a notable provenance traced back to an original subscriber.



LOUDON, Jane Wells – Ladies' Flower-Garden of Ornamental Greenhouse Plants. London: William Smith, 1848. Quarto, contemporary three-quarter green morocco, raised bands, marbled endpapers, all edges gilt. [$6500].



First edition of Mrs. Loudon’s classic botanical work on greenhouse plants, with 42 beautiful full-page hand-colored lithographic plates.





Jane Wells Loudon was one of the 19th century’s major compilers of flower books. This work, together with her Ornamental Annuals (1840) and British Wild Flowers (1846) were “much prized for their attractive illustrations” (Magnificent Botanical Books, 237). Greenhouse Plants focuses on exotic plants indigenous to such locales as Japan, Australia, South Africa and South America, whose plants “are, generally speaking, more beautiful than any included in my previous works, as they are natives of countries where the sun has most power, and where consequently colors are the brightest” (Introduction). Loudon’s artistic groupings of like flowers— considered unusual for the times— were immediately popular among gardeners throughout England. In 1831 she had married John Claudius Loudon, himself a renowned landscape gardener and horticultural writer. The plates were probably produced by the lithographic firm of William Day & Son (cited in the 1849 edition of her Bulbous Plants), frequently referred to as “Day and Haghe,” because of the fine work that Belgian draughtsman and watercolorist Louis Haghe brought to the enterprise. Sitwell, 115. Nissen 1236.

Text and plates fine, hand-coloring vivid and beautiful. Minor wear to contemporary morocco. A beautiful copy.



WOODVILLE, William – Medical Botany, Containing Systematic and General Descriptions, with Plates of all the Medicinal Plants, Indigenous and Exotic. London: William Phillips, 1810. Four volumes. Small quarto, contemporary three-quarter green morocco rebacked, black morocco spine labels, marbled boards and endpapers.





Enlarged second edition of this illustrated comprehensive catalogue of all the plants in the Materia Medica of the Royal Colleges of Physicians of London and Edinburgh, with 274 beautiful vivid hand-colored engraved plates.





"Probably the finest of all color-plate medical botanies in English, containing systematic and general descriptions of all the plants in the Materia Medica of the Royal Colleges of Physicians of London and Edinburgh. It remained the standard work on the plants of the British pharmacopoeia until the 1880s" (Garrison-Morton). "Dr. Woodville had a strong taste for botany, and appropriated two acres of ground at King's Cross belonging to the hospital as a botanical garden, which he maintained at his own expense. In 1790 he published the first volume of his great work Medical Botany, in which he gave a description of all the medicinal plants mentioned in the catalogues of the Materia Medica published by the Royal Colleges of Physicians of London and Edinburgh. These descriptions were illustrated by plates and accompanied by an account of the medicinal effects of the plants" (DNB). Though Woodville was at first hostile to Jenner's discovery of the use of cowpox to inoculate against smallpox, he soon enthusiastically adopted and promoted Jenner's theory, and made many experiments with a view to elucidating it. First published 1790-94. The fourth volume contains plants not included in the Materia Medica. Plates numbered 1-274, without 112 but with 181*, as issued. Garrison-Morton 1838.1.

Some minor marginal foxing in Volume IV only; plates generally clean and fine, hand-coloring vivid. A near-fine copy in contemporary marbled boards.

Mas nem só de flores vive a bibliofilia e, cá por este recanto europeu, temos algumas notícias importantes.



A In-Libris (re)abriu a sua nova Livraria na Rua do Carvalhido, 194 | 4250-101 Porto | Portugal.







A notícia vem acompanhada de mais uma “Montra” de que damos notícia de alguns dos seus exemplares:



10267-L. CONDE DE SAMODÃES. — O MEZ DE MAIO. Consagrado á Santissima Virgem Mãe de Deus. Novo Manual para os Exercicios de Devoção N’Este Mez. Com a collaboração poetica de Antonio Moreira Bello. Com permissão e Approvação do EMmo. e Revmo. Snr. Cardeal Bispo do Porto. Editor — José Fructuoso Fonseca. Porto. (1888). 10,5x15,5 cm. 394 págs. E. [150,00 €]

“Ha muito tempo que de varias partes me pediam que escrevesse um novo Mez de Maria. A devoção pela Santissima Virgem tem-se alargado por modo assombroso e desde muitos annos em differentes povoações e no gremio das familias piedosas se presta culto especial á Virgem, celebrando o mez de maio, que lhe é especialmente destinado. (...) Para coadjuvar-me na mesma intenção concorreu o mavioso poeta catholico, o senhor Antonio Moreira Bello, que havia preparado um novo mez de Maria com reflexões em versos harmoniosos, que discorrem tão suavemente, como é formoso, poetico e commovente o assumpto a que miram. Eu lhe pedi para opulentar este manual com os seus formosos versos, que terminarão as meditações quotidianas ácerca das perfeições e glórias de Maria. D’este modo os exercicios que os devotos fizerem serão repassados d’esta suave poesia, em que se delicia o illustrado escriptor, que veio em meu auxilio n’esta tentativa. (...) Este livro conterá apenas as meditações e as orações essenciaes, para que se efervorem os corações e se acenda a devoção durante o mez de Maria, cujo fim principal é o melhoramento moral e religioso d’aquelles que fizeram estes exercicios piedosos.”

Peça de muito raro aparecimento no mercado. Em excelente estado de conservação.

Encadernação dos editores, decorada a ouro na pasta da frente e seixas. Cortes tintados de azul.



12838-L. TIRA-TEIMAS. Semanário. (Coimbra. Imprensa Literária. 1861-1862). 16,5x23 cm. 24 números 192 págs. E. [375,00 €]

“Santo Deus! misericordia!... misericordia... Que seculo, que epocha, e que terra!... Coimbra, nobre solar da critica, capitolio da litteratura, alcaçar da sciencia, que mal esperas innocente, innocentinho, prodigiosamente innocente Tira-Teimas, para o receberes tão friamente, e sem sobressoltos de jubilo? (...) O Tira-Teimas, Senhores, não tem aspirações a Tyranette de Tragedia, nem é negra a bandeira que o guia; longe d’isso a sua missão é toda paz. A sua profissão de fé, branca e leal, lavra-se em duas palavras — a batina . — Representante unico da Academia nas lides da imprensa, a nada mais mira o Tira-Teimas, que a ser o echo de tantas vocações esperançosas, que ahi definhariam á mingua de um periodico, onde estampar suas deliciosas producções.”



Publicação ou folha académica que tal como outras do género (Fósforo e Pirilampo) recolhiam os textos, em prosa ou verso, dos aspirantes à notariedade. Crê-se, que o Tira-Teimas teve como fundador António Ferreira Cabral Pais do Amaral  e que tem colaboração de Elmano Cunha, J. Simões Dias, C. Teixeira Coelho, João de Deus, Teófilo Braga, entre outros.

Encadernação com lombada em pele, decorada a ouro na lombada.



13367. FERREIRA (Manuel). — CATÁLOGO DE LIVROS RAROS E ESGOTADOS. Porto. 1967-2007. 14,5x21 cm. 85 Catálogos encadernados em 17 vols. [1.500,00 €]

Série completa dos magníficos catálogos que a Livraria Manuel Ferreira — Alfarrabista publica desde 1967, muitos dos quais esgotados, organizados com o rigor a que nos acostumou o grande bibliógrafo que foi Manuel Ferreira.
Alguns dos catálogos estão ilustrados com frontispícios ou gravuras, relativos a exemplares de relevo.

Peça fundamental bibliófilos e alfarrabistas pelo manancial de rigorosa informação que comporta.

Boas encadernações com lombada em pele. Carminados à cabeça, todos preservando as capas das brochuras.



E, para terminar, a Livraria Cólofon (livraria antiquária), do nosso bem conhecido Francisco Brito, apresentou as Novidades de Maio – lista especial com 40 título.

Destas destaco dois exemplares bastante curiosos, na minha opinião:



766– [MEDICINA. PESTE] – ADVERTENCIAS//DOS MEIOS//QUE OS PARTICULARES//PODEM USAR//PARA PRESERVAR-SE//DA PESTE (...)//COMPILADAS POR HUM SOCIO DA ACADEMIA R. DAS SCIENCIAS (...). Lisboa. Na Typografia da Academia. 1800. 37 págs. 14,5cm B. [45 euros]

 Curioso e bastante raro opúsculo sobre a peste contendo informações variadas mandas coligir por Alexandre António das Neves Portugal, Sócio da Academia Real das Ciências de Lisboa, Director da Real Biblioteca da Ajuda, etc. Com esta edição foi pretendido “coligir neste folheto as ideias dos authores melhores sobre matéria tão importante”, tendo sido consultadas diversas obras, nomeadamente a obra quinhentista “Recopilaçam das cousas que convem guardar-se no modo de preservar a Cidade de Lisboa”, da autoria de Tomás Álvares, bem como tida em conta a “experiencia (...) na Peste de Marselha em 1720, de Toulon em 1721 e de Moscou em 1771”.

Exemplar em excelente estado de conservação. Impresso em bom papel.



775 – Silva, F. A. – A ARISTOCRACIA OU A FIDALGUIA DE NASCIMENTO (...). Lisboa. Na Typographia e Estamparia de Hermenegildo Pires Marinho. 1853. 30 págs. 15.4cm. B. [18 euros (RESERVADO)]

Invulgar opúsculo onde é feita a “demonstração da inconveniência da transmissão de títulos de nobreza” e questionada a justiça social no Portugal da década de 50 nos seguintes termos: “Triste é sem dúvida a condição do homem pobre, e probo, em toda a parte do mundo, e muito especialmente no nosso desgraçado paiz (...) não se atende a que um homem, quando chega a aviltar-se a pedir socorro a um estranho, porque tem já esgotado todos os meios e porque quer trabalhar, e não acha nem quê nem aonde, é porque muitas vezes, victima da prepotência lhe tiraram o seu emprego para o dar a um afilhado, a um protegido ou para o vender”.

Exemplar em bom estado.



776 – CATHECISMO DO PORTUGUEZ LEGITIMISTA. Porto. Typographia Commercial. 1854. 16 págs. 16,5cm. B. [18 euros (RESERVADO)]

Oferecido aos “Amigos da Pátria” e editado seis anos após o fim da Guerra Civil da Patuleia, em que após a improvável união entre setembristas e legitimistas, estes últimos se uniram sobre as ordens do General Macdonell (sempre “muito rubro, naquela bebedeira crónica lhe assistiu na vida e na morte”, no dizer de Camilo), surge este curioso catecismo legitimista. A sua intenção, mais do que óbvia, era a de continuar a doutrinar, de um modo simples mas eficaz, as novas gerações no “pendão puro e sem mancha” do legitimismo, sujeito à divisa “Deos, Rei e Ley”.

 A obra foi editada pelo livreiro Clader, que já havia editado “O Verdadeiro Almanak Legitimista” e que vendia na sua livraria “Os legitimistas e o Norte”.

Exemplar em bom estado de conservação.

Muito invulgar.

Creio que chega de conversa, por hoje. 
Ficaram muitas sugestões para consulta e, como sempre, tive o cuidado de apresentar obras a preços para as tais elites, mas também para o modesto, mas muitas vezes interessado e estudioso, coleccionador.

Resta-nos esperar que o Sol chegue amanhã e com ele finalmente o sabor da Primavera!


Saudações bibliófilas.