sábado, 26 de janeiro de 2013

O orientalismo na bibliofilia



Carte dépliante gravée par Du Val retraçant le parcours
des missionnaires francais depuis paris jusqu’au Siam
(BOURGES, Jacques de. Relation du voyage de Monseigneur l’évêque de Beryte Vicaire…)

Desde sempre o Oriente longíquo constituiu um fascínio para a mentalidade europeia pela diversidade dos seus costumes, pela variedade da sua fauna e flora e igualmente pelas suas produções artísticas.

Não será de estranhar que muitos livros tenham sido escritos por várias personalidades, umas mais conhecidas do que outras, com produções que vão desde relatos com grande fundamento científico, pelo menos para o estado da ciência na época, até as mais fantasiosas descrições que também foram publicadas.

Como exemplo de algumas dessas produções poderei citar esta obra que surge no Catalogue 77: Livres Anciens – Janvier 2013 da Librairie Le Feu Fillet:



2. ARGENS Jean-Baptiste de Boyer, Marquis d'. Lettres chinoises, ou correspondance philosophique, historique & critique, entre un Chinois Voyageur & ses correspondants à la Chine, en Perse & au Japon. Nouvelle édition augmentée de nouvelles lettres & de quantité de remarques. Chez Pierre gausse, A La Haye 1751, 5 tomes en 5 Vol. in 12 (9,5x15,5 cm), (2) xlviij, 292pp. et (2) 383pp. et (2)0276pp. et (2) 320pp. et (2) 364pp., relié.



Nouvelle édition, possiblement la seconde, après l'originale parue de 1739 à 1740. Pages de titre en rouge et noir. Plein veau brun marbré d'époque. Dos lisse orné. Pièces de titres et de tomaisons en maroquin rouge. Coiffe du tome VI arrachée. Frottements. 6 coins émoussés. Page de garde après le texte du tome V déchirée avec manque. Bel exemplaire.



Les lettres chinoises, inaugurées par le même auteur par les lettres juives ont ce dessein typique des Lumières de comparer les moeurs et coutumes de plusieurs civilisations ; l'oeuvre reprend le schéma, toujours humoristique, du premier ouvrage de ce type : L'espion de la cour de Marana, puis les Lettres persanes de Montesquieu.



Un narrateur chinois écrivant à ses congénères des différents lieux de l'Europe (Moscou, Stockholm, Paris...). L'oeuvre est toujours censée nous interroger sur l'étrangeté de nos propres pensées et coutumes. D'Argens décrit également plusieurs voyages en orient, avec des informations intéressantes sur les moeurs et institutions des pays orientaux. A l'instar des Lettres cabalistiques ou juives du même auteur, les Lettres chinoises furent publiés en périodiques.

E, porque o tema nos irá interessar, refiro este exemplar bastante raro à venda na Librairie Camille Sourget, sobre o Reino do Sião (hoje Tailândia):



BOURGES, Jacques de. Relation du voyage de Monseigneur l’évêque de Beryte Vicaire apostolique du royaume de la Cochinchine, Par la Turquie, la Perse, les Indes, &c. jusqu’au Royaume de Siam & autres lieux. Par M. de Bourges, Prêtre, Missionnaire Apostolique. A Paris, chez Denys Bechet, 1666. In-8 de (1) f.bl., (6) ff., 1 carte dépliante, 245 pp., (3) pp., (1) f.bl. Relié en plein veau brun granité de l’époque, dos à nerfs orné, coupes décorées, tranches mouchetées. Reliure de l’époque. 179 x 113 mm. Rare edition originale du premier livre français jamais publié sur le Siam.

Cordier, Bibliotheca Sinica, 827-828 ; Brunet, I, 1179.

«Les premiers contacts entre la France de Louis XIV et le Siam de Phra Naraï remontent aux années 1660, lorsque des vicaires apostoliques et des ecclésiastiques des jeunes Missions étrangères de Paris s’installent à Ayutthaya, la capitale du royaume de Siam. L’un d’eux, Jacques de Bourges, a fait partie du premier groupe de missionnaires arrivés à Ayutthaya en 1662. Il est l’auteur du premier livre français jamais publié sur le Siam, la Relation du voyage de Monseigneur de Beryte […] jusqu’au royaume de Siam, publié à Paris en 1666. C’est une traditionnelle relation viatique qui propose le récit du voyage principalement terrestre au Siam (l’aventure), et une description systématique de ce royaume (l’inventaire). Challe, qui se vante d’ « avoir lu toutes les relations qui ont été imprimées, tant sur les terres que sur la religion…», ne connaissait pas ce livre, car il poursuit : «…mais je ne me souviens point d’en avoir jamais lu de Messieurs des Missions étrangères… » ».



«Monseigneur Lambert de La Motte et les missionnaires apostoliques Jacques de Bourges et François Deydier s’embarquèrent à Marseille en novembre 1660 pour Alexandrette, d’où ils commenceraient un voyage surtout terrestre qui les conduirait par Alep, Baghdâd, Bassora et Ispahan à Bandar Abbas sur le détroit d’Ormuz. Un vaisseau de la East India Company les déposerait à Surate d’où ils traverseraient le sous-continent indien jusqu’à Masulipatam sur la côte de Coromandel. Un dhow maure les conduirait de là à Mergui, port siamois. Un dernier voyage fluvial et terrestre, et voilà nos gens à Ayuthia, capitale du royaume de Siam, où ils débarquent en août 1662, après un voyage extrêmement éprouvant de vingt et un mois.

Ce périple mémorable nous est bien connu grâce à la Relation du voyage de Monseigneur l’évêque de Béryte, vicaire apostolique du royaume de la Cochinchine, par la Turquie, la Perse, les Indes, &c. jusqu’au royaume de Siam et autres lieux, par M. de Bourges (Denys Bechet, Paris, 1666 ; réédité en 1668 et 1683). Précédant de vingt ans la grande vogue siamoise des années 1685-1688, la Relation de Jacques de Bourges nous propose la première relation et description française du Siam, et ceci au début du règne de Somdet Phra Naraï qui recherchera l’alliance et l’amitié de Louis XIV avec qui il échangera des ambassades dans les années 1680».

(De branche en branche. Etudes sur le XVIIe et le XVIIIe siècles français. Dirk Van der Cruysse).

Le présent ouvrage est illustré d’une carte dépliante gravée par Du Val retraçant le parcours des missionnaires français depuis paris jusqu’au Siam.

Exemplaire grand de marges car conservé dans sa reliure de l’époque, de cet intéressant récit de voyage capital pour la connaissance du Siam au XVIIe siècle.

Aucun exemplaire de cette rare originale n’est répertorié dans ABPC depuis 1989.

Entretanto, a produção do livro nesses países era uma realidade.

Seja em forma de manuscrito – quase exclusiva nos países de influência muçulmana, pois o livro impresso só surgiria muito tardiamente por força das normas corânicas – seja impresso – estes mais raros e mais comuns na China e Japão.

Deste modo, alguns exemplares fizeram parte do espólio trazido para a Europa por muitos destes exploradores/aventureiros e foram enriquecer as bibliotecas dos seus financiadores e/ou soberanos.

Ultimamente têm aparecido no mercado bibliófilo alguns exemplares destas longíquas paragens retratando de modo expressivo as suas técnicas bem como os temas da sua produção literária.
(ainda que de leitura inacessível para muitos de nós a sua beleza não pode deixar de nos fascinar).

Tudo isto vem a propósito de dois exemplares inseridos no Catálogo140 –Janeiro de 2013 da Livraria Castro e Silva.



54. MANUSCRITO ILUMINADO - LIVRO RELIGIOSO TAILANDÊS. [Phra Malai]. In Fólio de 68x15x10 cm. Com 49 fólio duplos + 1 fólio simples, desdobráveis em forma de acordeão. Tailândia. Circa final do século XVIII, início do século XIX.



Texto a duas colunas, cada uma com cinco linhas, em frente e verso de cada fólio duplo. Pastas finais encadernação cartonada com acabamento da época dourado, com falhas. Ilustrado com 5 conjuntos de 2 desenhos com temática da religião budista. Boa qualidade da execução dos desenhos que apresentam as dimensões 29x20 cm; ocupando em altura um fólio duplo. Vestígios de humidade em cerca de 14 dos fólios iniciais e finais sem afectar a mancha gráfica. Manuscrito tailandês (Thai) em papel cartonado contendo 100 folhas (49 fólios duplos e 1 fólio simples) em ligação tipo concertina. Manuscrito com 5 linhas por página divididas em 2 colunas. Ilustrado com 10 ícones: em aguarela ou guache coloridos e dourados, representando várias cenas de monges, divindades e histórias fabulosas.



Contém sermões budistas, possivelmente no idioma Thai em escrita Khmer. Este manuscrito iluminado do início do século XIX conta a história do santo budista Phra Malai de uma forma acessível e permanece popular na Tailândia e no Sudeste da Asiático. O texto – denominado segundo este santo budista conhecido por suas viagens lendárias entre o inferno e o céu – figura em destaque nos tratados religiosos, obras de arte, e rituais, particularmente aqueles associados com a vida após a morte.



Os primeiros exemplos destes manuscritos tailandeses datam do final do século 18, sendo a história muito mais antiga, baseada num texto Pali do Sri Lanka e mencionado numa inscrição birmanêsa do século XIII. No século XIX tornou-se um texto muito popular cantando em casamentos e funerais. A lenda descreve as visitas Phra Malai ao céu e ao inferno e os poderes por ele alcançados através da meditação. Posteriormente ensinou aos leigos e aos monges os efeitos cármicos de acções humanas e o que aprendeu no seu encontro com o Buda Maitreya no céu. Foi através dessas narrativas que a mensagem do Buda; a esperança num melhor renascimento; e a possibilidade de atingir o Nirvana foi transmitida. Os manuscritos Phra Malai foram frequentemente produzidos e doados aos mosteiros budistas como promessas e objectos de aparato.

Fugindo um pouco ao tema, mas por se enquadrar dentro do espírito de lvros na sua forma primitiva, e por se citarem atrás os livros em árabe, veja-se este manuscrito árabe:



53. MANUSCRITO ÁRABE. MUHAMMAD. ALCORÃO. S/l. [Norte de África?] S/d. [circa final do século XVIII]. In 8º (de 16x11 cm) com cerca 600 pags.

Encadernação inteira de pele ao estilo islâmico (com dobra dianteira) e super-libris em ambas as pastas com elementos de decoração vegetalista. Texto manuscrito a negro e dourado (com pontuações a vermelho) dentro de tarja com filete dourado. Apresenta frontispício e folha de rosto iluminadas com cercaduras vegetalistas dentro de carcelas douradas. Manuscrito com bela e diminuta caligrafia arábica. Exemplar com pena de pavão em lembrete/marcador.



Este apontamento pretende apenas abrir o horizonte a todos aqueles que se interessam pelo universo do livro que, se procuramos avidamente os livros europeus e sobretudo aqueles saídos das tipograsfias/editoras dos nossos países de origem, nunca deveremos neglicenciar o que de belo e importante se produziu contemporaneamente noutras paragens bem distantes e diversas da nossa cultura ocidental.

Saudações bibliófilas.


segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Librairie Camille Sourget – 10ème Catalogue de Livres Rares


«Je me disais que, tant qu’il y aurait des livres, le bonheur m’était garanti.»
(Simone de Beauvoir, Mémoires d’une jeune fille rangée)


Librairie Camille Sourget

A Librairie Camille Sourget  instalou-se, no Outono de 2008, mesmo no centro da zona bibliófila de Paris no 93 rue de Seine.

Pode ler-se na sua página web : «Notre librairie de livres anciens et de livres rares est située dans le 6e arrondissement de Paris, dans le quartier de Saint-Germain-des-Prés.

La Librairie Camille Sourget est spécialisée dans les livres de voyage, les éditions originales littéraires, les livres de science, les manuscrits et les beaux livres illustrés ayant marqué leur époque. Son domaine de recherche s’étend du XVe au début du XXe siècle.»


Un univers de livres anciens…
Librairie Camille Sourget

Recentemente apresentou o seu 10ème catalogue de livres rares que como nos explica Camille Sourget:

« Catalogue de livres rares et précieux du XVe au XXe siècle, de Saint-Augustin à Sartre.
Prenez le temps de découvrir notre 10ème catalogue de livres rares et précieux. Cette publication réunit des classiques de la bibliophilie tels que Du Bellay, Virgile, Rabelais, Montesquieu; des textes ayant marqué l’histoire et les hommes: le Capital de Marx, les Trois Mousquetaires de Dumas ou encore El Tesoro de la Lengua Guarani de Ruiz de Montoya.
D’autres ouvrages plus inattendus et non moins intéressants vous raviront: les Roses de Redouté, la description de la ville d’Edo par Saito Gesshin, Las Obros de Goudelin, le traité de Klette sur l’art de trancher la viande… »



Como poderão constatar, este catálogo apresenta um conjunto de livros que se devem classificar como de «alta bibliofilia» e, como tais, apenas acessíveis a poucos; no entanto, não quero deixar de vos propor a sua leitura atenta, pois que seguramente muitos de nós irão “ver” livros de que só ouviram falar e conhecer um pouco melhor da sua história com os descritivos que são de inquestionável qualidade.

Claro que a Livraria merece igualmente uma visita – mais que não seja virtual!

Vou salientar só alguns exemplares, como ilustrativos da sua grande qualidade e raridade, pois que a escolha é de elevado indice de dificuldade e muito dependente das temáticas de coleccionismo de cada um dos leitores bibibliófilos.



1. Saint-Augustin. De Civitate Dei. Cum Commento - De Trinitate. Bâle, Johann Amerbach, 13 février 1489. Soit deux ouvrages en 1 volume in-folio de (268) ff. et (86) ff. Peau de truie estampée à froid sur ais de bois, dos à nerfs, fermoirs. Reliure du XVIe siècle. 293 x 209 mm.

Précieuse réunion de deux traités majeurs de Saint-Augustin.
Première et précieuse édition de La Cité de Dieu de Saint-Augustin donnée à Bâle par Johann Amerbach, vraisemblablement éditée par Sébastien Brandt, avec les commentaires des Dominicains d’Oxford, Thomas Waleys (1314-1350) et Nicholas Trevet (1297-1334).



Cette édition est la première commentée, elle est aussi la première à présenter ce fameux grand bois (197 x 142 mm) montrant Saint-Augustin rédigeant son livre, alors que s’opposent à ses pieds la Cité de Dieu à la Cité de Satan, première oeuvre importante gravée sur bois par le maître de « Haintz Narr ».

Réf. : GW 2887 ; HC 2064 ; Goff A-1243 ; Pellechet 1559 ; BSB-Ink A-861 ; Polain (B) 365 ; IGI 978. IBE 98 ;
IBP 633 ; Voullième (B) 447 ; Ohly-Sack 304 ; Hubay, (Eichstatt), 105 ; Madsen 401 ; Schreiber 3393 ;
Schramm XXI, S. 26 ; BMC III, 751 ; Walsh 1171 ; Wilhelmi, Brant-Bibliographie, 39.



10. Ariosto, Ludovico. Orlando Furioso di M. Ludovico Ariosto Nuovamente adornato di Figure di Rame da Girolamo Porro Padovano Et di Altre Cose che saranno notate nella seguente facciata. Venetia, 1584, Appreßo Francesco de Franceschi Senese e’compagni. [Suivi de] : - Osservationi del sig. Alberto Lavezvola sopra il Furioso di M. Lodovico Ariosto. Grand in-4, plein maroquin brun, plats entièrement ornés d’un décor argenté, dos à nerfs, entre-nerfs ornés d’une roue décorée, de cupidon et de pièces d’armes, tranches rouges et ciselées. Reliure vénitienne de l’époque. Dimensions de la reliure : 282 x 190 mm.

La plus célèbre et la plus recherchée des éditions du XVI e siècle.
«The most elaborate of the sixteenth century editions» (Harvard, Italian books, n° 30).
«Cette édition est recherchée à cause des notes qui l’accompagnent et des gravures dont elle est ornée» mentionne Brunet.

Elle est ornée d’un portrait de l’Arioste encadré des figures de Mars et de Venus et de 56 gravures à pleine page de Girolamo Porro. L’artiste a signé la gravure du chant 9.



«Toutefois il est difficile de la trouver complète, c’est-à-dire avec la planche du 34è chant, laquelle, n’ayant point été terminée en même temps que les autres, fut originairement remplacée par celle du 33è chant qui, pour lors, se trouva employée deux fois : en sorte que ce ne fut que dans la suite, et à quelques exemplaires seulement, que l’on colla la véritable planche du 34è chant sur celle qui en tenait mal à propos la place. Quoiqu’à bien dire cette planche originale n’ait en elle-même que peu de mérite, les exemplaires où elle se trouve étant fort rares, ont une valeur considérable ; vend. 220 fr. bel exemplaire (mar. viol. Dent.) Camus de Limare ; 150 f. La Vallière ; 76 flor. Crevenna, chez qui un autre exemplaire avec la 34è pl. parfaitement copiée à la plume, fut vendu le même prix ; autres exempl. 160 fr. Sébastiani ; 100 fr. Renouard, et rel. en basane, 60 fr. Riva. Il y a des exemplaires dans lesquels on a mis une copie de cette planche du 34è chant, gravée à l’imitation d’un dessin à la plume, et si différente, par conséquent, de l’original, qu’il suffit de la comparer avec les autres gravures du même livre, pour n’y être point trompé. Vend. tel 3 liv. 3 sh. Pinelli. Dans d’autres exemplaires se voit l’estampe du 34è chant, tirée d’une traduction anglaise de l’Arioste, dont les gravures ont été copiées sur celles de Porro» Brunet, I, 436-437.



15. Ruiz de Montoya, Antonio. Tesoro de la Lengua Guarani. Madrid, por Juan Sanchez, 1639. In-4 de (8) ff., 407 ff., (1) f. de privilège. Maroquin rouge, deux fois triple filet doré encadrant les plats, fleurons aux angles, dos à nerfs richement orné, double filet doré sur les coupes, doublures de maroquin bleu richement décorées, gardes de moire rouge, tranches dorées. Reliure signée Emile Rousselle. 181 x 133 mm.

Édition originale de «l’une des plus importantes publications de linguistique américaine» (Leclerc, 2869).
Sabin, 74027 ; Palau, 282096 ; Brunet, IV, p. 1458 ; Medina, II, 1002 ; Ternaux, n°588.
«Livre devenu fort rare.» (Brunet)

Le présent ouvrage est l’un des trois textes que le Père de Montoya écrivit sur le Guarani, ou Tupi, la langue parlée par les Indiens du Brésil et du Paraguay.



18. Kircher, Athanase. Obeliscus Pamphilius, hoc est, interpretatio Nova & hucusque intentata Obelisci hieroglyphici... Rome, Ludovici Grignani, 1650. In-folio de (32) ff., 560 pp., (15) ff., 1 grande planche dépliante anciennement restaurée sans manque, 1 portrait, 1 frontispice et 7 planches à pleine page. Relié en maroquin brun de l’époque sur ais de bois, riche décor sur les plats composé d’un double-encadrement de dentelles dorées avec fleuron central, dos à nerfs orné de fleurons dorés en forme de coeurs, fermoirs ciselés, tranches dorées. Coiffe inférieure usée. Reliure romaine de l’époque. 320 x 215 mm.

Édition originale du premier exposé complet par Kircher de sa théorie de transcription des hiéroglyphes égyptiens.

Avery Architectural Library, p.529 ; Caillet, Manuel bibliographique des sciences psychiques, n°5787;
Brunet, III, 668; Graesse, Trésor de livres rares, IV, p. 22; De Backer-Sommervogel, IV, 1052.

Dans le présent ouvrage, le Père Kircher déchiffre et explique les hiéroglyphes qui couvrent l’obélisque de la fontaine de la place Navone à Rome, qui fut restauré par Le Bernin sous la direction de l’auteur et sur ordre du pape Innocent X. Selon De Backer-Sommervogel, Kircher «alla jusqu’à mettre des hiéroglyphes de son invention aux endroits où les anciennes figures étaient absolument effacées et détruites».



27. Tachard, Guy. Second Voyage du Père Tachard et des Jésuites envoyez par le Roy au Royaume de Siam. Contenant diverses remarques d’Histoire, de Physique, de Géographie, et d’Astronomie. Paris, Daniel Horthemels, 1689. Par Ordre exprès de Sa Majesté. In-4 de (2) ff.bl., (4) ff., 416 pp., (12), (2) ff.bl. et 6 planches dépliantes. Erreurs de pagination sans manque.

Maroquin rouge, triple filet doré encadrant les plats avec fleurons d’angles, dos à nerfs richement orné, coupes décorées, roulette intérieure dorée, tranches dorées sur marbrures. Reliure de l’époque. 244 x 180 mm.

Édition originale de ce célèbre ouvrage décrivant la Thaïlande sous le règne du roi Louis XIV, dédicacé au roi.
(Pritzel, 472 ; Brunet, V, 632).

Louis XIV diligenta lui-même cette mission au Siam, à la suite de la visite d’ambassadeurs siamois soucieux d’établir des liens commerciaux et politiques avec la France.



39. Desrais, Claude-Louis. Les Heures de Paphos. Contes moraux par un sacrificateur de Venus. Paris, 1787. Grand in-8 de (37) ff. dont 1 frontispice et 12 planches gravées. Relié en plein maroquin bleu nuit à grain long, roulette à froid et filet doré encadrant les plats, dos à nerfs orné de filets et fleurons dorés, roulette intérieure dorée, coupes décorées, tranches dorées. Reliure réalisée vers 1815. 205 x 134 mm.

Édition originale de ce rare érotique illustré du XVIII e siècle.

Cohen 486-487; Nordmann, I, 178; Pia, L’Enfer, 611.



L’illustration se compose d’ «un frontispice gravé, de 4 culs-de-lampe et de 12 jolies figures érotiques, non signées, dans la manière de Desrais». (Cohen)



48. Dumas, Alexandre. Les Trois Mousquetaires. Paris, Baudry, 1844. 8 volumes in-8. Collationné complet. Quelques rousseurs. Demi-veau aubergine, dos à nerfs ornés légèrement passés, tranches mouchetées. Reliure de l’époque. 211 x 130 mm.

Édition originale « d’un chef-d’œuvre inégalé. L’un des livres les plus lus dans le monde entier ». (Dictionnaire des OEuvres)

Vicaire, III, 359-361 ; Carteret, I, 235.

«Rare et très recherché. Rarissime en belle condition d’époque, atteint de très fortes cotes.» (Clouzot, p.98).

«Les héros de ces aventures sont quatre gentilshommes, amis inséparables, mousquetaires de Louis XIII : Athos, en réalité comte de la Fère, a été ruiné par un tragique mariage avec une aventurière ; il est devenu mousquetaire par désespoir, il a l’âme romantique, noble et hautaine ; Porthos, dont le véritable nom est du Vallon, est un géant débonnaire et vaniteux ; Aramis, ou le chevalier d’Herblay, arraché à sa vocation religieuse par une aventure galante, oscille continûment entre un vague mysticisme, une habileté dans les intrigues toute jésuitique, des amours secrètes et fort aristocratiques, et une bravoure pleine de fougue. Aux trois premiers compagnons vient se joindre d’Artagnan, un Gascon courageux et rusé, qui arrive de sa province natale, nanti des plus folles ambitions et d’un maigre pécule ; il deviendra le héros de l’histoire».

Muito ficou por mostrar, mas julgo que poucos resistirão a dar pelo menos uma “espreitadela” por este belíssimo catálogo.

Boa leitura.

Saudações bibliófilas.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Umberto Eco – escritor e bibliófilo.


“Rem tene, verba sequentur” (1)


Umberto Eco

Umberto Eco  (Alexandria, 5 de Janeiro de 1932) é um escritor, filósofo, semiólogo, linguista e bibliófilo italiano de fama internacional. Titular da cadeira de Semiótica (aposentado) e director da Escola Superior de Ciências Humanas na Universidade de Bolonha.

Ensinou temporariamente em Yale, na Universidade Columbia, em Harvard, Collège de France e Universidade de Toronto. Colaborador em diversos periódicos académicos, e destaque-se como colunista da revista semanal italiana L'Espresso, na qual escreve sobre uma infinidade de temas.


Umberto Eco
(caricatura)

Eco é ainda, e justamente conhecido, como escritor de romances, destacando-se na sua bibliografia:

O Nome da Rosa (Il nome della rosa) 1980. (Prémio Médicis, livro estrangeiro na França);
O Pendulo de Foucault (Il pendolo di Foucault) 1988;
A Ilha do Dia Anterior (L'isola del giorno prima) 1994;
Baudolino (Baudolino) 2000;
A Misteriosa Chama da Rainha Loana (La misteriosa fiamma della regina Loana) 2004;
O Cemitério de Praga (Il cimitero di Praga) 2011.


ECCO, Umberto - Il Nome della Rosa. Milano: Bompiani, 1980.
(edição original italiana)

Se é verdade que um leitor não será forçosamente um bibliofilo (quando muito será um bibliómano…) não consigo compreender um bibliófio que não seja um leitor.

Qualquer leitor lerá, por exemplo, La mare au diable de George Sand numa quaquer versão – nem que seja numa vulgar edição em livro de bolso, mas um bibliófilo tentará perseguir até obter a 1ª edição da mesma!

Claro que alguns de nós lerão as "suas primeiras edições" em versões mais recentes e só manusearão e lerão apenas alguns excertos  da verdadeira edição original, mas este previlégio não é para todos...


Aqui fica um óptimo exemplar desta obra de George de Sand  incluso no Catalogue 76: Janvier 2013, Livres Modernes de La Librairie le Feu Follet.



185. SAND George. La mare au diable. Desessart, Paris 1846, 13x21cm, 2 volumes reliés sous étui.
Edition originale rare et très recherchée.



Reliures en demi veau caramel, dos lisses ornés d'arabesques dorées, plats de papier marbré, gardes et contreplats de papier à la cuve, têtes dorées; étui bordé de box chocolat, élégante reliure pastiche romantique.



Notre exemplaire est enrichi, en frontispice du premier volume, du célèbre portrait de l'auteur par Auguste Charpentier gravé par Riffaut; et dans le second, du portrait non signé inspiré du "Portrait de George Sand en costume d'homme" par Delacroix.



Exemplaire exempt de rousseur (ce qui est très rare selon Clouzot qui mentionne qu'ils sont souvent piqués).
Bel exemplaire établi dans une agréable reliure romantique pastiche.


Umberto Eco

Vêm estas conjecturas a propósito do livro de Umberto Eco que li recentemente:



ECO, Umberto – Confissões de um jovem escritor/Conferências Richard Ellmann sobre Literatrura Moderna (Confessions of a young writer). Lisboa: Livros Horizonte, 2012. Colecção Ensaios literários. Tradução de Rita Figueiredo. Capa de Manuel Pessoa. 1ª edição portuguesa. 158(I) pp. 235x155 mm. Brochura de capa mole com badanas.

Da leitura da sua sinopse fica-nos uma ideia clara do seu conteúdo: “O brilhante escritor italiano leva-nos numa viagem aos bastidores do seu método criativo e recorda como arquitetou os seus mundos imaginários: partindo de imagens específicas, fez sucessivas escolhas ao nível da época, da localização e da caracterização do narrador – o resultado foram histórias nesquecíveis para todos os leitores.

De forma alternadamente divertida e séria, mas brilhante como sempre, Umberto Eco explora a fronteira entre a ficção e a não-ficção, afirmando que a primeira deve assentar num intricado enredo que requer ao escritor a construção, através da observação e da pesquisa, de todo um universo até ao mais ínfimo pormenor. Por fim, revela ao leitor um precioso trunfo que permite vislumbrar o infinito e alcançar o impossível.

Umberto Eco tinha quase 50 anos de idade quando a sua primeira obra de ficção, O Nome da Rosa, o catapultou para a fama mundial e se tornou um clássico moderno. Nestas “confissões”, o agora octogenário faz uma retrospetiva da sua carreira, cruzando o seu percurso como teórico da linguagem com a veia romancista que descobriu mais tarde na vida.

Este “jovem escritor” é, afinal, um grande mestre e aqui partilha a sua sabedoria sobre a arte da imaginação e o poder das palavras.”

Podemos através da sua leitura compreender um pouco melhor o processo criativo de uma obra literária e bem assim das diversas interpretações de que a mesma pode ser objecto por parte dos seus leitores ou dos seus críticos literários.

Em minha opinião trata-se de uma obra a figurar nas nossas bibliotecas.

Da sua edição original aqui fica o seu registo:



ECO, Umberto – Confessions of a Young Novelist. Series: Richard Ellmann Lectures in Modern Literature. Harvard University Press, 2011. 240 pages. Jacketed hardcover.

Destaco das minhas “notas de leitura” (sem me querer substituir aos criticos literários, pois que para isso não tenho conhecimentos), alguns apontamentos que me pareceram de sobremaneira importantes e pertinentes.

Numa primeira nota, pode ler-se, na página 10, no sobre o tema “O que é a Escrita Criativa?”: “Em francês é possível traçar uma distinção entre um écrivain – uma pessoa que produz textos “criativos”, como um romancista ou um poeta – e um écrivant: alguém que regista factos, como um escriturário de um banco ou um polícia a preparar um relatório de uma investigação criminal.”

Mais adiante afirma, na página 14, já sobre outro tema – “Como Escrever”: “Enquanto estava a escrever o meu primeiro romance, aprendi algumas coisas. Primeiro, que “inspiração” é uma palavra má que autores sem talento usam para se fazerem parecer artisticamente respeitáveis. Segundo diz o velho adágio, o génio é dez por cento de inspiração e noventa por cento de transpiração.”

Mas voltando ao tema que me propus tratar, e a leitura do livro leva-nos muitas vezes a fazer incursões por caminhos nunca antes ensaiados…, acabei por descobrir que Umbero Eco é, ele também, um bibliófilo.


Um bibliófilo
©Fotos de Libri antichi online - Studio bibliografico Apuleio/Facebook
[Norman Rockwell, Bookworm, 1926]

A este propósito leia-se o que escreveu nas páginas 51-52 do Capítulo 2. "Autor, Texto e Intérpretes": “Nos anos seguintes [após 1979], talvez porque depois de publicar O Nome da Rosa comecei a ter mais contacto com bibliotecários e colecionadores de livros (e certamente por ter mais dinheiro para gastar), tornei-me um colecionador de livros raros. Ao longo da minha vida, tinha comprado alguns livros antigos, e tinha-o feito por puro acaso e apenas quando eram muito baratos. Só nos últimos vinte e cinco anos é que me tornei um colecionador a sério – e “a sério” significa que temos de consultar catálogos especializados e temos de escrever, para cada livro, uma ficha técnica, incluindo o cotejo, informações históricas sobre as edições anteriores ou subsequentes e uma descrição exata do estado do nosso exemplar. Esta última parte obriga-nos a usar um jargão técnico, a especificar se o livro está amarelecido ou acastanhadio, se tem manchas de humidade ou de sujidade, se o miolo apresenta pontos de acidez, se há margens aparadas, rasuras, restauros, cansaço, etc.”


A biblioteca de um bibliófilo
©Foto de Philippe Gandillet/Facebook

Aqui estamos perante um bibliófilo já na posse de grandes conhecimentos. Sem eles, formar uma boa biblioteca é uma aventura por demais arriscada e quase sempre condenada ao fracasso!

Aqui ficam estas reflexões e uma boa proposta de leitura, pelo menos na minha modesta opinião.

Saudações bibliófilas.


Notas:

As citações são apresentadas de acordo com as novas normas ortográficas e conforme figuram no livro.

(1) Referido na página 14, da obra mencionada, por Umberto Eco. (“Mantêm-te fiel ao tema e as palavras seguir-se-ão”)

sábado, 12 de janeiro de 2013

Uma pausa para meditar…


A minha "aventura" com a Tertúlia Bibliófila encontra-se num impasse, pois não consigo publicar mais artigos pela impossibilidade de “carregar” as minhas imagens do computador (onde tenho delineados vários projectos para publicação), para os ilustrar de modo a permitir uma melhor compreensão do que me proponho tratar.

Mas acima de tudo para mostrar aquilo que penso vos interessar na divulgação do livro enquanto veículo de cultura, mas também com todos os outros atributos, que para nós bibliófilos, representam o objecto das nossas paixões assim como do seu estudo mais aprofundado.



JARDINE, SIR William, Editor. The Naturalist’s Library.
Edinburgh: W. H. Lizars, 1845-46.
165 x 105 mm . 40 volumes. Second Edition.
©Phillip J. Pirages Fine Book and Manuscripts

Enquanto pondero a solução mais adequada para a resolução do problema, apresento um video do YouTubeAn Introduction to Antique Books de Phillip J. Pirages membro do ABAA/ILAB e proprietário da Phillip J. Pirages Fine Book and Manuscripts, que pelos grandes conhecimentos e experiência como livreiro-antiquário, nos mostra resumidamente, mas com muito maior clareza, tudo aquilo que eu tenho tentado transmitir-vos ao longo destes anos.



"Phil Pirages, proprietor of Phillip J. Pirages Fine Book and Manuscripts, examines book collecting, how and why people collect, why they should collect books, and the role of the bookseller in collaborating with collectors, using examples from the current Pirages inventory to illustrate the special pleasures derived from an appreciation of a book's binding, printing, illustration, and provenance.”




(BINDINGS - RIVIERE). BYRON, GEORGE GORDON NOEL, LORD – Hours of Idleness.
Newark: Printed and sold by S. and J. Ridge, 1807.
181 x 111 mm. XIII, [I], 187, [1] pp.
FIRST EDITION, First Issue.
©Phillip J. Pirages Fine Book and Manuscripts

Prometo que voltarei a conversar convosco.
A minha dúvida é se será neste espaço ou noutro que crie (aliás se tal acontecer serão dois blogs e não um único), mas para isso tenho de ter tempo e calma para o idealizar e o construir.

Com uma certeza poderão ficar: este espaço permanercerá aberto e eu estarei sempre presente para trocar impressões sobre o que fui escrevendo, pois que a minha paixão pelo livro não morreu…

Saudações bibliófilas.