domingo, 27 de maio de 2012

Otium Leilões – Leilão de Biblioteca Particular



Nuno Gonçalves da Otium Leilões elaborou um bom catálogo para o leilão desta importante biblioteca particular, pois que reúne um excelente conjunto de livros, a maioria impressa entre os séc. XV a XVIII, americana, oriente, descobrimentos portugueses, Brasil, ciência e navegação, entre outros temas, mas que primam todos eles por um gosto de bibliófilo apurado, que conjuga a qualidade e a raridade. 



O Leilão realiza-se no dia 5 de Junho de 2012, no Hotel Fénix ao Marquês de Pombal em Lisboa pelas 21:15 horas.



A exposição decorrerá no mesmo local nos dias:

4 de Junho das 15:00 àss 19:30 e das 21:00 às 23:00 horas
5 de Junho das 11:00 às 13:00 e das 15:00 às 19:30 horas

Seria por demais fastidioso destacar os lotes que possam merecer mais interesse dada a grande qualidade dos mesmos, bem como pela grande diversidade de temáticas, todas elas com potenciais clientes, que podem despertar a curiosidade a vários tipos de coleccionadores bibliófilos.

Destaco apenas este lote, por reflectir o que disse atrás (pena é o seu estado), mas que seguramente deverá atrair alguma atenção.



30. BARLAEUS (Caspar)

RERUM Per Octennium in Brasilia et alibi nuper gestarum, Sub præfetura Illu-trissimi Comitis I. Mauritii, Nassociæ &c. Comitis, nunc Vesaliæ Gubernatoris & Equitatus Foederatorum Belgii Ordd. sub Auriaco Ductoris, Historia. Amstelodami: Ex Typographeio Ioannis Blaeu, 1647.

Fólio; []/2, */2, **/1, A-Z, Aa-Zz, Aaa- Zzz, Aaaa-Ssss/2; portada, [8], 340, [8] pp., 1 retrato, 56 gravuras; 450 mm. Exemplar restaurado, com as gravuras aparadas e provenientes de vários exemplares; encadernação francesa moderna em marroquim vermelho, em caixa de protecção.



PRIMEIRA edição de um dos mais bonitos livros impressos sobre o Brasil. Caspar van Baerle, um dos grandes humanistas holandeses do século XVII, foi encarregue de escrever este livro, que se tornou no mais importante trabalho sobre a colonização holandeza no Brasil, pelo príncipe Maurits van Nassau-Siegen, governador geral da província de 1637 a 1644, retratado na obra.

Podemos ler em Borba de Moraes: “Nassau did not stint on the printing of his panegyric, and one of the most beautiful books on Brazil of this period was produced as a result”.



Espero que este desperte a vossa atenção.

Saudações bibliófilas.



quinta-feira, 24 de maio de 2012

Palácio do Correio Velho – Leilão de Livros, Manuscritos e Gravuras





O Palácio do Correio Velho vai realizar nas suas instalações na Calçada do Combro, 38 A - 1º em Lisboa um importante leilão – o seu Leilão 286 – nos próximos dias 30 e 31 de Maio e 1 de Junho.


Catállogo do Leilão  –  Introdução

Apresenta um interessante e valioso conjunto de obras de diversas proveniências, relativas a Literatura dos séculos XIX e XX, Arte, História, Descobrimentos, Genealogia e Heráldica, Literatura Francesa, Direito, Religião, Greco-Latina, Revistas antigas e modernas, Ensaística, Olisipografia, Fotografias e Postais, Álbuns, Mapas, Apólices, além de Gravuras e Manuscritos.



Alguns Livros

A exposição dos lotes estará patente nos dias:

2012-05-28 10:00 / 13:30 - 14:30 / 19:00
2012-05-29 10:00 / 13:30 - 14:30 / 19:00

O leilão decorrerá na sequência seguinte:

2012-05-30 15:00
Lote 0001 a 0289

2012-05-31 15:00
Lote 0290 a 0582

2012-06-01 15:00
Lote 0583 a 0871



105 BOCAGE, Manuel Maria Barbosa.
IMPROVISOS DE BOCAGE Na sua mui Perigosa enfermidade dedicados aos seus bons amigos. Reimpresso no Rio de Janeiro na Impressão Regia, 1810. Com licença. In - 8º de 23 - (1) págs.

Encadernação francesa, não contemporânea, inteira de carneira fina mosqueada com ferros a ouro na lombada e roleta de fantasia nas extremidades. Muito raro, não vem citado em Borba de Morais e com poemas muito curiosos. INOCÊNCIO: VI, pág.50. (1)



154 CANON // MISSAE // CVM // Praefationibus, & Alijs nonnulius, quae // in ea ferè communiter dicuntur // Additae sunt // Praeparatio ad Missam, // & Orationes, quae ab Episcopis cum solemniter, // vel priuatè celebrant; Et ab alijs // Sacerdotibus dici solent.// Necnon // Gratiarvm Actiones // Missae sacrificio peracto. // Permissu Superiorum. // Romae, // Ex Typographia Reverendae Camerae Apostolicae. // Anno Iubilaei M.DC. XXV. (1625).

In-fólio máx. de 144 págs. Texto regrado impresso a vermelho e negro, embelezado por capitulares e numerosas iniciais de desenho de fantasia, remates alegóricos, a portada - frontispício gravada com a representação da Última Ceia, ladeada por dois anjos empunhado filacteras, as figuras dos apóstolos São Pedro e São Paulo, e, em baixo, o escudo com as armas pontifícias, suportado por dois anjos. Duas fls. Brancas no inicio, a 1ª das quais manuscrita na frente e verso, com caligrafia seiscentista muito legivel, sobre o sacramento da Confirmação e a 2ª fl. em branco. No final, mais duas fls. Com acrescentos de textos litúrgicos manuscritos que discorrem sobre o «De Confirmandis». De realçar a excelente qualidade dos caracteres tipográficos desta impressora pontificia. Ilustrado com uma belissima gravura de página inteira que representa a comunhão dos Santos sob a égide da Santíssima Trindade. Papel espesso e de grande qualidade e sonoridade. Encadernação inteira de marroquim vermelho,da época, ricamente decorada nas pastas e lombada ao estilo «Boyet» com ferros rendilhados e floreados a ouro, tendo ao centro de ambas as pastas um grande florão central. Corte das folhas cinzelado, seixas douradas, e as guardas em papel antigo de estilização vegetalista e coloração vivaz. Marcadores de pano. Cantos e dobras cansadas. Leve acidez, de resto belo exemplar, valioso.



177 CASTRO, Alberto Osório de. (2)
FLORES DE CORAL. Ultimos Poemas. Dilli, Ilha de Timor - Insulíndia, Imprensa Nacional, 1908. In - 8º de 272 págs. Obra dedicada a Fialho de Almeida e dividida em duas partes: os poemetos que vão da pág. 9 à 131; e a prosa, «Impressões da Insulíndia portugueza», nótulas, que vão da pág. 132 à 269, seguindo -se as erratas principais e o Indice.

Valorizado pela extensa dedicatória autógrafa do autor, que foi juiz de direito em Dilli, capital de Timor, a João Baptista Gregório de Araújo, inscrita no anterrosto, e que reza: «Ao Senhor Advogado João Baptista Gregório de Araújo, em prova de consideração, e de agradecimento pelos informes que me deu para este livro da sua formosissíma terra, e lembrança affectuosa do autor. Lahane, Março 1, 1910». Tem no fim a seguinte justificação editorial: 72 exemplares, numerados e rubricados pelo autor, em papel branco Song -kio -tzú de Cantão, 257 em papel amarelam Tço - tzu, ou papel pagode de Cantão, e 31 nos dois proprios mesclados, e também numerados e rubricados. Acabou de se imprimir esta obra, para o autor, na Imprensa Nacional, em Dilly, ilha de Timor, arquipélago de Sunda, aos 31 dias de Dezembro de 1909, sob a direcção tipográfica de Francisco Maria Jorge, de Nova Goa, India portuguesa e José Maria Ribeiro, de Baneau, Ilhas de Timor. O presente exemplar é o nº 176 dos 257 em papel amarelo,assinado pelo autor. Falta-lhe a primeira folha de guarda, tem algumas manchas de humidade, leve e ocasional trabalho de traça nas margens brancas verticais das folhas 241 à 256, sem ferir qualquer letra e as últimas folhas com minúsculos restauros. Não obstante o que fica dito, muito bom miolo. Segundo Inocêncio, XX, pág. 321, «O livro “Flores de Coral” é, com efeito, precioso e as notas que o enriquecem dão -lhe extraordinário relevo e até pela abundância de esclarecimentos etnográficos e filológicos, pondo-nos em relação, pelos seus vastos e úteis estudos, com os eminentes literatos que teem estudado profundamente os assuntos orientais, não esquecendo o que devem ás “Peregrinações” de Fernão Mendes Pinto».



Meia encadernação moderna em chagrin vermelho com cantos, filetes dourados nas pastas e lombada decorada a ouro em casas fechadas, guardas em papel marmoreado, o corte superior das folhas brunido a ouro fino. Sem capas de brochura.Livro valioso, muito importante e raro, pois trata-se efectivamente da primeira obra da imprensa portuguesa da Insulindia.



552 MANUSCRITO - BRASIL
LAGOA GRANDE. Século XVIII. Desenho a tinta da China e aguarela, em tons de castanho e verde azulado, sobre papel. Não assinado.Sem data (século XVIII).

Suporte em razoável estado de conservação, com apenas um minúsculo buraco no centro do papel, e as dobras horizontal e vertical acentuadamente vincadas. Representa o mapa de Lagoa Grande, nome primitivo da actual cidade de Lagoa Santa, municipio brasileiro do estado de Minas Gerais, localizado na região metropolitana de Belo Horizonte e na bacia média do Rio das Velhas. A cidade foi fundada em 1733 por Filipe Rodrigues, o primeiro a sentir o efeito das águas da lagoa, pois ficou curado dos seus eczemas ao lavar com elas a sua perna. O cirurgião João Cardoso de Miranda é considerado o autor da primeira publicação sobre as virtudes terapêuticas das águas da Lagoa Santa, editada a 6 de Maio de 1749, com o titulos «Prodigiosa Lagoa Descuberta nas Congonhas das Minas do Sabará». Em 1750 foi chamado ao arraial, o ouvidor de Sabará Manuel Nunes Velho, para demarcar o local dos arruamentos e os locais de banhos, deixando designado o morador mais abastado do local, Faustino Pereira da Silva, para ser o executor das suas decisões. A cidade de Sabará nasceu do ouro queabundava nos rios e minas, responsável pela saga dos bandeirantes e da emergente sociedade mineira, possuindo numerosos exemplares da arquitectura barroca. O desenho ostenta toda uma erudição mítica que se consorcia com uma descrição naturalista da Lagoa Grande: alimentada por dois cursos de água, expande-se numa circunferência de légua e meia flanqueada por montanhas e minas, casebres e campos, donde consta afluirem os peregrinos em busca de salvação para as suas maleitas e almas, em águas reputadas miraculosas e famosas, como as duas figuras mitológicas, a deusa da Água e o anjo da Fama, com a sua trombeta, apregoam nos cantos deste belo e invulgar desenho mítico - científico. Com passe-partout. Peça de grande valor museológico. Nota: Em anexo, estudo explicativo das caracteristicas e importancia da peça. Dim.: 30 x 42,5 cm. (folha)



642 OFFICIUM // BEATAE MARIAE // VIRGINIS, // PII V. PONT. MAX. // iussu editum .// (gravura retratando a Virgem Maria ladeada por anjos) // Antuerpiae, // Ex Officina Plantiniana, // Apud Balthasarem Moretum, & viduam // Ioannis Moreti, & Io. Meursium,1625.

In - 8º de (32) - 470 págs. Texto impresso a vermelho e negro, valorizado por numerosas iniciais historiadas. Encadernação inteira de excelente chagrin vermelho, «à la Derome», ricamente gravada a ouro com ferros de estilização floral na lombada e pastas, brotando de quatro vasos da abundância aos cantos, e com oval também florida no centro. Seixas douradas. Cantos e dobras cansadas. Leve acidez. Guardas em papel da época marmoreado e corte das folhas brunido a ouro fino. Frontíspicio com gravura religiosa pintada ao centro e dentro do livro estão doze belissimas gravuras de página inteira, pintadas da época, estando uma das gravuras espelhada na margem externa.Texto regrado por finissíma tarja. Excelente exemplar de um livro devocional da famosa tipografia plantiniana. Raro.



670 PESSOA, Fernando
ENGLISH POEMS. By.... I. Antinous. II . Inscriptions. (III. Epithalamium). Lisbon, «Olisipo», Apartado 145. 1921. In - 8º gr. de 20 e 16 págs.

Sóbria encadernação em meio chagrin verde, pastas em car tonagem marmoreada e filetes a ouro na lombada. Capas de brochura preservadas.Dos pouquissimos trabalhos publicados em vida do autor. Muito cuidada execução gráfica e de reduzidíssima tiragem. Raríssimo.
Excelente exemplar.



678 PINHEIRO, Rafael Bordalo.
FÁBRICA DE FAIANÇAS DAS CALDAS DA RAINHA.

Lote de três (3) títulos de 5 acções da Fabrica de Faianças das Caldas da Rainha, nºs 155, 156 e 159. Lisboa, 30 de Junho de 1884, pertencentes a D.Emilia Augusta da Cunha.Três grandes cromolitografias desenhadas e assinadas por Rafael Bordalo Pinheiro e impressas na Lith. Guedes - Lisboa. Excelente estado de conservação. Muito raras. Dim.: 46 x 29 cm. (cada)



817 TORGA, Miguel.
BICHOS. Contos. Coimbra, Tip. da «Atlântida», 1940.

In - 8º de 113 - I págs. Brochado. Primeira edição deste livro que muito críticos literários consideram a obra -prima de Miguel Torga, sendo um dos mais raros da toda a sua genial bibliografia. A reduzida tiragem, e o bom estado de conservação do exemplar, tornam esta espécie bibliográfica uma peça bastante valiosa.

Aqui fica esta notícia com o convite para a leitura deste bom catálogo com livros que interressam um pouco a todos nós pela sua grande diversidade.

Para os mais audazes lá estão algumas grandes raridades…

Saudações bibliófilas.

Notas:

(1) Todas as informações aqui apresentadas são propriedade exclusiva do Palácio do Correio Velho e não podem ser reproduzidas sem a sua autorização prévia.
(2) Foto do meu arquivo pessoal de imagens.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Livraria Luis Burnay – Leilão de Manuscritos, Autógrafos e Efémera



A Livraria Luis Burnay de Lisboa vai realizar um importante Leilão de Manuscritos, Autógrafos, Fotografias e Efémera no dia 2 de Junho, na sala Veneza do Hotel Roma em Lisboa.



Os lotes encontram-se em exposição na Livraria nos dias 31 de Maio e 1 de Junho no horário normal de funcionamento (10h- 13h / 15h – 19h) e na manhã do próprio dia de leilão, a 2 de Junho na Sala Veneza do Hotel Roma entre as 10h e as 13h.

O conteúdo deste catálogo é de facto fascinante pela qualidade e origem dos manuscritos que apresenta.



336 - SILVA, Inocêncio Francisco da. -Correspondência dirigida ao Visconde de Sanches de Baena (Augusto Romano Sanches de Baena e Farinha) notável genealogista e heraldista, autor de diversas obras sobre o assunto e famoso bibliófilo, constituída por 50 cartas autógrafas todas versando temas bibliográficos, que abrangem um período de 1865 até 1875. Através destas cartas podem avaliar-se as dificuldades que Inocêncio teve na elaboração do seu “Diccionario Bibliographico Português”.

Refiro a título de exemplo alguns dos signatários por de mais bem conhecidos nos meios políticos e liteários da época: Marquez de Alorna (lotes 15 a 18), Marquesa de Alorna (D.Leonor, Condessa de Oyenhausen) (lotes19), D.ª Amélia (Rainha de Portugal) (lotes 21 a 23), Pedro Wenceslau de Brito Aranha (lote 28), Visconde de Balsemão (lotes 34 a 37), José Ferreira Borges (lotes 48 e 49), D. Carlos I, rei de Portugal (lotes 75 a 77), Camilo Castelo Branco (lotes 86 a 94), Júlio de Castilho (lotes 97 e 98), Gonçalves Crespo (António Cândido) (lotes 129 a 130), João de Deus (lotes 136 a 141), João Franco (J.F. Pinto Castelo Branco) (lotes 160 a 162), Visconde de Itabayana (lotes 175 a 178), D. João V, rei de Portugal (lotes 180 e 181), D. joão VI, rei de Portugal (lotes 182 a 184) D. José I, rei de Portugal (lotes 185 e 186), Duque de Lafões (lote 187), Gomes Leal (lotes 191 e 192), D. Luis I, rei de Portugal (lotes 201 a 203), P.e José Agostinho de Macedo (lotes 204 e 205), Joaquim Maria Machado de Assis (lote 206), D.ª Maria I, rainha de Portugal (lote 211), D.ª Maria II, rainha de Portugal (lote 212), Marquês de Marialva (5º D. Diogo José Vito) (213 e 214), Joaquim Pedro de Oliveira Martins (lotes 217 e 218), Conde de Monsaraz (lotes 228 a 230), José Xavier Mouzinho da Silveira (lote 231) Fernando Namora (lotes 232 a 234), António Nobre (lote 239 a 240), Ramalho Ortigão (lotes 245 a 247), Duque de Palmela (lotes 251 e 252), D. Pedro II, imperador do Brasil (lote 257), D. Pedro V, rei de Portugal (lote 258), Diogo Inácio de Pina Manique (lotes 270 a 273), Rafael Bordalo Pinheiro (lotes 276 a 279), Marquês de Pombal (lote282 a 286), Aquilino Ribeiro (lote 308), Duque de Saldanha (lote 318 e 319), António Ribeiro dos Santos (Elpino Duriense) (lotes 328 e 329), Inocêncio Francisco da Silva (lote 336), Cesário Verde (lote 372), Duque de Wellington (lote 386) entre muitos outros que deixo o prazer da sua descoberta durante a vossa consulta atenta.

De realçar excepcionais conjuntos de manuscritos e outros items para a história dos caminhos-de-ferro em Portugal (lotes 66 a 68).



15 - ALORNA, Marquês de. - 1 Carta autógrafa (8p.; 22cm.)

Nesta extensa carta dirigida ao Intendente da Polícia Diogo Inácio de Pina Manique, o Marquês agradece ao Intendente e a Martinho de Mello a ajuda que lhe deram enviando durante algum tempo o especialista piemontês Mateus Biffignandi para tentar recuperar uma fabrica de seda que Alorna tinha provavelmente na sua Quinta de Vale de Nabais em Almeirim e que havia alugado a um Capitão Mor de Avis que descurou os cuidados a ter com o sirgo. “… Fico também obrigadíssimo a V. Srª. E ao Sr. Martinho de Mello, pelo socorro que me derão para a restauração d’esta fabrica de seda, que se achava em grande decadência, pelo descuido e falta de exacção do Capitão Mor de Avis, que acaba de ser rendeiro d’esta fazenda. Este homem me deixou sem a semente dos bixos [ovos do bicho da seda] que lhe entreguei, e havendonegligencia em outra pessoa, que se encarregou de a mandar vir de Trás-os-Montes [quase de certeza da criação de José Maria Arnaud que viera com Biffignandi para Portugal por ordem de Pombal para desenvolver a fiação de sedas no país e que se instalara naquela região] já o anno passado não houve aqui essa criação. … A semente que trouxe Matheus Biffignandi, já vinha principiada a avivar: He de crer, que assim estivesse a d’Abrantes [onde houve também uma desenvovida sericicultura provavelmente ligada ao Marquês de Alorna] por ser impossível o seu transporte e n’este termos, a porção que V. Exª me mandou junta com alguma mais que pude colher por outras partes, apenas poderá servir, para chegarmos a ter na Primavera que vem seis atthe oito arráteis que é a quantidade necessaria correspondente ás nossas amoreiras.” Refere em seguida uma tentadora proposta de sociedade que o italiano lhe havia feito, e que Alorna sabiamente modificou: “…Elle me propôs tomar a si as amoreiras, e as mais coisas pertencentes á fabrica, com a condição de me dar duas terças partes dos lucros, entrando eu com elle de meias nas despezas: Não quis eu estar por este ajuste, por ser para nós demaziadamente vantajozo, e pareceu-me isso sinal certo de se poder desvanecer em poco tempo: Receei que o ditto Matheus não tirando deste contracto as conveniências que esperava, viesse eu e muitas outras pessoas d’este Reino, a perdermos o fructo, que poderíamos tirar das luzes d’este homem:”

Assinada e datada de 30 de Março de 1787.Trata-se do 2º Marquês ( D. João de Almeida Portugal), Oficial Mór da Casa Real, Embaixador em França e casado com D. Leonor de Távora. Por causa deste parentesco esteve preso 18 anos (na Torre de Belém e no Forte da Junqueira) às ordens do Marquês de Pombal. Era pai da famosa Marquesa de Alorna (Alcipe).



19 - ALORNA, Marquesa de (D.Leonor, Condessa de Oyenhausen).- 1 Carta autógrafa (2p.; 23cm.)

Nesta carta dirigida ao Intendente da Polícia, Diogo Inácio de Pina Manique, a a famosa “ Alcipe” dos poetas árcades, já viúva e a residir em Lisboa, trata de um assunto delicado que envolvia direitos de serventia e suspeitava mesmo que não contava mais com a boa vontade de Pina Manique, pois começa: “… Lisongeando-me da mais escrupulosa exactidão em todas as minhas acções, publicas e particulares; tendo por ellas merecido a V. Sª mesmo, sua confiança que estimo sumamente, vejo hoje com grande admiração minha, que esta se alterou sem que eu visse para isso motivo algum. Intentei para decência de minha Caza, por uma barreira ou ripado ao redor d’ella. E este acto que de modo nenhum e contra as leis de Sua Magestade foi alternativamente interrompido pelo meus vizinhos os Padres das Necessidades e por outra parte por hum homem chamado João Paulo Bezerra…” enquanto que os Padres aceitaram os argumentos, o outro vizinho não. Assim “ …tem armado uma demanda contra toda a razão. Nada disso me importa o que sinto e que V.Srª procedesse por huma informação errada.”pelo seguimento do texto parece que o Intendente da Polícia secundou a opinião de Bezerra e por isso “Alcipe” com discreta altivez diz: “… Além disto hoje pelas quatro horas da manhã me ás levantei bastante incomodada pelo ruído e apparato com que os calceteiros e officiaes de justiça vinham demandar ou fazer o contrario do que eu tinha ordenado.Este ruído, esta desatenção me tem incomodado muito porque há vinte dias que estava doente. Querendo mandá-los suspender não quizerão, dizendo que V. Srª em pessoa tinha dado aquellas ordens ontem á noite. Queira V.Srª ter a bondade de me fazer saber o que eu fiz de erregular, para se usar commigo de hum methodo tão desnecessário. E queira persuadir-se de que não tem mais zelo em manter a ordem nesta Cidade que eu em não alterá-la. Nada quero senão o que os Magistrados estabelecidos julgarem que me compete. As minhas versões de decência e cómodo são mais sólidas que as da fantasia de João Paulo Bezerra ou as do seu inquilino. Por tanto pesso a V. Srª. não queira dar ouvidos se não há verdade e sinceridade com que eu lhe falo e depois d’informado pellos juízes competentes, mande V. Srª fazer o que lhe parecer mas entretanto pesso-lhe que sospenda hum insulto que eu não mereço.” e termina significativamente:”… Esteja V. Srª persuadido da estimação que fasso da sua pessoa e do desejo que tenho de conformar-me sempre em tudo aquilo que for obsequialo…”

Assinada (Condessa de Oyenhausen) e datada de Lisboa, 19 de Julho de 1796. É de interesse referir que biógrafos da poetisa defendem que a segunda partida da Marquesa para o estrangeiro em 1803 se deveu a pressões de Pina Manique por uma suspeição de actividades menos ordeiras de membros de uma sociedade que ela havia fundado com o nome de “Sociedade da Rosa” e que para muitos espíritos da época seria para-maçonica. Pensamos assim, que esta carta que revela tensão entre as duas personalidades já sete anos antes poderá ajudar a confirmar tal ponto de vista.



27 - ANJOS, Fr. Manuel dos. -1 Carta (autógrafa?) (2p.; 29cm.)

Nesta carta destinada a acompanhar uma Carta Patente (provavelmente a morigerar os costumes?) enviada pelo Reverendíssimo Padre Geral e levada em mão pelo Fr. André Superintendente deses Conventos, Fr. Manuel dos Anjos na sua qualidade de “Ministro Provincial da Província dos Algarves” pede a todas as “ Reverendas Madres Abadeças, e mais Religiosas dos nossos Conventos” e“ mando sob pena de obrar, excomunhão maior e privacam de seus officios a consintam e facam ler e ouvir, e dentro de vinte dias depois de lida a dem execução e cumpram e façam cumprir em tudo o que a ellas lhes toca e pertence, dando logo ás donzelas que em seus Conventos estam educandoas causa nesta particular, que as ensine e appartandoas do lugar das noviças e professas…"

Assinada e datada de Évora 24 de Agosto de 1617. Bonita carta seiscentista muito valorizada com a aposição do lindíssimo selo branco sobre obreia intercalada nas folhas da carta. Fr. Manuel dos Anjos, franciscano nascido em Alcácer do Sal foi deputado da Inquisição de Évora e Bispo titular de Fez. Publicou numerosos sermões.



35 - BALSEMÃO, Visconde de. -1 Carta (2p.; 23cm.)

Carta dirigida ao Intendente da Policia Diogo Inácio de Pina Manique: “Por Decreto da data de hoje, expedido ao Senado da Câmara, houve o Príncipe Regente … … determinar que o mesmo Senado de acordo com V. Srª procedesse a hum plano de Lista Geral dos Habitantes de Lisboa, para a despesa de huma Guarda nocturna a Cavallo, que rondasse a Capital e seus Subúrbios, e para a iluminação da mesma Capital; fazendo subir sem perda de tempo á sua Real Presença pelo expediente do Presidente do Erário Régio o mesmo Plano, para ele dar logo á suaexecução: O que participo a V. Srª para sua devida intelligencia, e para que o queira executar pela parte que lhe toca.”

Assinatura autógrafa. Datada do Paço de Mafra em 19 de Novembro de 1801. Foi o cabal cumprimento de algumas destas ordens que marcou para sempre a memória histórica da actuação de Pina Manique.



66 - (CAMINHOS DE FERRO). -Inauguração oficial do Caminho de Ferro em Portugal. -Espólio de Miguel Ferreira de Gouveia Pimentel Franco Queriol, 1º Maquinista Ferroviário e Chefe de Serviço de Trafego da Companhia do Caminho de Ferro do Leste.

Importante conjunto de documentos referentes á inauguração do primeiro troço de Linha Férrea entre Lisboa e o Carregado (28 de Outubro de 1856), e outros de índole pessoal deste quadro da Companhia, mas todos com evidente interesse para a história dos Caminhos de Ferro em Portugal. Descrevemos em pormenor os principais:

1º- Ordem de Serviço do Chefe da Expedição ao Chefe do Serviço de Materiaes nas linhas:”…Communico a V. Srª que a locomotiva Stefenson, que se vai denominar Portugal se encontra pronta de acabamentos para o Serviço Inaugural do Caminho de Ferro do Leste, Mais Communico a V. Senhoria de que o Maquinista Mr. Pilkington foi por mim informado de ter sido indicado por V. Senhoria para conduzir o Comboio Real seguindo com ele o Sr. Miguel Queriol. 26 de Outubro de 1856.” É de notar que em alguns relatos do acontecimento da imprensa da época, se referem outros nomes das locomotivas. Miguel Queriol é sempre referido como acompanhante das vezes que D. Pedro V viajou á experiencia antes da Inauguração Oficial.

 

2º- Aguarela original (17,5 x 25,5cm.) de António Joaquim de Santa Bárbara (1838-1864) que regista o acontecimento, dedicando-a ao Rei D. Fernando, e escrevendo na margem inferior: “Chegada ao Carregado do Comboio Real que no dia 28 de Outubro de 1856 puxado pella Locomotiva Portugal, inaugurou solenemente a linha de Caminho de Ferro de Leste com a presença da Família Real e de elevado numero de pessoas convidadas. Sta. Barbara fez do natural.” Pensamos tratar-se da única iconografia existente e até agora inédita. António J.de Santa Bárbara era artista de muitos recursos, e pintou grande numero de membros da alta sociedade da época.

 

3º Aguarela original (18 x 25cm.) também de Santa Bárbara que regista o início dos trabalhos de construcção da linha férrea. Aquele escreveu na margem inferior: “A 7 de Maio de 1853 Sua Magestade a Rainha Senhora D. Maria II empurrando o carrinho construído em madeira de mogno e onde El Rei Senhor D. Fernando deitou huma pá com areia dentro procede a solene inauguração de começar os trabalhos de aterro dos terrenos ao Beato para a linha férrea da Companhia Central Peninsular do Caminho de Ferro Portuguez, perante luzida assisencia de altos dignitários da Côrte e Senhores Deputados e muito povo que cheio do maior entusiasmo victoriou Suas Magestades e tambem os Directores da Companhia. E eu A Santa Bárbara fiz este desenho que recolhi no momento e o ofereço e dedico ao Illustrissimo e Excellentissimo Senhor Conde de Farrobo.”. Pensamos tratar-se também da única iconografia existente e até agora inédita, tanto mais que esta solene inauguração não parece vir referida nas principais publicações sobre o assunto.
4º Bilhete original dos que foram usados na viagem inaugural. Está colado numa cartolina com cercadura em relevo com a inscrição: “ Primeiro bilhete do Caminho de Ferro inaugurado do troço de Lisboa ao Carregado em 1856.” Com uma inscrição no verso “da colecção Simões Margiochi”. Joaquim Simões Margiochi era o Fiscal do Governo na Linha do Leste e tal como Queriol tomou parte em todos estes acontecimentos. Não encontrámos qualquer referência a outros exemplares existentes.

5º Ofício do Ministério das Obras Públicas – Repartição Central, a convidar o Director do Colégio Militar para: “Tendo Sua Magestade El Rey destinado o dia 28 do corrente mez, ás 10 ½ horas da manhã para a cerimónia da inauguração do caminho de ferro de leste e bênção das locomotivas. Determina … que eu tenha a honra de remetter a V. Exª o bilhete incluso para assistir aquella solemnidade.” Assinatura autógrafa do Marquês de Loulé e datado de 25 de Outubro de 1856.

6º Aguarela original (13 x 21cm.) que representa o inicio da construção da Ponte de D. Maria Pia, projectada e construída pelo engenheiro francês A. Gustavo Eifell, vendo-se concluída a primeira coluna vertical e já a nascer o tabuleiro superior. Vem dedicada a Queriol e assinada “ G. Eifell. Porto 1876” . A data coincide com a estadia do famoso engenheiro no Porto a supervisionar os trabalhos. Trata-se de uma importante iconografia até hoje inédita. (Reprodução a cores)

7º Quatro emblemas antigos de funcionários dos caminhos de ferro portugueses, sobre veludo num cartão.

8º Carta autógrafa do Marquês de Sá da Bandeira, dirigida a um Marechal (Saldanha ?) a propósito do sistema Larmanjat ( deslocação num só carril utilizado em França com algum sucesso e entre nós apenas na linha de Sintra, tendo sido depois abandonado). Pede Sá da Bandeira em 6 de Março de 1869: ”… Vou pedir a V. Ezª o favor de examinar pessoalmente o pequeno caminho de ferro que se construio, para experiencia entre a estação de Naincy (chemin de fer de l’Est) e a commune de Monfermeil, perto de Paris. Este caminho de ferro d’um systema novo, estabelecido na estrada ordinária, e com um único rail, em que gira a rodaconductora da locomotiva e também as rodas dianteiras dos wagões, tendo todos estes veículos três rodas… … parece-me que este sistema poderia adaptar-se em Portugal, com vantagem, para ligar as estações do caminho de ferro com as povoações adjacentes. É por isso que a V. exª peço informações sobre isto.”

9º Duas fotografias de Miguel Queriol do atelier de “ E. Rodrigues – Rua de S. Lazaro".

10º Carta Régia de D. Luis I a “ fazer mercê a Miguel Ferreira de Gouvêa Pimentel Franco Queriol Chefe de Serviço no Caminho de Ferro de Norte e Leste, de o Nomear Cavalleiro da Ordem Militar de Nosso SenhorSenhor Jesus Christo … Paço d’Ajuda 28 de Agosto 1865” assinatura autógrafa do Rei.

O conjunto contem ainda: Atestado de competência e desempenho de funções passado a Queriol pelo Visconde da Orta; Treslado do assento de baptismo de Queriol, confirmando que era afilhado de D. Miguel e de D. Carlota Joaquina; 3 recortes de imprensa da época com referências á inauguração do caminho de ferro em Portugal; 2 bilhetes antigos de omnibus; 2 litografias de época de D. Pedro V, uma aguarelada á mão; 1 Cartão-convite da Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portuguezes para a inauguração da ponte sobre o Rio Douro (D. Maria Pia). Juntam-se ainda alguns impressos curiosos sobre o tema. Tudo dentro de uma bonita pasta antiga, inteira de chagrin com as armas de Portugal ao centro a ouro com as seguintes inscrições : “ Fiscalisação da Construcção – Caminho de Ferro de Lisboa a Cintra – Torres Vedras e Ramal da Merceana “.



90 - CASTELO BRANCO, Camilo.Fotografia (17 x 11cm.)

Notável retrato do insigne escritor poucos anos antes de falecer, trabalho da casa “União – Photographia da Casa Real-Porto”. Está valorizadíssimo com uma dedicatória autógrafa no verso: “ Á Illmª Exmª Senhora D. Eugénia Mendes Vieira tem a honra de offerecer. Camillo Castello Branco – São Miguel de Seide – 7 de Março de 1882.”

Valiosa peça de colecção.



173 - HERMÍNIO, Celso. – 1 Desenho (27 x 37cm.)

Original de desenho a tinta da china deste importante artista que soube como poucos escalpelizar pelos seus desenhos satíricos a política da época. Neste desenho bem saboroso de explícita critica ao governo da época, vê-se o pobre “Zé Povinho” a ser “ apertado” impiedosamente pelo governo através das “Contribuição Predial, Contribuição Industrial, Decimas de rendas de casas, Contribuição e registo”. Insignificantes imperfeições marginais.



206 - MACHADO DE ASSIS, Joaquim Maria. -1 Carta autógrafa (2p.; 20cm.)

Carta dirigida a um amigo Murphey: “ esta vae lembrar-lhe o meo pedido e a sua promessa, relativamente a impressão dos Trabalhos da Exposição Nacional. A questão é a seguinte: O Sousa Ramos, fallado pelo Paranhos concedeo tudo da sua parte, indicando porem, que seria preciso fallar igualmente ao Sá Rego, afim de que os referidos trabalhos sejam impressos na Typographia Perseverança, rua do Hospício 91. A criança está portanto baptisada pelo Sousa Ramos; falta-lhe a confirmação do Sá Rego; foram e são padrinhos desta ceremonia o Munir e o Paranhos, e é acolyto de ambos, bem como criado, amigo e obrigado o… Machado de Assis.”

Assinada. Colada numa cartolina com restauros numa dobra central. São raras e muito procuradas as cartas autógrafas deste notável escritor brasileiro.



240 - NOBRE, António. - 1 Carta autógrafa (4p.; 18cm.)

Carta dirigida a Vasco da Rocha e Castro seu amigo de meninice e companheiro querido dos anos de Coimbra, pouco depois de ter chegado a Leça para passar as férias de Verão. Começa por referir às inspecções militares que ele e o amigo da mesma idade teriam que se sujeitar [está com 21 anos] ” …por enquanto, falar em inspecções e tu bem sabes que eu tenho n’isso tanto empenho como tu. Depois de ler a tua última carta perguntei (que não fosse eu às vezes, andar enganado) a pessoa entendida e ella respondeu-me com grande surpresa minha que ellas já andavam lá pelo Concelho de Penafiel e que em seguida, passariam a Boiças. Péssima é portanto, a nossa pública administração que não manda listar à folha o annuncio respectivo para conhecimento dos pobres interessados. Em epochas de Theodora, a organização civil era, crei-o bem, superior à dos nossos dias…” depois fazendo alusão a um comentário de Vasco numa carta anterior, António Nobre mostra-se bem curioso em saber quem se tinha interessado por ele: ” … Fallas-me na tua primitiva carta de um portuense que de passagem em Coimbra, te falou de mim misturando a minha aplicação na alta Sciencia Jurídica, com a Arte simples de rimar palavras: quem era elle? Satisfaz-me, peço-te esta ínfima curiosidade.” Continua recordando a vida académica de Coimbra e os amigos comuns: “ … Não me fallas de Coimbra, dos rapazes d’ahi, nem dos episódios de actos que à farta, devem ter havido. O Misco [D. Francisco de Sousa e Holstein] fez acto, lá vi nas gazetas, e parece-me que o Zé Quintella levou... …Ao Misquito escrevi mal cheguei d’ahi, numa carta que não pecava por licenciosa, mas o que é certo é que não tive resposta. Extranhei, porque foi elle que me pediu duas linhas. Qual a psychologia d’isso, sabes?” notando-se já uma certa sensibilidade no poeta pelo amigo não lhe ter respondido à carta, aproveita adeixa e de uma forma impessoal transmite ao amigo e cúmplice os seus dramas íntimos exacerbados pela ilusão amorosa de Margarida de Lucena, que era da família de Vasco:  “ Por falar de psychologia: O Hotel Estephania [Hotel de onde Nobre estava a escrever] e seus dramas continuam a preocupar o pobre espirito já atormentado deAnto. P. [Purinha – Margarida de Lucena] vim encontá-la quasi em princípios de phtysica, por motivos de paixão. A minha atitude foi amável, mas reservada. Isto é não falando em amor tinha para com ela, apenas uma delicadeza fria. Fez-me versos que recitou ao Albertinhas [Alberto Osório de Castro], que se tornou para ella e mim o diplomata real. Vão-se encaminhando as coisas para uma reconciliação. Veremos “ termina assinando na 3ª pessoa: “ … … fez aqui o diabo no Domingo ultimo. Aconselhou a P. [Purinha] que purgasse o coração de António Nobre. Fui hypnotizado e tive extasis. Extras … O teu amigo Anto.”

Assinada e datada Leça , 25-7-1889. Junta-se o respectivo envelope.



272 - PINA MANIQUE, Diogo Inácio de. - 1 Documento autógrafo

Procuração a favor de Manuel José de Morais: “Por esta por hum denós feita, e por ambos assignada concedemos todos os poderes em Direito… …. Ao Sr. Manoel Joze de Moraes para por nós tomar posse de todos os bens que nos tocão tanto da herança de nosso pae e sogro o Sr. Nicolau de Mattos Nogueira, como também daquelles que … … nosso cunhado e irmão o Sr. Joaquim Joze de Brito Nogueira…”

Assinada e datada de Lisboa, 28 de Novembro de 1776. Com a assinatura autógrafa da mulher de Pina Manique D. Inácia Margarida Umbelina de Brito.

 

282 - POMBAL, Marquês de. -1 Carta (2p.; 22cm.)

Carta dirigida ao Juiz do Crime do Bairro do Mocambo em Lisboa para proceder de imediato a investigações sobre a morte ocorrida nesse dia de Miguel de Arriaga Brum da Silveira do Conselho da Rainha que era casado com Dona Mariana Joaquina de Vilhena Pereira Coutinho afilhada e dama da Rainha e amiga muito chegada da mulher de Pombal: “ …. logo que receber este Avizo passando á Caza em que faleceo Miguel de Arriaga Brum da Sylveira, proceda a formar Corpo de delicto com o exame do Cadaver, feito em assistência dos Cirurgiões que asistiram á Junta, que se fez do Defunto, quaes foram; Theotonio dos Santos; o Cirurgião do Regimento de Meckleburgo chamado [?]; e Marçalino de Souza: e fazendo também logo prender nas Cadeyas do Limoeiro ao Cirurgião do Regimento de Artilharia de Lagos chamado Rochart. E da execução de tudo o referido dará Vme conta por esta Secretaria de Estado dos Negócios do Reino para ser prezente a Sua Magestade.”

Assinatura autógrafa. Datada do Paço em 25 de Fevereiro de 1773.


Aqui fica este importante catálogo para vossa consulta e apreciação.

Saudações bibbliófilas


domingo, 13 de maio de 2012

Librairie Le Feu Follet – Littérature Mai 2012 au Feu Follet



A Librairie Le Feu Follet apresentou o seu Catalogue Littérature Mai 2012 au Feu Follet, onde apresenta uma selecção de obras em edição original, com dedicatórias dos autores bem como exemplares revestidos de belas encadernações.




De Charles Baudelaire, destaquem-se os lotes 12 a 18, onde aparecem algumas das edições pré-originais dos seus poemas que foram publicados na Revue française. Deste conjunto refiro este lote por conter poemas que seriam publicados pouco depois na 1ª edição de Les fleurs du mal.





18. BAUDELAIRE Charles. Poésies: La beauté. - Le flambeau vivant. - Harmonie du soir. - Le flacon. - La géante. - Le poison. - Tout entière. In Revue française N°81 de la troisième année, Paris 20 Avril 1857, 16,5x25cm, broché.
Edition pré-originale de ces poèmes qui parurent quelques mois plus tard dans "Les fleurs du mal".







Revue d'une insigne rareté.





Infimes et très claires taches en pied du premier plat, petites piqûres marginales sans gravité sur le deuxième plat, une claire mouillure en tête du premier cahier, bel exemplaire.

Destaque-se igualmente este soberbo exemplar de uma tiragem fora do circuito comercial:





60. COCTEAU Jean & GENET Jean. Les nègres. L'arbalète, Décines 1958, 14,5x19,5cm, broché.
Edition originale, un des 250 exemplaires hors commerce sur Lana.





Exceptionnel envoi autographe signé de Jean Cocteau à Marc (Barbezat) : "Cette admirable clownerie" enrichi d'un beau dessin original, daté et signé, au stylo bille noir et rehaussé à l'encre de Chine représentant le visage d'un jeune homme de profil.



Signature autographe de Jean Genet en bas de la justification du tirage.

Bel exemplaire.

Refiram-se ainda duas edições originais de Denis Diderot, que são sempre de elevada raridade.

88. DIDEROT Denis. Jacques le fataliste. Chez Buisson, Paris, 1796, 12x20cm, 2 volumes reliés.
Edition originale, rare, à l'instar de toutes celles de cet auteur.

Plein veau porphyre. Dos lisse orné à la grotesque. Pièce de titre en maroquin menthe. Très légères traces de frottements sur le dos, roulettes dorées sur les coiffes, pointillés dorés sur les coupes. Coins et coupes très légèrement émoussés sans gravité ; gardes et contreplats de papier à la cuve, tranches jaunes, reliure de l'époque. Les pages de faux-titre et de titre des deux volumes sont marginalement brunies. Agréable exemplaire, plutôt frais, avec de rares rousseurs pâles éparses.

Publication posthume, la plus célèbre oeuvre de Diderot fut rédigée de 1765 à 1784 (l'auteur ne cessera de l'augmenter jusqu'à sa mort) ; elle circula à l'instar de maints écrits de l'auteur en manuscrit ; des extraits parurent dans la Correspondance littéraire de Grimm entre 1778 et 1780, et cette première édition fut faite d'après un manuscrit inconnu, sans doute celui de Grimm ou celui de Goethe. Ecrit inclassable et faisant oeuvre de l'affranchissement de toutes les règles romanesques, le livre puise sa trame dans le roman picaresque et hérite de la liberté d'un livre qui marqua durablement Diderot : Vie et opinions de Tristram Shandy, de Sterne.

Rare et bel exemplaire agréablement établi.



89. DIDEROT Denis. La religieuse. Chez Buisson, Paris, 1796, 12x20cm, 2 volumes reliés.
Edition originale, rare, à l'instar de toutes celles de cet auteur. Deux éditions ont paru à la même date chez le même éditeur, la seconde fut en réalité imprimée en Angleterre alors que la véritable originale fut réalisée d'après le manuscrit possédé par les frères Grimm, dont il était déjà paru quelques lettres dans la correspondance littéraire. Tchemerzine II, 965.

Plein veau porphyre d'époque. Dos lisse à la grotesque. Pièce de titre en maroquin menthe. Roulettes dorées sur les coiffes, pointillés dorés sur les coupes. Tranches jaunes. Très légères traces de frottements sur le dos, coins très légèrement émoussés sans gravité, gardes et contreplats de papier à la cuve. Une trace de pliure aux pages 379-380 en guise de repère de lecture. Bon exemplaire, frais, avec de rares pâles rousseurs.

L'origine de ce roman célèbre est une plaisanterie assez cruelle faite par le salon de Mme d'Epinay et qui venait d'accueillir le marquis de Croismare en son sein Ce dernier s'occupait d'un procès concernant une jeune fille qui avait été placée dans un couvent contre son gré. Diderot fut chargé d'écrire les lettres de cette jeune fille au marquis, et de lui faire croire à son évasion. Ces lettres constituèrent La religieuse. Le roman restera inachevé et Diderot n'a guère envie, par prudence, de le publier. En 1780, il modifie son manuscrit, le corrige, et comme de nombreux manuscrits de l'auteur, ce dernier circule sous le manteau, parmi ses pairs et ses relations. L'oeuvre ne paraîtra qu'après sa mort, en 1796; l'odeur de soufre et l'anticléricalisme qui l'habitaient devenant un atout éditorial en cette période révolutionnaire. L'oeuvre se fondant essentiellement sur le choix que chacun peut faire de son destin.

Rare et bel exemplaire élégamment établi.

Saliente-se ainda uma edição completa das obras de Molière, claro que não é uma ediçãso original, mas parece-me ter bastante interesse, até pela sua qualidade de impressão e ilustrações bem como pela sua encadernação:



143. MOLIERE. Oeuvres de Moliere. Chez Arkstée & Merkus, A Amsterdam & a Leipzig 1765, 6 tomes en 6 Vol. pet. in 12 (8,5x15,5cm), xciv, 254pp. et 336pp. et 392pp. et 356pp. et 364pp. et 402pp., relié.

Nouvelle édition, la première édition collective complète ayant paru en 1682. Edition augmentée de la vie de Molière et des remarques de Voltaire, qui paraissent ici pour la première fois. Pages de titre en rouge et noir.













Elle est très joliment illustrée d'un frontispice de Frankendaal, d'un portrait de Punt et de 33 figures par Punt. Elles sont toutes légendées du nom de la pièce qu'elles illustrent, et portent parfois la date de 1740, puisqu'elles sont la réduction des figures de Boucher parue dans la célèbre édition de 1734.







Demi Maroquin rouge à coins fin XIXe. Reliure de maître non signée. Dos à nerfs orné. Date en queue. Filets sur les plats. Têtes dorées. Menus frottements sur les plats. 2 coins un peu écrasés au tome V. Charmant exemplaire, parfaitement établi, au texte bien frais. Exemplaire non rogné, comportant quelques différences de taille entre les feuillets.

Termino com este último exemplo. Uma obra de Geortge Sand – Histoire de ma vie, já de si rara e procurada, mas que nestas condições ainda é bastante mais rara.





177. SAND George. Histoire de ma vie. Victor Lecou, Paris 1854-1855, 13x21,5cm, 20 volumes reliés.
Edition originale sur papier courant, il aurait été tiré selon Clouzot au moins 1 exemplaire sur Hollande.





Reliures en demi chagrin chocolat, dos à quatre fins nerfs orné de filets dorés et à froid, plats de percaline aubergine agrémentée de motifs floraux, gardes et contreplats de papier à la cuve, quelques très légers accrocs sans gravité sur certaines coupes, charmante reliure strictement de l'époque.





Une trace de rouille laissée par une épingle aux pages 100-101 du tome VII, exemplaire quasi exempt de toute rousseur.

Très rare et recherché et le plus souvent simplement relié à l'époque selon Clouzot.

Notre exemplaire, établi dans une charmante reliure d'époque, est dans une condition et une fraîcheur exceptionnelles.

Fica feita a minha avaliação, meramente pessoal e de acordo com alguns dos meus interesses, pois que muitas outras obras serão merecedoras de referência, mas deixo isso para a vossa consulta e leitura atentas.

Saudações bibliófilas.