quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Luis de Sotomaior – «Cantici canticorum Salomonis interpretatio»



SOTOMAIOR, Luís de, O.P.
Cantici canticorvm salomonis interpretatio, 1599
Portada


Apresento-vos hoje uma das mais belas portadas, pelo menos na minha opinião, impressas em Portugal.

Trata-se da portada da primeira edição da obra, impressa em Lisboa por Pedro Craesbeeck (1), em 1599, quando Luís de Sotomaior já tinha sido afastado da Universidade, em 1580, por suspeita de apoiar D. António, Prior do Crato (2):

Titulo: Cantici canticorum Salomonis interpretatio / autore F. Lodouico Soto Maior ord. praedicat S. Theol., magistro et diuinarum literarum conimbricae professore
Autor(es): Sotomaior, Luís de, 1526-1610, O.P.; Craesbeeck, Pedro, fl. 1597-1632, impr.
Publicação: Vlysippone : apud Petrum Crasbeeck, 1599 (Data do colófon 1601)
Referências: Anselmo 525, Palau 320535

É uma magnífica portada alegórica gravada a talhe doce, trabalho português segundo Ernesto Soares. A cartela central é ocupada pela figura da pastora Sulamite, sobre a qual anjos deixam cair rosas e à volta pode ler-se a legenda: “Fulcite me floribus, quid amore langueo”, ou seja, "amparai-me com flores, porque me sinto desfalecer de amor".



SOTOMAIOR, Luís de, O.P.
Cantici canticorvm salomonis interpretatio, 1599
Portada - Figura da pastora Sulamite


Dos lados, duas figuras aladas: à esquerda, a Poesia (ou a Música) e à direita a Ciência (ou a Sabedoria).


SOTOMAIOR, Luís de, O.P.
Cantici canticorvm salomonis interpretatio, 1599
Portada – Poesia (ou a Música)


SOTOMAIOR, Luís de, O.P.
Cantici canticorvm salomonis interpretatio, 1599
Portada – Ciência (ou a Sabedoria)


Luís de Sotomaior, nasceu em Lisboa em 1526 e faleceu em Coimbra em 1610. Foi um exegeta dominicano português que começou a ensinar a cadeira de Sagrada Escritura em Coimbra, em 1566. Era formado pela Universidade de Lovaina e participou Concílio de Trento.

Nesta obra comenta o texto bíblico de Salomão, talvez com menor qualidade literária do que Luís de León mas com maior erudição teológica. O texto é aproveitado para explicar temas ético-morais e inculcar a prática espiritual.



SOTOMAIOR, Luís de, O.P., 1526-1610 –
Cantici canticorvm salomonis interpretatio, 1599
Vol.2. Cap. IIII


Por causa das suas opções políticas, foi irradiado da Universidade 1580, acusado de ser um adepto de D. António, o Prior do Crato.

Espero que esta variação de temática tenha sido do vosso agrado. Gosto sempre de mostrar, como em Portugal, se pode competir com qualquer outro país na excelente qualidade de impressão e gravura. Pena que alguns desses livros enriqueçam outros patrimónios que não o nosso ... mas como pertença de toda a Humanidade estarão certamente bem entregues.

Saudações bibliófilas.


(1) Pela sua importância na Imprensa em Portugal, e por ter sido o “fundador” de uma “dinastia de importantes impressores”, falar-se-á dele mais tarde.

(2) D. António I de Portugal (Lisboa, 1531 – Paris, 26 de Agosto de 1595), mais conhecido pelo cognome de o Prior do Crato, foi filho do Infante D. Luís e neto de D. Manuel I, pretendente ao trono durante a crise sucessória de 1580 e, segundo alguns historiadores, rei de Portugal (durante um breve espaço de tempo em 1580, no continente, e desde então até 1583, confinado aos Açores). Não consta geralmente na lista de reis de Portugal, contudo é historicamente correcto incluí-lo, pois não foi só aclamado rei, como reinou de facto, durante um curto período.

Bibliografia de Luís de Sotomaior:

•Sotomaior, Luis de – Cantici Canticorum Salomonis Interpretatio, Lisboa, 1599-1601
•Sotomaior, Luis de – Ad Canticum Canticorum Notae Posteriores et Breviores, Paris, 1611
•Sotomaior, Luis de – Commentarius in Priorem ac Posteriorem Pauli Apostoli Epistolam ad Timothaeum et item in Epistolam eiusdem Apostoli ad Titum, Paris, 1610

Bibliografia sobre o autor:

•Rodrigues, Manuel Augusto – A Cátedra de Sagrada Escritura na Universidade de Coimbra. Primeiro Século (1537-1640), Coimbra, 1974
•Rodrigues, Manuel Augusto – "Influência da exegese judaica medieval nos comentários bíblicos portugueses do séc. XVI. O Comentário ao Cântico dos Cânticos de Fr. Luís de Sotomaior (Lisboa, 1599-1601)", in Jews and Conversos. Studies in Society and the Inquisition, Jerusalem, 1985
•Rodrigues, Manuel Augusto – "Ecos da exegese judaica medieval nas obras bíblicas de fr. Luis de León, fr. Luís de Sotomaior e fr. Heitor Pinto", in Pensamiento Medieval Hispano. Homenaje a Horacio Santiago-Otero, ed. José María Soto Rábanos, Madrid - Zamora, 1998, vol. II, 1383-1445 (1417-1423).
•Rodrigues, Manuel Augusto – Sagrada Escritura e espiritualidade nas Universidades de Coimbra e Salamanca no século XVI. Península. Revista de Estudos Ibéricos n.º 0 2003: 107-117

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Joaquim Machado de Castro – escultor e escritor



Joaquim Machado de Castro
[Visual gráfico / Caggiani lith.. - [S.l. : s.n., 1843]
(Lisboa : Off. Lith. de Santos. - 1 gravura : litografia, p&b ; 28x21 cm)

Joaquim Machado de Castro nasceu na cidade de Coimbra em 1731 e faleceu na de Lisboa em 1822.

Foi um dos maiores e mais famosos escultores portugueses e um dos de maior influência na Europa do século XVIII e princípio do século XIX.


Estátua Equestre de D. José I
Praça do Comércio – Lisboa


Para além da escultura, descrevia extensamente o seu trabalho, do qual se destaca, a extensa análise sobre a estátua de José I que se situa na Praça do Comércio em Lisboa, intitulada: «Descripção analytica da execução da estátua equestre,...». Lisboa, Na Imprensa Regia,1810.


Frontispício de
«Descripção analytica da execução da estátua equestre,...»
Lisboa, Na Imprensa Regia,1810.

Esta consiste no relato pormenorizado, do estilo e da execução técnica, levada a cabo no que é considerado o seu melhor trabalho, a estátua equestre do Rei D. José I de Portugal datada de 1775, integrada na obra de reconstrução da cidade de Lisboa, seguindo os planos de Marquês de Pombal, logo após o Terramoto de 1755. As partes da construção estão detalhadas e ilustradas, incluindo variados planos e componentes utilizados para a sua execução.

Mais modesta, mas de inegável interesse para o estudo da posição das Belas Artes na sociedade da época, apresento esta pequeno folheto de Machado de Castro.


 Encadernação em percalina vermelha
com dizeres a ouro na pasta anterior


Ex-libris de Fernando Morais

CASTRO, Joaquim Machado de – CARTA QUE HUM AFEIÇOADO ÀS ARTES DO DESENHO ESCREVEO A HUM ALUMNO DE ESCULTURA PARA O ANIMAR À PERSEVERANÇA NO SEU ESTUDO: mostrando-lhe as honras, e utilidades, que os Potentados, as Pessoas de juízo, civilidade, e instrucção, tem feito, e fazem aos Professores ingénuos das Bellas Artes, filhas do Desenho. / Escrita, e impressa a primeira vez em 1780 por seu author Joaquim Machado de Castro [...]. – Lisboa, Na Offic. da Academia R. das Sciencias, Ano de M DCCC XVII (1817). Por Ordem de SUA MAJESTADE. in 8º, 46 pp., 175 mm. Encadernação em percalina vermelha com dizeres a ouro na pasta anterior e na lombada. Exemplar muito limpo.


 Frontispício

Segunda edição acrescentada por Machado de Castro, originalmente publicada anónima, desta Carta em que o importante artista português reflecte acerca da utilidade das Artes em geral e da escultura em particular. “a fim de incitar aquela Corporação [a Academia Real das Ciências] a proteger ainda com mais empenho as Belas Artes filhas do desenho, contra os espíritos ignorantes e mal educados, que delas fazem ainda diminuto apreço” [da Advertência]


 Advertência

Espero que esta leitura vos tenha despertada a curiosidade por este personagem marcante nas Belas Artes na transição do século XVIII para o XIX em Portugal.

Para mim, foi com bastante agrado que li este “livrinho”

Saudações bibliófilas.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

«Livraria Alfarrabista Miguel de Carvalho» - Novidades



Livraria Alfarrabista
de Miguel de Carvalho
(Coimbra)

Este activo Livreiro-Antiquário apresentou recentemente as novidades introduzidas na sua livraria virtual: http://www.livro-antigo.com/site/temas.php?cod=lmonth de livros seleccionados, antigos e raros.

Aqui ficam alguns exemplares, escolhidos um pouco ao acaso como de costume, para ilustração.


António Diniz da Cruz e SYLVA
O Hyssope, poéma heroi-comico
Na Officina de A. Bobée, Paris, 1817. In-8.º de XXXIII-137(1) págs. Encadernação meia inglesa com lombada em pele. Nova edição ornada com uma bela gravura e dirigida pelo erudito e philologo Timotheo Lecussan Berdier de quem são os prologos e notas.

Claro que esta consulta não dispensa a visita física da referida Livraria onde muitas surpresas vos estarão reservadas, nomeadamente a descoberta de algum livro que procuram há algum tempo.


António José d' ALMEIDA
Situação Clara – Carta Aberta ao Cidadão Manuel d' Arriaga
Lisboa, António José D' Almeida Editor, 1907. In-8.º de 16 págs. Br.
Capas de brochura com ocasionais picos de acidez.

Nem todos os títulos, senão mesmo a maioria, estão referidos nestas listagens e ainda bem ... pelo menos na minha opinião!


& ETC - COLECÇÃO CONTRAMARGEM
Edições & ETC, Lisboa, 1979 a 1984. In-8.º de vinte folhetos com 12(2), 17(2), 20(2), 17(2), 21(1), 13(1), 30(1), 14(1), 23, 25(1), 33(1), 18(1), 28(2), 27, 29(2), 31, 29(2), 38(1), 24(2) e 25(2) páginas respectivamente. Br. Colecção irrepreensivelmente em excelente estado de conservação.
Obs.: Colecção completa e difícil de reunir em virtude do título BISPO DE BEJA ter sido apreendido pela Polícia Judiciária. PEÇA DE COLECÇÃO.


Boa consulta e não esqueçam a visita...

Saudações bibliófilas.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

«La historia de un sueño» de Carlos Rey




Não posso, nem quero, deixar de manifestar o meu mais profundo agradecimento ao meu estimado amigo Marco Pedrosa, e ele vai-me perdoar certamente a ousadia, pela indicação da página de Carlos Rey: http://aquiseencuaderna.com/, que não conhecia.


Em jeito de homenagem a Carlos Rey, deixo aqui o convite para uma visita calma e paciente, pois para além de vasta informação sobre a arte da encadernação, com vários documentos em versão pdf, aqui se encontram, igualmente, disponíveis muitos livros, na mesma versão, de consulta quase obrigatória, pelo menos para os menos conhecedores como é o meu caso.

Como exemplo, deixo aqui este livro «La Tipografia y los Tipógrafos» por Antonio Estéban del Olmo, com o respectivo link para a versão pdf.




Boa visita com as minhas saudações bibliófilas e tipográficas.

domingo, 25 de outubro de 2009

Biblioteca Nacional de Portugal: «A expulsão dos jesuítas dos Domínios Portugueses: 250.º aniversário»




A Biblioteca Nacional de Portugal organiza uma exposição subordinada ao tema: «A expulsão dos jesuítas dos Domínios Portugueses: 250.º aniversário» de 30 de Setembro a 31 de Dezembro no «Museu do Livro»
Entrada livre
Horário: 2ª a 6ª feira das 13h às 19h Sábado das 10h às 17h


Alegoria à expulsão dos Jesuítas de Portugal.
Gravura anónima, francesa, ca 1760
BNP E.A. 9 P., f. 9

“Assinala-se, em Setembro de 2009, o 250.º aniversário da expulsão da Companhia de Jesus dos Domínios Portugueses. Trata-se, seguramente, de um dos temas mais polémicos da historiografia nacional.

Esta oscila geralmente entre duas posições antagónicas. Por um lado, a «lenda negra» que assaca todo o tipo de acusações à milícia inaciana, muitas das quais sem qualquer verosimilhança. O processo começou logo com o intenso combate político, ideológico e religioso travado entre a Coroa, sob a orientação de Sebastião José de Carvalho e Melo, e os discípulos de Loiola, tendo perdurado até ao século XX, com particular virulência no decurso da Primeira República. Por outro lado, surgiu a «lenda dourada» que atribuiu toda a responsabilidade à idiossincrasia e ao comportamento do futuro marquês de Pombal, isentando os religiosos de quaisquer responsabilidades e transformando-os em meras vítimas de um algoz que pretendera, desde o início do governo de D. José I, destruí-los.

A resistência da Companhia de Jesus às novas orientações políticas assumiu um carácter mais dramático em Portugal e Espanha, devido aos enormes privilégios e à grande influência de que gozava sobretudo nas Américas Portuguesa e Espanhola, teatros onde se jogou a sorte dos inacianos em meados de Setecentos.
A oposição da Província do Paraguai da Companhia de Jesus à entrega a Portugal dos Sete Povos das Missões, a resistência da Vice-P

rovíncia do Maranhão à perda do poder temporal nas aldeias de índios, a participação activa dos jesuítas na campanha contra a criação da Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão, a falta de cooperação dos missionários nas operações de demarcação das fronteiras na Amazónia, entre outros motivos, acabaram por conduzir, a partir do final de 1757, a uma situação de crescente hostilidade entre o governo metropolitano e a milícia inaciana.


Catálogo da Exposição

A associação de alguns dos mais notórios jesuítas aos sectores descontentes agravou a posição da Assistência de Portugal da Companhia de Jesus perante o governo. A tentativa de regicídio forneceu uma oportunidade à Coroa para eliminar todos os grupos oposicionistas, da alta nobreza ao clero. Não demorou muito para que a Carta Régia de 3 de Setembro de 1759 determinasse a expulsão dos inacianos do Reino de Portugal e respectivos Domínios Ultramarinos.

Decorridos alguns anos, verificou-se a expulsão dos jesuítas do reino de França (1763), decidida por Luís XV, e, pouco depois, de todos os territórios pertencentes à Coroa de Espanha, decretada por Carlos III, através da Pragmática Sanção de 2 de Abril de 1767.

O golpe final foi aplicado pela Santa Sé com a dissolução da congregação a 21 de Julho de 1773, por decisão de Clemente XIV (1769-1774) através do breve Dominus ac Redemptor.

Assim terminou um período de secular expansão que conferira à milícia inaciana um cariz mundial, com intensa presença na Europa, em África, na América e na Ásia, facto que lhe permitiu criar uma vasta rede escolar, desenvolver inovadores métodos de missionação em vários continentes, designadamente a inculturação, promover a investigação e a divulgação de conhecimentos científicos em diferentes domínios e, também, criar um empório económico de alcance global.”
(1)

Pela importância do acontecimento, quer para a História e Cultura, bem como pela sua relevância na evolução literária, com os inevitáveis reflexos na bibliofilia, trata-se duma exposição a não perder.

Saudações bibliófilas

(1) Textos da Comissáo da Organização da Exposição.

sábado, 24 de outubro de 2009

Fialho de Almeida – «Lisboa Galante»



«Lisboa Galante»
Encadernação

Como prometido, apresento hoje o livro de Fialho de Almeida. No entanto, desiludam-se aqueles que certamente esperariam ver os exemplares de «Os Gatos», pois escolhi um livro mais modesto, uma das suas primeiras obras – «Lisboa Galante».

Trata-se de um conjunto de contos, cujo enredo se desenrola em Lisboa no último quartel do século XIX, o qual ilustra bem tudo aquilo que se disse sobre a personalidade e estilo literário de Fialho de Almeida.


«Lisboa Galante»
Indice


Escolhi este exemplar, muito embora não seja um título muito procurado e de um autor que se encontra um pouco no esquecimento na actualidade, também pela sua encadernação.

Mas vejamos então o livro:


«Lisboa Galante»
Página de título

FIALHO DE ALMEIDA, José Valentim – Lisboa Galante. Porto, Livraria Civilisação – Casa Editora de Costa Santos, Sobrinho & Diniz. 4 - Santo Ildefonso – 12, 1890. 321- (3) pp. 1ª edição.


«Lisboa Galante»
Capas de brochura

Encadernado conservando as capas de brochura.


«Lisboa Galante»
Encadernação - Lombada

Encadernação meia-francesa em pele bordeaux com cantos. 5 nervuras na lombada com rótulos, verde escuros, com cercadura de filet em casa-fechada, e florões dourados entre os nervos com cercaduras em casa-fechada igualmente. Data na base da lombada. Filets nos remates da pele, junto ao papel de tipo francês, nas pastas.


«Lisboa Galante»
Encadernação – Pasta anterior


Para uma primeira abordagem do livro deixo alguns excertos, um pouco ao acaso, como é meu hábito.


«Lisboa Galante»
“A condessa”


«Lisboa Galante»
“Os cabelos de Alzira”



«Lisboa Galante»
“As ruas – O demónio da vitrine - Um adultério cor de roza”


Boa leitura e, quem sabe se com este modesto artigo, tenha despertado a curiosidade para a leitura deste autor.

Pelo menos ele teve a coragem de afrontar Eça de Queirós (1) o que era, e ainda é, um pouco difícil, pois este sempre foi considerado como um “autor de culto”.


Saudações bibliófilas

(1) Maior audácia, considero apenas a de José Agostinho de Macedo, quando se propôs “corrigir os erros” de «Os Lusíadas» de Camões!
Leia-se neste Blog o artigo: José Agostinho de Macedo


sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Fialho de Almeida – Ensaio de um (auto) - retrato




Fialho de Almeida

Para variar e, como introdução a um dos seus livros, vou apresentar hoje um autor português pouco conhecido. Aliás o seu nome permanecerá para sempre ligado a uma só obra «Os Gatos». No entanto, pelo seu encadeamento com os artigos anteriores, parece-me importante lembrá-lo. Trata-se dum representante do jornalismo, de tipo panfletário, que se fazia nos finais do século XIX.

José Valentim Fialho de Almeida nasceu em Vila de Frades a 7 de Maio 1857 e faleceu em Cuba a 4 de Março de 1911.

Em 1866 foi para Lisboa, para o Colégio Europeu, fazer os estudos elementares, que seguiu regularmente até 1872.
Na sua Autobiografia, publicada em «À Esquina», Fialho relata: «uma criaturinha triste e sossegada», razões que se juntam ao facto de seu pai nunca o poder vir visitar e de, devido à sua pobreza, não poder mandar bons presentes ao director, para lhe valerem seis anos de privações e de maus tratos, suportados por uma «resistência aparentemente submissa e tímida de orgulho», que pela vida fora irá ser, segundo ele, a sua independência e a sua força. Escutemos então a voz do próprio Fialho: «No meu tempo de colegial [...] a vida no internato era a seguinte. Erguíamo-nos da cama às cinco horas, Verão e Inverno, estudávamos até às oito, hora regulamentar do almoço [...] depois do que, entrávamos de novo nas salas de estudo, onde nos amesendávamos até às quatro da tarde [...] Quatro horas dadas, caligrafia durante hora e meia, e ia-se jantar.[...] Nas aulas. quase sempre fechadas, sem respiradouros, nem capacidade aérea, nem tiragem, havia constantemente um fétido morno a leite azedo [...] Os dormitórios eram no andar de cima dum prédio velho, grosseiramente adaptado à moradia de tamanha tropa de indivíduos [...] Os banhos raríssimos. Aos domingos de manhã, meia hora de ginástica em argolas e barras, não obrigatória, mas à vontade das famílias, que ainda nesse tempo, as da província sobretudo, consideravam a ginástica como um exercício de palhaços.»

Nesse ano viu-se forçado, por circunstâncias da sua vida económica, a deixar o colégio e a empregar-se como praticante de farmácia, numa botica do Largo do Mitelo, perto do Campo de Santana.
«Ninguém pode imaginar os tormentos que eu passei. Davam-me três horas aos domingos para oxigenar os pulmões cansados de respirar fedentinas de drogas e ervas podres; a minha alimentação era uma berundaga que sobrava do jantar da família do patrão, e que mal poderei comparar como nutriência e aspecto, às mais asquerosas pastas que os soldados distribuem nos quartéis, à pobralhada. Dormia num cacifro de seis palmos de largo por vinte de comprido e dez de altura, numa enxerga metida numa espécie de gaveta, que, que de manhã reentrava na parede, e da qual tanta vez pedi a Deus me talhasse o caixão onde acabar os meus grotescos males por uma vez. A baiuca onde eu praticava era tão velha, infecta, escura e desordenada, que ainda hoje me surpreendo da triunfância vital deste arcabouço que pôde resistir sete anos àquele inferno de ratos, pias rotas, miséria alimentícia, e rançuns de unguentos pré-históricos.»

Apesar de mergulhado neste ambiente, consegue concluir os seus estudos secundários e ganhar mesmo um grande amor pela literatura: «Esta residência entre drogas estragou-me a saúde e além de outros achaques de espírito e de corpo, incutiu-me uma tendência mórbida para as letras.» e continua «Gastei sete anos a percorrer todos os lugares-comuns dos escritores nacionais, de 1830 para cá e a matar o tédio desta leitura com romances de cadernetas, e pequenos ensaios literários de fábrica própria para jornais de província, onde a petulância das minhas asneiras me acarretou, por Leiria e Viseu, foros de escritorinho esperançoso. Minavam-me o tédio e uma ânsia de liberdade insaciável, e alcancei que me deixassem ir findar os preparatórios do liceu, findos os quais, ao matricular-me na Escola Politécnica, o falecimento de meu pai me obrigou a abandonar botica e estudos, para ir acudir ao bem estar dos meus, ameaçado terrivelmente por aquela morte que nos deixara às portas da miséria. Por lá estive um ano inteiro, e tornado no ano seguinte, por aí fora vim vindo, té terminar o curso médico. Como vivi todo este tempo? Dos recursos do pouco que minha pobre mãe podia dar-me, de alguma colaboração avulsa por dicionários e pequenas folhas literárias, e enfim de lições que fui dando à hora em que os meus condiscípulos folgavam, descuidados, felizes, bem comidos, bem vestidos, ignorando o martírio do pão ganho aos patacos, e os prodígios de energia heróica, consumida a vencer economias de cigarros e de ceias, e a desaparecer enfim de toda a parte onde o ‘sucesso tem praça’, e poderia ser notado o nosso casaco velho, o nosso cabelo crescido e as nossas botas roídas nos tacões. Vencidos os cursos científicos, em vez de seguir, como os meus condiscípulos, nas facilidades profissionais que eles fomentavam, cometi a tolice de me lançar numa vida literária, de querer viver por uma pena donde continuamente espirravam revoltas, e que fatalmente havia de me agravar as dificuldades do caminho.»


«A Brasileira»

Enquanto prossegue, lenta mas com dedicação, os seus estudos (concluirá o Curso de Medicina com 38 anos!...) torna-se conhecido nos meios boémios, jornalísticos e literários e colabora em jornais e revistas, escreve folhetins, crónicas, críticas literárias e teatrais, faz traduções. Em 1881, publicou o seu primeiro livro, os «Contos», que dedicou a Camilo Castelo Branco, e no ano imediato a «Cidade do Vício», onde estão os seus melhores trabalhos de ficção. O seu local de trabalho e "residência" é a mesa do café - O Martinho, a Brasileira, são as suas paragens dilectas. «Nos meus primeiros anos de escolar, não me lembro de sair nunca do Martinho, com o pai Rosa e António Pedro e outros noctâmbulos, senão depois de terem batido no Carmo as quatro da alva.»

Em 1889, o editor portuense Alcino Aranha, seduzido pelo grande êxito que tinham tido as «Farpas» de Ramalho Ortigão, propôs-lhe a publicação de uma crónica mensal da vida portuguesa, tarefa que Fialho aceitou, e em Agosto desse ano saiu a público o primeiro panfleto, que foi tão bem recebido, que em breve passou de mensal a semanal. Durou a sua publicação até Janeiro de 1894, e estes artigos acham-se actualmente reunidos em seis volumes, que conservam o título primitivo de «Os Gatos». Esta obra ficou na literatura portuguesa como umas das grandes obras de panfletários, tão características da literatura jornalística do final do século XIX.
Porquê este título – «Os Gatos»? Fialho explica-o no pórtico do primeiro panfleto: «Deus fez o homem à sua imagem e semelhança, e fez o crítico à semelhança do gato. Ao crítico deu ele, como ao gato, a graça ondulosa e o assopro, o ronrom e a garra, a língua espinhosa e a câlinerie. Fê-lo nervoso e ágil, reflectido e preguiçoso; artista até ao requinte, sarcasta até à tortura, e para os amigos bom rapaz, desconfiado para os indiferentes e terrível com agressores e adversários. [...] Desde que o nosso tempo englobou os homens em três categorias de brutos, o burro, o cão e o gato – isto é, o animal de trabalho, o animal de ataque e o animal de humor e fantasia – porque não escolhermos nós o travesti do último? É o que se quadra mais ao nosso tipo, e aquele que melhor nos livrará da escravidão do asno, e das dentadas famintas do cachorro.»


«Os Gatos»

Define-se como um «prosador colérico», um crítico demolidor, impiedoso e, por vezes, excessivo e injusto. Terá sido o caso da sua polémica com Eça de Queirós.
Costuma dizer-se que os críticos literários mais severos e implacáveis foram ou são, em geral, escritores frustrados. Não escreveu, porém, um único romance. As tentativas que fez nesse sentido saíram frustradas.

Terá essa circunstância algo a ver com a violência com que analisa «Os Maias»?

Em jovem era um profundo admirador de Eça. Diz da grande, da profunda impressão que lhe causou, aos 16 anos, a leitura da primeira edição de «O Crime do Padre Amaro». Mais tarde faz também uma defesa de «O Primo Basílio», face aos que acusam a obra de imoralismo. É relativamente a «Os Maias» que a sua veia de «prosador colérico» irá abafar a sua admiração anterior. Numa crítica publicada em «O Repórter» em 20 de Julho de 1888 (mais tarde incluída no volume Pasquinadas) considerará o romance um «trabalho torturante, desconexo e difícil de um homem de génio que se perdeu num assunto, e leva 900 páginas a encontrar-lhe saída.» Na sua opinião, «Os Maias» não passa de «um livro estrangeiro, que não conhecendo da vida portuguesa senão exterioridades, cenas de hotel, artigos e jornais, e compte-rendus de reporters palavrosos, desatasse a apreciar-nos através de três ou quatro observações mal respigadas, e a inferir por intermédio da fantasia satírica, tudo o mais.»

Fialho de Almeida é um dos autores de difícil rotulação. Geralmente definido como um decadentista, mercê das múltiplas contradições que foi exibindo, percorreu toda uma variedade de estilos, mas, no que diz respeito à sua obra mais válida (os seus contos), pode-se colocá-lo numa plataforma realista-naturalista, ligada ás correntes francesas do seu tempo, mas também de alguns dos próceres da chamada Geração de 70, incluindo o seu «odiado» Eça de Queirós. Deve, no entanto, muito a Camilo Castelo Branco. Mas vejamos como ele fala de si na Autobiografia: «tendo escrito cerca de mil e trezentas páginas por ano, o que representa uma actividade rara num país onde a bagagem literária é um livro de versinhos e meia dúzia de artigos laudatórios, apenas consegui, na opinião dos meus contemporâneos, “arranjado” a reputação de um desequilibrado indolente, que arma à sensação por via do galicismo, e a de prosador colérico, proibido do sucesso pelo mau sestro de não poder ser lido por senhoras. Dos resultados materiais do meu trabalho acérrimo, baste a V. saber que nem logro auferir da pena o sustento necessário, ganhando menos que um carpinteiro ou um pedreiro, e tendo de resignar os meus gastos a condições de parcimónia de que só eu sei o mistério, e perante as quais forçoso me foi abdicar de todas as aspirações e vanglórias que entram pelo meio na confecção da alegria, e são neste mundo o factor principal da felicidade.»

Proclamada a República a 5 de Outubro de 1910, Fialho que, exceptuando o curto período de adesão ao franquismo, sempre criticara a instituição monárquica moribunda, não se dá bem com o novo regime. «Dada a ignorância e o desmazelo relaxado, que foi o que a Monarquia legou às classes médias, dadas as tendências vaziamente exibicionistas, que foi o que o partido republicano deu às multidões, a República, como forma de governo, há-de reproduzir todos os fracassos da Monarquia... Na essência, o País ficará o mesmo. Que digo eu? Ficará pior.»

Morre em 1911 e, vinte anos depois, os seus restos mortais são trasladados para um jazigo próprio no cemitério da vila de Cuba.


Fialho de Almeida

Publicou em volume: Pasquinadas (1890); Lisboa Galante (1890); Vida Irónica (1892); O país das uvas (1893); Madona do Campo Santo (1896); À Esquina (1903). Este, que é o último volume que publicou em vida, intitulou-o, como às Pasquinadas e à Vida Irónica, Jornal de um vagabundo. Postumamente publicaram-se as seguintes obras, que são, na quase totalidade dos casos, constituídas por colaboração dispersa em várias publicações: Barbear, Pentear (1911); Saibam quantos, cartas e artigos políticos (1912); Estâncias de Arte e Saudade e Aves migradoras (1921); Figuras de destaque (1924); Actores e autores, impressões de teatro (1925); e Vida Errante (1925). Traduziu a peça João Darlot em 3 actos, original de Legendre, que foi estreada no Teatro da Trindade a 9 Abril 1898. Em alguns dos seus trabalhos usou o pseudónimo de Valentim Demónio.


Bibliografia:
«In Memoriam de Fialho de Almeida», Porto, 1917.
ALMEIDA, Fialho de – «A Esquina», Coimbra, 1903
ALMEIDA, Fialho de – «Saibam Quantos, cartas e artigos políticos», Lisboa, 1912
BRANDÃO, Raul – «Memórias», vol. I - II, 2ª ed., Porto, 1919.
COELHO, Jacinto Prado – «Introdução à antologia Fialho de Almeida», Lisboa, 1944.
SOUSA, Clementina Ferreira de – «Fialho de Almeida e as artes plásticas», Lisboa, 1954.


Saudações bibliófilas.

«Renascimento Avaliações e Leilões, SA» – Leilão da Biblioteca de Paulo Monteiro Levy e Outras Proveniências




Quero aqui deixar a notícia desta importante venda, que irá decorrer nos dias 26, 27, 28 e 29 de Outubro. Será fundamentalmente leiloada a Biblioteca do Dr. Paulo Monteiro Levy, a qual se encontra enriquecida com livros de Outras Proveniências.

Na introdução lê-se sobre este ilustre clínico e bibliófilo:

“Paulo Monteiro Levy, foi um distinto médico e operador, com consultório em Lisboa.
Homem de pensamento livre e grande cultura, formou esta sua biblioteca com base temas que abrangem as mais diversas áreas do conhecimento, cito algumas que sei terem sido das que mais atenção lhe mereceram e que constituem conjuntos de referência nesta biblioteca:
- Constitucionalismo e História de Portugal
- Pombalina - Escravatura
- Numismática
- Maçonaria
- Imprensa periódica do Século XIX/XX
- Inquisição - Judaísmo
- Jesuítas
- História da Medicina
- Literatura - Banda Desenhada
Nas suas andanças por este mundo das livrarias e leilões, e graças ao seu gosto pelo diálogo, granjeou muitas e duradouras amizades
entre livreiros e coleccionadores.
Pessoalmente mantive um longo e fraterno relacionamento com o Dr. Paulo Levy, foram mais de três décadas. Para além dos livros convivemos em tertúlias e alguns outros areópagos ao longo de todos estes anos. Tenho a certeza que apesar da diferença de idades ele me considerava um seu irmão mais novo, tal como eu o considerei
e considero um irmão mais velho.
Espero que este leilão, encontre em si a receptividade e interesse que penso que merece.
Até lá,
José Vicente
Lisboa, Outubro de 2009”



Fica aqui o link para o Catálogo em versão pdf:


Creio ser um Catálogo a merecer a nossa consulta e reflexão, pelo excelente repositório de obras que encerra.
Boa sorte ... caso estejam interessados!

Saudações bibliófilas

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Conferências Democráticas do Casino




O Casino Lisbonense

As Conferências do Casino (1) foram uma série de conferências realizadas na primavera de 1871 em Lisboa. Foram impulsionadas pelo poeta Antero de Quental, que incutiu no chamado Grupo do Cenáculo o entusiasmo para a sua realização. Era bastante influenciado pelas ideias revolucionárias de Proudhon.
Este grupo também passou a ser conhecido como Geração de 70 (2). Tratava-se de um grupo de escritores e intelectuais jovens e de vanguarda. As Conferências do Casino, ou Conferências Democráticas do Casino, são uma réplica da anterior Questão Coimbrã.

A 18 de Maio de 1871 apareceu no jornal «A Revolução de Setembro», um texto subscrito por Adolfo Coelho, Antero de Quental, Augusto Soromenho, Augusto Fuschini, Eça de Queirós, Germano Vieira Meireles, Guilherme de Azevedo, Jaime Batalha Reis, Oliveira Martins, Manuel Arriaga, Salomão Saragga e Teófilo Braga. Estas personalidades assinam um manifesto (3) onde apontam as intenções de reflectir sobre as mudanças políticas e sociais que o mundo sofria, de investigar a sociedade como ela é e como deverá vir a ser, de estudar todas as ideias novas do século e todas as correntes do século.

Têm assim em mente uma visão internacionalista e de participação activa na sociedade. Recusam que Portugal continue avesso às novas ideias que circulam na Europa.



Proudhon e seus filhos, por Gustave Courbet (1865)

Vejamos o que escreveram, pois define uma forma de pensamento importante para a nossa cultura que é o reflexo dos “ventos” que sopram da Europa:

"Ninguém desconhece que se está dando em volta de nós uma transformação política, e todos pressentem que se agita, mais forte que nunca, a questão de saber como deve regenerar-se a organização social.

Sob cada um dos partidos que lutam na Europa, como em cada um dos grupos que constituem a sociedade de hoje, há uma ideia e um interesse que são a causa e o porquê dos movimentos.

Pareceu que cumpria, enquanto os povos lutam nas revoluções, e antes que nós mesmos tomemos nelas o nosso lugar, estudar serenamente a significação dessas ideias e a legitimidade desses interesses; investigar como a sociedade é, e como ela deve ser; como as Nações têm sido, e como as pode fazer hoje a liberdade; e, por serem elas as formadoras do homem, estudar todas as ideias e todas as correntes do século.

Não pode viver e desenvolver-se um povo, isolado das grandes preocupações intelectuais do seu tempo; o que todos os dias a humanidade vai trabalhando, deve também ser o assunto das nossas constantes meditações.

Abrir uma tribuna, onde tenham voz as ideias e os trabalhos que caracterizam este momento do século, preocupando-se sobretudo com a transformação social, moral e política dos povos;

Ligar Portugal com o movimento moderno, fazendo-o assim nutrir-se dos elementos vitais de que vive a humanidade civilizada;

Procurar adquirir consciência dos factos que nos rodeiam, na Europa;

Agitar na opinião pública as grandes questões da Filosofia e da Ciência moderna;

Estudar as condições da transformação política, económica e religiosa da sociedade portuguesa;

Tal é o fim das Conferências Democráticas.

Têm elas uma imensa vantagem, que nos cumpre especialmente notar: preocupar a opinião com o estudo das ideias que devem presidir a uma revolução, de modo que para ela a consciência pública se prepare e ilumine, é dar não só uma segura base à constituição futura, mas também, em todas as ocasiões, uma sólida garantia à ordem.

Posto isto, pedimos o concurso de todos os partidos, de todas as escolas, de todas aquelas pessoas que, ainda que não partilhem as nossas opiniões, não recusam a sua atenção aos que pretendem ter uma acção – embora mínima – nos destinos do seu país, expondo pública mas serenamente as suas convicções e o resultado dos seus estudos e trabalhos.

Lisboa, 16 de Maio de 1871 – Adolfo Coelho, Antero de Quental, Augusto Soromenho, Augusto Fuschini, Eça de Queiroz, Germano Vieira de Meireles, Guilherme de Azevedo, Jaime Batalha Reis, Oliveira Martins, Manuel de Arriaga, Salomão Saragga, Téofilo Braga."

As Conferências iniciaram-se a 22 de Maio.


Antero de Quental

Na 1ª Conferência: «O Espírito das Conferências», que decorreu a 22 de Maio de 1871, foi orador Antero de Quental.

Esta intervenção pode considerar-se, de certa forma, como introdutória daquelas que se seguiram. De acordo com os relatos dos jornais da época, único testemunho que resta, esta palestra consistiu num desenvolvimento do programa que tinha sido previamente apresentado.

Antero começou por se referir à ignorância e indiferença que caracterizava a sociedade portuguesa, falando da repulsa do povo português pelas ideias novas e na missão de que eram incumbidos os "grandes espíritos" e que consistia na preparação das consciências e inteligências para o progresso das sociedades e resultados da ciência. Referiu o exemplo que constitui a Europa e a excepção formada por Portugal em face deste exemplo.

Para Antero o ponto fulcral que iria ser focado nas futuras Conferências seria a Revolução, o seu conceito, que Antero define como um conceito nobre e elevado.

No final, Antero apela às "almas de boa vontade" para meditarem nos problemas que iriam ser apresentados e para as possíveis soluções, embora estas últimas se constituíssem como opostas aos princípios defendidos pelos conferencistas.

A 2ª Conferência: «Causas da Decadência dos Povos Peninsulares nos últimos três séculos» , a 24 de Maio de 1871, foi igualmente feita por Antero de Quental.

Na introdução Antero pressupõe três atitudes ou pontos de partida. Em primeiro lugar "O Peninsular", falar da Península como um todo; em seguida uma aceitação – os Povos obedecem a um estatuto anímico colectivo, estrutural – é a crença no génio de um Povo; e, por fim, uma atitude judicatória – Antero julga a História, como uma entidade, o juízo moral, social e político.

Em seguida enumera e discute as causas da decadência. A primeira causa apontada por Antero foi o catolicismo transformado pelo Concílio de Trento (1545-1563), com a Contra-Reforma e a Inquisição, que desvirtuara a essência do Cristianismo, conduzindo a uma atrofia da consciência individual; de seguida, aponta o Absolutismo, a Monarquia Absoluta que constituía a "ruína das liberdades sociais", o centralismo imperialista viera coarctar as liberdades nacionais, levando a "raça" ibérica a uma cega submissão; por fim, a última causa é o desenvolvimento das conquistas longínquas, as conquistas ultramarinas, que exauriram as energias do país, levando à criação de hábitos prejudiciais de grandeza e ociosidade e que conduziram ao esvaziamento de população de uma nação pequena, substituindo o trabalho agrícola pela procura incerta de riqueza, a disciplina pelo risco, o trabalho pela aventura.

Para Antero a solução destes problemas é a seguinte:

"Oponhamos ao catolicismo (...) a ardente afirmação da alma nova, a consciência livre, a contemplação directa do divino pelo humano (...), a filosofia, a ciência, e a crença no progresso, na renovação incessante da humanidade pelos recursos inesgotáveis do seu pensamento, sempre inspirado. Oponhamos à monarquia centralizada (...) a federação republicana de todos os grupos autonômicos, de todas as vontades soberanas, alargando e renovando a vida municipal (...). Finalmente, à inércia industrial oponhamos a iniciativa do trabalho livre, a indústria do povo, pelo povo, e para o povo, não dirigida e protegida pelo Estado, mas espontânea (...), organizada de uma maneira solidária e equitativa..."

A conclusão, proferida num tom idealista e retórico, .tem uma dimensão progressista, visa com a instauração de uma revolução, a acção pacífica, e, sobretudo, pela crença no progresso inspirado numa moralização social (ideia bebida em Proudhon), reformular toda a organização socio-política.

Na 3ª Conferência, a 8 de Junho de 1871, Augusto Soromenho professor do Curso Superior de Letras, falou de «A Literatura Portuguesa».

Nesta palestra fez uma crítica aos valores da literatura nacional, concluindo que ela não tem revelado originalidade. Há uma negação sistemática dos valores literários nacionais, com excepção apenas de alguns escritores como Luís de Camões, Gil Vicente e poucos mais, atacando os poetas, dramaturgos, romancistas e jornalistas seus contemporâneos. Transmite uma visão decadentista, ao negar originalidade e peculiaridade à literatura nacional.


Retrato de François-René de Chateaubriand

Tem a sua vertente revolucionária ao inculcar a ideia de que a literatura portuguesa deverá sofrer um processo de reconstrução que deverá partir de uma sociedade revitalizada. Uma literatura com carácter nacional mas que se guie por valores universais.

Propôs como modelo, para ser seguido, desta renovação salvadora da literatura nacional Chateaubriand, com o conceito de “belo absoluto” como ideal da literatura, constituindo esta um retrato da Humanidade na sua totalidade

A 4ª Conferência: «A Literatura Nova ou o Realismo como Nova Expressão de Arte», a 12 de Junho de 1871, teve como palestrante Eça de Queirós.


Eça de Queirós

Esta conferência tem também a sua inspiração em Proudhon, no aspecto programático, e no espírito revolucionário destas Conferências referido por Antero nas palestras que proferiu.

Eça salientou a necessidade de operar uma revolução na literatura, semelhante àquela que estava a ter lugar na política, na ciência e na vida social. A revolução é um facto permanente, porque manifestação concreta da lei natural de transformação constante, e uma teoria jurídica, pois obedece a um ideal, a uma ideia. É uma influência claramente proudhoniana. O espírito revolucionário tem tendência a invadir todas as sociedades modernas, afirmando-se nas áreas científica, política e social. A revolução constitui uma forma, um mecanismo, um sistema, que também se preocupa com o princípio estético. O espírito da revolução procura o verdadeiro na ciência, o justo na consciência e o belo na arte.

A arte, nas sociedades, encontra-se ligada à seu progresso e decadência, sendo condicionada por causas permanentes e causas acidentais – ideias que formam os períodos históricos e determinam os costumes, também denominadas históricas.

Esta teoria indicia a conciliação da teoria determinista de Taine, com a influência do meio e do momento histórica na criação artística, e o princípio moral de Proudhon, que refere o papel social do artista e a utilidade da arte.

A revolução, que inspirara tantos escritores, como Rabelais e Beaumarchais, é renegada e esquecida pela arte contra-revolucionária. Faz uma crítica cerrada ao Romantismo, a Chateaubriand, refere a separação entre o artista e a sociedade que conduz à arte pela arte e, por fim, anuncia o princípio da reacção salutar que começava a acontecer contra a "impostura oficializada" – o Realismo, que coincide com o despertar do espírito público.

"Que é, pois, o realismo? É uma base filosófica para todas as concepções do espírito – uma lei, uma carta de guia, um roteiro do pensamento humano, na eterna região do belo, do bom e do justo. Assim considerado, o realismo deixa de ser, como alguns podiam falsamente supor, um simples modo de expor – minudente, trivial, fotográfico. Isso não é realismo: é o seu falseamento. É o dar-nos a forma pela essência, o processo pela doutrina. O realismo é bem outra coisa: é a negação da arte pela arte; é a proscrição do convencional, do enfático e do piegas. É a abolição da retórica considerada como arte de promover a comoção usando da inchação do período, da epilepsia da palavra, da congestão dos tropos. É a análise com o fito na verdade absoluta. Por outro lado, o realismo é uma reacção contra o romantismo: o romantismo era a apoteose do sentimento; o realismo é a anatomia do carácter. É a crítica do homem. É a arte que nos pinta a nossos próprios olhos – para nos conhecermos, para que saibamos se somos verdadeiros ou falsos, para condenar o que houver de mau na nossa sociedade."
Dando uma noção mais concreta, Eça sistematiza:

"1º - O Realismo deve ser perfeitamente do seu tempo, tomar a sua matéria na vida contemporânea.(...);

2º - O Realismo deve proceder pela experiência, pela fisiologia, ciência dos temperamentos e dos caracteres;

3º - O Realismo deve ter o ideal moderno que rege a sociedade – isto é: a justiça e a verdade”

Foca aqui as relações da literatura, da moral e da sociedade. A arte deve visar um fim moral, auxiliando o desenvolvimento da ideia de justiça nas sociedades. Fazendo a crítica dos temperamentos e dos costumes, a arte auxilia a ciência e a consciência. O Realismo conduzirá à regeneração dos costumes. Concluindo:

"A arte presente atraiçoa a revolução, corrompe os costumes. De tal forma, ou se há-de tornar realista ou irá até à extinção completa pela reacção das consciências. – O modo de a salvar é fundar o realismo, que expõe o verdadeiro elevado às condições do belo e aspirando ao bem, - pela condenação do vício e pelo engrandecimento do trabalho e o da virtude”


Na 5ª Conferência, a 19 de Junho de 1871, Adolfo Coelho, analisa: «A Questão do Ensino»


Adolfo Coelho

Palestra proferida por Adolfo Coelho que se inicia com uma posição de ataque às “coisas portuguesas”. Traça um quadro desolador do ensino em Portugal, mesmo o superior, através da História.

A solução proposta passava pela separação completa da Igreja e do Estado e por uma mais ampla liberdade de consciência, solução que, no entanto, era restrita a uma zona da vida nacional.

Para Adolfo Coelho a Igreja deprimia o povo e do Estado nada havia a esperar. Tomando isto em consideração, o remédio seria apelar para a iniciativa privada, para que esta difundisse o verdadeiro espírito científico, o único que beneficiaria o ensino.

Quando Salomão Saragga se preparava para realizar a sua Conferência «História Crítica de Jesus», o Governo, por portaria, mandou encerrar a sala do Casino Lisbonense e proibir as Conferências.
As autoridades do Estado alegavam que “as prelecções expõem e procuram sustentar doutrinas e proposições que atacam a religião e as instituições do Estado”. O que não era de todo infundado porque, apesar de liberal, se vivia numa Monarquia e o Catolicismo era muito forte em Portugal. As Conferências veiculavam ideias que eram tidas por perigosas como a República, a Democracia e o Socialismo.
À volta da proibição, um acto de censura, levantaram-se variados protestos, choveram cartas aos jornais e foram lavrados opúsculos de polémica entre os quais um famoso ataque de Antero “ao Marquês de Ávila e Bolama”, que foi o autor da proibição

No mesmo dia da proibição, Antero redige um protesto no «Café Central», onde hoje está instalada a «Livraria Sá da Costa».

Nesse «Protesto» Antero de Quental escreve:

"Em nome da liberdade do pensamento, da liberdade da palavra, da liberdade de reunião, bases de todo o direito público, únicas garantias de justiça social, protestam, ainda mais contristados do que indignados, contra a portaria que manda arbitrariamente fechar a sala das Conferências democráticas. Apelam para a opinião pública, para a consciência liberal do País, reservando a plena liberdade de respondermos a este acto de brutal violência como nos mandar a nossa consciência de homens e de cidadãos"

Este protesto é assinado por Antero de Quental, Adolfo Coelho, Jaime Batalha Reis, Salomão Saragga e Eça de Queirós.

Em consequência desta proibição, não chegaram a realizar-se as conferências seguintes:

6ª. «Os Historiadores Críticos de Jesus» por Salomão Saragga
7ª. «O Socialismo» por Jaime Batalha Reis
8ª. «A República» por Antero de Quental
9ª. «A Instrução Primária» por Adolfo Coelho
10ª. «A dedução positiva da Ideia Democrática» por Augusto Fuschini

As Conferências do Casino foram, em Portugal, um importantíssimo episódio da Cultura de expressão portuguesa. Foram a afirmação dum movimento de ideias que vingavam na Europa. Era o Historicismo, o interesse pelas Ciências Sociais e Políticas, a crítica positivista à maneira de Taine, o evolucionismo de Darwin, um tímido interesse pelas ideias de Karl Marx, e especialmente Proudhon, o Realismo na arte como locução de um novo ideal de vida, a crença no Progresso das sociedades conseguido através da Ciência.


Os Vencidos da Vida

Eça de Queirós, afirma, mais tarde, em «As Farpas» sobre as Conferências: era a primeira vez que a Revolução sob a sua forma científica tinha em Portugal a sua tribuna”. Alguns dos interventores nestas conferências, cerca de duas décadas mais tarde, juntaram-se no grupo dos auto-intitulados “Vencidos da Vida”.

Notas:

(1) O Casino Lisbonense situava-se no Largo da Abegoaria, hoje Largo Rafael Bordalo Pinheiro, nº10, num edifício com janelas de padieiras redondas, de três pisos, exteriormente ainda incólume, de esquina com a antiga Travessa das Portas de Santa Catarina, hoje Travessa da Trindade. Em 26-12-1857, foi inaugurado com o nome de Café Concerto. Entre 1869 e 1870 o “can-can” foi aqui o grande espectáculo. Posteriormente passou a chamar-se Casino Lisbonense. Em 22-5-1871 iniciaram-se no rés-do-chão do edifício as chamadas Conferências Democráticas do Casino, que logo passaram a realizar-se no amplo salão do 1º andar. O Casino Lisbonense encerrou em 1876, passando depois a estabelecimento de estofador.

(2) Pode dizer-se que à chamada “Geração de 70” pertencem aqueles escritores da segunda metade do século XIX que a geraram no plano das ideias, estéticas ou outras, e não aqueles que a ela aderiram, prolongando-a historicamente. São eles: Antero de Quental (1842-1891), Eça de Queirós (1845-1900), Oliveira Martins (1845-1894) e Ramalho Ortigão (1836-1915). Secundariamente, a ela pertencerão: Teófilo Braga, Guerra Junqueiro, Jaime Batalha Reis, Guilherme de Azevedo, Gomes Leal, Alberto Sampaio ou ainda Adolfo Coelho e Augusto Soromenho.

A Geração de 70, ou Geração de Coimbra, foi um movimento académico de Coimbra que veio revolucionar várias dimensões da cultura portuguesa, da política à literatura, onde a renovação se manifestou com a introdução do realismo.

Num ambiente boémio, na cidade universitária de Coimbra, Antero de Quental, Eça de Queirós, Oliveira Martins, entre outros jovens intelectuais, reuniam-se para trocar ideias, livros e formas para renovação da vida política e cultural portuguesa, que estava a viver uma autêntica revolução com os novos meios de transportes ferroviários, que traziam todos os dias novidades do centro da Europa, influenciando esta geração para as novas ideologias. Foi o início da Geração de 70.

Em Coimbra, este Grupo gerou uma polémica em torno do confronto literário com os ultra românticos do "Bom senso e do Bom gosto" ou mais conhecido por a Questão coimbrã. Mais tarde, já em Lisboa, os agora licenciados reuniam-se no Casino Lisbonense, para discutir os temas de cada reunião, que acabara por ser proibida pelo governo.

Depois das reuniões, a geração de oiro de Coimbra acabou por não conseguir fazer mais nada, muito menos executar os seus planos que revolucionaria o pais, e acabando por considerarem-se "os vencidos da vida", que não conseguiram fazer nada com que se comprometeram

Este grupo incluía, entre outros, José Duarte Ramalho Ortigão, Joaquim Pedro de Oliveira Martins, António Cândido Ribeiro da Costa, Guerra Junqueiro, Luís de Soveral, Francisco Manuel de Melo Breyner (3.° conde de Ficalho), Carlos de Lima Mayer, Carlos Lobo de Ávila e António Maria Vasco de Mello Silva César e Menezes (9.º conde de Sabugosa). Eça de Queirós integrou o grupo a partir de 1889.

(3) «A Revolução de Setembro», 18 de Maio de 1871 in CABRAL, Avelino Soares, O Realismo – Eça de Queirós e "Os Maias", s/local, Ed. Sebenta, s/data, 2ª ed., pp. 9-10.


Bibliografia:

CABRAL, Avelino SoaresO Realismo – Eça de Queirós e "Os Maias". s/local, Ed. Sebenta, s/data, (2ª ed.)
MATOS, A. Campos (org. e coordenação)Dicionário de Eça de Queirós. Lisboa, Ed. Caminho, 1988,
MEDINA, JoãoEça de Queiroz e a Geração de 70. Lisboa, Ed. Moraes, 1980, (1ª ed.)

Leia-se, pela curiosa posição que o grande historiador, já em idade avançada, assume face a estas Conferências: «A suppressão das Conferencias do Casino» pp. 253-297 in:
HERCULANO, Alexandre (1810-1877)(Opúsculos). Questões Públicas – Tomo I. Lisboa. Em Casa da Viúva Bertrand & C.a – Chiado, n.º 73, 1873
(Este escritor merece ser referido noutra ocasião pela posição que teve nas nossas Letras).


Desculpem esta "pastilha", como diria um bom amigo que certamente a irá ler, mas para mim, grande apaixonado pelo estudo dos escritores e, evidentemente, dos acontecimentos do século XIX, não podia deixar de relatar, o mais sumariamente possível, estas Conferências, pois nelas participaram vultos com os quais nos cruzámos já ou nos iremos cruzar numa próxima ocasião.
Todos eles são figuras relevantes para as Letras e Cultura portuguesas.


Saudações bibliófilas.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Eça de Queirós – Uma carta manuscrita





Eça de Queirós (1871)
 
Trago-vos hoje uma carta manuscrita de Eça de Queirós e dirigida a Eduardo Coelho. Não é datada, apenas refere o dia 10, mas pelos acontecimentos referidos, a Guerra franco-prussiana e a queda do III Império, coloca-a depois de 1870, por ter sido escrita em Leiria, deve ser anterior a 1872, pois no dia 16 de Março desse ano, Eça é nomeado cônsul de 1ª classe nas Antilhas espanholas, e aí chega no dia 20 de Dezembro a Havana, onde foi empossado pelo seu antecessor como cônsul.

Ainda que tenha sido nomeado, mais tarde, administrador municipal de Leiria, local onde a carta foi escrita e onde escreveu a sua primeira novela realista, «O Crime do Padre Amaro», publicada em 1875 e que desencadeou tanta polémica, não nos parece que se deva datar tão tardiamente esta missiva, mas colocá-la antes de 1872 ... deixo, no entanto, a questão para ser melhor esclarecida pelos estudiosos queirosianos.

Uma coisa me parece certa. É de presumir, pelos dados referidos, que esta carta foi escrita antes da referido romance!

Deixo um breve esboço biográfico dos dois correspondentes.


Estátua de Eça de Queirós
Praça do Almada na Póvoa de Varzim

 
José Maria de Eça de Queirós nasceu em Novembro de 1845, numa casa da Praça do Almada na Póvoa de Varzim, no centro da cidade; foi baptizado na Igreja Matriz de Vila do Conde.
Faleceu em Paris a 16 de Agosto de 1900. Teve funerais nacionais e está sepultado em Santa Cruz do Douro.

É um dos mais importantes escritores portugueses. Foi autor, entre outros romances de importância reconhecida, de «Os Maias» e «O crime do Padre Amaro» este último por muitos considerado o melhor romance realista português do século XIX.

Como curiosidade, refira-se que o seu pai, José Maria d'Almeida de Teixeira de Queiroz, era magistrado, formado em Direito por Coimbra, e foi juiz instrutor do célebre processo de Camilo Castelo Branco e com ele convivia regularmente, quando Camilo vinha à Póvoa para se divertir no Largo do Café Chinês.
Foi juiz da Relação e do Supremo Tribunal de Lisboa, presidente do Tribunal do Comércio, deputado por Aveiro, fidalgo cavaleiro da Casa Real, par do Reino e do Conselho de Sua Majestade. Foi ainda escritor e poeta.

 
Estátua de Eduardo Coelho
Jardim de S. Pedro de Alcântara

José Eduardo Coelho nasceu em Coimbra a 23 de Abril de 1835 e aí faleceu em 14 de Maio de 1889. Foi um tipógrafo e jornalista português.

Órfão de pai aos treze anos, foi mandado pela mãe a Lisboa onde trabalhou no comércio. Depois de aprender o ofício de tipógrafo ingressou na Imprensa Nacional em 1857.

Em Dezembro de 1864, com Tomás Quintino Antunes, fundou o periódico «Diário de Notícias», do qual foi director até sua morte. Era amigo íntimo de Eça de Queirós, que foi um importante colaborador nos primeiros anos do diário.

Como homenagem tem no Jardim de S. Pedro de Alcântara, um monumento erguido em 1904, que representa Eduardo Coelho fundador do jornal Diário de Notícias, por baixo dele um ardina apregoa o famoso jornal.

Trata-se de um documento escrito em papel, com marca impressa a seco em relevo, a duas páginas com cerca de 211x134 mm.


Carta - 1ª página


Carta - 2ª página

Papel com marcas de dobras e alguns picos de acidez, mas mantendo, em parte, a sua sonoridade. Texto um pouco desvanecido pela qualidade da tinta.


Marca em relevo do papel


Carta - Pormenor com a assinatura de Eça de Queirós

Está acompanhado duma versão impressa da referida carta em papel de boa qualidade com 215x160 mm.


Versão impressa


Mancha tipográfica impressa


Saudações bibliófilas

Bibliografia:
Sobre Eça de Queirós, consulte-se na Biblioteca Nacional, pela documentação que apresenta de interesse para todos aqueles que se interessam pelo estudo deste escritor, o qual é um verdadeiro "mito" das nossas letras e objecto de tantos e tão variados estudos: «Eça de Queirós»